Monarquia Serpente - Bughead escrita por Fortunato


Capítulo 41
Capítulo 41


Notas iniciais do capítulo

Música do Capítulo: Don't Blame Me - Taylor Swift



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(música)

Elizabeth Cooper

Existe algo explicativo sobre o poder do magnetismo que, naquele momento, eu não me lembrava completamente. Apesar disso, poderia descrever minunciosamente as sensações que ele proporcionava: era como se dois corpos opostos estivessem propensos a se conectar de forma ininterrupta. Desassociados da situação ou do obstáculo, estes corpos se atrairiam e espontaneamente traçariam o caminho um até o outro.

Meu celular vibrou no bolso da jaqueta me emergindo de volta à realidade de pneus guinando, do sol forte brilhando. Cheryl aparecia na tela, piscando em repetição. A barra de notificações apontava outras várias chamadas dela.

— Cheryl, oi! Aconteceu algo?  - olhei ao meu redor os primeiros corredores entrarem nos carros para iniciar a corrida. Uma garota lindíssima com os olhos pintados de preto estava à frente, entre os dois para dar a largada com um tecido vermelho na mão.

— É o que eu quero te perguntar! Você e Jughead sumiram durante a noite toda e nenhum dos dois atendiam. – sua voz soava cansada.

— Eu sinto muito, estávamos treinando para o racha de hoje. – e, de fato estávamos, mas não durante a noite toda – Por quê essa urgência?

— Tony não está bem, votlamos para o hospital. Sweet Pea está na cidade, acabou de sair daqui e não sei se chegará a tempo para a corrida, mas preciso que você corra no meu lugar Betty.

Pressionei os lábios um contra o outro.

— Tony vai ficar bem. – disse por fim – Vou ganhar a corrida, por você e por ela.

Ouvi Cheryl respirar fundo do outro lado da linha. Estava conhecendo uma personalidade dela que não imaginava.

— Por nós Betty. Ganha essa porra por nós todas.

Assim que desliguei o telefone Jughead se aproximou. Junto dele todo o poder que seu magnetismo tinha sobre mim. Nenhuma pessoa, nenhuma fragrância e nenhuma voz parecia se fazer presente aos meus sentidos. Mas estávamos à beira de um ponto da estrada lotado de pessoas, e gritos e carros acelerando para iniciar a corrida.

— Nós corremos em duplas, um piloto com copiloto. – sorriu - Coloquei seu nome junto do meu. – sua voz rouca acabou comigo.

Mal tínhamos reservado ¼ da noite para dormir ou descansar.

— Cheryl acabou de me ligar, me pediu para correr no lugar dela, o Camaro está aqui, acho que eu deveria fazer isso por ela e Toni. Se Sweet Pea chegar a tempo a chave de corredores fica em par e o nome da Cheryl vai subir para participação.

Jughead olhou para trás analisando o carro e em seguida constatando que Sweet Pea havia chegado para o racha. Ele revirou os olhos e disse baixinho.  

— É, o nome dele está na lista. – ao se virar novamente para mim percebi sua preocupação. Ele apoiaria meu desejo de fazer o que quisesse, mas ainda assim não conseguia deixar de se preocupar com as consequências disso – De toda forma vai precisar de um copiloto, se quiser eu posso...

— Nada disso querido! – uma voz feminina se pronunciou ao meu lado, tão furtivamente que eu não tinha percebido sua chegada – Eu corro com ela.

A mulher passou o braço pelos meus ombros me apertando contra seu corpo. Ao reparar bem nela, deduzi que deveria estar na meia idade, os cabelos eram de um castanho escuro estavam repicados na altura do ombro, mas o que me chamou a atenção mesmo foram as três estrelas ao redor do olho esquerdo. Meu coração disparou ao perceber que se tratava da mãe de Jughead.

— Prazer meu bem! Gladys Jones ao seu dispor. – ela sorriu – Não vamos fazer feio, nós temos muita companhia.

Ela apontou com o nariz um grupo de imprensa que havia acabado de chegar. Sim, eu havia publicado o jornal, com a ajuda de Kevin e com a participação de Jughead em algumas redações. Além disso, convidava toda a população a comparecer ao racha, transformando a ilegalidade em algo que a cidade realmente precisava – uma atração. Meus passearam pelo emaranhado de rostos até pousar em um grupo estranho, de terno e gravata no clima árido e quente. Hiram Lodge estava ali, sério, rosbusto, exatamente igual à primeira vez que o vi.

