Brianna

  Já devia ter umas duas horas que eu estava cordada encarando o teto estrelado do meu quarto. Agora elas já estão praticamente apagadas, mas quando acordei as estrelas ainda brilhavam, olho as horas no celular mais uma vez só para ter certeza que ainda são 07h40h da manhã. Dizer que eu havia dormido mal era ser gentil, eu sequer tinha dormido.

  Passei a noite pensando em Josh e em sua mentira. O que mais me doía não era nem ele ter algo que quisesse fazer sem mim, nós estávamos juntos, não éramos siameses, então não havia problema nisso, o problema mesmo era que ele tinha mentido pra mim. Ele disse que trabalharia hoje, que não poderíamos sair por que estaria no trabalho. Mas ele não ia trabalhar hoje, então o que era tudo isso?

  Se ele havia se cansado de mim devia me dizer. Ser sincero, por que ser enganada eu não suportaria, não mais, não por ele. Senti as lágrimas escorrerem e molharem minhas orelhas, era ridículo o fato de que eu estava na minha cama deitada desde as cinco da manhã pensando e repensando em tudo isso. Sequei o rosto e tentei me acalmar.

  Era Josh, afinal, ele não era qualquer um e como tinha dito Olivia ele não faria algo assim comigo, tudo isso devia ter uma ótima explicação e eu só precisava me acalmar para chegar a ela. Talvez ele mesmo fosse me ligar nas próximas horas para me explicar de uma vez por que raios ele não falou direito comigo nos últimos dias! Aquele idiota!

  - Argh! Idiota! – extravasei minha frustração me sentando e atirando um dos meus travesseiros na porta.

  - Brianna? – ouvi minha mãe chamar e logo depois a vi quando ela abriu a porta e colocou parte do corpo para dentro do quarto. Dona Susan olhou para a almofada no chão e depois pra mim. – Está tudo bem?

  - Está sim.

  - Certeza? Por que parece realmente brava com alguém, foi o seu irmão? – ela insistiu e eu suspirei negando com a cabeça.

  - O Ethan não tem nada a ver com isso, dessa vez. Foi só o Josh que me irritou, mas não foi realmente nada demais, sério.

  - Tudo bem - ela deu um meio sorriso. – Vou acreditar em você. E fique calma, Ok? Está cedo demais para estressar, Brianna. Hoje é sábado. Vá sair com suas amigas!

  - Tudo bem, mamãe – acabei sorrindo. – Vou ver se alguém quer dar uma volta.

  Ela assentiu, me deu um último sorriso e saiu do quarto fechando a porta atrás de si. Eu voltei a me jogar na cama e suspirei. Será que sair era uma boa ideia? Talvez fosse, afinal, assim pelo menos eu pararia de pensar em Josh. Eu analisei minhas opções e eu não estava a fim de ver nenhuma das minhas amigas da faculdade, elas ainda estavam batendo na tecla de “Você gosta mesmo de Josh Taylor, o nerd?”. E eu já não aguentava mais isso, então resolvi ligar para Holly.

  Chamou, chamou e chamou, mas ela não atendeu. Claro que não, ainda não eram nem oito horas da manhã de um sábado, ela devia estar dormindo. Deixei uma dezena de mensagens convidando-a para sair e pedindo que ela me ligasse quando acordasse e desisti do celular. Para Josh eu não ia ligar. Estava desde ontem sem falar com ele uma vez que ele não havia falado direito comigo e estava odiando isso.

  Até tentei dormir outra vez, quando vi que não ia rolar peguei meu romance no criado mudo e os óculos para ver se assim pelo menos eu conseguia me distrair, não funcionou, nem a protagonista ingênua e romântica do século XIX me fez esquecer meu quase namorado irritante. Então resolvi sair de uma vez da cama, tomar um banho e ficar linda para fazer coisa nenhuma.

  Depois de um banho mais do que demorado onde eu passei mais tempo pensando na vida que me lavando eu me vesti, um vestido branco de renda que ia até os meus joelhos e eu amava. Resolvi secar os cabelos e fazer cachos, me arrumar era um jeito que eu tinha de me distrair e extravasar minha frustração. E como eu estava muito irritada eu precisava de muito para me acalmar então quando terminei estava devidamente maquiada, nada muito exagerado, mas o suficiente para que eu me sentisse linda.

