Confusão em Dose Tripla escrita por Lelly Everllark


Capítulo 26
Uma conversa dolorosa.


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu amores!
Vooooltei!
Esse capítulo é inteiro dedicado àquelas pessoas que acharam que eu ia sumir outra vez kkkkkk (isso foi um milagre, mas vou fingir que foi tudo planejado) u.u
BOA LEITURA :D



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Quando estacionamos em frente a nossa casa ainda estamos em completo silêncio. Ninguém disse mais nada, e se eles acham que dessa vez não vou perguntar, estão muito enganados. Descemos do carro e eu trago comigo uma Molly que dormiu no meio da viajem.

  Nós entramos e eles ainda estão em silêncio.

  - Certo, se vocês não vão falar, eu vou. Por que quero saber exatamente o que está acontecendo aqui. E por que você fez tudo aquilo, Seth e por que disse aquilo no carro. E Ethan, dessa vez não aceito meias respostas, não quando Seth está envolvido, não quando meu garotinho está se machucando. Só vou colocar Molly na cama dela, não ousem sair daqui - é um aviso, quase uma ameaça e não me importo, só dou meia volta e sigo para o andar de cima sem esperar uma resposta.

  Subo, vou até o quarto da bebê e a ajeito no berço, ligo a babá eletrônica e a levo comigo, normalmente eu ficaria com vergonha do jeito que falei com Ethan, mas não hoje, não quando sei que, o Seth disse e fez não é normal, não deveria acontecer e quero muito saber o motivo disso tudo.

  Quando desço outra vez os dois estão sentados no sofá, em meio a uma conversa.

  - Eles tavam falando da Livy, pai! Primeiro disseram que eu não tinha mãe depois foram falar da minha... Da Livy! - Seth se interrompe parecendo realmente com raiva, amo isso, amo sua preocupação, mas não entendo a raiva e nem o motivo de suas palavras, sobre eu ser tão importante.

  - Eu sei que você se importa com ela, e ela com você, Seth, mas não é assim que resolvemos as coisas. Não é batendo, brigando, eu sei que a Olivia é muito importante pra você, mas você não pode resolver tudo o que não gostar por meio da violência e sei que ela concorda comigo.

  - Com certeza - digo me fazendo ser notada e eles me olham ao mesmo tempo, tão parecidos que chega a ser engraçado. Vou até eles e sento-me de frente para os dois. - Eu agradeço por você ter me defendido, Seth, mas seu pai tem razão e não é assim que funciona, não é assim que temos que fazer a coisas. Mesmo que você não goste deles, ou do que falaram, você conversa, tenta resolver, chama um adulto, se fasta dessas más companhias, mas não parte para a briga, isso nunca, por que não vai resolver nada.

  - Você é boa nisso - Ethan sorri nos olhando. - Bem melhor que eu. Mas é isso Seth, é como Olivia falou. Primeiro conversamos, sempre, Ok? Pode falar comigo.

  - Agora o senhor aqui pra conversar comigo né? Não vai mais embora? - Seth pergunta e vejo Ethan se mexer desconfortável.

  - Não. Não vou a lugar nenhum. Nunca mais.

  - Eu prefiro assim, antes éramos só eu a Lottie, agora tem a Molly, a Olivia e você - Seth sorri em sua inocência e Ethan o puxa para um abraço, apertando o filho até ele reclamar que está sendo esmagado. A cena toda me faz sorrir. Mas me atenho a uma coisa.

  - Seth, como assim antes eram só você e a Charlotte?

  - Antes o papai não ficava em casa, você não tava aqui e a Molly ainda não existia, a Evelyn só trouxe ela depois, mas ela não ficou, ainda bem que ela não ficou, eu não gosto dela. Eu achei que não fosse gostar da Charlotte, nem da Molly por que ele elas são filhas dela, mas elas também são filhas do papai e minhas irmãs, foi o que a vovó disse, e já que é assim eu amo muito elas.

