Monarquia Serpente - Bughead escrita por Fortunato


Capítulo 37
Capítulo 37


Notas iniciais do capítulo

Música do Capítulo: Chuxx Morris - Wicked Ways



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Jughead Jones

Tudo em um racha se tratava do quão bem você lidava com as curvas. Era importante que você estivesse familiarizado com elas, mas ao mesmo tempo não se deixasse levar pela confiança. Conhecendo Riverdale e todas as suas curvas, aquelas seriam as que, de fato, eu não me cansaria jamais. 

Elizabeth se debruçou mais sob o capô para encaixar uma peça nova. Ainda não tinha percebido que eu estava na garagem me deliciando com a visão indecorosa de suas curvas. Já havia dois dias que ela trabalhava arduamente nos carros da gangue, revisando e substituindo algumas peças dos carros que usaríamos.

Gambino foi o primeiro a ser apunhalado pelas habilidades mecânicas dela, primeiro por ter duvidado e depois pela evidente inveja dos elogios que ela recebia. Eu era apunhalado a todo segundo pela atração que sentia por Liz e, pensava seriamente em raptá-la da gangue para podermos passar mais tempo a sós.

— Pode ligar agora! – gritou para Fangs que esperava dentro do carro.

Fangs deu a partida fazendo o motor funcionar em um rugido limpo. Ele olhou para ela fascinado fazendo-a dar uma risada gostosa enquanto pegava sua garrafa de água. O clima estava razoavelmente quente naquela tarde.

— Eu te disse, seu carburador estava horrível cara. – ela deu uma bela golada de água e jogou a garrafa vazia em um latão próximo.

— Suas mãos são mágicas Betty! – ele saiu do carro para baixar o capô – Nem sei como te agradecer.

Ela deu de ombros passando o antebraço pela testa para enxugar o suor. Um sorriso sincero e gentil.

— Pode me agradecer ganhando sua corrida amanhã.

Ele concordou com um aceno se virando para o camaro de Cheryl.

—  E esse aqui?

— Não encontrei nenhum problema, ele... só é barulhento por causa do cano de escapamento velho. – ela levantou o capô se debruçando sobre ele novamente.

Os outros estavam ocupados demais discutindo sobre as escalas de corrida. Dei dois segundos para que Fangs lançasse um olhar malicioso na direção dela e então me mostrei presente na garagem.

— Vai no máximo chamar muita atenção no racha. – ronronei a puxando pela cintura.

Fangs se afastou subitamente.

— Como anda minha mecânica preferida?

Ela deu um sorriso largo me olhando lateralmente.

— Cansada, mas realmente feliz por ter conseguido ajudar.

Olhei para os quatro carros na garagem que ficava ao lado do White Whyrm. Além de mim, Fangs e Gambino iriam correr. Cheryl acreditava que poderia, mas precisávamos de um número ímpar de corredores para que o racha se encaixasse bem.

Liz percebeu meu olhar para o camaro vermelho e disparou.

— É o melhor dos quatro, tem muita potência e eu realmente acho que você deveria deixá-la correr. – apertei seu corpo franzino em meus braços apoiando o queixo no topo de sua cabeça – Sabe, ela quer fazer por Toni.

Dei um suspiro leve.

— Precisaríamos de mais um corredor, ninguém mais quer participar. A não ser que Sweet Pea chegue a tempo. – Fangs completou tentando interpretar a ameaça de morte que lhe lancei com o olhar.

Elizabeth imediatamente se soltou de mim se virando.

— Como assim? Sweet Pea vem para o racha? – perguntou com um semblante indecifrável. Não sabia se estava brava por não a ter contado ou se estava feliz com a notícia.

Olhei para Fangs uma última vez, amaldiçoando-o mentalmente.

Um belo filho da puta.

— Ahm, eu tenho um compromisso agora. Mais uma vez obrigado Betty. – ele finalmente pareceu perceber quando recuou para sair da garagem.

