Protocolo - Bebê Aranha escrita por Pixel


Capítulo 6
Uma Boa Tarde


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, estou muito atrasada. Mas antes tarde do que nunca!

Isso aconteceu porque eu tive que escrever esse capítulo do inicio, então acabou levando mais tempo do que o esperado. No meu enredo original, eu acabei focando apenas na trama principal e deixando esses leves detalhes de lado, mas isso não quer dizer que eles não são importantes. Por isso estão aqui agora!

De qualquer forma...

~~ Boa Leitura!



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   — Fico feliz que esteja por aqui Pete — Betty Brant disse amigavelmente, ainda assim em um sussurro baixo.

 Sexta-feira tinha chegado mais rápido do que Peter esperava; sua semana passou quase que em um vulto. O final de semana estava a apenas um passo e, surpreendentemente, ele ainda não estava soterrado com trabalhos, como o esperado. Mas já estava se preparando psicologicamente para isso.

 Em compensação, a aula de geografia estava sendo realizada na biblioteca, onde até mesmo o menor dos murmúrios parecia ecoar pelas quatros paredes de forma estrondosa. Peter, Ned, Betty e MJ estavam reunidos ao redor de uma mesa pequena, mas que era espaçosa o suficiente; cada um deles tinha um livro aperto em cima da mesa e uma caneta em mãos.

 — Valeu Betty — Peter sussurrou em resposta, certificando-se de não aumentar muito a voz.

 O texto que eles tinham que copiar era enorme, quase 5 páginas, e provavelmente levarias as duas aulas inteiras para terminar. Cada segundo era precioso, principalmente se Peter quisesse chegar em casa e ficar livre pelas próximas horas. Essa era a intenção.

 — Como vocês se conhecem? — Ned perguntou, dando um rápido olhar tanto para Peter e Betty quanto para MJ, que estava focada na tarefa.

 Só então Peter levantou a cabeça, parando de escrever apenas para encontrar com os olhos de Betty. Ele ficou aliviado por ela ter mantido o segredo da sua origem, mas o olhar meio desesperado deixava claro que ela não queria mentir e nem nada do tipo. Betty sempre teve muitas opiniões, e se tem algo que ela não gosta é a mentira.

 Peter olhou para a direita e viu MJ o encarando também, mas ela parecia apenas estar esperando pelo próximo passo. Curiosa, mas não fez nenhum movimento para ajudá-lo.

 — MJ e eu somos voluntárias no abrigo — Betty disse um pouco hesitante, apenas para quebrar o estranho silêncio que estava começando a se formar. Ela parecia tensa, mesmo que nem sequer uma das suas palavras fosse mentira. — O Peter costumava aparecer por lá... às vezes

 — Como voluntário? — Ned perguntou, parecendo bem interessado no rumo da conversa.

 Se tem uma coisa que Peter aprendeu sobre Ned é que ele tem a habilidade de perguntar um monte de coisas de uma só vez. Ele é curioso demais e as vezes não consegue ficar calado. Ambos tinham algo em comum; divagavam com frequência.

 — Sim — Peter exclamou, um pouco alto demais se comparado ao ambiente suave e calmo da biblioteca. Ele fez isso antes que qualquer uma das meninas pudesses desmentir. — Às vezes...

 Ele odiava a forma como a mentira parecia pesar em seus ombros como se fosse chumbo, mas Peter não podia simplesmente dizer: “Eu ia no abrigo porque eles têm as melhores panquecas do mundo! E por vezes era a única coisa que eu comia em pelo menos quatro dias. Ah! Eu também morei na rua por quase dois anos e agora estou tentando voltar a ser uma pessoa normal, mas não posso ser normal porque tenho poderes...! Ops não conta pra ninguém”

 — Shhhh — A professora de Geografia, uma senhora já idosa com grandes óculos de grau, que estava apenas perambulando pelas mesas e se certificando de que todos os alunos estavam fazendo a tarefa, parou por dois segundos para repreender Peter, que apenas encolheu os ombros.

 Peter voltou a escrever, sentindo como se seu rosto estivesse pegando fogo.

 ...

 — Você vai fazer alguma coisa depois da aula hoje? — Ned perguntou no meio da aula de química.