Estava ali porque eu o havia insultado no jornal desta manhã, tentando – e talvez conseguindo – associá-lo ao tráfico de Riverdale.

— Você é a próxima, boa sorte Liz. – a voz de Jug era dura. Em um ato de egoísmo, evitei olhar para ele e encarar suas emoções julgando minhas atitudes ou a situação no geral.

Ainda abraçada comigo, Gladys me arrastou para a mesa organizadora da corrida.

— Precisamos mudar o nome de uma participante e adicionar o meu como copiloto. – anunciou para a garota atrás da mesa.

Gladys se debruçou sobre a lista com a caneta na mão. Riscando o nome de Cheryl para escrever o meu.

— Liz de Elizabeth? – ela perguntou sorrindo.

Murmurei uma concordância e ao conferir meu nome e o seu, tive um choque. Era aquela grafia que eu tanto buscava nas últimas semanas, a resposta que solucionaria todo o enigma envolvendo minha mãe. Foi Gladys que escreveu uma carta de próprio punho para minha mãe muitos anos atrás lhe oferecendo ajuda. Eu quis interrogá-la sobre tudo naquele momento e não tinha nem um segundo a mais para isso. A corrida anterior já tinha terminado e estavam nos aguardando na largada.

— Vamos terminar logo com isso. – eu disse tomando a frente até o carro.

— É assim que eu gosto que minhas garotas sejam.

Se foi por impressão ou não, senti deboche em seu sorriso ao final das palavras.

— Suas garotas? – questionei com o mesmo deboche ao abrir a porta do carro e entrar.

— É como costumo chamar as meninas da gangue, você sabe. - ela deu de ombro ao se acomodar no banco.

Ao segurar o volante percebi que o carro era completamente diferente do que Jughead havia me treinado nas ultimas horas. Eu nunca tive oportunidade de dirigir um Camaro na vida.

Era um fato: eu perderia a corrida. Isso se eu não nos matasse tentando a todo modo ganhar.

Juntei toda a coragem que acreditei ter e posicionei o carro na largada, o outro competidor já estava à postos. A copiloto, no banco do passageiro, tinha a cabeça raspada e me passou a impressão de que elas me jogariam para fora da pista na primeira oportunidade, ou no único abismo que compunha a corrida, antes da ponte. Não pela vitória, isso não valia nada para ela, mas sim pela história, pela realização do feito. Sua cicatriz que começava no canto do lábio e descia até o pescoço constatava isso.

Ao meu lado Gladys riu. Voltei minha atenção a ela.

— Sua mãe tinha esses mesmos olhos arregalados. Você é exatamente igual a ela.

Meu sangue ferveu. Não. Já estava fervendo a um tempo e eu tentava muito, muito, mantê-lo no lugar. Algo em mim, demasiadamente ruim e descontrolado queria espaço. Implorava para que eu deixasse ferver, arder, queimar.

— Não. – eu disse.

A garota à minha frente ergueu os braços com o tecido vermelho na mão. Meus ossos se incendiavam, algo queria ascender de dentro para fora.

— Não? – ela debochou.

Senti minha pele se ferir ao derreter com o calor do que quer que fosse, resisti até que percebi não fazer sentido exercer tanto controle sobre mim mesma me torturando com isso. Deixei sair o que quer que fosse, permiti que este inferno pessoal queimasse os outros, que não fosse eu sofrendo sozinha.

— Minha mãe nunca pôde correr num racha. – um sorriso genuíno brotou em minha boca, tão largo e assustador que Gladys recuou.

Ainda me deliciando com seu pavor arranquei com o carro ao sinal do tecido vermelho baixando como brasa quente. O carro guinou e o odor de pneu queimado encheu minhas narinas.

Nada era diferente, a adrenalina era a mesma. A sensação de estar à beira da morte me fazia sentir muito viva. Viva demais para perder.

As duas primeiras curvas fizeram Gladys se segurar no banco do carro. O pneu derrapou no chão e fiz exatamente o que tinha aprendido, o carro simplesmente girou e continuei acelerando.

O velocímetro marcava 150km/h na metade do percurso e só então percebi que não havia nem sinal da outra competidora. Ri comigo mesma observando o retrovisor seu carro se aproximar como um pontinho azul na extensão da estrada. Freei bruscamente, a ponte seria pouco mais a frente.

