Last Dance escrita por Winnie Clark


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Oie!
Mais um cap dessa short fic!

Atenção! Esse capítulo pode conter cenas de violência leve.

Acho que esse é o maior cap :)
Lembrando que a história se passa em tempos diferentes, e o passado está entre aspas.
Espero que gostem, e boa leitura!



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“Eu já estava mais suado do que um porco e sentia que fedia. Mas Jane não me deixava em paz.

— Não, não, não! – ela gritava. – Está fazendo errado! Desse jeito nunca vou conseguir ganhar a competição desse ano... – Ela murmurou para si a última parte, mas eu consegui ouvir.

Fazia quase três semanas que eu estava naquilo. Jane teve que me ensinar tudo desde o início, porque eu não sabia nada sobre dança de salão. Ela acabou não sendo uma pessoa tão terrível nesses dias que a gente passou treinando juntos, mas ela era muito perfeccionista comigo, e isso deixava a nós dois malucos. Ela porque eu era muito ruim e não me esforçava, e eu porque ela gritava comigo toda hora por qualquer errinho.

Nesse curto tempo que a gente passou junto, eu percebi que ela era legal, mas muito obcecada com as competições das quais participava, e isso não era necessariamente ruim, já que ela tinha recebido os prêmios de primeiro lugar dos três últimos anos. Esse seria seu último ano participando do torneio, e ela queria muito ganhar para conseguir uma bolsa em uma grande academia de dança.

Tentei fazer o passo que ela queria mais uma vez, mas girei rápido demais e tropecei nos meus próprios pés, indo ao chão mais rápido do que consegui reagir.

Jane olhou para mim como se não soubesse mais o que fazer e sentou-se ao meu lado.

— Você está bem, Dylan? – Ela perguntou com a voz baixa. Era a primeira vez que ela não estava gritando comigo em pleno treino, o que foi estranho. – Desculpa por exagerar, a culpa não é sua por não saber dançar... – Estava bom demais para ser verdade...

Senti que sua voz não estava tão firme e parecia que ela ia chorar. Aproximei-me mais dela, arrastando a bunda pelo chão.

— Eu estou bem. Mas parece que você não.

— Sabe por que quero tanto vencer, Dylan? – Ela olhou para mim com tristeza, e só consegui balançar a cabeça. – Meus pais foram campeões nacionais de dança de salão na faculdade, e eu cresci os vendo vencer. – Ela desviou o olhar e suspirou. – Quando eu fiz seis anos, minha mãe morreu de câncer, e ficamos só eu e meu pai. Ele me ensinou tudo o que eu sei, e eu prometi que, em memória a minha mãe, eu seria tão boa quanto eles e venceria todas as competições das quais participasse. E eu devo isso a ele.

Eu fico sem saber o que dizer. Sabia que vencer as competições era importante para ela, e agora entendia o porquê. Fiquei mexido com a história e me levantei para tentar novamente. Reuni toda a força de vontade que eu tinha, mas não estava inspirado, aquilo não era a minha praia. Fiz errado novamente.

O olhar de Jane já não era mais tão triste, era determinado. Ela estava determinada a me fazer gostar de dança de salão.

— Quero que me encontre sábado à noite na entrada do clube La Bamba às sete e meia da noite, quero te mostrar uma coisa. – Ela disse e começou a ir embora. – Acabamos por hoje.

E permaneci parado no lugar, vendo-a sair.

***

Ao chegar em casa, encontrei tudo bagunçado. Parecia que um furacão passara, fazendo um caminho de destruição da cozinha até o quarto de meus pais. Cadeiras caídas, copos estilhaçados, quadros de fotos tortos na parede, e outras coisas fora de lugar. Imediatamente soube o que acontecera ali.

— Mãe? – Chamei, mas ninguém respondeu, ela já devia ter saído para o trabalho.

Segui o caminho de destruição até o quarto e encontrei meu pai jogado na cama, fedendo e roncando. A raiva chega com tudo, mas não podia fazer nada, ele já estava desacordado pela bebedeira.

Arrumei a bagunça enquanto torcia para que ele não acordasse enquanto eu estivesse em casa, ou a briga seria feia.

Já era tarde da noite quando minha mãe chegou em casa. Joyce era e ainda é a mulher mais carinhosa e paciente do mundo. Trabalhava igual uma condenada como enfermeira para pagar as contas, e ainda cuidava de mim e do meu pai bêbado. Eu nunca soube o que o levara a começar a beber, mas minha mãe sabia, só nunca me contou.

Ela me viu deitado no sofá pequeno assistindo TV e me deu um beijo na testa, logo depois indo para o quarto e ficando por lá. Acabei adormecendo ali mesmo.

***

No dia seguinte, acordei cedo, ajudei minha mãe com o que precisava, e tirei um cochilo à tarde na minha própria cama para me recuperar da noite mal dormida no sofá.

