Protocolo - Bebê Aranha escrita por Pixel


Capítulo 5
Conte-me a Verdade


Notas iniciais do capítulo

Cá estou eu novamente com mais um capítulo, que foi revisado TREIX vezes (desculpa, não resisti).

~~ Boa Leitura e espero que goste



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Tony arfou, não acreditando em seus ouvidos por um momento.

 Ele imaginou que estivesse começando a ficar louco, ouvindo coisas, ou talvez cansado demais para prestar atenção na realidade a sua volta, mas o tremor em seu coração mostrou que era real. Mais do que real.

 Ele piscou atordoado, completamente confuso enquanto encarava a figura já adormecida do seu filho.

 Peter parecia cansado — Exausto —, mas agora havia uma certa calmaria em suas feições. Ele parecia em paz.

 Essa foi a primeira vez que Peter o chamou de pai, e nada no mundo poderia descrever a felicidade que ele está sentindo agora. Seu coração estava simplesmente martelando contra seu peito freneticamente, tão alto que ele podia até mesmo ouvir e o som parecia ecoar pelo quarto. Depois de alguns segundo um sorriso enorme começou a se formar em seu rosto, cheio de dentes e um significado bem maior por trás.

 A sensação era a mesma de quando Peter — na época em que ainda era Jean — o chamou de pai pela primeira vez. Bem, era pelo menos a intenção dele.

 Tony estava sentado na sala em sua antiga mansão em Malibu. O lugar estava uma completa bagunça, com brinquedos de todos os tipos e de todas as corres espalhados por todo o lugar; Jean, no centro de tudo.

 Tony estava ocupado, apenas coexistindo ali na sala. Havia inúmeros papeis em suas mãos, todos os relatórios das Industrias Stark. Obadiah estava pegando no seu pé nos últimos dois messes, irritadíssimo com o fato de ele estar deixando a empresa de lado apenas para ficar mais tempo em casa. Cuidando de um bebê.

 Até mesmo as festas tinham se tornado quase nulas. Naquele primeiro ano de Tony com Jean, o único momento em que o bilionário realmente botou um terno para ir numa festa foi na arrecadação de fundos para a Fundação Maria Stark, e mesmo assim ele levou Jean apenas para apresenta-lo oficialmente a mídia.

 Ele acabou passando muito tempo em casa naquele primeiro ano.

 Naquele dia em especial, Tony estava tão concentrado que nem ao menos percebeu a bagunça que Jean estava fazendo na sala até que o mesmo veio até ele com um pato de borracha em mãos, puxando a barra da calça para chamar sua atenção.

 Na época Jean estava apenas começando a andar de verdade, ainda tropeçando em seus próprios pés.

 Na primeira vez Tony o ignorou, concentrado demais nas anotações de Pepper para sequer olhar pra baixo e dar um pouco de atenção para a criança de 11 messes no chão.

 — Pa’ai — Veio a pequena voz, baixinha demais, mas ainda assim audível.

 Tony abaixou os papeis no mesmo instante, olhando espantado diretamente para Jean. A pequena criança encanou de volta, com seus grandes olhos castanhos brilhando de curiosidade. Ele parecia sereno, quase como se não tivesse feito o dia de Tony com apenas algumas pequenas sílabas, pronunciadas quase que de modo incoerente.

 Não tinha sido as primeiras palavras de Peter, porque aparentemente “banhan’s” eram mais importantes que “Pa’ai”, mas a emoção tinha sido a mesma.

 Tony se lembra de ter deixado os papeis de lado e alcançado Jean com um sorriso no rosto. Embalando o garoto em seus braços em um abraço desajeito. A criança não lutou, em vez disso começou a brincar com o pato de borracha, que emitia um som toda vez que era apertado.

 — Eu ouvi direito bambino? — Perguntou, mesmo sabendo que Jean não iria responder.

 Inocentemente, Peter estendeu o pato para Tony e tentou, mais uma vez, pronunciar alguma palavra.

 — Phato — Disse de forma quase incoerente e, como se para enfatizar o que ele queria dizer, apertou o brinquedo, emitindo um som irritante, mas que Tony apenas ignorou naquele momento.

 — Sim, sim. Pato — Tony o envolveu novamente em um abraço, sentindo o cheiro agradável de criança. Ele beijou a testa de Peter com ternura.

 Depois disso Pepper entrou na sala, apontando a bagunça do lugar e exigindo de Tony os papeis assinados.

