Confusão em Dose Tripla escrita por Lelly Everllark


Capítulo 19
Lágrimas e beijos.


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores, voooltei!
Esse capítulo ficou enorme e particularmente amei ele!!! ♥
Espero que gostem, BOA LEITURA!! :D



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Acordo com o chorinho de Molly mais alto que de costume e é só quando pisco encarando o teto que não reconheço é que me lembro que estou na casa de tia Sarah dividindo a cama com Charlotte e Molly. Viro-me para encarar a bebê ao meu lado, ela resmunga, se contorce e trago-a para o meu peito a fim de abraçá-la. Estou deitada de lado agarrada a bebê relembrando as palavras de Ethan na noite anterior.

  Nossa relação, da minha parte, já é complicada o suficiente sem ele vir com comentários como aquele. Eu sou especial? Brilhante? De onde ele tirou aquelas coisas? Não quero me iludir, nem criar falsas expectativas, mas cada vez que ele sorri pra mim, ou diz palavras como aquelas fica difícil, principalmente quando as crianças parecem me olhar a espera de alguma coisa que não sei se posso ou consigo dar a elas.

  Quando Molly começa a ficar impaciente resolvo me levantar de vez. Olho as horas no celular, 07h02m, hoje ela madrugou e eu só queria dormir um pouco mais. Sorrio ao ver Lottie toda esparramada na cama, ela me chutou algumas vezes e agora está quase de ponta a cabeça. Fico de pé e não contenho outro sorriso ao ver pai e filho dormindo lado a lado, não estão abraçados, mas assim, serenos, é fácil notar a semelhança entre eles.

  Quero ir até lá, ajeitar as cobertas e beijá-los, beijar os dois, mas não posso fazer isso. Então como a covarde que aparentemente me tornei, lavo o rosto às pressas para não deixar Molly sozinha na cama, troco a bebê e fujo com ela o mais rápido que posso do quarto.

  Quando acho que vou encontrar a cozinha vazia, vejo tia Sarah preparando um café, o cheiro me faz sorrir e os resmungos de Molly faz com que minha tia nos note ali.

  - O que está fazendo acordada tão cedo, Olivia?

  - Molly está com fome e sem sono, então também não posso dormir, certo meu amor? – pergunto a bebê em meu colo fingindo mordê-la apenas para ouvi-la rir. Levanto os olhos apenas para ver minha tia sorrir para nós.

  - Adoro vê-la assim, sorrindo, sorrindo de verdade e vivendo. Depois que sua mãe morreu e Erika apareceu você perdeu um pouco do que era.

  - Tia... – suspiro e ela nega com a cabeça.

  - É verdade, Olivia, perto daquela cobra você se fecha e deixa de ser você. Mas perto do Ethan e das crianças você se ilumina e gosto de ver isso. De vê-la assim.

  - Eu também – admito apoiando Molly com um braço só e começando a fazer sua mamadeira. Ethan tinha deixado as coisas da bebê pela cozinha noite passada então eu tinha tudo o que precisava.

  Quando me sentei para amamentá-la tia Sarah que estava colocando um bolo no forno me olhou sorrindo depois de ajustar a temperatura.

  - Do que você tem tanto medo, Olivia?

  - Nada, eu só não quero que eu ou, principalmente, as crianças se machuquem.

  - Livy – ela insiste.

  - Tia a senhora está vendo coisas eu...

  - É sobre a sua mãe? – ela me interrompe e a olho surpresa.

  - O quê? Como? Eu não... – suspiro me interrompendo. – Se não tivermos ninguém, não podemos perder ninguém, certo? Eu perdi minha mãe, depois perdi meu pai. A garota que devia ser minha melhor amiga me trocou pelo namorado cretino exatamente como meu pai fez comigo. A única que sei que vai estar aqui pra sempre é a senhora. Ninguém mais. Então sim, eu tenho medo de me apegar, de me apaixonar, de gostar demais e ficar dependente deles, de todos eles e depois ser trocada, por que é isso que sempre acontece comigo. Eu nunca sou suficiente.

