Monarquia Serpente - Bughead escrita por Fortunato


Capítulo 32
Capítulo 32 - Bônus


Notas iniciais do capítulo

Música do Capítulo: Wicked Games - The Hot Damns



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Alice Smith – Diário

Eu sabia que provocar meu temperamento ácido era arriscado, mas em momentos assim eu me perguntava se ele sabia disso ao ficar me encarando enquanto Grandelyn distribuía beijos pelo seu pescoço.

  Forsythe afastou a morena por míseros segundos para retirar a própria jaqueta. Ele seria o próximo a correr assim que os últimos carros do racha concluíssem a corrida. 

 Bufei quando percebi que além dele um outro garoto me observava atentamente enquanto comentava algo com o amigo. Eu queria ir embora dali ao mesmo tempo em que esperava por uma chance para correr também.

Era proibido a participação de mulheres no racha, mesmo que nós fossemos melhores nisso do que eles.Mas ninguém se importava. Isso aqui não passava de uma prática narcísica e machista na briga por ego além do prêmio em dinheiro. 

 – Preciso de um favor seu. – Penélope chutou levemente meu coturno para me chamar atenção. 

— Quando é que não precisa. – disse a olhando de soslaio.

Ela se sentou ao meu lado.

— Não olha agora, mas esse cara que está te secando desde cedo é o próximo a correr.

— E? 

— Preciso que coloque isso na bebida dele. – ela envolveu minha cintura deixando um frasco no bolso da jaqueta.

O toquei verificando no interior um líquido azulado e ralo.

— Nananão. - me sobressaltei. 

— Por favor Alice, preciso muito. 

— Então vai você. 

— Não vai ser tão fácil quanto se você fosse. Por favor. - suplicou. 

— Que merda é essa? – suspirei quase rendida a ceder. 

— Cianeto com veneno. – ela tombou a cabeça – Da mamba-negra que temos no bar.

Meus olhos se arregalaram.

— Penélope, você...? De onde você tirou isso? Por que quer matar o cara?!

— Shhiuu! – ela apertou meu braço olhando ao redor.

Felizmente todos estavam ocupados demais observando o penúltimo ganhador atravessar a linha de chegada. Os gritos eufóricos haviam ofuscado os meus de espanto.

— Isso não vai matar ele, fica tranquila. – ela continuou em tom baixo – Ele só vai desmaiar e no máximo ficar um pouco atordoado.

Eu ainda não tinha me acalmado. Minha expressão de assombro era o suficiente para que ela entendesse que deveria continuar sua explicação.

— Depois de ter perdido o racha, o Sr. Jones me pagou para que o filho pudesse ganhar. 

— Aquele velho é maluco Penélope! Eu nem sei como é que está na liderança. 

— Você pode dizer o que quiser, mas se não fosse ele eu estaria num orfanato fodido ao invés da Riverdale High. 

Revirei os olhos. 

— E onde foi que você conseguiu essa merda? - apertei o frasco no bolso com tanta força que por um segundo pensei em quebrá-lo na minha própria mão, se não fosse pelo veneno ali. 

— Eu fiz. - disse naturalmente. 

Ri sarcasticamente.

Penélope era uma garota extremamente inteligente e engenhosa para a idade.

Apesar de seus pais terem sido assassinados por uma gangue rival, o Sr. Jones havia conseguido a sua guarda, assim como fez comigo e vários outros serpentes. Isso era muito normal na gangue. Entretanto, ao contrário do que a ideia de adoção sugere, ele não se responsabilizava por nenhum de nós, apenas evitava que fossemos transferidos para algum tipo de orfanato ou nos afastássemos do lado sul. 

Alguns interpretavam como um gesto de solidariedade do líder para com sua gangue. Afinal, um serpente nunca abandona os seus não, é?

Errado. Pessoas como eu analisavam a situação de outra forma. Estávamos fadados a miséria. A pagar uma dívida disfarçada de favor a ele. Nunca teríamos a possibilidade de sermos adotados por uma família bondosa e correta. Nunca existiria a possibilidade de um ensino superior ou uma vida fora da cidade para nós. 

Nascemos aqui. Viveríamos aqui. Morreríamos aqui.

Condenados a viver sob uma má influência constante até que o destino nos salvasse. 

— Ele pode morrer Penélope. - a encarei erguendo as sobrancelhas - Você arriscaria seu futuro em Havard por causa de um racha idiota?

— Não vai. Eu tenho certeza. 

Franzi o cenho surpresa.

— Já testou isso em alguém?

— Em animais, na aula de química. - ela sorriu satisfeita - A dosagem é perfeita. O máximo que pode acontecer é ele ter uma convulsão. Fora isso,  o cianeto se dilui com o veneno, se examinarem vão achar que ele apenas misturou alguns analgésicos. 

Permaneci apreensiva. 

— Isso é loucura. 

— Eu divido a grana com você, mas tem que ser rápido. O Forsythe não pode perder essa. - batia o pé ansiosamente remexendo a terra seca de beira de estrada.

Os próximos a correr já estavam verificando os carros e se preparando  para iniciar a corrida.

— Então porque você não pede a namorada dele?

— Por que não é em mim que ele está com os olhos colados o dia inteiro. - Grandelyn surgiu atrás de mim abraçando meu pescoço – Aliás, seria estranho se eu desse em cima do cara se ele sabe que eu namoro seu rival.

Ela disse com a voz manhosa. 

— Qual é Alice, eu divido o dinheiro com você. – Penélope suplicou.