 Pepper ainda era nova no trabalho, por isso ela não brigou com ele quando Tony apenas a ignorou, mas ainda assim era possível ver o descontentamento em seus olhos.

 Tony estava feliz e naquele momento só havia Jean. Sem Obadiah, sem armas, sem SI. Apenas Jean.

 Era exatamente o mesmo sentimento que Tony estava sentido agora.

 Ele estendeu a mão e afastou algumas mechas de cabelos castanhos, rindo quando Peter suspirou e se inclinou ao toque inconscientemente. Tony se inclinou e deu um beijo hesitante em sua testa.

 — Boa noite bambino — Ele sussurrou carinhosamente, esperando que Peter pudesse ouvir mesmo que já tivesse adormecido.

Bambino.

 Tony realmente não se lembra da última vez que ouviu ou falou essas palavras, mas que ainda assim pareciam escorregar da sua boca com uma certa graça. Era um apelido carinhoso, dado a ele por sua mãe. A forma como Maria se referia a ele, e que ainda estava enraizada em sua mente.

 Bem, não tinha nada de errado nisso.

 ...

  Tony não dormiu durante a noite. Ele pegou um pouco de pó de café e voltou para o laboratório, agitado demais para sequer pensar em se deitar na cama.

 Seus novos projetos não eram algo de grande importância. Ele vem, nos últimos meses, trabalhando em um novo Starkphone — o qual Peter teve a honra de receber o primeiro modelo. Fora isso, apenas manutenções aqui e ali nos equipamentos dos Vingadores e em suas próprias armaduras.

 Isso não quer dizer que ele nem ao menos viu as horas passarem, e logo Sexta-Feira estava chamando sua atenção freneticamente.

 Há um mês atrás, Tony teria ficado irritado e discutido com sua I.A, se recusando a sequer ouvi-la. Mas agora era diferente, de um jeito bom.

 Basicamente, Sexta-Feira o chamou porque Peter ainda não tinha se levantado e precisava sair em 10 minutos se não quisesse chegar atrasado na escola.

 Isso parecia tão surreal e tão diferente do que ele estava acostumado que Tony riu e largou as ferramentas. Não era preciso olhar no espelho para ele saber que estava totalmente sujo de graxa, dos pés à cabeça, mas ele não se importou. Em vez disso, seguiu para o elevador sem pestanejar.

  Não era a primeira vez que ele era obrigado a acordar Peter, e provavelmente não seria a última.

 — Peter... — Ele o chamou assim que a porta se abriu. O quarto estava mergulhado num breu e nem mesmo a luz da manhã entrava pelas janelas. Seria um dia frio e quase deprimente; a neve também não contribuía por um bom clima.

 Tony esperou uma resposta audível, mas tudo que recebeu em troca foi um murmuro baixo e mal-humorado.

 — Peter, tá na hora — Ele tentou mais uma vez, sem resultados.

 Tony avançou para dentro do quarto do menor, pedindo para Sexta-Feira ligar as luzes na esperança que isso fosse ajudar Peter a acordar. Infelizmente, o garoto apenas resmungou mais uma vez e colocou o edredom por cima da cabeça, se escondendo.

 O bilionário não pode conter uma risada. Nem em mil anos ele se imaginou fazendo algo assim, lutando para acordar uma criança que estava atrasada para a aula. Tony se aproximou lentamente e puxou o edredom para longe do garoto, finalmente ganhando algum tipo de reação.

 O problema foi que Peter agarrou o edredom de volta e, com uma força que Tony não sabia que o garoto tinha, o puxou de volta sobre a cabeça, se virando na cama para o outro lado. Tony foi obrigado a soltar.

 — Peter, você vai chegar atrasado — Disse um pouco mais desesperado e aflito. Dessa vez, ele optou por sacudir os ombros do menor levemente, se certificando de não ser muito bruto no processo.

 Demorou um pouco, mas Peter finalmente começou a dar algum sinal de consciência.

 — Já...? — Peter perguntou, voz abafada por causa do edredom. Tony sacudiu seu ombro mais uma vez.

 — Sim, já. Ninguém manda ficar acordado até tarde — Tony brincou, mesmo que fosse totalmente hipócrita ao fazê-lo. — Agora vamos garoto, você precisa ir

 Peter finalmente tirou o edredom da cabeça, revelando um rosto cansado e corado, olhos mal conseguindo ficar aberto, seja pelo sono ou seja pela luz forte que estavam machucando as suas retinas. Tony bagunçou seus cabelos amorosamente, deixando eles mais desgrenhados do que antes.