  - Olivia... – Tia Sarah vem até mim e não quero encará-la, aperto Molly e tento conter as lágrimas depois de despejar essas verdades sobre minha única família. – Hei, olhe pra mim – ela toca meu rosto me fazendo encará-la. Ela está abaixada a minha frente apenas para poder me olhar. – Você é suficiente. Sempre vai ser e quem não vê, não entende isso está errado e não merece sua companhia, seu amor, não merece você. Nunca, mas nunca mais diga algo como isso, eu não suporto ouvir e sei que sua mãe, de onde quer que ela esteja te olhando, odiou ver a garotinha dela assim, dizendo coisas como essas. Você é luz Olivia, amor e se importa, por isso que as pessoas tentam apagá-la. Por que seu brilho incomoda e seu coração de ouro incomoda ainda mais.

  - Tia, eu... Obrigada... – fungo sentindo as lágrimas escorrerem sem poder limpá-las e sem poder abraçá-la como eu queria com Molly entre nós. Mas minha tia limpa minhas lágrimas, me sorri e beija minha testa antes de ficar de pé.

  - Não tem que agradecer Olivia, eu te amo, é minha sobrinha, minha família. Agora cuide aí da sua, que essa garotinha que arrumou parece ter uma fome de leão.

  - Isso é por que a senhora não viu os outros dois – sorrio em meio às lágrimas pensando neles. Daqui a pouco acordam, daqui a pouco todos eles vão acordar e adeus paz.

  - Isso, sorria, você é linda demais para manchar o rosto de lágrimas assim.

  - E você é a pessoa mais incrível do mundo, sabia disso?

  - Claro – minha tia sorri voltando ao seu bolo.

  - E humilde.

  - Sempre – ela ri e sorrio com ela.

  Eu estava precisando disso, de colocar tudo pra fora, chorar, dizer tudo que estava entalado e é bom saber que tem alguém pra me ouvir, pra me abraçar e dizer que vai ficar tudo bem, era disso que eu sentia falta. É o que eu mais sinto falta estando longe de tia Sarah, mas estar longe dela significa estar longe do meu pai e consequentemente de Erika e isso era necessário. Eu não conseguiria ficar nem mais um minuto aqui e minha tia nunca se mudaria.

  Depois de um tempo o pessoal foi aparecendo, Lis, suas irmãs, Jake, os meninos que tinham saído ontem ainda estavam dormindo e por fim Ethan também apareceu, parecendo envergonhado ao ver todos acordados, ele nos cumprimentou, sorriu para todos e veio direto até mim, meu coração acelerou no mesmo instante e meu Deus, que queria muito beijá-lo.

  - Bom dia, Olivia.

  - Bom dia, Ethan. Dormiu bem?

  - Sim. E você com as meninas? Charlotte costuma se mexer muito dormindo.

  - Terminamos bem. Nada que eu já não esperasse.

  - Livy, o que vai fazer hoje? – Lis pergunta me fazendo desviar os olhos de Ethan. Ela e tia Sarah trocam olhares e tenho a impressão que essa conversa não vai terminar bem.

  - Acho que nada, por quê?

  - Por que não leva Ethan e as crianças até a cachoeira? Íamos todos, mas eu estou me sentindo mal e na sexta fomos já fomos até lá.

  - Fomos? – Jake pergunta e vejo sua esposa o olhar feio, contenho o sorriso. Ela está mesmo nos mandando pra lá e nem disfarça. – É fomos.

  - O que acha?

  - Eu acho uma ideia maravilhosa – tia Sarah responde por mim e se vira para encarar meu chefe. – O que acha, Ethan?

  - Se a Olivia quiser, por mim tudo bem. Eu ia adorar e acho que as crianças também – ele sorri olhando diretamente pra mim e aquela aura nos envolve, tudo e todos em torno perdem a importância. É como se tivesse apenas eu e ele na cozinha.

  - Eu ia adorar.

  - Livy! Cadê você? Papai! – a voz de Charlotte interrompe nosso pequeno momento e nós dois nos viramos para ver a garotinha descabelada descer as escadas descalça e de pijamas. – Ah, achei vocês! Livy? – ela veio até mim e parou a minha frente depois de lançar um olhar a todos que estavam na cozinha com a gente.

  - Oi.

  - Eu com fome.

  - Vamos já resolver isso – eu ri beijando-a.

  Sentamo-nos todos à mesa e eu terminei entre Charlotte e Ethan que está com Molly no colo enquanto eu sirvo a garotinha loira ao meu lado. Estamos comendo quando escutamos a voz de Eliot.