 Os dois estavam sentados lado a lado, algo que parecia normal a essa altura. Ambos tinham passado grande parte da semana juntos, por isso a presença de Ned não era mais estranha, era quase familiar. A aula estava calma e ambos estavam apenas copiando o texto do quadro.

 Peter precisou parar por um momento. Eles tinham Decatlo, e Liz havia deixado mais do claro que não era para nenhum membro da equipe sequer pensar em faltar, porque sim, essa competição parecia ser bem mais do que importante. Afinal, iria classifica-los para as finais. Peter tinha apenas alguns minutos depois da pratica antes de Happy aparecer.

 — Depende muito na verdade — Ele sussurrou. — Por quê?

 — Minha mãe vai fazer hora extra hoje — Ned explicou com um encolher de ombros. Ele parecia meio receoso e se Peter não estivesse acostumado com a sua espontaneidade, diria que ele está tímido. — A gente podia montar a millennium falcon

 Peter piscou, não conseguindo nem mesmo imaginar o qual legal e normal aquilo seria. Ele poderia, enfim, usar um pouco de normalidade na sua vida.

 Ter um amigo ainda era novidade. Peter não se lembra de alguma vez na sua vida ter ido na casa de um amigo, porque claro, ele não tinha amigos — a única pessoa que ele chegou a considerar sob esse título não ia a escola junto com ele e nem ao menos morava perto dele, então as vezes que eles se encontraram em algum laboratório ou parque não contavam — por isso essa ideia pareceu tão incrível que ele não pode evitar e sentiu um borbulhar dentro de si.

 Ele realmente ficou ansioso para isso, mas então se lembrou que não dependia apenas dele.

 Tinha alguém a quem ele devia satisfação.

 — Isso parece incrível! — Peter exclamou, não escondendo seu entusiasmo. Isso fez o próprio Ned ao seu lado rir. — Mas vou ter que falar com meu pai antes — Acrescentou depois de um tempo.

 Ainda parecia ser cedo demais para fazer alguma coisa, por menor que seja, sem a permissão de Tony. Por mais que Peter esteja ciente de que uma hora terá que tentar, já que seu projeto não pode ficar para sempre parado.

 — Ele não deixa você sair? — Ned perguntou, abaixando a voz para um sussurro quase inaudível. Peter provavelmente não teria ouvido se não fosse pela sua audição aprimorada.

 — Não é que ele não me deixar sair — Disse e logo depois voltou a copiar. — Eu só não sei muito bem quando pedir. Ele ficou longe por muito tempo e... ainda estamos trabalhando nisso

 Não tinha como explicar a situação de outra forma. Eles ainda estão trabalhando nisso, nessa relação de pai e filho. Tanto ele quanto Tony eram completamente inexperientes nesse assunto. Peter não estava acostumado a dizer tudo que ele faz diariamente para um adulto, mas ajuda o fato de que, na maioria das vezes, Tony está realmente interessado em ouvir.

 — Sério? Mas você não conhecia ele? — A essa altura Ned já estava empolgado demais e apenas perguntava a primeira coisa que vinha na sua mente, interessado na conversa, mas sendo obrigado a manter a voz baixa. Peter sabia que ele provavelmente não seria capaz de controlar a sua voz senão fosse pela professora a poucos metros à frente.

 — Não diria isso. Eu conhecia ele... de passagem. Mas não sabia que ele era meu pai... na verdade isso nunca nem passou pela minha cabeça — Peter falou como se as palavras tivessem um peso a mais em sua língua e ele as forçou para fora enquanto lutava por uma forma de explicar tudo, sem realmente mentir. — É uma longa história

 — Mas o que aconteceu? — Ned perguntou, então depois de um tempo encolheu os ombros e acrescentou. — Desculpa, estou sendo intrometido

 — Não, tudo bem — Peter sussurrou de volta, se inclinando um pouco para o lado dessa vez. — Ele me encontrou. É, acho que esse é a melhor forma de resumir tudo. Ele me encontrou

 Talvez Peter estivesse sorrindo, mas ele realmente não sabia dizer. Ele se lembrava daquele dia, e provavelmente nunca iria esquecer. O dia em que, de repente, ele acordou com um sobressalto e Tony Stark estava ao seu lado.