 — Troque de roupa e eu vou fazer o seu café da manhã... só que vai ter que ser rápido porque você tem apenas 8 minutos — Ele disse e isso pareceu finalmente despertar Peter.

 — O quê? — Perguntou, arregalando os olhos. Em um gesto rápido o garoto chutou os edredons e começou a correr pelo quarto em busca das suas roupas.

 Tony balançou a cabeça negativamente enquanto sorria, se divertindo com a cena que ele nunca pensou que viveria para ver. Era tão... surreal.

 O bilionário se levantou, deixando Peter se arrumar em paz e marchou até a cozinha. Ele não tinha muito tempo para fazer algo elaborado como panquecas ou ovos mexidos, por isso ele simplesmente pegou uma tigela e colocou cereais dentro, logo depois o leite, esperando que Peter fosse rápido o bastante para come-los.

 Apenas alguns segundos depois Peter entrou na sala, carregando a mochila com um pouco de dificuldade e o casaco torto. Ele se sentou na banqueta e puxou a tigela de cereais para mais perto, enfiando uma colherada na boca.

 — Obrigado sr. Stark — Ele disse de boca cheia e Tony riu, balançando a cabeça. Ele estava um pouco desapontado por eles terem voltado ao “sr. Stark”, mas querendo ou não existia uma pequena evolução aqui.

 Peter comeu o cereal rapidamente, terminando em tempo recorde e isso foi divertido de ver.

 — Tchau sr. Stark! — Ele gritou e correu para o elevador, tentando agora ajeitar o cachecol ao redor do pescoço.

 — Tchau garoto — Tony acenou, sentindo uma pontada dolorosa em seu coração ao ver Peter entrar no elevador e sair.

 Ele tinha certeza que essa ideia de volta as aulas estava sendo pior pra ele do que pra Peter, porque o garoto realmente fazia falta.  Ontem mesmo Natasha chegou a brincar com Tony, zoando a forma como ele praticamente contou os minutos até as quatro horas para poder em fim encontrar com Peter, e ele está começando a perceber que isso iria se tornar recorrente.

 Não era um incomodo.

 ...

 Peter estava com sono, tanto sono que manter os olhos abertos estava se tornando cada vez mais difícil a cada segundo que passava, ainda mais com o frio que entrava pelas suas roupas. Mas ainda assim ele estava de pé, se arrastando pelo corredor até o seu armário.

 — Ei Pete! — A voz amigável de Ned o cumprimentou, mas foi tão rápido e repentino que machucou um pouco seus ouvidos. Ele já podia sentir uma sobrecarga sensorial se formando e por isso fechou os olhos por longos segundos, tentando ignorar o barulho no corredor e as luzes forte.

 Essa era uma das piores partes dos seus poderes. A sobrecarga de sentidos. Peter se lembra bem da primeira vez que aconteceu.

 Era verão, as tão sonhadas férias de verão — mas não pra ele, claro, porque significava que ele passaria o dia inteiro dentro do minúsculo apartamento com Skip. Havia se passado apenas uma semana depois da picada, e tudo ainda era muito novo para ele.

 Naquele dia, ele acordou sendo capaz de ouvir tudo. Os barulhos de carros na rua, as pessoas batendo as portas nos apartamentos ao redor, Skip na cozinha e depois na sala, o carrinho do sorvete. Tudo. E o pior, era alto demais. Isso iniciou uma dor de cabeça insuportável que nem mesmo o Tylenol foi capaz de amenizar.

 Como se já não bastasse, até mesmo a fraca luz do sol que entrava pela janela machucava seus olhos, e ele não pode ficar na cama por causa do calor e qualquer peça de roupa parecia uma lixa contra a sua pele.

 Peter passou por isso pelo menos três vezes antes de tentar dar um jeito de impedir a sobrecarga. O primeiro passo era ter uma ótima noite de sono — justamente o que ele não teve hoje — e andar sempre com um par de óculos escuros ao alcance em dias quentes. Fones de ouvidos também eram bem-vindos.

 Quanto a dor de cabeça. Bem, isso ele ainda não descobriu uma forma de evitar, já que qualquer remédio perde o efeito graças ao seu metabolismo acelerado.

 Tudo de bom tem algo ruim.

  Peter se forçou a olhar para cima, abrindo um pequeno sorriso amigável, mas ainda assim completamente forçado, quando ele avistou o amigo que parecia estar tendo um bom dia.

 Diferente dele, claro.