  - Eles estão lá em baixo, vem – meu sobrinho insiste e não precisa ser um gênio para saber que ele está falando com Seth. Segundos depois os dois surgem na escada, Eliot está arrastando o novo amigo. Seth nos olha parecendo constrangido com a situação toda e acho incrivelmente fofa a sua expressão. – Ai, achamos eles. Tia, o Seth tava procurando você e o pai dele e não achava.

  - Obrigada por ajudá-lo a chegar até aqui – agradeço ao pequeno que sorri, segue até os pais e se senta no colo de Jake. Olho para Seth que ainda está parado a poucos passos de nós. – Estava nos procurando?

  - Um pouco – ele dá de ombros. – Por que me deixaram sozinho?

  - Por que você estava dormindo muito bem e não tinha por que acordá-lo. Mas quando for assim e você acordar e não nos ver faça que nem quando estamos em casa, faça que nem a Lottie fez, é só gritar meu nome o do seu pai que nós vamos encontrá-lo, onde estiver, em qualquer lugar.

  - Sério? – ele pergunta desconfiado e sorrio o puxando para um abraço.

  - Muito, agora vem comer.

  - Ah! Me solta, Livy! – ele reclama fazendo todos na mesa rirem. – Onde eu sento? – ele olha em volta da mesa, não há mais cadeiras e estamos num dilema.

  - Eu posso ir atrás de outra cadeira – tia Sarah oferece e nego com a cabeça.

  - Não precisa – dizemos eu e Ethan ao mesmo tempo e nos olhamos logo em seguida. – Lottie senta no colo do seu pai, eu pego a Molly e o Seth senta no seu lugar – continuo a falar olhando para a garotinha ao meu lado só para evitar olhar para o pai dela.

  - bom.

  Há um pequeno momento de confusão enquanto nos organizamos, mas poucos minutos depois estamos todos comendo outra vez, tem bolo, pães, torradas e muitas bocas famintas atacando tudo. Sei que tia Sarah adora isso, eu também, sempre fui acostumada à casa cheia, falação durante as refeições, gente rindo e comendo, mas depois de Erika esses pequenos momentos foram se tornando cada vez menores, mais escassos e por fim acabaram.

  - Livy, o Eliot pode ir na minha festa de aniversário? – Seth pergunta depois de tomar um gole do seu leite.

  - Claro, não vejo problema nisso, mas você tem que pedir ao seu pai.

  - Pai, o Eliot pode ir na minha festa? – ele pergunta naturalmente e gosto de ver isso, essa mudança, eles ainda são um pouco travados, mas as coisas fluem bem mais naturalmente agora.

  - Que festa? – Ethan pergunta e Seth me olha confuso antes de olhar para o pai outra vez. Também não estou entendendo nada.

  - Minha festa de aniversário, pai. A Livy e a vovó estão arrumando tudo. Vai ter festa mais não, Livy? – Seth me olha em busca de respostas e Ethan faz o mesmo.

  - Claro que vai, pelo menos era pra ter. Você não está sabendo de nada não, Ethan? – pergunto a ele que sorri, um sorriso lindo que me faz sorrir junto.

  - Como já era de se esperar, não. Mas então quer dizer que vocês estão planejando uma festa para o Seth?

  - Sim, quer dizer, sua mãe disse que já tinha te avisado.

  - Como se me avisar fizesse alguma diferença, elas sempre fazem o que querem e você está indo pelo mesmo caminho, só me resta aceitar que sou minoria e o último, a saber, das coisas. Só gostaria de saber quando vai ser e quanto vai me custar.

  - No próximo mês e nada que você não possa pagar – digo sorrindo e o ouço gargalhar. O pessoal na mesa nos olha curiosos e sinto as bochechas corarem.

  - Bem estão todos convidados então, eu faço questão – Ethan diz a todos na mesa. – Sarah, Liz, Jake, vou esperar vocês e traga seus irmãos Jake se eles não se importarem de ser uma festa de criança.

  - Vou chamar sim e nós vamos, certo, amor? – ele olha para Lis e ela faz que sim.

  - Claro. Eliot vai adorar e eu também, assim aproveito a visita à cidade e faço umas compras para o bebê.

  - Tudo o que você quiser – Jake sorri para a esposa e eles trocam um selinho. A interação deles é muito fofa.

  Nosso café se estende até mais tarde entre risos, conversas e provocações, gosto de vê-los todos assim como se fossem velhos amigos. Estamos ficando de pé e começando a guardar tudo quando Robbie aparece, mas não há nem sinal de Todd, a verdade é que ninguém sabe se ele ainda está vivo no quarto ou não.