 Agora que ele olhava para trás, a cena realmente parecia cômica, principalmente se ele se lembrasse dos detalhes e da forma como Tony reagiu. Ele se sente bobo por não ter percebido que o bilionário estava prestes a ter uma crise na frente dele, e particularmente, Tony foi bem forte.

 — Foi por isso que você se mudou? — Conjecturou.

 — Sim — Peter concordou com um aceno, mesmo sabendo que Ned provavelmente não estava vendo. — Vai fazer... três semanas que eu vivo com ele. Isso ainda é estranho

 Peter franziu o cenho quando pensou nisso.

 — Mas- seu pai é legal pelo menos? — Ned virou a cabeça para o lado para poder, em fim, lançar um olhar a Peter. O jovem aranha teve o privilégio de ver a curiosidade sincera nos olhos do amigo de perto.

 Peter pensou um pouco na resposta e então precisou segurar uma risada, porque o que ele disse a seguir não era apenas um exagero; era a pura verdade:

 — Ele é o cara mais legal do mundo

 ...

 — Vocês vão ter um mês para me entregar esse trabalho, e se por acaso, eu descobrir que ele foi tirado de algum outro lugar que não seja da cabecinha de vocês, a turma inteira irá sofrer as consequências — A professora de inglês avisou, não hesitando em dar uma ameaça para os alunos.

 Peter não estava muito ansioso para isso. Era um trabalho de redação e interpretação, em dupla claro, onde cada dupla deveria ler uma obra de qualquer autor inglês e, no final, fazer uma apresentação. Porque é claro que tinha que ter uma apresentação.

 Peter não conhece ninguém na sua classe de inglês, nem mesmo Flash tem esse período. Ele, basicamente, está rodeado de adolescentes desconhecido que nem ao menos se importam em conversar com ele. Então, ele está sozinho, e realmente não importa quem a professora vai sortear para ser o seu par.

 Ele só espera que não tenha que fazer todo o trabalho sozinho, porque isso já aconteceu mais de uma vez antes.

 — Vou pedir para que escrevam seus nomes num papel e me entregam

 Peter suspirou, abrindo seu caderno na última folha e lá escreveu seu nome; apenas até o Parker.

 — Professora — A garota atrás de Peter levou a mãos, não era necessário olhar para trás para descobrir que ela não estava muito feliz com essa seleção. — Por que não podemos escolher os nossos parceiros?

 — Porque na maioria das vezes você vai escolher algum amigo, e isso o impede de conhecer outros alunos — A professora explicou. — Sair da sua zona de conforto é muito importante para saber lidar com a vida adulta

 Então já posso ser considerado um adulto?  Peter zombou em pensamento, rindo para si mesmo. Ele rasgou parte da folha do caderno e a dobrou até que formasse um pequeno quadradinho. Quando estava pronto, a professora já estava passando e recolhendo os nomes de todo mundo.

 Peter deixou que o papel caísse na mão da professora e apenas esperou pelo que estava por vir.

 A professora começou o sorteio, quase que de maneira apressada. Peter estava apenas esperando que seu nome saísse para descobrir quem seria o felizardo que ficaria com ele.

 — Peter Parker — Veio finalmente, fazendo com que Peter prestasse mais atenção na professora. — E Gwendolyn Stacy

 Peter franziu o cenho, não se lembrando de nenhuma Gwendolyn. Ele se sentiu tentado a olhar ao redor da sala, mas se conteve, optando apenas para olhar para a professora. Ele poderia falar com sua parceira depois da aula.

 Com um suspiro, Peter apenas rezou internamente para que sua parceira realmente o ajudasse com esse trabalho. A pior coisa é fazer um trabalho — principalmente um gigante como esse — sozinho. Ele se lembra muito bem das noites em claro que precisou enfrentar sozinho, correndo contra o tempo para fazer algo que deveria ser divido em dois.

  Logo as demais duplas foram formadas e Peter estava ficando impaciente com a demora, querendo apenas que o final da aula chegasse para ele poder, enfim, mandar uma mensagem para Tony. Naquela altura, seus dedos estavam coçando para alcançar o celular, mas isso não seria nada bom se ele fosse pego.

 A aula parecia interminável.

 Quando finalmente o sinal tocou — escoando em seus ouvidos — a primeira coisa que Peter fez, em vez de guardar as suas coisas, foi pegar o celular e mandar uma mensagem para Tony, esperando que o bilionário visualizasse o quanto antes possível.