 — Ei cara... — Ele tirou a mochila do ombro, planejando colocar alguns livros dentro do armário, mas não tendo a mínima ideia dos quais. Ele estava basicamente andando no automático.

 — Você por acaso dormiu hoje? — Ned perguntou, levantando uma sobrancelha e isso causou uma leve risada no jovem aranha.

 Peter abriu a boca para falar, mas acabou bocejando em vez disso. Ele balançou a cabeça firmemente em troca e fechou o armário.

 — Eu... fiquei acordado até tarde — Era a melhor maneira de explicar as coisas, afinal, certos projetos ainda têm que se manter em segredo. Não só de Ned, mas praticamente de todos que ele conhece. — Vou ficar bem daqui a pouco, é só eu acordar...

 — Tá bom... — Ele disse meio hesitante, quase como se não confiasse em Peter. — Qual sua primeira aula hoje

 Peter gemeu, ele teria que abrir seu armário de novo e pegar o horário, e por um momento de preguiça ele realmente considerou pegar seu celular e perguntar a Karen, ela certamente saberia. Porém, ele resolveu deixar sua I.A pessoal de lado e abriu o armário com um suspiro cansado.

 Peter pegou o papel que agora estava dobrado e amassado e o abriu, vagando pela lista de aulas na semana até chegar nas aulas que ele teria quarta-feira, no caso hoje. Ele nem ao menos se deu ao trabalho de reprimir um gemido quando finalmente viu de que seria a primeira aula.

 — Inglês... — Resmungou, deixando os ombros caírem em derrota. A única aula onde ele estaria longe de Ned e de MJ. Nenhum amigo para lhe cutucar e mantê-lo acordado.

 Peter teria que fazer esforço extra, ele só esperava que seu cérebro não explodisse com uma dor de cabeça.

 Sobrecargas sensoriais são horríveis e ele realmente as odeia.

 — Boa sorte — O garoto disse, oferecendo um sorriso, mas existia uma pitada lúdica em seus olhos, deixando claro que ele estava se divertindo com isso.

 Peter apenas revirou os olhos.

 ...

 Literatura não era o forte dele. Peter era de exatas e não de humanas. Por isso, manter os olhos abertos na aula de inglês estava se tornando mais difícil do que ele esperava. A mulher na sua frente estava falando sobre livros, apenas os mais clássicos.

 Era apenas o terceiro dia de aula e a professora já estava falando em trabalho e apresentação. Em redações, atividades e em uma lista de livro que eles teriam que ler ao longo do ano. Tudo escrito em uma lista no quadro que Peter não conseguiu reunir forças para anotar.

 Isso não era um problema, Peter amava ler, o problema real era quando a professora começava a divagar sobre Shakespeare sem parar e ele desejou apenas poder enfiar a cabeça no chão e desaparecer. Ou talvez apenas dormir mesmo.

 As luzes da sala eram fortes demais para seus olhos, apenas um pequeno incomodo, mas isso não quer dizer que ele não desejou um par de óculos de sol — mesmo que provavelmente fosse proibido usa-los na sala de aula.

 Estava difícil ouvir, prestar atenção e praticamente impossível guarda qualquer palavra que a mulher na sua frente estava falando. Em algum momento quando a professora começou a falar sobre Romeo e Julieta Peter simplesmente apoio a cabeça nos braços e piscou, ele piscou apenas para tentar acalmar um pouco a ardência em seus olhos e talvez espantar a dor de cabeça.

 Mas então ele piscou de novo e seus olhos não abriram.

 Ele não sabe exatamente quanto tempo cochilou ou se ele chegou até mesmo a cochilar, talvez tivessem passado apenas 4 minutos ou nem mesmo um segundo, a única coisa que ele sabia era que alguém atrás dele começou a cutuca-lo incessantemente com um lápis.

 Peter resmungou, optando por ignorar quem quer que fosse. Porém, as cutucadas não foram embora, pelo contrário, pareceram aumentar ainda mais, cada vez mais forte. Ele desistiu de tirar uma soneca e se endireitou na cadeira, mal conseguindo manter os olhos abertos. As cutucadas finalmente foram embora e ele se sentiu contente com isso, e também um pouco irritado.

 Por um instante ele considerou se curvar sobre a mesa e adormecer mais uma vez, mas mudou de ideia e tentou manter os olhos abertos pelos próximos dez minutos — uma luta acirrada, já que suas pálpebras insistiam em se fechar.