Eram quase sete horas quando acordei, e levantei assustado quando percebi que teria que correr para não chegar atrasado para meu compromisso com a Jane. Se ao menos eu soubesse que ele estaria lá criando problemas para minha mãe, nem teria saído do meu quarto.

Meu pai estava bêbado e alterado no meio da sala. Ele gritava com aquela voz distorcida e trombava com tudo. Vi minha mãe tentando acalmá-lo, mas sem sucesso. A cozinha estava revirada, de novo. Aquilo fez meu sangue subir e avancei contra ele.

— Escuta aqui, quem você pensa que é para ficar nessas condições todos os dias? Acha que eu e minha mãe temos que aguentar um bêbado ridículo como você?

Ele abriu um sorriso debochado, como se não fosse com ele que eu estivesse falando. Estava completamente fora de si.

— Eu sou seu pai. Ainda mando em você. E essa é a minha casa, eumando aqui, e enquanto você viver sob o meu teto, não pode reclamar de mim! – Não aguentei ouvir aquilo e o ataquei. Empurrei-o para longe, fazendo com que suas costas batessem com força na parede. Minha mãe gritou, e eu parei. Droga! Onde eu estava com a cabeça?Aquele era meu pai, e mesmo estando em tão deplorável situação, eu não podia fazer isso. Tinha que ajuda-lo, não o machucar.

— É melhor você estar sóbrio quando eu voltar, ou você vai ver só... – Disse, enquanto tentava me acalmar. Olhei para o relógio e já passavam das sete e meia. Droga! Estava atrasado, Jane ia me matar.

Corri por todo o caminho para tentar chegar o mais rápido possível. Eram quase oito horas quando vi Jane se afastando da porta do clube, como se estivesse indo embora. Gritei seu nome, e quando ela virou, seu rosto estava irritado.

— Faz meia hora que eu estou em pé aqui na frente te esperando – gritou ela. – A competição já começou faz tempo! Onde você estava? E por que não respondeu minhas mensagens?

Ela falava sem parar enquanto eu tentava recuperar o fôlego e pensar em uma desculpa. Pensei em contar a verdade, mas não queria que ela tivesse pena de mim.

— Desculpa. Eu sem querer dormi demais – menti. – Mas estou aqui, não? – Dei um sorriso meio torto e sem graça.

Ela suspirou e assentiu.

— Venha. – Ela pegou em minha mão e me arrastou para dentro do lugar.

Quando entramos, uma música calma atingiu meus ouvidos. Valsa. O lugar estava lotado de mesas e tinha uma área aberta ao centro, onde vários casais com números colados às costas dançavam. Era lindo de se ver.

Jane me puxou até um pilar e se escorou por ali para assistir melhor. Seus olhos brilhavam e seu rosto estava em paz. Tudo o que eu via nela era um sentimento de tranquilidade e alegria, e eu percebi que gostava disso. Gostava dessa Jane que estava conhecendo e queria ver mais dela. Quando ela percebeu que eu a olhava, balançou a cabeça e apontou para a competição, para que eu assistisse.

E, por incrível que parecesse, eu fique preso àquilo, 100% focado. Era belo, emocionante, mágico até – fez com que eu me esquecesse de tentar ser o durão que eu queria parecer, e focasse somente no que eu sentia quando assistia àquilo.

O primeiro estilo de dança de salão acabou, e assim vários outros foram tendo a sua vez. Tinha um casal que participava com afinco de todos os estilos, e eles eram muito bons. O jeito como o homem conduzia a mulher para que ela fosse o centro da atenção fez-me imaginar a mim e a Jane no lugar. E eu me vi totalmente preso e deslumbrado. Senti pela primeira vez o que Jane sentia, vi o que ela via. E isso me fez perceber que eu gostava daquilo, eu gostava de dança. E não por ela, mas por mim, eu iria aprender a dançar daquele jeito.

***

Nas próximas semanas que se seguiram, nós treinávamos todo dia após as aulas, e eu me peguei dançando sozinho no meu quarto também. Eu finalmente estava pegando o jeito da coisa. Já fazia alguns passos sem cair, e estava quase tendo coordenação motora o suficiente para jogar Jane para cima e pegá-la de volta sem que ela caísse. Não ficava perfeito, mas estava quase lá.

As coisas em casa tinham melhorado um pouco depois que dei aquele esporro no meu pai. Ele já não estava bebendo tanto, e isso me deixava mais feliz e motivado. Jane percebia que alguma coisa estava melhor, mas ela não me pressionava a falar, o que era bom. Estávamos nos entendendo cada dia melhor.

Aquele dia, em especial, eu me lembro como se fosse ontem. Era uma quinta-feira, e estávamos treinando o salto final da coreografia para a competição, mas ele não saía por nada. Já fazia mais de duas horas que a gente estava tentando aquele passo, e nada. Decidimos tentar uma última vez, e depois iríamos para casa descansar e tentar de novo no dia seguinte.