 “Posso ir na casa de um amigo hj? ”

 Foi a única coisa que Peter digitou, ansioso por uma resposta. Se não fosse a sua audição aprimorada, ele não teria ouvido a voz que veio logo de trás dele.

 — Você está livre depois da aula? — Peter olhou pra trás, surpreso por alguém estar de fato falando com ele. Isso não tinha acontecido até agora.

 Claro, uma bronca não contava.

 Era a garota loira que se sentava atrás dele.

 — Você é a Gwendolyn? — Perguntou, guardando o celular no bolso. Peter se levantou e ficou de frente para a loira.

 — Me chame de Gwen — Ela disse, ajeitada a mochila nos ombros. Em seus braços haviam dúzias de livros que pareciam ser bem pesados, mas ela não demonstrava preocupação com isso — Você está livre agora?

 — Uhm...

 Peter estava tentado a acompanhá-la até a biblioteca, onde os dois poderiam escolher o livro e a começar com o trabalho — o quanto antes eles terminarem, melhor —, mas então se lembrou na expressão de Liz e o quanto ela poderia ficar chateada se ele pulasse o Decatlo hoje. Ou qualquer outro dia.

 — Não. Tenho Decatlo... — Ele disse um pouco hesitante, esperando que ela entendesse o que ele quis dizer.

 Gwen respirou fundo, fazendo seus ombros subirem e descerem junto com o movimento. Ela fechou os olhos por um segundo e então encarou Peter firmemente. O brilho em seus olhos era quase voraz.

 — E depois? — Perguntou.

 Peter se lembrou da mensagem que ele acabou de mandar para Tony. Ainda havia uma pequena esperança que seu pai o deixasse ir na casa de Ned. Ele não estava pensando em trocar Ned por Gwen, principalmente agora que ele tinha a chance de conhecer Ned mais a fundo.

 — Eu pretendo ir na casa de um amigo... — Disse com um encolher de ombros, rezando para que não estivesse irritando Gwen de alguma forma.

 Com isso, a loira deixou seus ombros caíssem e soltou um suspiro alto.

 — Certo. Olha, eu sei que talvez isso não seja tão importante pra você, mas pra mim é. Então por favor apareça na biblioteca na hora do almoço segunda-feira. Temos que escolher um livro

 O jeito que ela falou, quase como se fosse uma súplica, mas ao mesmo tempo um comando, deixou claro que Gwen não gostava dele. Ou que pelo menos tinha uma ideia errada sobre ele.

 Claro, Peter duvidava que adormecer na aula causasse algum tipo de boa imagem. Na verdade, ele poderia muito bem estar sendo tachado de preguiçoso aqui e agora.

 — Tudo bem, vou estar lá — Disse, tentando passar um pouco de confiança e mostrar que Gwen apenas o viu em uma dia ruim. Bem ruim.

  Gwen acenou, parecendo cética, e então se afastou. Peter foi deixado sozinho na sala.

 Com um suspiro, ele guardou suas coisas, jogando a mochila por cima dos ombros. Uma última olhada na sala vazia confirmou a Peter que o dia tinha acabado e o que restava agora era o Decatlo. Ele forçou seu corpo a se animar e se virou para o corredor.

 Não foi preciso ir muito longe para procurar por Ned, já que o garoto estava esperando por ele do lado de fora, parecendo ansioso e ao mesmo animado. Peter sabia bem sobre o que aquele comportamento era.

 — Seu pai respondeu? — Perguntou um pouco impaciente.

 Peter se perguntou se Ned era como ele, sem amigos. Ele dúvida que Thompson possa ser legal com ele, e como o próprio Ned já confirmou, MJ nunca tinha se aproximado dele antes. Betty talvez conversasse com ele de vez enquanto, já que ela parece ser bem mais próxima de Liz do que de MJ ou até mesmo o próprio Ned.

 Se ele olhasse por esse lado, então o entusiasmo de Ned ganhava um novo sentido. Surpreendentemente, era o mesmo sentido para Peter. Os dois iriam compartilhar uma coisa, mesmo que não intencional.

 — Eu acabei de mandar uma mensagem pra ele — Disse com um aceno.

