Monarquia Serpente - Bughead escrita por Fortunato


Capítulo 40
Capítulo 40 - Bônus


Notas iniciais do capítulo

Música do Capítulo: Labrinth - Forever



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(música)

Alice Smith – Diário I

— Esse teste não é meu. - o tomei da mão dela e as coisas que haviam caído ao chão.  

Liguei a torneira para lavar as mãos. Embaixo da água corrente elas tremiam e meu reflexo no espelho denunciava uma palidez carregada de pavor.
Atrás de mim Penélope sorria.
— Já contou a ele?
Não respondi, ainda concentrada em lavar as mãos, tentando remover uma sujeira invisível. Uma mancha abstrata marcada na alma através de erros conscientemente cometidos.
— E a ela? - se referiu a Glandelyn.
Fechei a torneira fitando seu reflexo no espelho sujo e puído.

—  Acho que ela adoraria ser madrinha…
Me virei.
— Você realmente acha que pode me chantagear? Depois do que fez na última corrida, acho que deveria lavar suas mãos também. Estão tão sujas quanto as minhas.
Penélope piscou uma vez, mordeu o lábio inferior, piscou outra.
— Antes de qualquer coisa eu sou sua amiga Alice. - seu rosto se suavizou, assim como sua voz - Não acha que me sinto traída e uma traidora quando vejo vocês pela escola sem poder contar à Glandelyn, que aliás, também é minha amiga? Ela o ama com todas as forças, ficaria tão arrasada quanto você está agora e sabe-se lá o que seria capaz de fazer com os dois.
Engoli em seco.
— Já contou a ele ou não?
Balancei a cabeça em negativo.
— Você quer mesmo esse bebê? - seu rosto fez uma clara expressão de nojo.
— Quero! - respondi exasperada - Eu quero sim…
— E acha que ele vai querer? - me virei de novo, sem desejo de encarar aquela possibilidade - Eu vou te ajudar Alice, não se preocupe.
A olhei pelo reflexo.
Penélope se aproximou de mim e passou o dedo pelos meus cabelos os colocando atrás da orelha. Ela sussurrou um ‘vai ficar tudo bem’ e me beijou na bochecha.

O beijo de Judas.


◙ ○ ◙ ○ ◙

O enjoo, em conjunto com meu nervosismo, se intensificou até o dia do jogo. Dei desculpas para não me encontrar com Forsythe em todos os dias que se seguiram. Com Glandelyn era mais difícil por compartilharmos o mesmo trailer, mas eu tentava ao máximo evitar me encontrar com ela e Penélope vinha me ajudando com isso: me acobertava e criava situações inexistentes conforme era necessário.

A arquibancada do campo estava cheia. Era o último jogo do ano e o mais importante. Eu havia me decidido que, após o resultado do jogo e compreendendo o destino de Forsythe eu contaria ou não sobre o bebê. De toda forma eu não queria desconcentra-lo antes do momento mais decisivo de sua vida.
Os jogadores ainda se preparavam no vestiário enquanto as líderes de torcida se apresentavam quando Penélope chegou até mim, sem fôlego. Seu rosto estava vermelho e os olhos marejados.
— Penny, o que foi? - ela me puxou para fora da arquibancada aos trancos. - Garota o que aconteceu? - gritei por cima do barulho do campo.
— Me desculpe Alice. - sua voz falhou com o choro - Por favor, você tem que me perdoar!
Meu coração disparou com qualquer que fosse a possibilidade.
— Eu comprei um presente para você. Uma roupa para o bebê e deixei um bilhete dizendo que seria muito querido! Nunca imaginei que Forsythe entraria no trailer com Glandelyn! - a arquibancada atrás de nós aplaudia o show de malabarismos apresentado - Forsythe soube de tudo e foi embora!
O ar se tornou tão denso que eu mal podia respirar. Não queria acreditar que isso poderia ser verdade.
Me movi em direção ao vestiário, esquecendo-me completamente de Penélope que agarrou meu ombro.
— Ei, aonde vai?
— Ele não perderia esse jogo Penny, preciso falar com ele.
— Ele não está na cidade mais Alice, prefere perder o jogo da vida dele do que assumir um filho seu.
— Ele disse isso? - quis saber.
— Se você duvida, pode conferir. Mas primeiro, por favor, diz que me perdoa.
Ela esperou um abraço ou algo carinhoso. Eu apenas acenei com a cabeça e fui até lá.
Todos os jogadores pareciam preocupados e enérgicos demais para perceber minha presença. Exceto um, que se recostava contra um armário com os braços cruzados frente ao peito. Era também o único que eu conhecia.
Hal e eu saímos poucas vezes antes de FP e eu nos resolvermos – definitivamente. Eu sentia ser uma péssima influência para o garoto do lado Norte da cidade e de toda forma era um passatempo tedioso. Nossos encontros variavam entre um milkshake no Pop’s e um filme no Drive-In, mas como no último, sempre que encontrávamos com alguém da gangue éramos vaiados de várias formas.

Como Forsythe mesmo havia dito, ele não era bom o suficiente para substituí-lo.
— Hal, você viu Fp?! Por favor, diz que sim. - minha voz quase não saia.
— Vi ele ontem no treino. – deu de ombros - Os idiotas estão enrolando o começo do jogo para esperar ele chegar.
Indicou com a cabeça o treinador discutindo com alguns jogadores que eram mais próximos dele.
— Então ele vem? - questionei ansiosa.
— Sinceramente? Se desapareceu desde cedo eu acho que não. Todos esses babacas têm que aprender que não se deve confiar uma agulha a ele. E, de toda forma, caso ele não venha eu entro em campo, então espero que ele realmente tenha sumido como estão falando.
Meu corpo gelou e cambaleei até o banco que estava atrás de mim.
— Ei, - Hal se agachou à minha frente colocando a mão em meu ombro - tudo bem?
Levei a mão até a testa.
— Desculpe, não quero te atrapalhar. - fechei os olhos com força.
— Você nunca me atrapalhou. Escuta, sei que vocês são amigos ou vizinhos, enfim, o que quer que ele tenha feito, deixe que lide com as próprias consequências.
Ergui a cabeça, Hal deu um sorriso sincero, o mais sincero que recebi nos últimos dias.
Me preparei para concordar.
— Hal! - o treinador nos interrompeu - Tome esse capacete filho, você vai ter que compor o ataque no lugar de Forsythe. Vamos logo.
Hal se levantou orgulhoso e satisfeito. Com o capacete nas mãos me propôs:
— Se vencermos esse jogo, você aceita sair mais uma última vez comigo? Sei que não devo ser o seu tipo, mas eu gostava muito de te ver, muito mesmo.


Estava nauseada demais para pensar nisso agora. O treinador tentava empurra-lo para fora dali, apressado pelo atraso do jogo. Pressionada pelo momento apenas acenei com a cabeça.

Não assisti àquele jogo e não me interessava o resultado.

Penélope havia me pedido perdão pelo incidente ocorrido e eu precisava pedir perdão à Glandelyn pelo erro conscientemente cometido.


Minha intenção, contudo, foi rapidamente invalidada após não a encontrar em canto nenhum de Riverdale. Desolada, as palavras de Penélope retornaram à mente: ambos estavam juntos no trailer no momento da descoberta e agora haviam desaparecido juntos.

Glandelyn havia fugido com o amor de sua vida. Forsythe havia fugido de várias responsabilidades com alguém que talvez ele amasse ou pudesse aprender a amar. Era apenas isso que fazia sentido em minha cabeça.

 


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