  Tia Sarah nos expulsa em direção à cachoeira, sua tentativa de nos deixar sozinhos não é muito sutil, mas eu gosto, vamos todos embora hoje e quero mostrar a eles pelo menos uma das belezas da minha cidadezinha natal. Minha tia nos prepara uma cesta com lanches enquanto subimos para nos trocarmos. Quem quer que tenha ajudado Ethan com as malas colocou de tudo um pouco (graças a Deus!) então há desde casacos para um frio tenebroso que aqui mesmo nunca fez, até roupas de banho.

  Ajudo as crianças a se trocarem, encontro meu biquíni no fundo da mala, vir pra cá sem roupa de banho jamais, posso até não usá-la, mas sempre levo comigo por que a cachoeira é um destino quase inevitável quando estamos todos aqui. Molly está só de body em cima da cama e finjo morder seus pezinhos apenas para ouvi-la rir, eu amo esse som, brinco com ela até ser interrompida por Charlotte surgindo na porta do quarto.

  - Livy, a gente não vai mais não? Papai você vai ficar só aí olhando a Livy? – ela pergunta tudo de uma vez e só então noto Ethan parado na porta que dá para o banheiro, usando bermuda e uma camiseta, seu sorriso de garoto pego fazendo bagunça é incrivelmente fofo.

  - Nós vamos, Lottie, só estava esperando a Olivia terminar aqui com a Molly pra gente descer – ele diz tão naturalmente que fico surpresa com sua cara de pau. – Vamos?

  - Vamos! – ela comemora e volta correndo pelo corredor.

  - Nós podemos ir? – Ethan me olha e levanto da cama trazendo Molly comigo.

  - Claro – sorrio decidida a fingir que esse pequeno e estranho momento não aconteceu.

  Saio primeiro e Ethan me segue trazendo a bolsa que preparei. Descemos apenas para encontrar Charlotte quicando de animação e Seth tentando fingir que não está tão animado quanto à irmã. Tia Sarah nos entrega a cesta que fez e praticamente nos expulsa de casa. Já são quase meio dia então o sol está alto e quente, o dia está ótimo para passar uma tarde na cachoeira.

  É fácil guiar Ethan até lá e por algum milagre hoje está tranquilo, não tem ninguém quando chegamos.

  - Crianças não corram, por favor – peço ajudando Lottie a descer, dessa vez Ethan já pegou Molly e sua bolsa então me resta pegar a cesta com os lanches.

  - Tá! — grita Charlotte e Seth apenas me olha sem se dar ao trabalho de responder.

  Nós descemos pela trilha até a margem plana e gramada a sombra da macieira que está ali desde que eu me lembro. Estendo a manta que trouxemos, sento-me e Ethan faz o mesmo, ele coloca Molly deitada de bruços entre nós e a bebê está mais que empenhada em se virar.

  - A gente já pode ir? – Charlotte pergunta ansiosa, ela já tirou o short e a camiseta e está apenas com seu biquíni cor de rosa com estampa de unicórnio. Os olhos azuis quase saltam das orbitas enquanto ela espera por uma resposta.

  - Sozinhos não é uma boa ideia. Tenho medo de se machucarem – digo.

  - Mas a gente já sabe nadar – Seth argumenta. O garotinho quer entrar na água tanto quanto a irmã.

  - Isso não me impede de ficar preocupada.

  - Que tal ir com eles? Eu fico com a Molly – Ethan oferece e nego com a cabeça, mas estou sorrindo. Só por ter oferecido e só por ser ele ali.

  - Vai você, eu já estive aqui milhares de vezes, quero que experimentem um pouco do que já tive e qualquer coisa eu e Molly vamos fazer companhia para vocês logo mais também.

  - Tem certeza? – ele pergunta e faço que sim.

  - Vão lá, a gente espera aqui. Cuidado – peço e Ethan me sorri antes de tirar a camisa, e me fazer desejar poder tocar sua pele bronzeada, Seth já está só de sunga e Charlotte ansiosa demais para ter paciência, ela puxa o pai pelo braço.

