Olhei para a bebê de pé em cima do tapete da sala segurando na mesinha de centro para se equilibrar. Ela estava para dar seus primeiros passos sozinha e já havia começado a balbuciar algumas coisas ininteligíveis então não demoraria a falar também. Sorri vendo Molly me olhar e vir em minha direção, nem conseguia acreditar que minha bebê faria uma ano em menos de dois meses. O tempo passou depressa demais.

  - O que a minha linda namorada está pensando com essa expressão tão séria? - Ethan se aproximou e me beijou sentando-se ao meu lado no sofá.

  Nós estávamos na casa da mãe dele, tínhamos vindo aqui para o almoço e estendemos a visita - como sempre acontecia - até mais tarde, Charlotte se cansou de brincar e foi tirar um cochilo em seu quarto e Seth estava lá fora brincando com uns amigos que conhecia sob a supervisão de Susan. Já Brianna tinha passado as últimas duas horas no telefone com Josh, ele tinha ido visitar uma tia com a mãe e a irmã então eles não se veriam esse final de semana.

  - Só estava pensando em como o tempo passou rápido, Molly já vai fazer um ano.

  - Vai mesmo, minha bonequinha - ele sorri quando a bebê nos alcança e a pega no colo. Ela ri também e sorrio vendo a cena. Ethan me olha de volta e sorri. – Qual você acha que será a primeira palavra dela?

  - Qualquer coisa que tenha a ver com comer – digo divertida. Molly não nega ser uma Price, ela tem o apetite dos irmãos.

  - Eu acho que não – ele diz divertido, olhando de mim para ela, mas não completa a frase. – Nós vamos até a cozinha tomar uma água. Quer alguma coisa?

  - Uma fatia do bolo de chocolate da sua mãe – digo suspirando e Ethan ri.

  - É pra já.

  Ele sai levando Molly e fico no sofá sonhando com o bolo de chocolate. Quando volta me entrega o bolo e estou comendo como se fosse minha última refeição quando o celular de Ethan toca, tenho pra mim que já é a quinta vez desde que chegamos à casa de Susan.

  - Não vai atender? – pergunto depois que para e recomeça a tocar. Ethan suspira, ele vem dizendo que não é nada a tarde toda, mas aquilo já está começando a me incomodar. Se não é nada por que ele não atende logo de uma vez?

  - Não é nada, realmente... – Ethan suspira mais uma vez olhando o visor do celular e depois fica de pé colocando Molly no chão apoiada em minhas pernas. – Vou atender – ele decide. – Por que agora? – resmunga se afastando e fico sem entender.

  Estou comendo meu bolo e dividindo-o com Molly quando Brianna aparece sorrindo como boba, é engraçado de ver.

  - Oi cunhadinha – ela cumprimenta se juntando a mim no sofá e pegando Molly no colo para beijá-la. No momento em que seu perfume me atinge meu estômago revira. – Olivia, você esta bem?

  Não respondo, largo o parto com o resto do bolo sobre a mesinha de centro e corro para o banheiro, o cheiro doce da minha cunhada me fez querer colocar pra fora tudo o que eu comi. E foi o que eu fiz assim que alcancei à privada, meu estômago se contorceu até expulsar tudo que estava em seu interior. Em meio a toda essa situação extremamente nojenta senti alguém segurar meus cabelos. Quando finalmente voltei a respirar meio trêmula o cheiro enjoativo me atingiu outra vez e soube que era Brianna me ajudando.

  Fiquei de pé e me apoiei na pia para me equilibrar, vi Brianna na porta do banheiro com Molly ainda no colo me olhando preocupada. Lavei o rosto e a boca algumas vezes antes de voltar a encará-la.

  - Você está bem? Olivia? – ela pergunta finalmente e tento sorrir mesmo que esteja evitando respirar fundo para não aspirar o cheiro doce de seu perfume.

  - Estou. Acho que exagerei no bolo, foi só isso – respondo e minha cunhada ergue uma sobrancelha me encarando desconfiada.

  - O bolo? Tem certeza disso? Você não está doente, está?

  - Eu estou bem, Bri. Sério. Nós acabamos de almoçar e eu estou comendo bolo com certeza ia passar mal.

  - O que aconteceu? – Ethan pergunta surgindo atrás de Brianna e faço careta, eu devo estar horrível.

