Monarquia Serpente - Bughead escrita por Fortunato


Capítulo 38
Capítulo 38 - Bônus


Notas iniciais do capítulo

Música do Capítulo: Ashes - Stellar



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Alice Smith – Diário I

(música)

Não era como se eu pudesse evitar, mas a ansiedade estava me matando. Literalmente. Meu estômago se revirava todas as vezes que eu pensava no último jogo de Fp, nas inúmeras possibilidades diante daquilo.

A vitória dos Bulldogs sobre outra escola qualquer não estava em jogo. O que estava em jogo era o nosso futuro juntos. Era a bolsa de estudos que Fp ganharia e o que faríamos dali em diante. Seriam os próximos anos de faculdade e de repente os anos restantes de nossas vidas.

Enquanto ele se dedicava aos últimos treinos com o restante do time eu me dedicava a qualquer distração que surgisse. Na gangue, além do racha de motos, tínhamos um outro esporte violento e arriscado. Era a adrenalina vinda da possibilidade de quebrar um nariz ou a ilegalidade da luta que a tornava tão interessante? Eu não sabia dizer. Nesse momento o espetáculo seria maravilhoso para me dispersar por algumas horas.

Tudo acontecia na garagem do Whyte Wyrm, era extensa o suficiente para que uma briga controlada acontecesse longe das autoridades locais, mas apertada o bastante para o espaço que outras gangues ocupavam. Aquelas que vinham para o racha e costumavam ficar por ao menos umas duas semanas para se divertir ocasionalmente com coisas como essa.

A garagem possuía três elevações ao seu redor, onde algumas pessoas subiam para assistir as lutas fora do tumulto em torno dela. Busquei o canto mais afastado dos empurrões.

No centro, Tall Boy exibia seus músculos tatuados enquanto se aquecia para lutar. Era um grande amante do que acontecia ali, não deixava de participar de uma luta sequer - seja pelo ego auto inflado ou pelas garotas que gritavam seu nome.

Quando o mediador deu o sinal ele separou os pés e posicionou as mãos a frente do rosto.

Para um garoto de dezenove anos ele era enorme fisicamente, apesar de ser burro como uma porta. Poderia até tentar torneios de luta, boxe ou MMA. Ele se esquivou do primeiro soco acertando a barriga do oponente que cambaleou alguns passos para trás.

Com certeza levava jeito para lutar profissionalmente.

Diria isso a ele depois.

Mal percebi quando Thomas se colocou ao meu lado comendo um tipo estranho de pão com carne. Ao contrário do Sr. Jones, Thomas realmente representava o papel paterno de que eu precisava.

— Não me contou sobre como foi a entrevista. – ele mordiscou mais um pedaço e gordura escorreu pelo queixo – Esperei a semana toda.

Expressei minha aversão ao pão gordurento.

— Pensei que se contasse poderia me trazer azar.

Ele deu de ombros.

— Caso conte a alguém que deseje estar no seu lugar... mas isso não aconteceria comigo. – a aglomeração a nossa frente gritou e comemorou.

Tall Boy estava de pé sem nenhum vestígio de ferimento diante do garoto desmaiado com sangue escorrendo pelo nariz. Bati palmas enquanto quem havia apostado nele comemorava.

— E como está Ivy? – perguntei interessada. A filha de Thomas era alguns anos mais nova que eu e a considerava como uma irmã caçula.

— Sentindo sua falta, obviamente.

Outro oponente entrou no círculo para lutar com Tall Boy. Este parecia ser um pouco mais velho, mas não tinha tantos músculos quanto ele.

— O que me leva a acreditar que está evitando ir até lá? Brigou com Glandelyn e Penélope de novo?

Neguei com um aceno de cabeça tentando me livrar do assunto. Thomas mordiscou mais um pedaço do pão me oferecendo em seguida.

— De qualquer forma, espero que passe lá mais tarde. Eu não sei lidar com álgebra ou o que quer que estejam mandando como dever de casa para ela.