  Seth pula na água, que seduzo estar muito gelada sem nem hesitar, Ethan faz o mesmo e depois ajuda Charlotte a entrar. A garotinha dá um gritinho quando afunda fazendo todos rirem. Alcanço meu celular e tiro fotos deles ali, gosto de observá-los, ali em meio a toda aquela beleza natural desejei não pela primeira vez que eles fossem todos meus. A água caia da cachoeira e Seth se colocou embaixo dela apenas para quase se afogar e arrancar mais risos de todos. Está calor demais por isso decido tirar a blusa e ficar só com o short e a parte de cima do biquíni, deitar com Molly e brincar com a bebêzinha pensando que se fosse pra ser assim sempre eu não ia me importar.

  Estar com eles, com todos eles, é não me sentir sozinha como eu me sentia antes de começar a trabalhar com os Price’s. Sentir-me parte da família pode até ser perigoso e não terminar bem, mas me faz bem, eu gosto de sentir que sou parte de algo maior, que sou importante, necessária, mesmo que seja algo pequeno, ainda assim me faz bem, bem de um jeito que eu precisava há muito tempo.

  As flores, as árvores perto, todo o cenário parecia meio mágico pelo menos era como eu me sentia sobre essa cachoeira e como eu me sinto ainda hoje, é um lugar onde coisas boas podem acontecer. Dei mamadeira à Molly e estava decidindo se era uma boa ideia ou não levar a bebê para a água quando Charlotte apareceu a minha frente, completamente molhada e batendo queixo. Enrolei-a na toalha e a estava secando enquanto ela falava.

  - Livy, eu com fome, você trouxe comida?

  - Claro que trouxe por que aqui nessa barriguinha mora um monstro comilão – disse fazendo cosquinha nela. Ela se contorceu em meu colo até se soltar.

  - Para, Livy.

  - Tudo bem, vem aqui. Vamos comer. Chame seu pai e o Seth.

  - Papai! Seth! Vem comer! A Livy chamando!

  - Lottie! Se fosse pra gritar eu tinha gritado – a repreendo e ela dá de ombros.

  - Então por que você não gritou, Olivia? – ela pergunta e caio na gargalhada.

  Têm sanduíches, bolo, suco e enquanto comemos Molly dorme tranquila ao meu lado, as crianças discutem por causa do ultimo pedaço de bolo e já que Ethan não faz nenhum movimento, sou eu a ter que resolver a confusão, meu chefe parece preferir ficar ali só nos olhando, como se fossemos a melhor vista do mundo. Como se ele, sem camisa, molhado ali a minha frente não fosse à melhor visão do mundo. Fiz Charlotte que estava quase cochilando, vestir a camiseta outra vez antes da pequena deitar ao lado da irmã e dormir, Seth por outro lado só esperou até que deixássemos para pular na água outra vez.

  Charlotte e Molly dormiam tranquilamente na manta e eu e Ethan estávamos ali com elas num silencio que eu ainda não sabia dizer se era confortável ou estranho.

  - Vou dar uma volta – aviso num impulso ficando de pé. – Eu vou... Daqui a pouco volto – me interrompo e decido sair dali antes de passar mais vergonha.

  Sigo pela trilha um pouco mais adiante até bem perto do topo da cachoeira, meus primos subiam até em cima, para pular de lá, mas eu nunca tive coragem, paro ali no meio do caminho, dali vejo o bosque, vejo Seth lá embaixo mergulhando de cima de uma pedra, mas não consigo ver Ethan e as meninas. Eu não quero fugir dele, não quero tornar tudo estranho, mas cada vez menos eu sei o que fazer quando estamos juntos. É irritante tê-lo por perto e não poder beijá-lo como eu gostaria.

  - A vista daqui é linda – sua voz diz me assustando e dou um pulo para olhá-lo e lá está ele. Ethan está a poucos passos de mim, ainda com o cabelo meio úmido e sem camisa, mordo o lábio lembrando do nosso quase beijo.

  - É sim, gosto de subir aqui de vez enquanto para pensar ou só para apreciar a vista.

  - Eu adorei conhecer um pouco mais de você, Olivia, sua vida, seu passado.

  - Para – peço virando-me de costas para ele. – Não faz isso.

  - Isso o quê?

  - Ser legal assim, dizer essas coisas que quero ouvir, não faz isso comigo, por favor. Você é meu chefe e... Só para.

  - Olivia...? Eu... Eu fiz algo de errado? – a duvida em sua voz me faz encará-lo e lá está a expressão de confusão mais fofa do mundo. Seus olhos azuis preocupados são demais para mim, por que sei que se continuarmos com essa conversa alguém vai se arrepender depois.