Andei até o capô do camaro batendo a lataria para fechar.

— Jughead? – Liz cruzou os braços esperado a resposta.

Eu não entendia qual era a relação dos dois e sinceramente não tinha muito saco para perguntar. Não queria demonstrar ciúmes e não sabia como lidar com isso. Então obviamente evitaria o sentimento a todo custo.

— Ele teve problemas em Toledo e a confusão que arrumou por aqui passou. – minha voz soou ácida, me apoiei no carro – Pelo menos por enquanto.

— Que problemas? – interessada demais Elizabeth...

— Não sei e não me importo. – evitei contato visual cruzando os braços.

— Tá bom... E eu posso saber porque parece tenso?

— Não estou tenso.

Girei os olhos quando percebi que ela tinha razão.

— Já li o artigo que vai postar amanhã. – tentei mudar de assunto – Aprecio a forma com que insultou Hiram Lodge, mas tenho que te alertar que é perigoso. 

Ela estreitou os olhos se aproximando.

 — E sou estúpida por isso?

— Estúpida não. – precisei pensar quando seu olhar pareceu tentador e sugestivo demais – É um ato corajoso. Admiro isso em você.

Um sorriso ladino e uma mordida na boca. Maldita.

— Eu poderia correr amanhã, se você quisesse.

Ergui as sobrancelhas surpreso. e ela passou a mão pelo meu peitoral. Avaliou minha reação rapidamente e depois ergueu o rosto. Sorri sem ar.

— Não tem necessidade, mas se você me disser que quer correr... sua vontade vai ser feita.

Algumas vezes eu não conseguia interpretá-la, mas podia supor que ela estava... satisfeita?

Seu rosto se relaxou em um pequeno sorriso. 

Ela se colocou entre minhas pernas envolvendo meu pescoço com os braços. Em seguida levou sua boca à lateral do meu rosto, roçando os lábios por ali.

— Então é assim Jughead Jones? Caso eu queira muito uma coisa só preciso te pedir? – sussurrou.

Estremeci ao ficar duro o suficiente para que ela pudesse me perceber entre suas coxas me apertando contra o carro. Sua satisfação aumentou perceptivelmente no tom de voz.

— Não precisa me responder, amor. – sussurrou de novo, dessa vez se afastando apenas o suficiente para me beijar.

Estava estarrecido demais para me surpreender com o novo apelidinho. Ela roçou seus lábios contra os meus. Os dedos se entremearam em meus cabelos inclinando meu rosto para baixo. Sua língua gentilmente pediu passagem para um movimento coordenado e doce de um néctar incomum. Prendi sua cintura firmemente até que sua respiração ficasse irregular contra meu tronco. Terminei o beijo sugando seu lábio inferior, mal conseguindo abrir os olhos para ver que ela dava um meio sorriso, ainda com os olhos fechados.

A apertei contra mim mais uma vez, exalando o morango dos fios dourados que estavam presos em um rabo de cavalo frouxo.

— Pode repetir isso?

Ela finalmente abriu os olhos parecendo pensar e depois me questionando com o olhar.

— De amor. Me chama de novo.

Liz sorriu tímida e se afastou ajeitando os fios soltos do cabelo. Sem deixar de olhar para mim pegou as chaves de sua moto sob a mesa repleta de ferramentas e óleo e sujeira.

— Talvez um outro dia... – fingiu pensar.

Girei os olhos.

— Te vejo mais tarde? – poucos passos para trás e ela levou a mão ao queixo com um semblante admirado – Meu amor?

Cruzei os braços frente ao peito observando-a subir na moto e voltar para casa. Nas horas que se seguiram foram poucos os segundos que deixei de pensar nos seus lindos lábios falando aquilo.

Ficava imaginando também o que mais eles podiam fazer.