Gladys conhecia minha mãe, aparentemente bem até demais. Agora era a minha oportunidade de me apresentar. Eu queria informações que ela tinha e ela iria me passar essas informações, fosse por bem ou por mal.

Quando o carro se aproximou eu acelerei ao máximo. A última curva antes da ponte que Jughead havia me alertado estava à menos de trinta metros à frente, o motor do Camaro roncava alto, reclamava muito, mas trabalhava com um animal. Com certeza esse carro era diferente do anterior, ele conseguia alcançar uma alta velocidade muito mais rápido.

Ao encontrar a curva estercei o volante em milésimos de segundos em sincronia com o freio de mão, completando a curva com um êxito surreal. Os carros se emparelharam em sincronia para atravessar a ponte. Eu confiei tudo o que podia no Camaro. Se ele não conseguisse fazer a ultrapassagem nós bateríamos na viga de concreto da ponte e morreríamos.

— Elizabeth... – minha copiloto sussurrou. Agora mais próximo, eu iria ultrapassar - Elizabeth. – pediu, mas o Camaro iria conseguir, eu sentia - Liz? – sua voz parecia uma súplica. A frente do carro já despontava, mas a ponte estava logo à frente.

Subitamente a garota freou ao meu lado e eu passei com o Camaro à quase 200km/h na ponte.

Ao atravessar a linha de chegada Gladys desceu do carro furiosa batendo à porta.

— Que diabos você tem na cabeça garota? Por acaso é suícida ou homícida? – gritou.

Desci do carro tranquilamente e mordi o lábio inferior tentando não sorrir. As outras competidoras desceram do seu veículo, o que percebi ser um Dodge azul. Suas expressões eram de puro terror, encarei a garota de cabelos raspados. Parece que era eu quem iria jogá-la do precipício, coitada.

— O que houve Liz? – Jughead correu até minha direção. Gladys continuava gritando insultos.

Ele segurou meu queixo com ambas as mãos fitando o fundo nos meus olhos.

— Acho que entendi. – ele suspirou – Neste caso...

Jug me beijou, ainda segurando meu queixo. Todo aquele ardor passou, se evaporou num instante. Como se ele tivesse jogado água fria em aço recém forjado. 

— Sou o próximo a correr. – explicou ao se afastar – Archie vai ser meu copiloto. Você não pode participar duas vezes. – olhei para o ruivo já dentro do carro que acenou de volta. – Vai torcer por mim?

— Você não precisa, sei que vai ganhar. – constatei que ele era, de fato, o que apaziguava qualquer terror dentro de mim que deveria ser liberto as vezes. Ele parecia ter entendido isso muito antes.

O lance do magnetismo ficou mais claro quando ele se afastou para se preparar para a corrida. Aquela forte necessidade de acompanha-lo estava ali, como se me puxasse por um laço conectado a ele com toda a brutalidade do mundo. Mesmo assim permaneci ali parada, apenas observando enquanto ele acelerava aguardando o sinal de largada.

Mais à frente algo me chamou atenção. Hiram ainda estava aqui, de terno e gravata abaixo do sol escaldante. Ao seu lado, o motorista que eu conhecia, que estava em todos os lugares indevidos da forma mais suspeita. Ele respondia algo à Hiram que cerrei os olhos para tentar entender. “Cinco segundos depois de arrancar o carro”, foi o que pareceu ter dito a ele que admirava o carro em que Jughed estava. Parando apenas para sorrir para mim.

Hiram pareceu ter sussurrado um “Ótimo”, colocou seus óculos escuros e se virou para sair enquanto fechava o paletó.

Então me toquei.

Eu o insultara no jornal desta manhã. Eu deveria estar no carro com Jughead. Entre todos os pavores vividos nas ultimas horas, este me consumiu. A garota baixou os braços com o tecido vermelho e eu gritei seu nome à plenos pulmões. Indiferente à minha voz em meio aos gritos de quem assistia, os dois carros partiram.

Aquele magnetismo me puxou, eu corri na direção deles. Em vão é claro.

Um.

Dois.

Continuei correndo. Sem força. Sem ar.

Três.

Antes mesmo do quarto segundo o carro entrou em combustão, atingindo o veículo ao lado e parando apenas ao atingirem uma árvore mais à frente. A explosão foi tão forte que senti meu corpo ser arremessado para trás.

 


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Notas finais do capítulo

Desculpem o sumiço!
Agora algumas coisas vão começar a serem esclarecidas! ♥



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