  - Sua mulher passou mal – Brianna diz quase como se fosse uma acusação e na verdade parece isso mesmo. Ethan arregala os olhos, passa por ela e vem até mim.

  - Você está bem?

  - Estou, Ethan. Vocês irmãos são muito exagerados. Eu só comi demais. A gente pode esquecer esse assunto? – pergunto saindo do banheiro e sendo seguida pelos dois.

  - Que assunto? – Susan pergunta entrando na sala com um Seth todo sujo da brincadeira e eu suspiro ao passo que Brianna sorri como se tivesse ganhado a discussão. É, vai ser uma longa tarde.

  No fim os Price’s fizeram do meu mal-estar uma grande coisa e só não acabei no hospital por que os convenci que estava bem. Afinal, era demais achar que eu estava com sei lá, alguma doença estranha e terminal. Depois muita conversa Ethan, eu e as crianças finalmente conseguimos ir embora. E por causa de toda a comoção eu não consegui perguntar a ele sobre a ligação que ele não queria atender.

  E depois disso vários dias se seguiram e quando eu finalmente consegui uma brecha ele disse apenas: “Não era nada importante”. E isso só me deixou ainda mais curiosa sobre o assunto. Quem que com tanta insistência queria falar com Ethan? Ele continuou a receber telefonemas e a ignorá-los e eu resolvi deixar pra lá, por que me preocupar com isso não resolveria nada mesmo.

  Era uma segunda-feira a tarde então eu e Molly estávamos sozinhas no supermercado escolhendo algumas frutas e verduras. Mesmo que fingisse que não, eu tinha muita coisa para fazer, a minha bebezinha faria um ano em poucas semanas e ela teria uma festa incrível e eu, Brianna e Susan estávamos nos assegurando disso. Então era decoração, bufê, doces e vários detalhes a escolher e providenciar, o aniversario dela seria da Branca de Neve, uma princesa que pra mim era a cara da minha bebê.

  Eu tinha acabado de adicionar mais um item na minha lista do celular de coisas que eu precisaria para a festa quando chegou uma mensagem de Brianna me convidando para tomar um sorvete, sorri com a ideia, eu ia adorar então confirmei o convite e disse que chegaria ao shopping em meia hora e fui em direção ao caixa do supermercado.

  Eu e Molly nos atrasamos um pouco por causa do transito, mas nada que comprometesse nosso passeio, cheguei à praça de alimentação com a bebê presa em um braço e sua bolsa em outro. Vi Brianna sentada em uma das mesas lendo um livro sem nem me notar, sorri e fui até ela. Quando parei de pé ao seu lado e fiz sombra em seu livro e ela finalmente levantou os olhos.

  - Ah, Olivia! – exclamou fechando o livro e tirando os fones de ouvido. Brianna guardou tudo e sorriu ao voltar a me olhar. – Você estava demorando então fui ler.

  - Percebi – disse divertida me juntando a ela na mesa. – O livro está bom?

  - Ótimo. A protagonista acabou de dar um ultimato no namorado por causa de uma confusão do passado deles – ela diz divertida. – Mais um pouco e eu finalmente vou descobrir se eles se conheciam ou não.

  - Parece realmente muito bom.

  - Olha, eu morro de ciúmes dos meus livros e não costumo emprestar a ninguém, mas se for pra você talvez eu abra uma exceção. Se você quiser ler, claro.

  - Eu ia adorar e eu vou cuidar dele com a minha vida – prometo e ela ri.

  - Ok, então. Agora vem aqui, Molly, com a tia Bri que quero te apertar – Brianna pega a bebê do meu colo e brinca com ela até ouvirmos sua risada gostosa.

  Brianna me atualiza do seu relacionamento que de acordo com ela está “Indo muito bem, obrigada!” e vejo-a sorrir boba enquanto fala de Josh e conta pela milésima sobre sua surpresa, a essa altura ela já havia praticamente jurado que devolveria o “favor” a mim e Holly e nos “enganaria em nome do amor” eu sempre ria quando escutava isso.

  Minha cunhada como o amor de pessoa que era, tinha amado a ideia da surpresa depois que entendeu tudo o que aconteceu, e parecia determinada a retribuir o favor a alguém, qualquer um que fosse, desde que pudesse ajudar em uma surpresa de amor. Toda a sua determinação me divertia, ela tinha coração de uma heroína de romance e com certeza a imaginação de uma escritora.