  As palavras de Seth vão se misturando num emaranhado de pensamentos que vão passando todos de uma vez pela minha cabeça. Ethan tem uma expressão no rosto que acaba comigo, como se ouvir esse relato de Seth o machucasse, e acho que machuca, por que ele sabe exatamente do que o filho está falando.

  - Seth, quem é essa Evelyn? - pergunto e vejo Ethan negar com a cabeça.

  - Vamos, já deu por hoje.

  - Não, não deu - o interrompo. - Seth, já que sei pai aparentemente não quer falar comigo, que tal conversarmos nós dois? Quem é essa Evelyn?

  - Ela é a mãe da Lottie e da Molly. Mas nunca vai ser a minha por que ela não gosta de mim.

  - Certo, agora já chega. Seth que tal você subir e arrumar seu quarto? Eu tenho... Preciso conversar com a Olivia.

  - Posso jogar? - Seth tenta ficando de pé.

  - Não - respondemos eu e Ethan juntos, meu garotinho sorri.

  - Imaginei, vou lá, mas só por que vocês vão começar a se beijar - ele diz fazendo careta e subindo as escadas logo em seguida aos pulos.

  - Que tal tornarmos a ideia de Seth verdade? - Ethan pergunta e mesmo que eu queria muito beijá-lo e esquecer de tudo, dessa vez não posso.

  - Eu adoraria, mas ainda quero saber o que aconteceu. Essa Evelyn é sua ex-mulher? Ela machucava o Seth? Por que ele disse que ela não gostava dele? Eu quero saber, Ethan, eu amo vo... Eles, eu amo eles demais pra fingir que não ouvi nada disso.

  - Você não vai desistir, não é? - ele pergunta com um sorriso triste colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e nego com a cabeça.

  - Não.

  - Pois bem então, eu vou te contar. Tudo. - Ethan respira fundo e me encara sério. - A essa altura você já deve ter entendido que Seth e as meninas não são filhos da mesma mãe. Certo?

  - Eu tinha minhas suspeitas - comento. - Mas depois do que Seth falou, tenho certeza. Mas se eles não são filhos da mesma mãe, como...? O que aconteceu?

  - Eu conheci a mãe do Seth no primeiro ano do ensino médio. Acho que foi amor a primeira vista. Ela era linda e inteligente e eu só um garoto bobão, não tive nem chance. Nós começamos a namorar no segundo ano e no terceiro fazíamos planos sobre a faculdade, morar juntos, ter filhos, enfim, uma vida. Annie era o amor da minha vida. Ou pelo menos foi meu primeiro amor - ele sorri pra mim, eu quase sinto uma pontinha de inveja dessa Annie, mas o modo como ele fala dela no passado e com tanto carinho, me faz ter certeza que essa história não teve um final feliz. - Mas esses planos todos foram por água a baixo quando pouco antes do baile de formatura ela descobriu que estava grávida.

   - Seth? - pergunto e ele faz que sim.

  - Na época eu tinha dezoito anos e ela também, duas crianças que cuidariam de outra, mas nenhum dos dois ligou muito pra isso, minha mãe é claro, ficou surpresa, mas amou a notícia, Brianna também.

  - Mas? - insisto quando ele para de falar, Ethan está brincando com meus dedos sem parecer se dar conta do que faz.

  - Mas a partir daí deu tudo errado. Pouco depois de Annie completar sete meses de gestação meu pai teve um ataque cardíaco, foi fulminante, não teve o que fazer. Quando ele chegou ao hospital já estava morto.  Eu estava planejando fazer faculdade de medicina, mas precisei cuidar dos hotéis, mamãe me ajudou, claro, mas depois de um tempo se tornou minha responsabilidade. Então comecei o curso de administração e pensei que poderia fazer aquilo, com Annie ao meu lado eu podia, mas...