  Quando desci para o café escutei mamãe soltar uma risadinha, ela não falou nada, mas sabia que sempre que eu me arrumava toda sem motivo aparente eu estava chateada com alguma coisa. Ajudei a preparar tudo, mas em momento nenhum, mamãe fez algum comentário sobre mim ou a minha cara fechada.

 Tinha terminado de lavar a louça quando meu celular vibrou, fui conferir na expectativa de ser Josh, mas era Holly me pedindo mil desculpas por não poder sair comigo que ela precisava ajudar a avó doente, sorri a o digitar que estava tudo bem, a avó de Holly era uma senhora gentil que não merecia os inúmeros problemas de saúde que tinha. Voltei à estaca zero, mas ficar em casa não ia me ajudar por isso decidi dar uma volta em qualquer lugar desde que eu não pensasse em Josh.

  - Mamãe, vou sair! – avisei pegando uma bolsinha e as chaves do meu carro.

  - Para onde, posso saber? – ela perguntou arqueando uma sobrancelha do sofá onde estava sentada.

  - O shopping, talvez até para a casa do Ethan, só quero dar uma volta.

  - Tudo bem, divirta-se e cuidado.

  - Pode deixar – sorri antes de acenar e sair de casa decidida a ir a qualquer lugar para me distrair.

  Sai de casa e fui até o meu carro, eu não gostava de dirigir, mas hoje era o melhor jeito de eu sair e me locomover, espairecer e não pensar em Josh e nessa confusão toda. A verdade era que eu não conseguia parar de pensar que isso tudo era muito estranho. Por que, pra inicio de conversa, ele teria que mentir pra mim?

  Dirigi sem rumo por alguns minutos, ou pelo menos achei que não estivesse indo a lugar nenhum até eu me ver em frente à cafeteria onde Josh trabalhava. Até o letreiro cor de rosa me irritou, eu ia passar direto, mas queria entrar lá. Talvez uma pontinha de mim ainda acreditava que Josh talvez estivesse ali trabalhando em seu uniforme e eu iria ficar arrependida de pensar tudo isso dele e me desculparia então nós sairíamos quando ele terminasse seu turno. E foi só por isso que estacionei o carro do outro lado da rua, desci e fui até a cafeteria, eu queria ter certeza.

  - Depois de tanto tempo eu finalmente posso dizer: eu te amo! – foi tudo o que eu registrei assim que a sineta anunciou minha entrada.

  A cafeteria estava vazia, havia apenas um casal comendo juntos numa mesa no canto. Mas não foram eles que me chamaram atenção e disseram essas palavras, não era um filme ou uma música soando no ambiente. Era nada mais nada menos que Josh, com um joelho no chão, em frente à Joyce, sua colega de trabalho com a qual ele jurava ter uma amizade de anos e nada mais. Senti os olhos marejarem, eu já havia notado que ela parecia não gostar de mim, mas acreditava nele, só que agora eu não consegui pensar em mais nada que não fosse “Josh estava se declarando pra ela”. Ele me viu e arregalou os olhos.

  - Brianna, meu amor, por favor, não é nada disso...

  - Josh você vai ficar me devendo pelo resto da vida! Onde quer que eu coloque... – Holly surgiu da porta que dava acesso ao deposito do café com uma caixa nas mãos e arregalou os olhos quando me viu. – Oh, merda!

  Ela interrompeu Josh que tinha ficado de pé e começado com aquela velha frase do “Não é o que você está pensando” ou “Não é o que parece”. Ele tinha uma expressão de surpresa, deu um passo na minha direção, eu havia me afastado na mesma proporção.

  - Bom saber que veio cuidar da sua avó aqui – disse à Holly que abria a e fechava a boca sem dizer nada. Virei-me para Josh. – Eu não quis atrapalhar, pode continuar. Idiota!

  - Brianna, por favor! Merda! – o ouvi praguejar quando sai da cafeteria. Eu corri sem olhar pra trás quase sendo atropelada no processo de chegar até o caro uma vez que as lágrimas borraram minha visão.

