Monarquia Serpente - Bughead escrita por Fortunato


Capítulo 33
Capítulo 33


Notas iniciais do capítulo

Música do Capítulo: D Fine Us - Howling at the Moon



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Jughead Jones

— Que diferença faz Sweet Pea aqui ou não? – dei de ombros.

FP comprimiu os lábios em desaprovação. Percebi seu olhar direcionado ao banco de trás pelo retrovisor central.

— Não ache que está em boa posição para debochar garoto, você pode ser líder de uma gangue agora, mas ainda sou seu pai e Xerife dessa cidade. – disse firme.

Deixei um suspiro pesado de desprazer escapar. As árvores da estrada escura não passavam de vultos frios me recordando de um pesadelo recente com Elizabeth na floresta. Olhei meu pai com a farda de Xerife. Exatamente como no sonho.

— O que ele aprontou dessa vez? – esbocei um sorriso pensando que ele não pudesse ver.

— Jughead, isso não é engraçado. Vocês três estão sob minha tutela e tudo o que fazem fica sob a minha responsabilidade.

— É tão responsável que nem sabia que ele tinha saído da cidade.

— Se quer mesmo saber estava ocupado livrando sua barra de uma briga ilegal.

— Eu não comecei a briga, achei que você já tivesse entendido isso. – apoiei o braço na janela do carro entediado.

— Mas você a terminou. 

Touché.

Bufei impaciente com a conversa. Era uma merda ter que levar sermão por culpa de outra pessoa, principalmente quando esse outro era Nick ou Sweet Pea. Nunca fui com a cara de nenhum dos dois.

— Olha Jughead, eu já fui um adolescente como vocês. Só não quero que cometam os mesmos erros. E, se eu pudesse mudaria muita merda que já fiz na vida. 

— Eu não sou você. – olhei para Fangs de soslaio constatando que ele estava dormindo, inclusive com a boca aberta – Inclusive acho que Pea fica melhor longe daqui, ninguém merece a confusão dessa cidade.

Ele me olhou impassível.

— Talvez deva te mandar para Toledo também, agora que sua desculpa de baile já passou.

— É sério?.... Não pode ser sério. O baile passou e o problema com o tráfico também. Não tem perigo nenhum que me impeça de ficar aqui. – me sobressaltei com a possibilidade.

— A gangue é um perigo.

O olhei desinteressado.

— Eu não sou uma criança.

— Mas age como uma várias vezes.

Revirei os olhos.

— De que forma a gangue pode ser um perigo se sou eu que lidero ela agora?

Meu pai passou a mão na barba convergindo o carro para o pátio de trailers antes de parar o veículo completamente.

— Eu não vou esconder que sinto orgulho pela sua posição na gangue. Sinceramente? Meus parabéns Jughead! Mas não quero que se prenda a ela. Você tem que abrir seus horizontes ao invés de continuar em uma cidade em que pessoas desaparecem e pais são traficantes.

— Você é um traficante? – ele recuou e eu continuei – Não? Então pronto. Acho que vou ficar bem. Além do mais, eu tenho um bom motivo para ficar e não é a gangue.

Ele ergueu as sobrancelhas surpreso.

— Eu já estive no seu lugar e vê se escuta o meu conselho, não vale a pena apostar todas as suas fichas em uma garota.  

— Você não a conhece, ela é diferente.

— Eu conheço a mãe dela. Garotas do lado Norte querem uma vida dali pra cima e não caras que moram em um trailer. Acredite em mim.

— Ela não pareceu se abalar com o trailer. – sai do carro batendo a porta em seguida.

Fangs deu um pulo no banco de trás acordando com o barulho.

— Trouxe ela pra cá? Quantas vezes já te disse que não queria garotas aqui Jughead? - FP disse furioso.

— Como te disse, ela é diferente.

Meu pai comprimiu os olhos para mim em uma expressão ameaçadora. Apenas ergui as sobrancelhas retribuindo seu olhar. Fangs passou por nós sentindo o efeito do álcool pesar pelo seu corpo arrastado.

— Valeu pela carona FP. – murmurou indo até o trailer que costumava dividir com Pea.

— Aliás, o que tipo de problema Sweet Pea arrumou dessa vez?

FP pensou por um tempo.

— Ultrapassou o limite de velocidade e desacatou um policial. – ele deu de ombros – Viram na ficha dele que sou o responsável e entraram em contato comigo na delegacia pouco antes do incidente com Tony e Fangs.

Meu pai arregalou os olhos de um jeito trágico.

Realmente eram muitos problemas para um único velho, mas para encerrar a noite eu deveria acrescentar uma última coisa.

— Esse fim de semana é o racha de gangues. – comentei. Meu pai me olhou pelo canto do olho folheando o bolo de chaves para abrir o trailer – Vieram me pedir para voltarem a participar. Sabe, tirar uma grana extra já que não tem aparecido serviço nenhum.

— Jack morreu na última vez que os serpentes participaram. – sibilou – E eu proibi desde então.

— Sim, mas  eu sou o líder agora. – disse com receio.

Ao contrário do que pensei ele não retrucou.

Meu pai usou o peso do corpo para abrir a porta emperrada. 