  - Ethan eu... - começo, mas me calo, não sei o que dizer, ele não parece nem ter começado a contar e não sei o que dizer nem sentir, não consigo imaginar o que foi tudo isso para um garoto de dezoito anos e o pior de tudo é que eu sei que ainda não acabou.

  - Tudo bem - ele sorri triste fazendo o contorno da palma da minha mão com os dedos. - Eu tinha começado a faculdade, um curso que eu não gostava, mas precisava fazer por que precisava entender disso para cuidar dos hotéis. Annie ficou em casa, ela sempre teve a saúde frágil, não foi surpresa quando o médico pediu repouso absoluto durante a reta final da gravidez, mas ela teve um sangramento, me lembro como se fosse ontem. Nós a levamos as pressas para o hospital, fizeram uma cesárea de emergência, Seth nasceu prematuro, mas bem, Annie teve uma hemorragia, perdeu mais sangue do que eles conseguiram repor, ela morreu poucas horas depois dele nascer. Seu último pedido pra mim foi que cuidasse dele, do seu bebê, do seu Seth, e nem isso eu consegui fazer.

  - Ethan...

  - Não, é verdade - ele me interrompe. - Eu não consegui cuidar dele. Afastei-me, não fui pai quando ele precisou que eu fosse.

  - Ethan, olhe pra mim - peço, ele me encara e sua expressão de dor, dói em mim. - Você era só um garoto que perdeu a namorada, o pai, e o direito de escolher sobre o seu futuro, tudo de uma única vez. Não pode se culpar por não saber o que fazer.

  - Mas aí que está, Olivia. Eu sabia. Quando Annie morreu, parte de mim foi com ela, e foi como você falou, eu perdi meu pai e o direito de escolher o que eu queria. Mas Seth era meu filho e não tinha culpa de nada disso, ele era só um bebê e eu não conseguia olhar pra ele - sua confissão desesperada me pega de surpresa, Ethan fica de pé e começa a andar de um lado para o outro a minha frente. Seu desespero me dói e não sei o que fazer. Ele passa a mão pelos cabelos e me encara. Os olhos azuis marejados. - Eu não consegui amar meu filho como devia, por que estava tão cheio de dor e raiva que não cabia mais nada dentro de mim. Os pais de Annie logo disseram que não queriam nem mesmo conhecê-lo e eu me meti tão fundo na faculdade e no trabalho que nem mesmo vê-lo eu via, e isso era bom, assim eu não me lembrava de Annie ou de nada na verdade. Era minha mãe quem cuidava dele, dele e de Brianna. Por que eu não pude ser pai quando ele precisou de mim. E depois disso tudo só foi ficando pior, mamãe tentava fazer com que eu participasse, o visse, saísse com ele, mas eu sempre tinha uma desculpa na ponta da língua, um trabalho da faculdade, uma atividade atrasada que eu precisava entregar, uma reunião do hotel, um assunto urgente que só eu podia resolver. Eu fazia de propósito.

  - Mas você estava confuso, não pode se julgar por algo assim, mas você está aqui, não está? Com ele? – pergunto e Ethan sorri, não um sorriso triste ou seu sorriso que tanto amo, só um sorriso de escárnio.

  - Você via como era antes de você, certo? Até isso foi você quem fez, eu não fiz nada, não sabia como fazer.

  - Eu só queria ajudar, mas ainda não entendo, o que aconteceu depois? Onde a mãe das meninas entra nessa história e como você e Seth chegaram até aqui assim?