  Quando manobrei o carro vi Holly se jogar na frente do capô.

  - Bri, por favor, me escuta – ela pediu e eu neguei com a cabeça limpando as lágrimas.

  - Sai daí, Holly, vai lá com seus amiguinhos e me deixa em paz!

  - Larga de ser cabeça dura, Brianna. Você acha mesmo que aquilo é o que pareceu? O Josh com a Joyce?

  - Ele disse que a amava então sim, é bem isso mesmo e você não só sabia de tudo como mentiu pra mim, junto com ele. Que ótimo, minha melhor amiga me enganando assim – rosnei acelerando o carro sem realmente sair do lugar. Vi Josh na porta do café, ele me olhou, mas não parecia saber se vinha até mim ou não.

  - Eu sei que você está brava e é louca, e eu te amo demais, e só por isso não vou me ofender, mas quando tudo der certo e você entender o que aconteceu aqui eu vou querer ouvir um “Você estava certa, Holly” – ela saiu da frente do carro. E eu quis muito rir de tudo o que ela falou, mas nem pra isso eu tinha humor. – Desce daí e vamos conversar. Seu namorado está esperando.

  - Ele não é meu namorado, ele deixou isso muito claro quando se declarou pra outra na minha frente e mentiu pra mim. E você não está certa por que além de mentir, você me enganou – disse antes de acelerar e sair dali.

  Voltei a dirigir mais uma vez sem saber realmente pra onde estava indo, só queria sair dali, de perto deles, de todos eles. Josh e Holly, os dois haviam mentido pra mim. Me enganado. Uma vozinha no fundo da minha cabeça dizia que talvez isso tudo tivesse uma explicação, mas eu não queria ouvir, nem saber, não agora. Ele não falou comigo a semana toda e mentiu pra mim, Holly me dispensou e também mentiu. Mesmo que tivesse um motivo pra tudo isso eu não estava interessada.

  Doía, tudo doida, por que eles sabiam como as mentiras me afetavam, como me machucavam, que eu não suportava que me enganassem, mas mesmo assim tinham feito exatamente isso.

  Quando dei por mim estava na rua da casa de Ethan, eu não queria incomodar, mas também não queria ficar sozinha, precisava de um abraço e mamãe não estava em casa, ela e suas amigas do clube do livro tinham um almoço e então segui até o portão da casa do meu irmão e buzinei furiosamente, por que apertar a buzina ajudou a extravasar minha raiva.

  O portão se abriu e eu só entrei e estacionei em frente à porta da casa, dessa vez nem o enorme jardim de Ethan me alegrou, Olivia estava parada na porta com seu enorme sorriso de sempre e isso por algum motivo só fez meus olhos marejarem. Talvez por que eu sabia que podia desabar aqui que minha cunhada me seguraria. Desci do carro e seu sorriso aumentou.

  - Pra que aquela barulheira toda? O mundo por acaso estava aca... Brianna? – ela se interrompeu quando eu me aproximei, seu sorriso se desfez e ela me abraçou. – O que aconteceu?

  - Eu... O Josh... Só quero um abraço – murmuro quando não consigo completar uma explicação. Ela me aperta mais, faz carinho em minhas costas e isso só faz minhas lágrimas escorrerem com mais vontade. Nós nos separamos e Olivia limpa meu rosto com as pontas dos dedos.

  - Vem, vamos entrar e você vai me explicar exatamente o que aconteceu – ela me traz para dentro de casa e a acompanho. Vejo Molly em seu cercadinho tentando sair, Seth lê um mangá no sofá e Charlotte está desenhando deitada de bruços no tapete. Fungo limpando minhas lágrimas e meus sobrinhos me olham.

  - Tia, Bri! – Lottie exclama e vem me abraçar, Seth dessa vez se limita a me olhar curioso.

  - Você está chorando, tia? – o garotinho questiona e nego com a cabeça, estou prestes a responder, mas Olivia é mais rápida.

