Last Dance escrita por Winnie Clark


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Oie!
E aqui está o último capítulo, como eu disse nos avisos da história :)

Lembrando novamente que a história se passa em tempos diferentes, e o passado está entre parênteses. E quando aparecer o símbolo Ω, significa que são épocas diferentes.

Sem mais, boa leitura!



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A senhora de azul que está sentada de frente para Glória – Sônia, se não me engano – repara que estou observando a dançarina maravilhosa na pista de dança e chama minha atenção.

— Se você está tão encantado com a mocinha, vai lá e dança com ela, garotão! – Ela sugere com um sorriso e uma piscadela.

Dou uma risada curta com seu jeito sugestivo e me aproximo dela para que me escute melhor por sobre a música alta.

— Eu vou, mas só na última música. Ela gosta de conhecer os diferentes jeitos de dançar das outras pessoas.

As três senhoras ficam sem entender o que eu quis dizer e simplesmente me encaram com feições confusas a engraçadas.

— Eu tive a mesma reação quando ouvi isso pela primeira vez – digo, com um leve sorriso que se apaga lentamente enquanto meu pensamento volta ao passado.

Ω

“Meu pai havia acordado após três dias em coma, mas ficaria no hospital por mais algumas semanas e depois iria para uma clínica de reabilitação.

Fazia dois meses que o episódio tinha acontecido, e desde então minha vida era trabalhar, trabalhar, pagar as contas, e trabalhar mais ainda. Meu pai estava bem melhor, mas ainda não se sentia pronto para deixar a reabilitação, o que significava que eu teria que continuar na mesma.

Após tanto tempo não indo à escola, recebi uma carta da diretoria que exigia explicações, ou eles iriam me repetir de ano ou até mesmo me expulsar por faltas. Decidi ir até lá pessoalmente falar com a diretora.

Ao andar pelos corredores da escola, percebi que sentia falta daquilo, e principalmente da aula de dança. Não consegui controlar a vontade e passei pela sala. Jane estava lá, magnífica como sempre, dançando elegantemente. Em um giro, ela me viu, e pude ver o ódio invadindo seus olhos.

— Como ousa aparecer aqui depois de tanto tempo como se nada tivesse mudado? – Ela gritou de onde estava. Não respondi, apenas dei as costas e continuei meu caminho até a sala da diretora. Ela me seguiu correndo e pisando firme. – Vai me ignorar agora? Nossa, quanta maturidade. Por que não fala que só estava fingindo que estava gostando da dança para me fazer criar expectativas e depois me ver quebrar a cara? Hein? – Continuei caminhando e ignorando-a na tentativa de não dizer nada de que me arrependesse depois ou que me fizesse contar tudo e ver uma expressão de pena em seu rosto.

Cheguei na diretoria e ela parou de me seguir, voltando para a dança.

Por mais que eu não quisesse, contei tudo para a diretora, não escondendo nada. E disse que talvez não conseguisse mais voltar para a escola, e que tudo bem se ela quisesse me expulsar, eu só havia ido até lá para que ela ao menos soubesse os meus motivos. Fui embora dali sentindo-me mais leve, mas mesmo assim triste por ter que ficar afastado.

Mais um mês e meio se passara, quando um dia, ao sair de casa para o trabalho, dei de cara com a menina mais linda que meus olhos já viram. Jane estava ainda com a mão levantada, prestes a tocar a campainha.

— Oi – ela disse, timidamente.

— Oi – respondi. Não fazia ideia do que ela estava fazendo ali, para mim estava claro que ela me odiava.

— Eu... – ela começou. – Eu só queria dizer que sinto muito por ter ficado tão brava, eu não fazia ideia que isso tinha acontecido com o seu pai.

Olhei-a chocado. Como ela sabia? E por que estava aqui? Ela continuou ao ver meu espanto:

— A diretora avisou a dona Gertrudes, que veio falar comigo. Ela me explicou a situação. E eu quero ajudar...

— Não – interrompi-a. – Isso não é assunto seu. Agradeço a preocupação, mas não quero sua pena. – Fechei a porta e comecei a andar para não chegar atrasado ao trabalho.