 Cada segundo parecia uma hora e Peter estava apenas coexistindo naquela sala, já que nada que a professora falava conseguiu entrar na sua cabeça. Simplesmente entrou por um ouvido e saiu pelo outro; a única coisa que ele realmente entendeu foi que a professora estaria pedindo um resumo de Hamlet e um trabalho em dupla. Ela estaria escolhendo os pares.

 Porque sim, é assim que a escola funciona.

 Depois de dez minutos o sinal finalmente tocou e foi como música para seus ouvidos, mesmo que fizesse sua cabeça latejar.

  — Você não deveria passar a noite acordado em um dia de semana. Coisas assim podem acontecer... — Uma voz disse, baixa, mas tinha um tom forte e estava claramente repreendendo Peter.

 Peter tentou se mover mais rapidamente e só quanto estava com a mochila nas costas foi que ele se virou para figura logo atrás dele.

 Era uma garota de cabelos loiros, batiam apenas um pouco abaixo dos ombros; alguns fios estavam sendo domados por um arco preto, enquanto os outros estavam espetados de forma bagunçada. Seus olhos eram de um azul profundo, com um brilho amigável, mas ainda bem sério.

 Havia algo de familiar nela, mas ele não conseguiu descobrir o quê.

 — Vou tentar manter a dica... — Peter disse e logo depois bocejou mais uma vez, sentindo seus olhos lacrimejarem no processo.

 — Boa sorte para sobreviver ao resto do dia — Ela disse quase com desdém e saiu da sala, sumindo antes mesmo que Peter pudesse descobrir o seu nome. Ele decidiu que não podia fazer nada quanto a isso e seguiu para a aula de ciências, algo que com sorte ele vai conseguir se manter acordado.

 ...

 — Você não dormiu nada, não é mesmo perdedor? — MJ disse. Quando Peter olhou para cima percebeu que havia um sorriso sincero em seu rosto, mas ele estava contradizendo a preocupação estampada nos olhos da morena.

 Peter se sentiu pequeno sob aquele olhar e decidiu apenas concordar com um leve e pequeno aceno.

 Era hora do almoço, um tempinho livre e de descanso depois de ter enfrentado cinco aulas chatas e que pareciam intermináveis. Peter estava se sentindo um verdadeiro guerreiro agora.

 Estavam apenas Peter e MJ na mesa, já que Ned ainda não tinha aparecido — algo sobre a biblioteca. MJ estava, até então, lendo silenciosamente um livro, mas o deixou de lado como se fosse dar uma bronca em Peter.

 Ele estava feliz pelo seu tom de voz ter sido gentil, isso já era muito para alguém como MJ.

 — Eu... tive algumas ideias durante a noite. Fiquei acordado até tarde — Ele explicou, deixando a bandeja de lado para pode apoiar a cabeça nas mãos de forma preguiçosa. Pele fechou os olhos por dois segundos, sentindo um leve alivio ao fazê-lo.

 — Ei! Deixe pra dormir em casa — Ela o repreendeu, dando um peteleco na testa de Peter.

 Não doeu, mas ele amaldiçoou seu sentido aranha por não ver MJ como uma ameaça. Isso poderia ter sido evitado facilmente.

 Peter fez o que lhe foi dito e abriu os olhos mais uma vez, encarando MJ firmemente. Ela parecia um pouco diferente agora, olhando desse ângulo. Ele notou que seus cabelos estavam menos selvagens hoje, como se ela realmente tivesse se dado ao trabalho de escoava-los apropriadamente.

 Havia um brilho a mais em seus olhos, algo que Peter não soube identificar e ele acabou encarando-a por mais tempo do que o necessário como se estivesse tentando desvendar um mistério escondido. Seus lábios estavam brilhando com o protetor labial.

 Durou pouco.

 MJ foi quem quebrou o contado, puxando novamente seu livro para cima quase que desesperadamente, fazendo com que vários cachos caíssem na frente do seu rosto. Peter riu levemente e deixou seus olhos vagaram para o romance nas mãos da morena: O Conto da Aia.

 Ele abriu a boca para fazer um comentário, talvez perguntar sobre o que o livro se tratava, qualquer coisa que permitisse que eles voltassem a conversar, mas foi interrompido por Ned que se sentou ao seu lado, deixando a bandeja do almoço cair em cima da mesa com um baque.

 — O que eu perdi? — Ele perguntou, já agarrando suas próprias batatas fritas para bem longe de MJ.

 Ela estava ficando famosa por furta-las.

 — Só o Pete que tá dormindo sentado — Ela resmungou, sem olhar para cima.