  - Não, a tia Brianna não está chorando, mas eu tenho que conversar com ela. Então Seth, vá mostrar aquele seu jogo de construir no videogame para a Lottie, Ok?

  - Por quê?

  - Por que eu mandei, Seth, vai, por favor, e leve a sua irmã.

  - Eu tô lendo.

  - Então continua depois.

  - Mas, mãe...

  - Seth Theodor Price, vai, agora, e leve a Charlotte – Olivia disse sem mover um músculo ou levantar a voz e isso foi ainda mais assustador. Seth engoliu em seco, pegou seu mangá, a mão da irmã e se despediu antes de subir as escadas levando uma Lottie caladinha consigo.

  - Desculpa por isso – Olivia me sorri e vai até o sofá se sentar. – Agora vem aqui e me diz exatamente o que aconteceu.

  Vou até ela, me sento ao seu lado e conto tudo à Olivia, eu estava aqui ontem então ela já sabe de tudo, não preciso explicar o motivo da minha raiva, por que ela sabe, minha cunhada não fala nada enquanto eu vou vomitando as palavras furiosamente entre gestos de indignação e lágrimas por que eu sou uma chorona.

  - Então deixa eu ver se eu entendi – Olivia pede depois que eu paro de falar, nesse meio tempo em que eu fazia meu monólogo ela me trouxe um copo de água que eu ainda estou terminando de beber. – Josh estava se declarando para a Joyce e Holly sabia de tudo? É isso?

  - É – suspiro tomando o resto da minha água e colocando o copo na mesinha de centro. – É exatamente isso.

  - Mas você tem certeza?

  - Claro que tenho, Olivia. Você não ouviu minha história não? Ele estava lá de joelhos na frente dela dizendo “Eu te amo”. Então sim, eu tenho certeza.

  - Mas e se você tiver ouvido errado? Ou entendido mal? – ela insiste e não tenho certeza sobre sua expressão, algo entre preocupação e, é impressão minha ou Olivia parece frustrada?

  - Olivia, você sabe de alguma coisa?

  - Não! – ela exclama meio rápido, mas parece totalmente honesta. Minha cunhada suspira e pega minhas mãos. – Eu só estou dizendo para pensar bem antes de decidir o que quer que seja. Você gosta muito do Josh que eu sei. Mas se essa história toda for mesmo verdade e ele tiver feito mesmo isso com você eu vou matá-lo, não se preocupe.

  - Obrigada! Você é demais – digo apertando-a em um abraço outra vez. Olivia retribui antes de me soltar.

  Eu não quero falar com ninguém, nem ver ninguém, por isso aviso minha mãe sobre meu paradeiro, mas não falo sobre os acontecimentos recentes e então desligo o celular. Vou ficar só escondia aqui com Olivia e as crianças e fingir que isso nunca aconteceu. Não é muito corajoso da minha parte, mas eu não ligo. Ouvi quando Olivia se afastou para atender o celular, provavelmente falando com a minha mãe ou com Ethan, pra mim não fazia mais diferença.

  Passei a manhã ali e consequentemente à tarde também, com ela e as crianças que eventualmente desceram outra vez, isso é claro depois de pedirem permissão à mãe. Eu estava achando um máximo os meus sobrinhos chamarem Olivia de mãe, ela tinha me explicado que tudo começou por causa de Ethan e não parecia nem perto de acabar. Eles vieram se juntar a mim quando finalmente parei de chorar e nós estávamos assistindo a série de filmes de A Era do Gelo, eu amava animações e Olivia não viu problemas em eu, Seth e Lottie espalharmos pipoca por todo o sofá desde que limpássemos depois.

  Eu até queria ficar sozinha e me afundar em tristeza, mas isso só faria tudo ficar ainda pior e eu pensar e pensar em Josh e nessa confusão toda e eu não queria pensar em nada disso. Era ridículo e covarde, mas eu não estava pronta ainda. Mas ainda tinha a vozinha na minha cabeça dizendo que tudo podia ser um engano, ou confusão, e se fosse? Mas e se não fosse e eu só quisesse me iludir pra depois me machucar mais?