◙ ○ ◙ ○ ◙

(música)

À noite as pessoas conversavam empolgadas, se cumprimentavam e discutiam as corridas mais épicas que já tinham presenciado. Gangues de cidades vizinhas já estavam ali. Uns iriam montar acampamentos e outros possivelmente alugariam alojamentos.

Riverdale não era uma cidade turística, mas naquele momento estava tão movimentada quanto uma. Por motivos óbvios o White Wyrm, bar anfitrião dos que estavam ali, acabou por estender os serviços até o estacionamento – abarrotado de brutamontes tatuados e bêbados.

Por toda a extensão, barris velhos continham a combustão que iluminava e aquecia o lugar. Tínhamos Serpentes do Sul e Lobos do Oeste. The Black Pistons, vindos do norte do estado sempre causavam brigas violentas, mas pareciam empolgados em rever alguns colegas. Um grupo de motoqueiros com coletes escrito Outlaws riam e brindavam, eufóricos com alguma coisa. Eu lembro de meu pai me contar que a muitos anos atrás os Ghoulies também costumavam participar dos rachas que aconteciam.

Uns poucos cantavam com todo o fôlego o refrão da música caótica que tocava. Era uma cena nostálgica e me remetia a um conjunto de sensações. Meus pais ainda estavam juntos a última vez que vi algo assim. Antes que minha mãe nos abandonasse levando Jellybean.

Em algum canto, por cima da música alta, consegui ouvir uma voz abafada e irritada tentando ofender alguém com palavrões chulos, sucedida por uma risada colérica. Me aproximei deles me recostando em um tronco de árvore.

Fangs tentava permanecer sério, mas estava entusiasmado demais para isso.

— Fala pra ela Jughead! Me deve 200 dólares pelo retrovisor que quebrei perseguindo aquela ambulância de merda! – ele levantou de um tronco caído e apontou para Toni.

— Não esquece a caixa de correio que você destruiu. – tomei um gole da cerveja para evitar sorrir.

— Eu quero muito que vocês dois vão à merda. – Toni deu um sorriso cansado.

Seu rosto moreno nunca esteve tão desbotado, a cor da sua boca tinha perdido vida. Seus olhos castanhos pareciam transparentes e ocos. Meu estomago se remoeu.

Era certo que Toni não tinha se recuperado completamente ainda. Sem o pagamento o hospital se recusaria a continuar o tratamento.

Cheryl a cercava como uma águia. Se pudesse, respiraria por ela. Tomaria suas dores e as sentiria. Enfrentaria todo o mal do mundo para poupar Toni de sentir qualquer coisa que não fosse boa.

Eu podia perceber isso evidentemente apenas pelo olhar que a ruiva lhe lançava a cada três segundos. Mas acima de tudo, eu podia perceber isso porque esse sentimento despertara em mim a pouco tempo.

Eu e Betty tínhamos tido um trabalho difícil de evitar que Cheryl se vingasse de Penny sozinha. De qualquer forma, a loira havia desaparecido. Desde o dia do incidente, com seu apartamento vazio, qualquer um que era próximo a ela informou que a advogada tinha saído a trabalho. Nós sabíamos que não, cedo ou tarde ela teria que voltar.

Meu pai se sentou ao lado das duas no tronco tombado, também com uma garrafa long neck na mão. Ele usava o colete encouraçado de nossa gangue e luvas que terminavam antes de cobrir os nós dos dedos. Ele deu alguns tapinhas nas costas de Cheryl que lhe respondeu com um sorriso desinteressado.

— Então você vai estrear a corrida amanhã? – ele perguntou inocentemente.

A ruiva torceu o rosto em minha direção.

— Caso convença seu filho a não ser tão arrogante para não me deixar correr. Vou sim, pretendo.

Tomei mais um gole da garrafa.

— E qual o problema de a garota correr? O camaro dela é ótimo.

Uns dois motoqueiros se juntaram ao pequeno círculo de troncos caídos, se sentando ali. Não consegui ver de que gangue eram.