 — Eu já esperava por isso

 ...

 Peter adormeceu mais uma vez, dessa vez na aula de história enquanto a professora estava falando sobre a Primeira Revolução Industrial. Ele conseguiu se manter acordado por grande parte da aula, mas quando já estava se aproximando do fim Peter acabou deixando o sono domina-lo.

 Dessa vez não tinha nenhuma garota loira para lhe cutucar, era pior ainda.

 MJ estava ao seu lado.

 Mas a morena pareceu respeitar seu estado de sonolência, o que foi algo completamente inesperado, mas ele ficou feliz com isso já que conseguiu cochilar por... sete minutos? Talvez... de qualquer forma não durou muito.

  Ele teve um pesadelo.

 Novamente, era sobre Skip, e quando Peter acordou ele ainda podia sentir os fantasmas dos dedos gelados em seu corpo, em sua nuca e ombro, um toque tão doentio que ele se sentiu enjoado e a bile chegou a subir pela garganta. Felizmente, ele nem ao menos havia tocado no almoço.

 Peter estremeceu e arfou por ar, sentindo seu peito doer pela falta de oxigênio. Pelo menos não tinha sido um daqueles pesadelos onde ele acorda gritando ou prestes a ter um ataque de pânico, mas não estava muito longe disso.

 Foi relativamente pior, porque ele acordou ofegante e suando frio. Seus cabelos estavam grudados em sua testa e ele podia sentir um enorme calafrio descer pela sua espinha; foi horrível, principalmente porque ele conseguia sentir o ataque de pânico chegando.

 Ele desejou que o chão se abrisse e engolisse seu corpo.

 Peter estava a literalmente um passo de surtar quando sentiu uma mão repousar em seu ombro, dando um leve aperto reconfortante. Ele se virou no mesmo segundo, encontrando com os olhos preocupados de MJ.

 — Você está bem...? — Ela perguntou, um sussurro baixo que apenas ele foi capaz de ouvir. Sua voz foi como uma ancora, o puxando de volta para o mundo real, para o presente, e Peter se sentiu grato.

  Ele fez a única coisa que ele sabia fazer quando alguém perguntava sobre seus sonhos: ele acenou positivamente, mas completamente incapaz de forçar um sorriso.

 Por um momento ele tentou regular sua respiração, o que sempre fazia para se acalmar. Dentro. Fora. Dentro. Fora. Dentro. Fora.

 MJ levantou uma sobrancelha, cética, claramente não acreditando quando ele apenas balançou a cabeça mais uma vez, mas resolveu aceitar por agora. Ela soltou seu ombro e Peter desejou profundamente que o toque voltasse, mas também guardou isso para si.

 Esse pesadelo foi como um balde de água gelada e Peter se sentiu mais desperto agora, por isso ele se endireitou na cadeira e esfregou a testa, secando o rastro de suor frio e fez o seu melhor para olhar para a professora que agora estava falando sobre as condições de trabalho nas primeiras fabricas.

 Ele tentou focar, mas ainda estava estranhamente consciente da presença de MJ ao seu lado, e, como um imã, ele virou o rosto para vê-la mais uma vez.

 MJ estava concentrada na professora, claramente interessada no assunto e por isso seus olhos nem ao menos vacilaram, Peter tomou isso como uma vantagem. Ele sentiu o peso em seu coração começar a se desfazer, sumindo por completo depois de um minuto.

 Foi como se alguém tivesse tirado um pedaço de concreto de cima dele e agora Peter era capaz de respirar normalmente, deixando a tensão e os medos de lado para poder prestar apenas um pouquinho de atenção no que a sua professora estava falando.

 Não durou muito tempo porque logo o sinal bateu e ele se viu andando em direção ao Decatlo junto com MJ e Ned.

 ...

 — Certo alunos, eu acho que já deu pra perceber que temos alguns avisos — Sr. Harrington disse, se sentando numa cadeira juntos com todo o resto da equipe de Decatlo.

 Eles estavam todos reunidos na mesma mesa. Peter presumiu que isso fosse recorrente já que ninguém estava nervoso ou algo do tipo. Era quase como uma reunião para anunciar as novidades.

 — É sobre a próxima competição? — Cindy perguntou, ganhando um aceno tanto de Liz quando do professor.

 Peter ouvindo quando Ned murmurou ao seu lado, quase que suplicando para ninguém em especifico:

 — Por favor, não diga que foi adiantado

 — Foi adiantado — Harrington disse e isso causou um suspiro cansado, não só de Ned, mas da grande maioria dos alunos.