Poderia ser o cheiro gorduroso da carne ou simplesmente a ansiedade que vinha me causando enjoos constantes, mas levei a mão a boca imediatamente tentando ao máximo possível não vomitar em quem estava a nossa frente.

Segurei apenas o suficiente até que pudesse cair de joelhos em um vaso sanitário no banheiro do Whyte Wyrm.

Não entendia o que vomitava já que o enjoo não me deixava comer nada durante dias. Especificamente a última semana em que Fp ocupou seu tempo treinando para o jogo.

Quando terminei lavei a boca na pia tentando recompor minha respiração exasperada. Em meus dezessete anos eu nunca, sequer uma vez, havia sentido um mal-estar como este. Coloquei a mão molhada sob a testa tentando me acalmar.

Esse mal-estar. Esse enjoo forte e constante. Pisquei para o meu reflexo abatido do espelho.

Não poderia ser isso e não seria.

Sai do banheiro correndo diretamente para a farmácia mais próxima de Riverdale.

◙ ○ ◙ ○ ◙

Quando retornei as lutas já tinham findado e o interior do bar estava abarrotado de brutamontes fedendo a bebida. Busquei refúgio no banheiro, longe do rock alto e avassalador.

E então aconteceu.

A pequena rachadura criada pela insegurança fez com que a base sólida dentro de mim desabasse. Aquela pequena certeza de que ao menos uma vez na vida as coisas poderiam dar certo caiu por terra.

Meu corpo, magro, forte e jovem, perdeu completamente o vigor que o sustentava quando se chocou contra a cerâmica fria do banheiro.

Em minha mente existia apenas aquilo. Aquela visão tortuosa de ladrilhos mal enfileirados e sujos, com pichações antigas e diversas.

Eu não era capaz de pensar em nada.

A sensação de vazio e obscuridade me engolira e eu só conseguia reparar em como as malditas bordas daquele vaso sanitário estavam sujas. Os pregos que afixavam a base eram tão enferrujados que me faziam questionar a quanto tempo estavam neste banheiro específico, firmando esta cerâmica especifica ao chão.

Mas, e quanto a mim? A quanto tempo eu estava ali?

Pisquei uma vez.  

Pisquei outra vez e senti minhas pernas dormentes no chão, uma sobre a outra. E, a seu lado, ergui a mão com o teste analisando-o novamente.

Grávida...

Eu estava grávida.

De todas as possibilidades do mundo para que os meus planos dessem errado era essa a que não poderia existir de forma alguma. A única chance entre milhões do obstáculo perfeito. Ou não – repensei os inúmeros encontros irresponsáveis com Forshyte.

Forshyte.

O que ele diria? O que pensaria quando eu contasse? Aliás, eu deveria contar?

Ele era o tipo de cara que aproveitava a vida sem se preocupar com as consequências e caso elas chegassem a ele, conseguiria se livrar delas com uma facilidade descomunal. Sempre.

Levei a mão à barriga por puro reflexo. Ainda não tinha o volume aparente que indicasse a gravidez. Algo maior do que eu me fizera levar a mão livre até ela, ou até o bebê.

Aquela não era uma consequência exclusivamente dele. Eu não poderia deixar que ele se livrasse dela. E não deixaria.

Senti as forças voltarem ao meu corpo magro, jovem, forte e agora grávido e me ergui. Só então o tato também voltou a mim e percebi meu rosto úmido e inchado pelas lágrimas que escorreram sorrateiramente durante aquele tempo.

Engoli em seco me preparando para encarar o mundo lá fora. Ao abrir a porta acabei colidindo contra uma garota, o que fez tudo o que estava em minhas mãos caírem ao chão. A loira, no chão, pegou o teste e voltou sua atenção a mim após observá-lo por um bom tempo.

Com um sorriso Penélope me olhou friamente.

— É por isso que tem me evitado. Está grávida do Fp.


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