  - Bem, depois dessa fase, eu fui delegando, delegando e delegando minhas obrigações com Seth para minha mãe que em determinado ponto ela só parou de insistir, vê o quão feio foi? Minha mãe a pessoa mais intrometida do mundo desistiu. Eu não vi os primeiros passos do meu filho, não escutei suas primeiras palavras, por que estava “ocupado” e nunca vou me perdoar por isso – ele faz aspas no ar e volta a andar. – Quando vi já tinham se passado dois anos, foi quando eu conheci a Evelyn, foi em uma festa do hotel, ela veio com os pais, uma modelo em ascensão, loira, linda e sedutora, quando começamos a nos envolver eu tinha certeza de que estava me apaixonando outra vez, mas na época eu queria tanto me sentir assim outra vez, que não vi que o que tínhamos não era nem perto do que eu tinha com a Annie, hoje eu sei a diferença – ele sorri pra mim, dessa vez de um jeito que me faz sorrir de volta. Não quero nem pensar no que suas palavras significam. – De qualquer forma, ela era “perfeita”, não demorou a nos casarmos, ela uma modelo, eu o dono de uma rede de hotéis, éramos o casal perfeito. Hoje eu vejo que eram mais aparências que qualquer outra coisa.

  - Eu não consigo te imaginar num relacionamento assim – digo sinceramente. – Você não parece o tipo de pessoa que se contenta com pouco ou metade.

  - Mas dessa vez eu aceitei. Por que queria desesperadamente acreditar que eu teria outra vez o que tive com Annie, que me sentiria completo. Que Seth teria uma mãe. Alguém para cuidar dele e amá-lo. Mas não foi bem assim que aconteceu – ele fala e vejo seus punhos se fecharem. – Quando me casei com Evelyn eu ainda ficava pouco em casa, na verdade desde os tempos da faculdade nunca parei com isso, mas Seth era um bebê praticamente, ele tinha três anos na época e eu jurava que eles se davam bem, ao menos na minha frente. Ela nunca se deu bem com a minha mãe e Brianna, na verdade ela e minha irmã eram quase inimigas e isso devia ter me alertado, mas eu preferi pensar que era implicância, ciúme de irmã. Não, ela nunca o feriu – ele me garante quando vê minha expressão, seu sorriso não combina com seu relato. – Mas nunca gostou dele, Seth, como ela disse uma vez seria meu herdeiro, e ele não era filho dela, e se não o era, por que ela precisava cuidar dele? Vê como eu fui cego? Essa fala toda é loucura, mas era assim que era. Evelyn foi uma verdadeira madrasta como as dos contos de fadas. Má e negligente, e foi afastando minha mãe e Brianna até chegar o ponto delas não virem aqui por que minha mulher não deixava. E quando Charlotte nasceu, dois anos depois tudo ficou pior, ela mimava Lottie e ao mesmo tempo fazia questão de deixar Seth de lado, um garotinho de cinco anos, que já não tinha o pai, por que eu era um idiota, não tinha uma mãe e a avó que era a única pessoa que ele teve por muito tempo não podia nem se aproximar.

  - Eu não consigo nem imaginar algo assim, como ela pôde? Como você deixou? – digo ainda sem saber o que pensar a respeito. Quando pensei que Seth tinha seus problemas de confiança e comportamento nunca me ocorreu que a coisa tivesse sido assim. Ethan volta a se sentar a minha frente, pega minhas mãos e me encara.