— Espera! Não estou com pena – ela tentou me parar segurando minha mão, e eu parei e olhei para ela. – Mas eu sei como ajudar. Falei com uma tia minha que trabalha no centro de reabilitação que seu pai está, e ela me disse que ele está prestes a sair. – Escutei-a com mais atenção, nem eu sabia desse detalhe sobre meu pai. – Tenho duas maneiras para te ajudar. A primeira é oferecendo um trabalho para seu pai no escritório do meu avô. Seu pai é formado em contabilidade, não? – Assenti. – Então, meu avô disse que o último contador que trabalhava lá pediu as contas, e eles estão precisando de gente. Posso conseguir isso para o seu pai.

— E por que você faria isso? O que você ganha com isso? – Estava bom demais para ser verdade. E eu não iria cair num esquema, tinha que ter alguma pegadinha.

— Você... – Ela abaixou o olhar, enquanto meu queixo caía. Ela tinha falado sério? – Eu ganho você. – Ela respondeu com a voz mais firme, olhando em meus olhos. Continuou:

— E com você nós podemos ganhar a competição, nós já temos a coreografia feita e...

— Pare – interrompi-a novamente. – Eu sabia que estava fácil demais. Você não quer me ajudar, só quer ganhar essa maldita competição para alimentar esse seu ego de ganhadora.

Ela arregalou os olhos e fez uma careta. Percebi que eu falei algo errado, mas na minha cabeça estava tudo fazendo sentido.

— Não é nada disso, seu idiota. – Ela parou por um segundo, como se pensasse. – Talvez seja em parte, mas não é só isso! Os ganhadores da competição de dança de salão recebem um prêmio de quinhentos dólares. – Meus olhos se arregalaram, eu não sabia dessa parte. Esse dinheiro me ajudaria a pagar o restante da conta da clínica de reabilitação. – Eu não te contei antes porque esse dinheiro geralmente é reinvestido na escola, mas dessa vez eu conversei com a dona Gertrudes e com a diretora, e elas concordaram em usar o dinheiro para te ajudar. Assim você pode voltar para a escola.

Eu não disse mais nada. Se eu dissesse, todas as lágrimas que eu estava segurando começariam a sair. Aquela fora a melhor coisa que alguém já fizera por mim, e aquilo com certeza era algo que mudaria a minha vida e a dos meus pais. Então simplesmente me aproximei de Jane e a abracei, finalmente aceitando ajuda.

***

Era o dia da competição. Todos os outros pares da nossa escola já tinham se apresentado em suas devidas categorias, e agora só faltava a categoria em que Jane e eu estávamos inscritos: Salsa.

Enquanto as outras duplas dançavam, Jane e eu esperávamos nos bastidores. Meu coração estava acelerado e minhas mãos começaram a suar e tremer. Eu nunca tinha feito aquilo na frente de tantas pessoas antes, e comecei a achar que estava tendo um ataque de pânico. Estava quase desistindo quando senti a mão macia de Jane apertar a minha.

— Vai dar tudo certo – essa disse em meu ouvido, e em seguida beijou minha bochecha. Aquilo me deu uma dose extra de confiança, e sorri para ela agradecido.

Seguimos lado-a-lado assim que nossos nomes foram chamados para o palco, e nos posicionamos em nossas marcas. A música começou a tocar, e comecei a me mover ao ritmo da música.

A batida alegre da música era contagiante, e, mesmo extremamente nervoso, consegui executar os passos que passamos meses ensaiando. Até consegui me distrair um pouco e cantarolar um pedaço em que o ritmo mudava um pouco. Percebi que aquele verso resumia bem o que eu sentia sempre que estava com Jane, e foi nesse momento em que essa música se tornara a nossamúsica.

“Baby, don’t you know I love you so

Can’t you feel it when we touch?

I will never never let you go

I love you oh so much”

Por estar imerso em meus pensamentos, acabei demorando demais para girar o corpo de Jane, fazendo com que a coreografia atrasasse um pouco, deixando-me extremamente nervoso, mas logo consegui recuperar o compasso, e tudo correu como deveria. A música já estava acabando, e logo seria o passo mais complicado, aquele que eu quase nunca conseguia com maestria.

— Pronto? – Perguntou minha parceira.

Assenti, preparando-me com todo o foco e atenção que consegui.

— Pronto.

E assim, ela pulou. Impulsionei-a para cima e consegui agarrá-la pela cintura, abaixando nossos corpos para a pose final com perfeição. Isso, pensei. Conseguimos!

Estava concentrado olhando nos lindos olhos cor de mel de Jane, mas consegui ouvir aplausos e alguns assovios ao fundo.

Criei coragem enquanto ainda estávamos em nosso mundinho particular e soltei a bomba:

— Quer sair comigo um dia desses? Pra dançar, comer, conversar, sei lá?