  Depois de um tempo nós finalmente seguimos até o nosso destino final: a sorveteria com o letreiro colorido que havia ali na praça de alimentação. Nós duas estávamos na fila esperando ser atendidas, eu com Molly no colo, Brianna com a bolsa da bebê e o cardápio nas mãos. Ela tagarelava sobre as dezenas de sabores que tinha e qual queria quando eu vi um anuncio num telão da sorveteria e adquiri uma necessidade quase física de tomar sorvete de chocolate com menta.

  - Eu quero sorvete de chocolate com menta – anuncio em meio ao monólogo de Brianna. Ela me olha curiosa.

  - Como?

  - Chocolate e menta, com cobertura de morango. Muita cobertura de morango – sonho acordada e minha cunhada me olha curiosa por alguns segundos e parece pensar e calcular alguma coisa.

  - Brianna? – chamo e ela pisca. – Tudo bem?

  - Sim – minha cunhada dá um enorme sorriso. – Tudo ótimo. Vamos pedir?

  Nós alcançamos o balcão e eu finalmente me vejo em posse do doce gelado que tanto quero. Brianna pede de chocolate com mais chocolate de cobertura e nós voltamos a nossa mesa que por algum milagre não foi ocupada por ninguém. Estou tentando comer e evitar que Molly meta a mão no meu sorvete enquanto minha cunhada me olha rindo a cada meio segundo. Eu comia tão empolgada que demorei uns cinco minutos para perceber ela me olhando.

  - Certo. O que foi? – pergunto quando ela não fala nada.

  - Você não percebeu mesmo nada de errado?

  - Errado? Do que está falando, Brianna? – pergunto depois de uma colherada de sorvete.

  - Não é a primeira vez nessas últimas semanas que você adquire uma vontade louca de comer alguma coisa. Por que, pelo jeito que está comendo, parece que vai morrer se não terminar esse sorvete.

  - Você está exagerando.

  - Estou é? E o bolo na casa da minha mãe semana passada? E as panquecas com morango antes disso? Você me fez ir comprar morangos pra você! – ela diz exasperada e suspiro.

  - Ok, talvez tenham sido algumas vezes, mas é só por que eu estou tendo umas vontades estranhas.

  - Por quê? – ela pergunta parecendo excitada a ponto de quicar na cadeira de animação.

  - Eu não tenho ideia.

  - Pelo amor de Deus, Olivia! Você só pode estar grávida! – Brianna exclama e fico sem reação. Como assim, eu grávida?

  - Você está brincado, certo?

  - Não mesmo! Pensa. Você teve a tontura na sua casa e quase me matou do coração antes dos morangos, passou mal no outro dia. Teve enjoo na casa da minha mãe depois do bolo, por causa do meu perfume. Do perfume! A não ser que não tenha chance disso e eu esteja delirando aqui. Tem chance de você estar grávida, Olivia? Por que eu sei que você e meu irmão são uns tarados, mas se, se prevenirem as chances são bem menores... – ela vai divagando e interrompo-a.

  - Não. Nós não... Nunca... – paro surpresa de reparar nisso só agora. Mas a verdade é que nem eu, nem Ethan nunca tomamos nenhuma medida contraceptiva. Nem pílulas, nem camisinha, nada.

  - Nunca? – Brianna pergunta sorrindo. Seus olhos azuis vão se arregalando e arregalando por trás das lentes dos óculos e quase acho que vão explodir. – Ai meu Deus! Eu vou ser tia outra vez!

  - Brianna! – a repreendo quando algumas pessoas nos olham feio. – Por favor, a gente nem sabe se é verdade.

  - Então vamos saber. Vem – ela chama ficando de pé e a olho sem entender.

  - Como?

  - Estamos em um shopping, aqui tem farmácia, vamos comprar um teste, dois, três, enfim vamos descobrir o que eu já sei, só pra deixar claro – ela sorri, pega Molly do meu colo e me olha a espera de algum movimento. – Vem, levanta daí, Olivia.

  - E o meu sorvete? – pergunto quando não tenho mais nada pra falar e ela ri.

  - É só trazer.

  Pego o sorvete e sigo-a. A ideia de estar grávida, grávida de Ethan me apavora um pouco, afinal Molly não tem nem uma não ainda, mas também me encanta. Se fosse verdade, e Brianna achava que era, eu teria um bebê, por que mãe eu já era. Enquanto escolhíamos vários testes de marcas diferentes na farmácia do shopping eu sorri divertida, no fim isso não é uma grande surpresa, não quando eu e Ethan não tomamos nenhuma precaução.