— Então espero que tome a melhor decisão para sua gangue. – ele jogou o chapéu sob a mesa – E que o Xerife da cidade não pegue vocês. - piscou com um dos olhos antes de ir para o quarto.

Meu pai era ríspido na maioria das vezes e em quase todas elas eu entendia sua proteção por trás de uma bronca ou castigo desnecessário. De qualquer forma, eu era um dos únicos garotos num raio de 10 quilômetros que ainda tinha um pai. Ainda mais um como o meu.

Assim que tirei as roupas para dormir, livre como vim ao mundo, percebi que minha camiseta estava marcada pelo cheiro doce de Liz. Permanecei por alguns minutos pensando sobre o que a tinha deixado estranha no hospital. Acabei caindo no limbo do sono e sonhando com ela e seu péssimo hábito em mexer com a minha cabeça. Como sempre.

◙ ○ ◙ ○ ◙

O domingo não passou tão rapidamente como eu queria que fosse. Sem Elizabeth parecia que o tempo se deliciava em me torturar ao prolongar cada minuto das malditas horas sem ela.

Fiquei tão ou mais impaciente quando não a vi na sala de aula, foram mais longas horas sem sua companhia. Um martírio grande demais para alguém que havia pecado tão pouco na vida. A sensação vazia que sentia de Elizabeth era extremamente parecia com a que senti quando parei de fumar.

(música)

Impaciente caminhei até o armário para pegar as chaves da moto. Não precisaria me preocupar com as últimas aulas e estava angustiado o suficiente para ir até a casa dela.

Entretanto, assim que atravessei o corredor em direção à saída, senti uma mão me puxar para dentro de uma sala vazia. Ao contrário da primeira vez que isso aconteceu, essa era outra Elizabeth. Sorri involuntariamente ao visualizar seu rosto delicado e atento.

— Senti sua falta. – murmurou.

Antes que eu pudesse responder a loira colou seus lábios nos meus pedindo passagem com a língua em um beijo terno, o qual cedi a puxando para mim. Ao final me separei dela com um inevitável sorriso bobo. Ela por outro lado mantinha uma expressão complexa que vagavam por mim de cima a baixo.

— Também senti a sua. – colei nossas testas acompanhando seu olhar – Onde estava? Já ia sair para te procurar...

Uma sobrancelha sua se arqueou. Só então percebi olhos tinham um tom mais escuro do que o normal.

— Mataria uma aula por mim Sr. Jones? – perguntou mordendo os lábios de um quase sorriso.

Pensei por um segundo.

— Às vezes chego a pensar que mataria uma pessoa por você... – respirei tenso – Srta. Cooper.

— Pois então, - ela correu os dedos finos e gelados pela gola da minha jaqueta até chegar a nuca, alcançando alguns fios de cabelo e parando ali – eu quero te mostrar um lugar e tirar prova de uma coisa. Você vem comigo?

Concordei com a cabeça.

— Vou onde você quiser. – as palavras saíram rápidas demais me fazendo parecer estúpido.

Ela sorriu se desvencilhando de mim e me dando a mão para sair da sala. Antes que colocasse todo o seu corpo para fora ela deu uma olhada no corredor, assegurando que ninguém nos veria. Em seguida atravessamos o mesmo em direção às escadas.  

— Eu estava com o diretor agorinha mesmo. Mary Andrews assumiu minha guarda. – anunciou enquanto caminhávamos.

— E o que você achou?

— Em breve vou completar dezoito anos, então não acho que eles precisem se preocupar comigo por muito tempo.

— Não quis dizer dessa forma Liz... Tipo, como você tá com isso?

Ela pensou por um momento.

— Mary sempre foi muito boa para mim. Acho que não teria ninguém melhor. – um suspiro rápido a cortou - Mas ainda sinto falta da minha mãe e não sei se quero visitar meu pai na prisão depois da última coisa que ele me disse.

— No dia da emboscada?

— Ele disse que me mandaria para o mesmo lugar que mandou mamãe. – ela ergueu uma sobrancelha.

— O que não necessariamente é uma coisa ruim.

— Bom Jug, se ele mandou ela para algum lugar com certeza não é a Disney. – Liz disse cética e acabei grunhindo em uma tentativa falha de segurar o riso.

Ela parou de andar para me encarar desacreditada.

— Desculpa é que, talvez ele a tenha mandado para um lugar seguro. Lembra quando te contei que ela estava fugindo de alguém? – a loira concordou com a um aceno – Então, pode ser isso.

— Ou pode ser que ele tenha a mandado para o inferno. – a seriedade e a tranquilidade que Liz falava isso me deu calafrios. Ela voltou a caminhar em direção à biblioteca.

— Acha que ele seria capaz disso?

Ao chegar ao grande salão de livros ela apenas correu os olhos por todo ambiente antes de prosseguir para o interior de um dor corredores entre estantes.

— Acho que em Riverdale todos somos capazes de tudo. Até mesmo meus pais ou os seus. – concluiu.