  Suspirei em frustração e Charlotte que estava deitada no sofá ao meu lado me olhou curiosa, já deviam ser umas 17h00m da tarde e nós estávamos no terceiro filme, Seth havia desistido de nós no segundo e Olivia viu só o primeiro por que Molly estava dormindo e acordou e ela tinha passado mal depois do almoço então apenas foi descansar assim que acabou o primeiro filme.

  Meu irmão chegou quando o terceiro filme estava chegando ao fim e não pareceu exatamente surpreso em me ver em seu sofá com Lottie, ele cumprimentou a filha e a mim e foi atrás da namorada. Continuei ali com Charlotte até os créditos finais começaram a subir pela tela da televisão. Minha sobrinha ficou e pé.

  - Tia eu vou tomar banho por que a mamãe disse pra ir depois que o filme acabasse – ela avisa e sorrio, de fato Olivia tinha mesmo dito isso e acho uma graça que ela se lembre.

  - Tudo bem, cuidado no banheiro.

  - Tá bom – Charlotte concorda e segue em direção ao andar de cima pulando os degraus da escada.

  Vi o novo casal 20 me encarar da porta da cozinha, Ethan tinha Molly nos braços e ambos me olhavam com curiosidade. Depois de quase dois minutos onde nenhum deles disse nada ao não ser cochichos entre si perdia a paciência.

  - O que foi? Vão me expulsar do sofá de vocês, é?

  - Não – Olivia quem responde se aproximando depois de trocar um olhar com Ethan, meu irmão se aproxima também. – Mas quero dar uma volta com você, o que acha?

  - Agora? – pergunto sem acreditar.

  - Sim, você está linda demais pra passar o dia no meu sofá.

  - Meu cabelo já bagunçou e meu vestido amassou e eu não quero sair, tô bem aqui.

  - A gente arruma seu cabelo, seu vestido está ótimo e eu preciso mesmo de ajuda com uma coisa – Olivia olha relance para Ethan e eu sorrio, se for para ajudá-la com meu irmão tudo bem, eu saio de casa.

  - E aonde você quer ir? – pergunto e vejo-a sorri abertamente, Olivia vem até mim e me pega pela mão me fazendo ficar de pé. Ela dá uma última olhada em Ethan e eles trocam um sorriso antes dela começar a me arrastar escada a cima.

  - Você vai ver.

  Eu não estou exatamente a fim de sair, mas Olivia não me dá outra escolha, ela diz que quer ajuda com uma surpresa romântica e precisa da minha ajuda, que eu tenho que ir e não posso dizer não, mas também não quero. Talvez dar uma volta e ajudá-la com um presente para o meu irmão realmente me ajude.

  Nós nos despedimos de Ethan e das crianças depois dela insistir em me ajudar a arrumar meu cabelo outra vez. Nós vamos no meu carro, mas Olivia se oferece para dirigir e não me oponho. Estamos seguindo pelas ruas que já começam a escurecer e é só na metade do caminho que percebo que não estamos indo em direção ao shopping, mas na direção oposta, quando minha cunhada estaciona arregalo os olhos. Não, não e não!

  - O que nós estamos fazendo aqui? – pergunto sem acreditar, para minha surpresa Olivia sorri.

  - Uma surpresa romântica, eu não disse que precisava da sua ajuda?

  - Mas... Mas, Olivia isso não tem graça, vamos embora, por favor – pedi ao ver o letreiro da cafeteria totalmente escuro. A única iluminação ali era uma luz fraca que vinha de dentro da loja.

  - Vem comigo – ela pediu descendo do carro para dar a volta e vir abrir minha porta e me encarar. – Vem, Brianna.

  - Não, eu não quero – disse como uma criança birrenta. – O que você quer aí?

  - Que você me ajude.

  - Como? Aqui?

  - É aqui, você disse que me ajudaria, então entra lá, eu sei que você é corajosa o suficiente pra isso. Só preciso que busque uma coisa pra mim.

  - O quê? – pergunto descendo do carro e minha cunhada sorri.

  - Seu sorriso que você deixou aqui hoje de manhã. Tem uma pessoa lá dentro que quer muito falar com você.