  Depois de comprarmos todos os testes possíveis, nós vamos ao banheiro que para minha surpresa e felicidade está vazio. Brianna está com Molly e a bolsa da bebê quando praticamente me expulsa para um dos boxes, e depois de uma garrafa de água e muita ansiedade não é difícil ter vontade de fazer xixi. Sigo as instruções de cada um dos testes e quando saio com eles do box minha cunhada está quase quicando de ansiedade, eu não estava muito diferente. Acho que cinco minutos nunca demoraram tanto para passar.

  - E então? – Brianna perguntou quando o alarme que programei tocou.

  Olhei todos e cada um deles, não havia erro, aqueles que não tinham um sinal de positivo, tinham duas listras.

  - Deu positivo – digo com uma súbita vontade de chorar, mas também estou sorrindo. – Eu estou grávida!

  - Ai meu Deus! Ai meu Deus! Eu sabia! – ela exclama e as duas mulheres que entravam no banheiro nos olham feio, trocamos um sorriso e resolvo jogar os testes no lixo, guardo apenas um que tem uma tampinha para fechá-lo. Brianna me olha com curiosidade enquanto saímos do banheiro. – Por que guardou um?

  - Para mostrar ao Ethan. Será que ele vai gostar da notícia?

  - Com certeza. Meu irmão é apaixonado por você e pelos filhos, a família vai aumentar e eu estou amando, sei que mamãe vai adorar também. Mas e você, gostou da novidade?

  - Sim. Quer dizer, eu ainda estou em choque, mas amei. Eu amo esse bebê tanto quanto qualquer uma das crianças. Ai meu Deus! Vão ser quatro! – exclamo e Brianna ri.

  Agora com a desculpa do bebê, mesmo que seja tudo novidade, eu posso pedir à Brianna para fazermos umas pausas para alguns lanches sem nem ser questionada. O que devia ser uma ida à sorveteria se tornou um passeio completo pelo shopping, com direito à minha cunhada me arrastando a uma loja de bebê e tudo. Só encerramos nossa tarde quando vi que já estava praticamente na hora de buscar as crianças. Sorri ao pensar nos meus amores, o que eles achariam da novidade?

  Despedi-me de Brianna e segui até a escola para buscar meus pequenos tagarelas que continuavam exatamente assim quando os peguei, ambos falavam ao mesmo tempo das aulas que estavam fazendo e do quanto tinha sido divertido. Eu gostava de ouvi-los, principalmente Seth, que agora disputava espaço com Charlotte para ser ouvido. Era extremamente divertido vê-los tentar chamar minha atenção.

  - Mamãe na minha próxima apresentação eu posso passar maquiagem? – Charlotte pergunta quando ajudo-a a descer do carro, ela está uma graça em sua roupa de balé cor de rosa. Seth em seu quimono já desceu e trouxe consigo a bolsa de Molly, sorrio para ele depois de pegar a bebê.

  - Só se a sua professora deixar e eu passar.

 - Mas por quê?

  - Por que sim, Charlotte. Você ainda é muito nova para passar maquiagem. E você Seth, vai cortar o cabelo para a festa da sua irmã.

  - Por quê? – ele pergunta indignado depois de abrir a porta da sala e entrar, mas para ali no batente.

  Estou prestes a respondê-lo quando o alcanço e vejo o motivo do seu súbito silêncio. Meu garotinho recua e praticamente se esconde trás de mim, Charlotte para ao meu lado também, segura a beirada da minha blusa e eu encaro a figura de pé no meio da sala. Evelyn está ali em toda a sua altura e beleza de modelo, eu sei que é ela, Ethan nunca me mostrou, mas pedi a Brianna e ela o fez, havia centenas de fotos da loira na internet. Ela era de fato uma modelo conhecida.

  Para minha surpresa Ethan estava com ela, de costas para nós, por isso ele demorou a nos ver, parecia surpreso ao me ver e eu tive que engolir o gosto ruim na boca e a certeza que ia odiar tudo que viria a seguir.

  - Então essa é a babá? – Evelyn perguntou com uma voz irritante enquanto mostrava todo seu desdém, ela me lembrava Erika e essa constatação só me fez sentir ainda pior.