  - Eu não via. Por que fingi tanto tempo não ver nada, que quando precisou eu não consegui ver. Seth teria todos os motivos do mundo para não gostar das irmãs, ele mesmo disse, mas até isso mamãe conseguiu mudar. Apesar de todos os esforços de Evelyn, Charlotte sempre foi muito ligada a ele e vice versa. Toda essa situação se estendeu até Charlotte completar três anos, Seth tinha oito anos e já era a criança difícil que você conhece, aprontava muito, na escola, mas principalmente com Evelyn, foi então que ela decidiu que mandá-lo para um colégio interno era o melhor. “Vai ajudá-lo” dizia ela, eu o via pouco e na época nem mesmo desconfiava de nada que acontecia entre os dois. Seth só queria chamar minha atenção com as brincadeiras e ela só queria se livrar dele. E eu quase concordei com ela – ele cospe as palavras desviando os olhos, aperto suas mãos e é tanta coisa ao mesmo tempo que nem sei o que pensar. – Foi minha mãe quem disse “Não!”, “Não ele não vai, não você não vai mandá-lo pra longe, não e não”. Nessa época Brianna tinha acabado de completar dezessete anos e quase teve uma briga física com Evelyn quando soube da história. Minha irmã gritou tanta coisa na minha cara que eu nunca vou ser grato o suficiente a ela. Foram suas palavras duras de “Essa mulher não presta!”, “Ela machuca o Seth!”, “Ele só faz o que faz pra chamar sua atenção!”, “Você não pode mandá-lo para longe quando ele não tem uma mãe e nunca teve um pai!” e várias outras, que me fizeram acordar, ver o que estava acontecendo. Eu e Evelyn brigamos feio depois disso e ela finalmente me mostrou seu verdadeiro eu. Gritou a plenos pulmões que não aguentava mais essa vida de mãe e esposa. Ela queria as passarelas, fama, não crianças e tudo isso. Depois disso não é difícil adivinhar o que aconteceu – ele sorri divertido brincando com as pontas do meu cabelo. – Nós nos divorciamos, não houve briga pelas crianças, ela levou meu dinheiro, mas não me importei, só a queria longe dos meus filhos. E ela foi e nem mesmo olhou pra trás.

  - E a Charlotte? Ela não sentiu falta da mãe, não? – pergunto e ele nega com a cabeça desistindo do meu cabelo, e me olhando outra vez.

  - Um pouco, no início, mas a verdade é que Charlotte era mais a bonequinha que Evelyn mostrava em festas que qualquer outra coisa. Ela não ficava muito em casa, Seth e Lottie passavam mais tempo com babás que com qualquer um de nós. Então como eles vão sentir falta de uma coisa que nunca tiveram? Tenho certeza que se eu fosse embora na época também, eles nem mesmo sentiriam minha falta.

  - Você está exagerando.

  - Não, não mesmo. Naquela época eu era tão importante na vida deles quanto Evelyn. Quando eu penso nisso, vejo que ela conseguiu tirar de Seth a única pessoa que era uma constante em sua vida, a minha mãe, e eu nem mesmo percebi ou fiz alguma coisa. Eu era a droga de um pai ausente e sei disso. Deixei Evelyn cuidar da casa, de Seth e ela fez o que bem entendeu, causou muito estrago e machucou tanto meu filho que eu não tinha conseguido chegar até ele de jeito nenhum, pelo menos não antes de você aparecer. Você se tornou uma constante na vida deles, Olivia, de Seth e de Charlotte, por isso que ele fez o que fez. Você o ouviu, não ouviu? Dói dizer isso, mas meu filho nunca teve uma mãe e você é o mais perto disso que ele teve e isso me apavora e o apavora também tenho certeza. Por que se você decidir ir embora, dessa vez, tudo mundo vai sofrer.       

  - Ethan... – sussurro sem conseguir acreditar em suas palavras. – Você não devia dizer coisas como essas.

  - Por quê?

  - Por que eu vou acreditar e não sei como isso vai terminar. Mas... E Molly? Ela também é filha de Evelyn, certo? – mudo de assunto antes de ele dizer mais alguma coisa. É coisa demais para eu pensar e não quero acrescentar essa última declaração de Ethan à lista mesmo que ela tenha enchido meu coração. Eles iam sofrer? Ele também ia? Tanto quanto eu? O que isso quer dizer?