Refizemos a última sequência de passos antes do salto do final, para que ela conseguisse se afastar o suficiente para pegar impulso sem sair do ritmo da dança. Quando ela pulou, firmei os pés no chão e a impulsionei para cima, girando-a pela cintura. Agarrei-a novamente pela cintura antes que ela atingisse o chão e me abaixei para a pose final. Finalmente! Ficamos parados naquela posição por alguns segundos, um encarando o outro, as respirações ofegantes, e o suor escorrendo pelas testas.

Levantamo-nos lentamente e olhamos para a professora de dança, dona Gertrudes.

— Isso! Vocês foram perfeitos!

Era a primeira vez que eu era elogiado pela professora. Olhei contente para Jane, e ela também sorria.

— Também acho, Dylan. Nós conseguimos, ficou perfeito!

Receber elogio da professora era uma coisa, receber um elogio de Jane era outra mais rara e melhor de se ouvir. A emoção me subiu pela cabeça e só fui me dar conta do que fiz quando percebi que tinha seu corpo em meus braços e nossas bocas estavam unidas num beijo estalado. Tão rápido como começou, eu logo a soltei, morto de vergonha e vermelho até a alma. Ela não estava diferente, tanto que olhou para o ouro lado, e isso me deixou menos envergonhado.

A professora deu meia-volta e saiu rapidinho resmungando um “nos vemos amanhã, crianças”, e Jane e eu rapidamente nos afastamos, arrumando nossos pertences para dar o fora dali.

— Fiquei orgulhosa do seu progresso hoje, Dylan – disse Jane do outro lado da sala, mexendo em sua mochila. – Foi muito bom mesmo, você está progredindo bem rápido e isso é bom.

Fiquei vermelho e murmurei um “obrigado”, mas ainda tinha a sensação de seu corpo junto ao meu, e não estava totalmente prestando atenção em suas palavras. Fui embora para casa sorrindo como um idiota.

Pena que, como dizem, alegria de pobre dura pouco.

Ao chegar na rua de casa, vi uma movimentação em frente a onde moro. Meu coração errou uma batida e só consegui pensar em minha mãe. E se algo tivesse acontecido a ela? Corri até a ambulância estacionada em minha varanda e espio lá dentro. Tudo o que vi antes de me empurrarem para fora e fecharem as portas foi uma mão masculina caída para fora da maca, a mão do meu pai.

Corri para dentro da casa enquanto ouvia a ambulância indo embora e encontrei minha mãe paralisada no sofá da sala, havia uma paramédica sentada ao seu lado. Fui até minha mãe e a abracei forte, sentindo suas lágrimas escorrerem em minha camiseta. Logo, eu também estava chorando, e assim ficamos por mais um tempo, até todos os que estavam lá dentro nos deixarem a sós.

— Mamãe – chamei com a voz mais calma que consegui, ainda que um pouco embargada pelas lágrimas –, o que aconteceu com o meu pai?

Minha mãe deu mais alguns soluços antes de me encarar com seus olhos vermelhos e inchados.

— Eu cheguei em casa e o encontrei caído ao pé da mesa. Ele estava ensanguentado e claramente tinha bebido, mas eu não sei por quê.

Abracei-a mais forte enquanto ela chorava mais.

Mais tarde, quando ela já não chorava mais, fiquei sabendo que ele não estava morto, não ainda, mas tinha entrado em um coma alcoólico. Fiquei com raiva de meu pai por um momento, essa atitude estúpida dele de beber até cair só nos trouxe mais problemas. Mal conseguíamos pagar as contas existentes, e agora teríamos que pagar as contas do hospital. Um pensamento horrível passou pela minha mente, e assim que surgiu, percebi como eu estava sendo um babaca. Se meu pai bebia, era por algum motivo. Ele poderia estar doente, depressão ou coisa do tipo. Não era culpa dele.

Agora tínhamos que ser forte por ele.

Não fui à escola no dia seguinte, mas fui ao treino de dança. Entretanto, não consegui me concentrar, meus pensamentos estavam todos em meu pai.

Conforme os dias foram passando, fui visitar meu pai no hospital cada vez menos, assim como deixei de ir à escola e ao treino, e arrumei um emprego para ajudar minha mãe com as contas do hospital. Parei de falar com os meus amigos, e ignorei os telefonemas de Jane. Não contei nada a ninguém, não queria que tivessem pena. Apenas me isolei, vivendo para trabalhar, e trabalhando para que minha mãe não precisasse fazer mais do que já fazia.

E, assim, quase uma semana se passou.”


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Odiaram? Acharam meio blé?
Comentários são muito bem-vindos!
Bjs!!



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