  - Claro que não! Mas... Mas vamos só deixar tudo como está, Ok? Não vamos complicar nada afinal nós não devíamos...

  - Não devíamos o quê? – ele pergunta dando um passo em minha direção e recuo na mesma proporção, ele faz de novo e bato as costas em uma árvore quando dou mais um passo para trás, Ethan dá mais um passo a agora estamos a poucos centímetros de distância e eu não tenho pra onde fugir. – Em, Olivia? Não devíamos o quê?

  - Vo-Você sabe... – minha voz treme tamanho meu nervosismo, meu coração bate tão alto e tão descompassado que me admira ele não ouvi-lo também. – Ethan, por favor...

  - Por favor, o quê? – ele volta a perguntar, agora tão perto que sua respiração quente toca minha boca. – O que você quer, Olivia?

  - Eu... – eu sei que não devia, que isso vai terminar mal e que alguém vai, no mínimo, se arrepender disso, mas não ligo, não ligo nenhum pouco, não agora quando suas mãos quentes estão segurando firme a pele nua da minha cintura, não quando seu cheiro e seu calor tão perto mexem comigo. – Eu quero beijar você – sussurro tão baixo que nem sei se ele ouviu.

  Mas quando sua boca quente toma a minha sei que Ethan ouviu e queria isso tanto quanto eu. O beijo começa devagar, mas à medida que a língua dele explora a minha boca eu quero mais, por isso envolvo sua nuca com as mãos e o puxo para mais perto. O beijo fica mais quente, lascivo e quero continuar beijando-o até perder as forças, mas ambos precisamos de ar e nos separamos. Seus olhos azuis brilham de desejo e meu rosto queima de calor e vergonha. Estou prestes a dizer alguma coisa, qualquer coisa apenas para interrompermos isso, mas Ethan não deixa, ele volta a me beijar e quero isso, quero muito. Beijo-o até precisarmos outra vez de ar e finalmente pararmos para nos encarar.

  - Olivia eu...

  - Isso foi um erro – decido dizer antes que eu perca a coragem e vejo os olhos azuis que tanto amo se arregalarem em surpresa. Dói-me dizer isso, mas eu não quero me envolver mais, não quero envolver as crianças e não quero machucar mais ninguém. – Isso foi um erro, não devíamos ter feito e nem vai se repetir. Você é o meu chefe e eu amo demais meu trabalho e os seus filhos para se quer pensar e machucá-los. E se isso for só uma brincadeira pra você não vai ser só eles que sairão machucados.

  - Olivia, não é assim, me desculpe se foi o que pareceu, mas eu...

  - Por favor, não fala nada. Não me dê esperanças e só vamos parar por aqui e ficar com essa lembrança boa, Ok? – peço com a voz tremula.

  Ethan me olha quase como se pudesse enxergar minha alma atrás de todas as minhas inseguranças. Não gosto desse olhar, por que me prende a ele, não me dá escolha se não encará-lo de volta e é por isso que não espero sua resposta, passo por ele e desço a trilha até nosso pequeno piquenique, ainda sentindo cada parte do meu corpo em que ele tocou queimar, ainda sentindo meu coração bater descompassado. As garotas ainda dormem e Seth está encima da pedra que está usando como trampolim, ele me olha com curiosidade.

  - Hei, Bruxa, você bem?

  - Estou sim – sorrio com o apelido mesmo que ainda sinta as mãos de Ethan sobre mim e a pressão dos seus lábios sobre os meus e mesmo que ainda sinta o peso das minhas palavras, do muro que elas ergueram entre nós.

  - Aqui estavam vocês afinal! – a voz estridente de Erika era tudo o que eu não queria ouvir agora, mas para completar o grande momento de merda ali está ela, a minha frente, com papai logo atrás. – Fomos até a Sarah e por algum motivo ninguém sabia dizer onde vocês estavam, foi Eliot quem deixou escapar. Por que será?

  - Vai ver é por que não queríamos companhia, já pensou nisso? – pergunto irônica e seu sorriso vacila, Ethan não voltou ainda e Seth que ia pular na água parou no meio do caminho ainda sobre a pedra.

  - Não seja rude, Olivia, que tal curtirmos uma ótima tarde em família?

  - Desde quando somos da mesma família?