  - E se eu não quiser falar com ele? – pergunto me deixando ser arrastada para a entrada da cafeteria. Só tinha uma pessoa que podia estar ali dentro esperando por mim.

  - Você quer sim que eu sei. Agora vai lá – é um pedido, mas também é uma ordem e sei disso quando ela cruza os braços e indica a porta com a cabeça. – Vai, entra lá. Aqui – ela me estende as chaves do carro e as pego sem entender.

  - Mas e você?

  - Eu pego um táxi, mas agora vai logo.

  - Bruxa – resmungo passando por ela e ouço Olivia gargalhar.

  Meu coração está batendo tão rápido quando empurro a porto que acho que vou ter um infarto antes de conseguir pisar dentro da cafeteria. Solto um suspiro involuntário e arregalo os olhos quando finalmente vejo o interior da loja. Todas as luzes foram apagadas, mas há milhares de estrelas brilhantes espelhadas pelo ambiente. Elas reluziam num verde florescente e estavam espalhadas por todo lugar, no teto, nas paredes, nas mesas e cadeiras, no balcão e até no chão. Eu estava completamente cercada por elas.

  - Um universo inteiro para a minha estrela mais brilhante. Que entendeu tudo errado e provavelmente me odeia agora – ouço a voz de Josh antes de vê-lo. Mas logo meu nerd de sorriso encantador surge da porta que dá acesso ao deposito. Ele usava uma das suas muitas camisas xadrez, tinha um sorriso de lado no rosto e uma única rosa branca nas mãos.

  - Não tinha nada para entender, você disse “Eu te amo” à Joyce, eu estou sobrando nessa conversa e é isso. Eu não sei nem por que vim até aqui.

  - Brianna, por favor. Você acha mesmo que eu tenho alguma coisa com a Joyce? Pelo amor de Deus! Ela é minha amiga e só.

  - E o que foi aquilo que eu vi então?

  - Um mal entendido! Um grande mal entendido! – ele diz exasperado e não sei nem como, mas já estamos brigando.

  - E por que eu acreditaria em você quando você mentiu pra mim!? Você nem falou direito comigo na última semana!

  - Me desculpe, Ok? Eu só queria te fazer uma surpresa! Só isso, mas nada saiu como o planejado.

  - Uma surpresa? Pra mim? – perguntei irônica. Josh estava agora a pouco mais de um passo de mim, eu podia sentir seu cheiro que eu tanto amava. – Não errou de garota? Afinal eu não sou a Joyce.

  - Brianna, por favor...

  - Por favor, o quê? Eu só estou fazendo uma pergunta. Por que o garoto que devia ser quase meu namorado me deu um perdido, mentiu pra mim, arrastou minha única amiga com ele e ainda aparentemente tinha uma namorada. Eu só estou tentando entender.

  - Você pode parar de falar e me ouvir!? – ele perguntou impaciente e eu também já estava morrendo de raiva. Minha vontade de dar na cara dele só não era maior que a de beijá-lo nesse momento, é eu era ridícula.

  - E o que eu estou fazendo!?

  - Está gritando comigo e me acusando sem me escutar!

  - Olha quem fala! Você está gritando comigo também! – berrei na cara dele e só então notei que estávamos com nossos narizes quase colados.

  Meus óculos embaçaram por causa das nossas respirações aceleradas e isso foi o suficiente para que eu escutasse Josh rir, rir a ponto de seus ombros chacoalharem, ele se afastou ainda rindo e eu fiquei sem entender mesmo que também estivesse com um sorriso no rosto.

  - É por isso que eu te amo – ele diz simplesmente quando para de rir e fico sem entender. Josh ainda sorri, mas agora também me olha sério. – Não foi assim que eu imaginei. Eu ensaiei isso por dias. Holly e Joyce me ajudaram, eu faria um discurso incrível e no final me declararia. Mas já vi que com a gente as coisas não vão ser exatamente tranquilas ou seguindo os planos e é por isso que eu te amo. Amo você, Brianna Price. E por favor, não duvide disso ou de mim. Eu amo você – ele repete mais uma vez e estou chocada demais para esboçar qualquer reação.