 O silêncio reinou por cinco segundos na mesa. Nesse meio tempo, Peter se sentiu tentado a se inclinar na direção de MJ e perguntar o que, em especifico, estava acontecendo.

 Mas não foi preciso.

 — Merda — Alguém murmurou em desanimo.

 — Midtown contra Visions, daqui a dois meses — Liz anunciou, exibindo um sorriso encorajador para os colegas, mas apesar de seus esforços, não pareceu funcionar.

 Peter então entendeu, e ele mesmo se sentiu desanimado. Era muito cedo para pensar em competições de Decatlo. Principalmente para alguém que ficou longe desse mundo por tanto tempo.

 — Lá vamos nós — Alguém sussurrou.

 — É muito pouco tempo pra se preparar — Abe disse, apontando um claro problema.

 — Bem, isso vai nos classificar para as finais. Vamos ter que trabalhar duro —Liz disse, se curvando um pouco sobre a mesa.

 — Eu separei um tempo de treino, vamos ter que fazer todos juntos. Ah e por favor, estudem em casa. Ano passado nós perdemos por causa de uma pergunta e eu acho que esse ano podemos fazer melhor — Sr. Harrington disse, fazendo um gesto para os alunos em geral.

 — O quanto antes começarmos melhor — Liz disse e de repente todos estavam se levantando e se preparando para o treino real.

 Peter não estava empolgado.

 ...

A pratica do Decatlo foi um pouco mais rígida hoje, e Peter presumiu que seria assim até o dia da competição. Ele descobriu por Ned que o Internato Visions era um dos melhores de Nova York, e um grande rival de Midtown. Não é à toa que até mesmo Flash se dedicou ao máximo na pratica hoje.

 Liz tinha feito perguntas a eles individualmente, quase como um interrogatório superimportante. Parecia que havia se passado um século inteiro quando ela finalmente se afastou de Peter e partiu para a próxima vítima.

 Peter e Ned ficaram para trás e estava revisando algumas matérias, era principalmente química e física e Peter estava explicando alguns componentes quando Ned foi chamado para ser testado por Liz, o deixando sozinho para estudar a tabela periódica.

 Ele nem ao menos percebeu quando MJ se aproximou.

 Até então a morena estava sentada na mesa ao lado, fazendo sua própria revisão sem nem ao menos prestar atenção no mundo a sua volta. Entretanto, foi só Ned sair que ela se aproximou, puxando uma cadeira para se sentar ao lado de Peter; seus ombros quase se tocando.

 — Hey — Ele a cumprimentou, abaixando o livro grosso de química para prestar atenção apenas na morena.

 — Preciso falar com você — Ela disse, mais séria do que nunca, deixando o livro numa parte distante da mesa como se quisesse se certificar de que não seria atraída para ele mais uma vez.

 Peter sentiu seu coração gaguejar levemente, junto com uma estranha tensão que se instalou ao redor dos dois. Ele nunca ouviu MJ falar tão seriamente assim, e olha que ele já a viu no meio de um protesto — além de claro, ter passado por algumas broncas.

 — Tá aí uma frase que eu nunca ouvi... — Ele resmungou, franzindo o cenho como se isso fosse disfarçar a leve onda de pânico que estava passando pelo seu corpo naquele momento.

 MJ bufou, balançando a cabeça de um lado pro outro. Por um instante Peter imaginou que tinha lhe estressado, mas então ela levantou o olhar e... Deus! Peter nunca tinha visto um olhar tão desesperado quanto este; uma mistura de medo e angustia com preocupação. Enviou um choque para o seu coração e ele se sentiu perdido, confuso.

 De repente ele percebeu que o assunto era sério.

 — Peter... eu preciso que você seja honesto comigo... — Ela disse, completamente angustiada.

 A frase o pegou tão desprevenido quanto o olhar exibido em seu rosto. Peter não pode fazer outra coisa senão acenar, mesmo sentindo que MJ merecia uma resposta verbal. Ele lutou por alguns segundos para formas as palavras certas, mas tudo que saiu foi:

 — Tá bom

 Dessa vez, foi MJ quem hesitou, brincando com os dedos por um segundo como se estivesse buscando palavras no fundo da sua mente. Peter a observou, paciente, apenas esperando que ela desse o primeiro passo.

 — Você tem tido insônia...? — Ela perguntou, preocupada.