Ela me olhou com um sorriso satisfeito.

— Acho que depois de tudo, eu seria louca se não aceitasse. – E me puxou para um beijo, fazendo com que a plateia fizesse ainda mais barulho.

Nesse dia, nós pegamos o prêmio de primeiro lugar, e todo o resto foi se acertando. Meu pai saiu da reabilitação e conseguiu o emprego com o avô de Jane e está sóbrio até hoje; Jane se formou no colégio e foi aceita na academia de dança que queria; e eu voltei para a escola e me formei um ano depois.

Jane e eu nos casamos dez anos depois, e continuamos dançando, mesmo que não em competições, mas de vez em quando ela vem com alguma ideia maluca na cabeça e me faz participar de alguns concursos de dança de salão.”

Ω

Algumas horas se passam e a festa está chegando ao fim. Nesse tempo, já conversei com as três “moçoilas” – Glória, Tânia e Sônia –, já passeei por todo o barracão, já ajudei um dos convidados bêbados a achar a família, já comi, já conversei mais ainda com as minhas novas amigas – que se convidaram para tomar chá-da-tarde em minha casa no próximo fim de semana –, e agora me encontro quase dormindo na mesa.

Sinto um leve toque na minha cabeça e dedos correm pelo meu cabelo. Imediatamente levanto a cabeça dos braços apoiados na mesa e encaro a face mais bela que já vi. A dançarina do vestido vermelho sorri para mim, seu rosto avermelhado e os cabelos grudados no pescoço suado.

— Amor, nós temos que ir logo, a babá tem que ir para casa em meia hora – diz Jane.

Entendo o real significado de suas palavras e me levanto totalmente aceso, o sono some imediatamente. Chegou o meu momento!

Olho para as senhoras que me acompanham e apresento a mulher ao meu lado.

— Madames – digo, orgulhoso do que tenho a dizer –, quero que conheçam a pessoa que vocês passaram a noite inteira me importunando para que eu chame para dançar – minhas amigas dão de ombros e riem sem entender.

Jane se aproxima delas sorridente.

— Olá! É um prazer conhecer as pessoas que cuidaram tão bem do meu zangado esta noite – ela diz enquanto junta as mãos em frente ao corpo em sinal de agradecimento. As senhoras riem sem jeito, mas finalmente entendendo todo o meu mistério não tão misterioso.

— Glória, Tânia, Sônia, essa é minha adoravelmente estranha esposa Jane – apresento-a às moçoilas, que ficam animadas e começam a falar todas de uma vez. Levantam-se de suas cadeiras e nos rodeiam, tagarelando com minha esposa sobre os mais diversos assuntos – incluindo o chá-da-tarde –, enquanto Jane responde a tudo empolgada.

Após finalmente conseguirmos nos livrar das três senhoras, dirigimo-nos à pista de dança para a última dança da noite. Uma música alegre começa a tocar, e não consigo parar de pensar na coincidência de ser justamente a nossa música. Mais tarde descobriria que Jane passou pelo DJ antes de ir me buscar.

Passo meus braços ao redor da cintura de Jane e a puxo para perto, enquanto ela encosta a cabeça em meu ombro. Dançamos colados pela pista, às vezes trombando em outros casais empolgados. Com o amor da minha vida assim bem perto de mim, sinto-me mais uma vez completo, como quando me sentia quando jovem, e é uma sensação maravilhosa.

Afasto-nos por um breve momento para girá-la, mas ela não volta mais para tão perto, ficando a uma distância para que consiga me olhar nos olhos.

— Parece que alguém ganhou umas amigas bem encantadoras, hein? – Ela ri, contente por eu estar me socializando mais.

Rio de suas palavras e a aperto um pouco mais.

— Está com ciúmes, meu amor? Porque você sabe que só tenho olhos para você. E passos de dança também – completo rindo.

Mais alguns giros e risadas e a música está quase acabando. Jane começa a cantar o último refrão da música, e eu a acompanho, sabendo que, não importa quantas músicas ela dance, com quantas pessoas diferentes, eu sempre terei sua última dança.

 Ω

“So, don’t forget who’s taking you home

Or in who’s arms you’re gonna be

So, darling, save the last dance for me”


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Notas finais do capítulo

Ai, gente, eu achei esse final um amorzinho kkkkkk
E vocês, o que acharam?
Comentários são muito bem-vindos!
Bjs!!



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