  Ele disse que me ama. Josh Taylor o cara por quem eu tive uma paixão platônica por mais de dois anos está aqui na minha frente se declarando pra mim. Dizendo com todas as letras que me ama. Eu sorrio, mas sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto também.

  - É sério? – pergunto e o vejo sorrir ainda mais. – Você tipo, me ama mesmo?

  - Sim. Eu amo você e nunca falei tão sério na minha vida. Mas e você, me perdoa por ter mentido? Eu te juro que tudo aquilo com a Joyce foi um... – eu me atiro em seus braços e o interrompo com um beijo. Josh está sorrindo quando nos separamos e seu sorriso só não é maior que o meu.

  - Eu também amo você e aquela cena com a Joyce realmente me magoou! – aviso e ele sorri.

  - Eu sei, me desculpe – ele diz e então se ajoelha a minha frente para a minha surpresa. Josh me estende à rosa que ainda segura e eu a pego ainda meio atônita com a situação. – Brianna, quando eu te vi pela primeira vez no campus da faculdade, meu primeiro pensamento foi “Ela é só o que as pessoas dizem mesmo, uma patricinha mimada”. Mas então eu a vi na biblioteca falando sozinha e gesticulando e aquilo me deixou curioso e interessado em você. E aos poucos, quando vi, eu a seguia com os olhos sempre que passava, encarava seu sorriso sempre que a via. Eu me apaixonei por você, pela você que só eu parecia notar, pela garota linda e espetacular por debaixo da patricinha. Então hoje estou aqui de joelhos a sua frente, te entregando meu coração que já é seu e perguntando, se você me faria o cara mais feliz do mundo e aceitaria ser minha namorada?

  Eu não respondo, por que não tenho voz para o fazê-lo, estou aos prantos soluçando, plenamente ciente de que minha maquiagem está completamente borrada, mas sem deixar de sorrir.

  - Sim, sim e sim! Eu amo você! – berrei apertando-o num abraço depois de me abaixar e ficar da sua altura.

  - Aqui, minha estrela – ele me oferece uma caixinha em forma de estrela e sorrio ao imaginar o que poderia ser. Coloco a rosa de lado para abri-la e sorrio ao ver o colocar dourado com uma estrela como pingente, pendurada no centro da estrela há uma pedra branca em forma de coração.

  - É lindo – digo simplesmente quando pego o colar. – Obrigada. Pode me ajudar?

  - Sempre – Josh sorri e ficamos de pé. Trago minha rosa comigo e ele se posiciona atrás de mim para prender o colar. Quando ele volta a minha frente toco o pingente e sorrio. – Você gostou mesmo?

  - Sim! Amei, mas admito que por um instante eu achei você fosse me dar um anel.

  - O anel vai ser só quando for pedi-la em casamento – ele diz simplesmente e arregalo os olhos.

  - É o que!?

  - É exatamente isso que ouviu, o anel é só para quando for pedi-la para ser minha pra sempre – Josh sorri e eu volto a beijá-lo.

  Esse dia começou tão mal e depois foi descendo ladeira abaixo então eu nunca achei que pudesse terminar tão bem. Se tornar o melhor que já tive com direto a declaração e surpresa. E no fim Olivia estava certa, era mesmo uma surpresa romântica, só não imaginei que fosse pra mim, nunca imaginei que chegaria a minha vez de receber algo assim. Não do cara mais especial do mundo em meio a estrelas e beijos apaixonados.

  - Olivia sabia disso tudo? – pergunto quando nos separamos e ele sorri.

  - Sabia.

  - E meu irmão?

  - Também.

  - E Holly?

  - Claro, foi ela quem me ajudou com tudo.

  - Meu Deus! Eu tenho que me desculpar com ela e... – Josh coloca um dedo sobre os meus lábios e nega com a cabeça.

  - Não. Ela já sabia de tudo e não está chateada com você. Depois vocês conversam, o que você tem que fazer agora é me beijar.

  Pondero a ideia, e Josh tem razão, depois eu posso falar com Holly, então, com esse pensamento em mente sorrio antes de puxá-lo para outro beijo apaixonado. Eu ia aproveitar ao máximo esse momento inesquecível.