 Peter franziu o cenho, confuso com a pergunta por um momento. Ele não tinha dificuldades para dormir, na verdade era bem pelo contrário; ele dormia muito facilmente e em qualquer lugar.

 — Não... por que a pergunta? — Ele disse, hesitante com o rumo dessa conversa.

 — É que... — Ela hesitou mais um pouco antes de dar mais um dos seus olhares determinados para o garoto. — Hoje foi a segunda vez que eu vi você tendo um pesadelo. Eles são recorrentes? Peter, você está tendo algum problema com isso?

 Peter não respondeu de imediato, em parte porque estava pensando. Ele não tem tido muitos pesadelos desde que começou a morar na Torre dos Vingadores, geralmente é porque seus dias são tão cansativos que ele cai na cama já meio adormecido; ontem foi uma exceção.

 Hoje ele teve o primeiro pesadelo em uma semana inteira, e foi realmente desesperador.

 — Eu não tenho muitos pesadelos... foi só hoje... — Ele confessou, meio omitindo parte da verdade, com medo. Peter tentou ao máximo não quebrar o olhar com MJ, na esperança de que isso mostrasse a ela o quão serio ele estava falando.

 — Certeza? — Ela perguntou, dessa vez soltando um leve suspiro, desconfiada. — Sei que estou sendo apenas uma boba, mas é que você nunca diz nada, a menos que pergunte. Espero que saiba que pode confiar em mim

 Peter sentiu um calor subir para as suas bochechas e se espalhar por todo o corpo, deixando-o agitado por um segundo. É claro que ele confia em MJ, ela é a sua melhor amiga, a única que realmente sabe seu lado sombrio — pelo menos uma parte dele.

 O jovem aranha respirou profundamente antes de falar.

 — Eu sei, e eu confio. É só que... tem certas coisas que nem eu mesmo consigo aceitar. Só quero deixar isso pra trás — Ele confessou, encolhendo os ombros. Seu rosto ainda estava quente demais isso deixou Peter extremamente consciente.

 — Entendo, mas ainda estou aqui se precisar — Ela suspirou.

 Peter sorriu, sentindo-se seu rosto esquentar ainda mais, algo que fez seu coração inchar. Ele sorriu e por um instante permitiu apenas observar o rosto de MJ de perto; seus olhos vagando por cada um dos detalhes do seu rosto.

 Peter engoliu em seco, se sentindo de repente nervoso.

 Ele se permitiu encara-la descaradamente, isso enviou uma certa agitação para o seu estômago.

 Seu sentido aranha estava entorpecido, talvez fosse pela presença de MJ ou pelo fato de ele estar completamente perdido em seus olhos, mas Peter nem ao menos notou quando alguém jogou uma bolinha de papel em sua cabeça. Isso o pegou desprevenido e Peter se virou para ver quem tinha jogado.

 — Desculpa cara, eu estava tentando acertar a lata de lixo — Flash disse, dando de ombros.

 Peter resolveu não comentar o fato de que a lata de lixo ficava do outro lado da sala, bem longe dele e de MJ.

 — Mudando de assunto. Sabe que não vai poder esconder o seu pai do Ned pra sempre né? — MJ disse, se reclinado na cadeira.

 Um rápido olhar para Ned, do outro lado da sala, foi o suficiente para fazer os ombros de Peter caírem.

 — Eu sei, mas como eu vou contar pra ele? Como eu vou contar pra qualquer pessoa? — Peter perguntou, seguindo o exemplo de MJ e se reclinando na cadeira.

 Era difícil imaginar alguém o tratando como uma pessoa normal quando essa pessoa sabia que ele era o filho do Homem de Ferro. Sua vida se tornaria estranha e mecânica demais. Peter não quer isso.

 — Talvez você não precise contar — Ela disse meio pensativa. — Apenas mostre. Convide ele para passar a tarde na sua casa. Deixe o resto acontecer — MJ sugeriu

 Peter considerou sua ideia por alguns segundos, que passaram lentamente. Ele sabia que seria estranha para Ned simplesmente chegar na Torre dos Vingadores, mas ainda assim parecia uma ideia melhor do que simplesmente explicar toda a história em detalhes.

 — Parece ser uma boa ideia


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Notas finais do capítulo

Pra quem não sabe, bambino significa bebê em italiano, e eu simplesmente amo quando isso aparece nas fanfics, então pensei, por que não? De qualquer forma, espero que tenha gostado ♥ Desculpa por qualquer erro, estou morrendo de sono, mas as coisas se seguem não é mesmo?

Até amanhã!

~~ See Ya Later



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