  - Sim, Molly também é filha dela. Molly foi literalmente um acidente. Não me orgulho disso, mas se dele resultou minha bonequinha não me importo. A coisa toda aconteceu há mais de um ano. Teve uma festa de um cliente muito rico meu que eu não pude deixar de ir. Evelyn estava lá. Nós nos vimos, ela veio cheia de sorrisos, mãos bobas, mas em momento nenhum perguntou sobre Charlotte. Foi aí que eu tive certeza que o que tínhamos não foi realmente nada. Alguns amigos em comum nos pegaram em uma roda de conversa. Eu consegui escapar, a noite estava tão chata que fui para o bar. Depois disso não lembro de muita coisa, só sei que bebi a ponto de ir para a cama com a minha ex-mulher. Nós acordamos no outro dia, ambos decididos a fingir que aquilo nunca aconteceu, e foi o que fizemos, pelo menos até ela aparecer cinco meses atrás na minha porta com Molly nos braços, ela só tinha um mês de vida e Evelyn disse com todas as letras que só a teve por que seus pais jamais a deixariam tirar. Ela sumiu das passarelas nesse último ano, a verdade é que ninguém sabe que ela teve outra filha e acho que era essa mesma a ideia de Evelyn. E é isso, eu dei a ela o nome da minha avó e antes de você chegar ela não ia com ninguém, eu era o único que servia e às vezes nem isso. Mamãe e Brianna não tiveram nem chance, mas com você foi amor a primeira vista.

  - Esse amor é recíproco – digo sorrindo pensando na bebezinha bochechuda. É tão errado assim eu querer bater nessa mulherzinha que é ex do Ethan? Que eu nem conheço, mas já odeio? – Molly é um dos meus amores.

  - Quem são os outros? – Ethan pergunta sugestivo e sorrio, eu podia dizer seu nome, não seria mentira, mas não sei se posso fazer isso ainda.

  - Seth e Charlotte, claro.

  - Claro – ele concorda suspirando ficando de pé. – É agora que você vai fazer como mamãe e Brianna e jogar na minha cara o quão idiota, burro e péssimo pai eu fui? Eu não queria te dizer nada por que não queria que você soubesse do tipo de pai que fui. Do tipo de pessoa fraca que fui.

  - O tipo de pessoa que você foi, Ethan – digo ficando de pé também e indo até ele. Pego sua mão e o faço me encarar. – Você mesmo disse. O tipo de pai que você foi, no passado. Você não é mais. Você entendeu seus erros e quer fazer melhor, ser um pai melhor, quer conhecer seus filhos e recuperar o tempo perdido e amo isso. Amo o fato de que você errou, reconheceu e quer melhorar, você é um pai incrível, uma pessoa maravilhosa que cometeu erros como qualquer outra, mas que quer melhorar.

  - Você, Olivia Cooper, que é uma pessoa maravilhosa, um anjo em forma de mulher – ele diz sorrindo antes de tomar meus lábios com os seus. O beijo é intenso, cheio de sentimentos arrebatadores os quais tenho medo de nomear.

  - Eca! Eu sabia que vocês iam ficar se beijando – a voz de Seth nos assusta e nos separamos. O garotinho está parado perto da escada nos encarando com curiosidade.

  - Nós demos um beijo, Seth – digo e ele sorri. – Foi só. Aconteceu alguma coisa?

  - O que você e o papai estavam falando – ele começa e Ethan e eu nos olhamos. Nós falamos sobre tanta coisa que pensar que Seth ouviu alguma delas chega a ser assustador.

  - Sobre o quê?

  - Sobre... Sobre a Molly ser seu amor. Se você ama ela e cuida dela daquele jeito. Você é a mãe dela, Olivia? – sua pergunta me pega de surpresa. O que eu devia responder? Olho para Ethan, mas ele apenas me olha parecendo tão curioso quanto Seth.

  - Eu a amo como uma mãe, Seth. Então se ela quiser, eu posso ser a mãe dela. Não me importo. As pessoas na rua já acham que ela é minha filha mesmo – murmuro e vejo Ethan sorrir divertido. Ele não devia falar alguma coisa sobre isso?

  - Se você é a mãe da Molly e a Charlotte já tem a dela. Você acha que pode, pode... – ele para, está vermelho e desvia o olhar. Quando me dou conta do que ele vai dizer. Pedir. Eu não aguento. Vou até ele, puxo Seth para um abraço que o pega de surpresa, mas não me importo, quero apertar esse garotinho tão especial em um abraço e não soltá-lo nunca. Como é que uma criança pode receber menos que amor?