— E eu preciso muito que ele vença. - Grandelyn deu a volta se sentando do meu outro lado.

— Espero que esteja feliz em namorar um trapaceiro. – disse desinteressada me levantando. 

Grandelyn e Penélope se entreolharam no mesmo instante. 

— Ele não sabe disso aqui? - sorri pasma segurando o veneno por dentro do bolso.

— Ele me prometeu que se vencesse usaria o dinheiro para comprar a nossa aliança de compromisso. - a morena se justificou. 

Concordei atônita.

— É claro que prometeu. - fingi desinteresse - E eu não quero seu dinheiro sujo. - falei para Penélope antes de me afastar das duas. 

Como sempre, lá estava eu, me envolvendo em situações que não me recompensariam de nenhuma forma.

 O garoto que passou todo o seu tempo aqui me engolindo com os olhos agora estava na lateral do capô de seu carro, enquanto seu amigo de antes analisava o motor. Assim que ele me viu um sorriso sacana escapou e logo foi encoberto por sua garrafa que despejava a cerveja pela sua boca nojenta. 

Agora que estava próxima o bastante para repará-lo conseguia perceber que o garoto era um tanto quanto mais velho do que eu.  Mordi o lábio inferior tentando controlar os espasmos que corriam pelo meu corpo, consequentes do nervosismo pelo que estava prestes a fazer.

— E então gostosa, o que vai ser? – ele disse bebericando mais um pouco.

— Uma amiga me avisou que você esteve me olhando durante todo esse tempo. Então sou eu quem te pergunto... O que vai ser? 

Ele deu um sorriso completamente satisfeito.

— Vou correr agora e queria saber se você não me concede a honra de um beijo da sorte. – uma sobrancelha sua se arqueou.

Engoli em seco concordando com um aceno de cabeça.

— Apenas se comemorar a vitória comigo depois. - forcei um sorriso.

Ele colocou a garrafa atrás de si antes de me puxar pela cintura e colar seus lábios nos meus bruscamente.

 Foi mais difícil do que imaginei.

Mil vezes pior. Não, trilhões de vezes pior. Talvez fosse mais fácil colocar o veneno em minha própria boca antes que ele me beijasse do que tentar virar o líquido em uma garrafa enquanto lidava com seu hálito vencido e beijo tosco. Aquilo tinha durado segundos, mas no meu inferno pessoal, eu estava a horas naquele martírio horrível. 

Quando consegui efetivar minha tarefa ali o empurrei contra o carro me afastando. Ele ficou surpreso e logo tentei me justificar.

 Vamos deixar um pouco para depois, não acha?

Ele sorriu satisfeito uma última vez. 

— Tem razão gostosa. 

Me olhou de cima a baixo antes de pegar sua garrafa e virar o restante do que continha. Pela sua careta Penélope não havia dosado o sabor. 

— Você é safadinha do jeito que eu gosto. - ele limpou o canto da boca -Te vejo depois da corrida então.

 Ao passar por mim o cretino ainda desferiu um tapa forte contra minha bunda. Fechei um dos olhos em repulsa. Nunca mais faria algo assim. Por ninguém.

— Espero sinceramente que não. – sussurrei enquanto dava o meu mais belo sorriso falso.

(música)

 Assim que ele entrou no carro fitei Penélope que acenava sutilmente para mim com a cabeça.

Grandelyn já estava posicionada entre os dois carros para comandar o início da corrida.

Já Forsythe me encarava inexpressivo com seu corpo entre o carro e a porta do motorista, permanecendo assim por um tempo antes de entrar no seu veículo do outro lado da estrada. Apenas tempo suficiente para que eu notasse que ele estava me vigiando durante tudo o que aconteceu.

 Em minha mente eu queria afirmar que fiz isso pelas garotas, as minhas únicas amigas no mundo e não por ele. Jamais faria algo assim por um homem mal caráter e cafajeste como ele. Essa era a mentira que eu me convenceria a aceitar.

No fundo eu sabia que era pior do que ele.

Mas nós éramos o pior juntos.

 Sempre. 

Grandelyn retirou seu lenço vermelho da cabeça o erguendo no topo da cabeça ao mesmo passo em que o Sol se punha no horizonte. Os motores rosnavam e meu estômago se revirou avisando que aquilo não terminaria bem.

 Assim que seu braço frágil e magro se abaixou, os dois carros cortaram a estrada até sumir no horizonte, junto com o Sol que anunciava o fim do dia. Todos gritavam comemorando, inclusive o Sr. Jones, certo da vitória de seu filho. Apenas um sairia vencedor, não por mérito, mas sim por injustiça.

 Ei, Tyson! Acha que pode me levar em casa? 

O garoto que apreciava a corrida até então me olhou preocupado quando me acerquei dele.

— Tudo bem pequena? – ele disse docemente.

— Sim, só tô cansada dessa merda toda. – enruguei o nariz forçando um sorriso.

— Também já tô cheio disso. – ele disse me entregando o capacete.

— Aliás, você que é muito alto, não eu que sou pequena. - fingi me ofender. 

— Pode me apelidar também, assim ficamos quites.

— Combinado então... – pensei um pouco – Tall Boy....

 Ele deu um riso abafado pelo capacete e fomos embora dali sem acompanhar o final da corrida.

Ou melhor, sem presenciar o início de toda a merda que viria a seguir.  


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Notas finais do capítulo

Então gente, Tall Boy significa garoto alto :)
O que acharam?



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