  - Olivia... – papai e seu mantra de chamar meu nome, limito-me a revirar os olhos.

  - Deixe de drama e vamos a algum lugar à altura de Ethan, que tal o centro? Pegue suas coisas e vamos logo. Falar nisso, cadê ele?

  - Primeiramente não. Nós não vamos a lugar nenhum, as meninas estão dormindo, Seth está se divertindo e não que seja da sua conta Erika, mas Ethan foi dar uma volta para conhecer a cachoeira – a raiva homicida por essa mulher fez eu conseguir conter todos os sentimentos que o beijo me provocou. – Será que você pode, por favor, ir embora? Não quer ir tanto ao centro, vá com o papai.

  - Ora sua ingrata, pegue esses pirralhos e vamos logo de uma vez, você traz um homem como aquele aqui para o meio do mato? Não seja idiota, só me obedeça logo de uma vez!

  Eu caminho em sua direção, estou tão frustrada, irritada e com tanta raiva que se Seth não estivesse vendo toda a cena eu poderia muito bem pegar Erika pelos cabelos, mas não vou me rebaixar a isso, ela nem mesmo vale tanto esforço.

  - Repete – peço a ela com a voz contida parando a poucos passos dela. – Repete o que você disse das minhas crianças, repete! Você não vai ofendê-los, não vai falar com eles, nem sobre eles, você não vai nem mesmo olhar pra eles. Não vou deixar que você faça o que quiser mais, Erika. Eu não tenho mais quatorze anos, não sou mais uma criança e apesar de você mandar no meu pai, em mim, nem você nem ele mandam mais então se você não quiser que eu a tire daqui contra a sua vontade é melhor você ir.

  - Olivia, por favor, vamos conver... – Ethan para de falar no instante em que adentra a clareira em que estamos. A expressão de choque de Erika é substituída imediatamente por um sorriso falso. – O que está acontecendo aqui?

  - Eu só estava convidando-os para um passeio e a Olivia ficou incomodada. Não entendo essa garota. Não é amor? – ela chama meu pai para a conversa e ele me olha e depois para Erika.

  - Erika, por favor, vamos?

  - Pai, a Erika tava falando coisas ruins pra Olivia de novo. E a Olivia tava gritando com ela por que a Erika falou de mim e das minhas irmãs. A Bruxa ficou brava que nem ontem à noite e quando eu apronto – Seth conta ao pai e sorrio. Erika está pálida e quero apertar esse garotinho num abraço. – Erika a gente brincando e não vai embora por que a Olivia disse que a gente não vai.

  - Bem, você ouviu, não é? – Ethan pergunta a ela para minha surpresa. – A Olivia disse que não vamos então sinto muito, mas temos que recusar o convite. As meninas estão dormindo e Seth não parece nem remotamente interessado em sair da água por enquanto.

  - Ethan não é como o garotinho disse e...

  - Erika, vamos – o tom sério de papai surpreendeu a nós duas, ele nunca discordava da esposa, ficamos as duas a olhá-lo. – Vamos, por favor, conversar em casa. Olivia e Ethan estão se divertindo, vamos deixá-los em paz.

  Erika olhou de mim para papai, bufou e saiu pisando duro, papai se despediu parecendo envergonhado e foi atrás da esposa. Seth finalmente terminou seu salto e pulou na água. Ethan me encarou e estava prestes a dizer alguma coisa e eu sabia que teríamos que conversar sobre isso, conversar de verdade, mas não queria, não agora, se não eu ia ceder e isso não terminaria bem e foi ai que Molly acordou chorando e eu fiquei mais do que feliz em ir cuidar dela.

  Eu podia sentir o olhar de Ethan, eu podia sentir seu toque, eu podia sentir o gosto dos seus beijos, eu ainda podia sentir meu coração bater descompassado e isso só confirmava minha teoria de que era uma péssima ideia continuar com isso, que tinha sido uma ideia ainda pior deixar que acontecesse uma vez, beijá-lo foi ainda melhor do que eu achei que seria, mas também tinha sido um erro, por que agora eu teria do que lembrar, do que sentir saudades e com o que sofrer.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que vocês provavelmente estão me odiando agora, maaaaas eu amo todos vocês! Por favor, relevem as escolhas da Olivia e não desistam de mim.
Mas foi isso, espero que tenham gostado do capítulo, comentem!
Beijocas e até, Lelly ♥