  - Amo você, Seth. Amo por que é você, amo suas revistinhas, a ironia, amo até as brincadeiras quando elas não machucam ninguém, amo como cuida das suas irmãs. Amo você meu encrenqueirozinho e se quiser, posso ser sua mãe também, amo você do mesmo jeito que amo a Molly e a Lottie – digo ainda agarrada a ele e sinto-o chorando com o rosto escondido em meu ombro.

  - Você pode? Ser minha mãe? – ele pergunta e sua voz soa abafada. Faço que sim.

  - Claro. Pra sempre. Vou cuidar de você e te dar bronca, cozinhar pra você e te amar, é pra sempre, Seth. Amo você – digo mais uma vez por que quero que ele acredite, saiba e aceite esse amor de mãe que tenho por ele, que meu garotinho merece e nunca recebeu.

  - Também te amo, Bruxa – ele murmura e sorrio. Ele finalmente levanta o rosto, os olhos estão vermelhos e as bochechas manchadas de lágrimas. Limpo seu rosto e ele sorri pra mim. – Eu não estava chorando – anuncia e tenho que segurar o riso me separando dele.

  - Tudo bem, não estava. Ethan, o Seth não estava chorando, Ok? Ethan? – chamo me virando quando ele não entra na brincadeira.

  Meu chefe está parado nos encarando, os olhos azuis marejados, sua expressão apaixonada me assusta um pouco, ele sorri de um jeito que se eu já não estivesse apaixonada por Ethan Price essa seria à hora de me apaixonar.

  - Certo – ele balança a cabeça como se voltasse de um sonho. Ainda sorri e sorrio de volta. – É claro que Seth não está chorando. Seus olhos vazaram e foi isso.

  - Pai! – o garotinho reclama arrancando risos de nós dois.

  - Já que hoje estamos todos aqui, que tal me ajudarem com o almoço? – chamo e eles assentem.

  - Vamos! Eu quero o avental verde! – Seth diz animado correndo a nossa frente.

  Eu estou prestes a segui-lo quando Ethan me segura pela mão. Ele me puxa para perto de si me fazendo encará-lo.

  - Obrigado por isso.

  - Eu não fiz nada.    

  - Fez, com certeza fez, me ouviu, não me julgou e agora acabou de ganhar o coração do meu filho. Ele precisava muito disso.

  - Eu também – admito. – Só não sabia ainda.

  Ethan sorri e me beija outra vez, eu poderia fazer isso pelo resto da vida que não me cansaria. Quando ouvimos o barulho de panelas caindo nos separamos sorrindo.

  - Vamos logo antes que o seu filho destrua a cozinha – chamo e ele sorri colando nossos narizes.

  - Meu filho? Seu filho. Acha que eu não ouvi a conversa de vocês? Quando ele inventar de cozinha é seu filho – ele diz e dessa vez sou eu a beijá-lo.

  Amo Ethan Price, só não sei quando vou ter coragem de dizer isso a ele. Amo que tenha feito escolhas ruins e queira consertá-las, amo o pai, o executivo, amo até o cara ciumento que disse que queria me jogar por sobre o ombro e me levar com ele. Amo esse homem e amo seus filhos. Amo essa família e quero que ela seja minha. Toda minha.


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Notas finais do capítulo

Mas é isso, esse capítulo está muito intenso, eu amei escrevê-lo, espero que tenham gostado de ler. E essa ex-mulher do Ethan? Merece a morte sim ou claro? E nosso bebê Seth? Merece um abraço e todo carinho do mundo? Quero opiniões!
Beijocas e até, Lelly ♥
PS: O que vocês acharam dessa cena extremamente fofa do Seth e da Olivia? Eu estou apaixonada!



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