Ao fundo da biblioteca uma porta quase imperceptível compartilhava a mesma madeira escura que as prateleiras e estantes do lugar. Elizabeth suspirou antes de tocar a maçaneta

— Jughead, se eu estiver certa sobre esse lugar, muitas coisas vão mudar.

Sua mão girou e a porta se abriu silenciosamente exibindo uma série de tubulações e painéis de energia com uma única janela ao fundo que mal iluminava o lugar por ter pouco espaço entre outra parede externa.

Fechei o compartimento atrás de mim me aproximando dela que resvalava seus dedos em duas letras talhadas no mármore.

AS

Ao lado outras duas letras estavam talhadas com mais força e um pouco de imprecisão, como se ao contrário das primeiras tiveram sido feitas às pressas. Demorei pouco tempo para entender de quem se tratava, afinal, tínhamos o mesmo nome a três gerações.

— O zelador vem aqui toda semana limpar esse lugar, o gerador da escola não pode acumular poeira por ser antigo. Pelo visto não trocaram até hoje, mesmo depois de tantos anos. – disse observando o lugar.

FPJ

— Meu pai? - percorri meus dedos por ali completamente perturbado.

— E Alice Smith. – ela passou a mão pelos cabelos os jogando para trás – É o nome de solteira da minha mãe.

Ainda não podia acreditar na tranquilidade com que ela dizia aquilo. Eu estava completamente perplexo. O que significava aquele lugar e as iniciais esculpidas na janela? E principalmente, porque ela parecia estar muito mais tranquila do que antes?

— Liz, - balancei a cabeça aturdido – o que significa isso?

— Significa tantas coisas Jug... Que minha mãe não era quem eu pensava que fosse. Que seu pai não é quem você pensa que é. E que provavelmente ninguém nessa merda de cidade é quem parece ser.

O tom escuro voltou a tomar sua íris esverdeada. Seu semblante também trazia traços sombrios. Liz exalava algo que não lhe pertencia, mas que lhe caia extremamente bem. Uma outra versão sua que vinha sempre em momentos assim.  

Engoli em seco.

— Como você descobriu esse lugar?

Ela se sentou no beiral da janela entrelaçando as mãos ente as pernas.

— Ontem eu achei os diários de mamãe. Entre várias coisas sobre a gangue, ela disse sobre esse lugar. Ela e FP vinham aqui para conseguir sair da escola sem serem vistos, ao que parece naquela época não era tão fácil matar aula. – deu um sorriso vago olhando para o estacionamento que ficava logo ali.

— Eu não sabia que eram amigos. Principalmente assim tão próximos.

— É porque eles não eram amigos. - mordeu o lábio inferior – Até onde eu li, eles eram amantes Jughead.

Estava tão nervoso que acabei rindo involuntariamente.

— O que?

— Essa não é a pior parte. – ela desceu do beiral tentando abrir a janela –Lembra do delírio de Fangs sobre o veneno azul? Eu sabia que tinha ouvido isso em algum lugar e... bingo, minha mãe fala algumas coisas sobre cianeto com um tal de veneno de cobra.

— Então Tony realmente foi envenenada. – levei as mãos ao rosto o apertando.

— Eu tive que pesquisar sobre isso Jughead. – ela continuou tentando abrir a janela - Penélope Peabody conseguiu uma bolsa em Oxford depois de sua única concorrente entrar em coma no dia da prova, e sabe o que é mais engraçado? Além da boca azul não tinha porra nenhuma na corrente sanguínea da garota.

— A Penny? – questionei puto – Desgraçada. Assim que eu me encontrar com ela, eu juro por Deus que...

— Ei! – ela chamou massageando as mãos vermelhas – Será que tem como me ajudar a abrir essa merda ao invés de ficar andando de um lado para o outro?

— Desculpa Liz. – dei um beijo no topo de sua cabeça abrindo a peça pesada de madeira e a encaixando no topo.

Ela observou o lado exterior e depois se voltou para mim.

— Escuta, eu quero vingar Tony tanto quanto você, mas nós vamos fazer isso juntos e vamos fazer direito, tá bom? - levou a mão ao meu rosto me fazendo prestar atenção no que dizia.

— Tá.

— Primeiro temos que ir ao hospital ver Tony, depois pensamos em como lidar com a Penny. – ela voltou meu rosto na sua direção quando comecei a me dispersar – Combinado?

Concordei. A biblioteca era no primeiro andar da escola, não me admira que meu pai matasse aulas. Até onde eu sabia ele pegava muito no meu pé para que eu não fizesse isso e agora eu sabia o motivo.

Ao chegar no estacionamento a moto de Liz estava ao lado da minha e o capacete preso ao guidom exatamente como o meu. A sensação vazia que eu sentia alguns momentos antes estava completamente preenchida com um sentimento bom.

Tirando o fato de que Tony estava mal no hospital e que tínhamos coisas importantes para resolver um sentimento de que tudo terminaria bem sempre me enchia quando estava com Elizabeth. Ela era a paz para o Oriente Médio do meu coração, era a bandeira branca que eu precisava.

— Liz? - chamei assim que ela subiu em sua moto

— Huh?

— Eu senti muito sua falta.


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Notas finais do capítulo

E esse Jughead cadelinho apaixonado? Quem nunca?



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