— Qual é velho, não devia estar de plantão? – retruquei.

— Aquele camaro é seu? – o de cabelos loiros espetados demonstrou interesse.

A ruiva por outro lado não mudou sua expressão concordando com um aceno singelo.

Ele sorriu.

— É uma pena que mulheres não possam participar. Seria maravilhoso ver aquilo na estrada. – seu colega cutucou-o as costelas – Você é linda, mas duvido que saiba passar uma marcha.

Ambos riram. Alguns que estavam logo atrás pareceram se divertir também.

Já Cheryl estava ainda mais nervosa do que antes. Era como uma onça se preparando para dar o bote, os olhos fervilhando em ódio.

Sua jaqueta escarlate se contrastava com a noite e as brasas que escapavam no barril em muito se pareciam com seu cabelo quando o vento lhe soprara. Alguns motoqueiros, os mais jovens, não disfarçavam olhares na direção das duas que estavam ali. Ambas chamavam bastante atenção e os abutres pouco se importavam se estavam juntas como um casal.

— E eu duvido que você tenha alguma coisa no meio das pernas. – cantarolou Elizabeth enquanto passava pelo espaço vazio do nosso pequeno círculo.

Estava errado.

Cheryl e Toni não chamavam tanta atenção quanto Elizabeth. Todos, na direção de onde ela havia vindo, ainda a olhavam. Imaginei que isso deveria me irritar, mas eu compreendia a admiração.

Que mortal não ficaria fascinado ao ver um anjo pela primeira vez?

O garoto permaneceu calado a observando vir até mim.

— Oi meu amor. – segurou a gola da jaqueta me puxando para um selinho.

Não consegui evitar um sorriso.

— Aqui está a sua aposta de amanhã pai. – fitei de soslaio o pobre infeliz que ainda estava ali – Betty e Cheryl irão correr amanhã.

— Aposto tudo o que tenho nelas. – Fangs cruzou os braços.

— E esclarecendo sua dúvida, apenas deficientes mentais como você são proibidos de participar do racha. – conclui.

Todos que estavam ali acabaram rindo. Cheryl finalmente relaxou.

Toni pareceu não se importar muito. Talvez não devesse estar ali, mas sim descansando.

Meu pai... estava perdido em pensamentos além das pessoas próximas. Subitamente se levantou engolindo em seco. Instintivamente procurei pelo que ele temia.

Até que a vi.

As três estrelas ao lado dos olhos se desfiguravam conforme os pés de galinha se formavam a cada sorriso distribuído, a cada aceno dado. Ao seu redor pairavam orgulho e soberba. Em sua cabeça havia tanta arrogância que mais parecia uma coroa.

Não dei tanta atenção a Sweet Pea que chegava junto a ela. Imaginei que se procurasse pela garotinha que deveria também estar ali, iria me decepcionar em não reconhecer o quanto cresceu e isso acabaria comigo.

Segurei a mão de Liz e a puxei dali, na direção oposta.

Por sorte, o carro que iria correr – que ela havia passado aquela tarde inteira revisando – ainda estava na garagem lateral do White Whyrm.

— Se vai correr amanhã, quero que conheça a estrada.

— Agora? – ela riu.

— Imediatamente.

— Não preciso ganhar a corrida, só preciso ocupar mais um lugar no grupo para Cheryl participar.

Apertei sua mão.

— É claro que precisa ganhar. O quão delicioso vai ser assistir você ultrapassando aqueles dois idiotas amanhã?

— Muito, com certeza.

— Acho que caso com você. – disse quando chegamos até a garagem – Te pediria em casamento logo na linha de chegada.

Aqueles olhos esmeraldas me desafiaram.

— Ou morreria de paixão. Uma das duas coisas aconteceriam.


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Notas finais do capítulo

Voltei minhas amadas!!!!!!!!!!!
Vocês gostam de músicas nos capítulos ou tanto faz?



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