 Ned concordou relutante e então ambos começaram a caminhar em direção ao Decatlo. Apenas alguns passos depois o celular de Peter tremeu em seu bolso e ele parrou de andar para dar atenção total ao aparelho; e consequente a Tony.

 — Wow, isso foi rápido — Ned exclamou ao seu lado, se aproximando um pouco mais para tentar espiar a tela do celular. — Minha mãe sempre me deixa no vácuo — Acrescentou com um riso.

 “Vc vai demorar? ”

 Peter respirou fundo, sentindo já uma pequena tensão em seus ombros se formarem. Ele quase podia ver o que estava para acontecer e não se sentiu animado com isso. Senão um pouco aterrorizado.

 A última coisa que ele queria era que Happy dirigisse até a casa de Ned. Peter realmente não precisava disso.

 “Não sei, talvez eu possa ficar até as seis? ”

 Quanto tempo demorada para construir a Milleniun Falcon? É um conjunto de LEGO enorme, provavelmente levará horas. Se ao menos Peter não precisasse se preocupar com o horário ele e Ned poderia terminar com isso hoje — mas só acabaria de verdade bem tarde.

 “Certo. Mande o endereço pro Happy ir te pegar”

 Era exatamente isso que Peter não queria ouvir. Ele não precisava de Happy o levando para cima e para baixo, ele sabe se cuidar, sabe atravessar a rua e esperar o sinal fechar; não é preciso que alguém segure sua mão.

 — Quem é Happy? — Ned perguntou ao seu lado. — É um nome engraçado

 — Um amigo da família — Peter respondeu um pouco hesitante, tentando se convencer internamente de que não era uma mentira.

 Afinal, Happy não era apenas o Chefe de Segurança, ele era amigo de Tony e, consequentemente, amigo da família.

 “Não precisa, sério, tenho o dinheiro pro metrô”

  Peter se lembrou vagamente das diversas notas que estavam começando a se acumular em sua mochila. Aparentemente, Tony não se lembra que o almoço na escola custa dois dólares, e não dez, mas ele ainda insistia em dar vinte dólares a Peter toda a manhã.

 Peter, no começo, protestou, mas então ele resolveu guardar esse dinheiro e talvez usá-lo em algo mais importante no futuro.

 “ Peter.

 Já falamos sobre isso”

  Ele franziu o cenho, não pelas palavras, mas pelo fato de podia até mesmo ouvir o tom de aviso na voz de Tony, o mesmo tom que o homem usa todas as vezes que Peter está sendo insistente em um assunto já encerrado.

 O que é raro.

 “Por favor? ”

 Ele tentou, mesmo sabendo que era em vão.

  “Não. ”

  Peter suspirou, deixando que seus ombros caíssem em derrota. Ele olhou para Ned e não pode evitar o sentimento de traição quando viu o sorriso no rosto do amigo.

 — Qual o seu endereço?

 ...

  Peter ajeitou o cachecol ao redor do pescoço, se encolhendo quando o vento gélido bateu em seu rosto. O inverno parecia impermeável a essa altura, tão violento como nunca.

 Ele se sentiu enjoado apenas ao imaginar como estaria agora se Tony não tivesse aparecido, se estivesse encolhido no velho prédio que estava caindo aos pedaços, se ele acordasse todas as manhãs com os dedos das mãos e dos pés gelados, entorpecidos pelo frio. Se a única coisa para cumprimenta-lo de manhã fossem os piscas-piscas.

 Peter se imaginou dormindo, exposto a esse clima.

 Tudo isso parecia uma outra vida agora.

 — Você quer comprar um sanduíche? — Ned perguntou assim que eles começaram a se afastar dos limites de Midtown. A ideia soou mais do que agradável. — A gente podia parar numa lanchonete

 — Conhece alguma? — Peter perguntou, imaginando o que Ned tinha em mente.

 Ele conhecia todas as lanchonetes dessa área do Queens, pois já havia passado por aqui tantas vezes que até mesmo o menor dos becos era familiar. Por isso Peter estava interessado na opinião do amigo.

 — Conheço — Ned disse com convicção. — E eles tem o melhor sanduíche do Queens

 Peter deixou que Ned guiasse o caminho. Ele só não esperava que, de repente, as ruas se tornassem tão familiares, chagando ao ponto onde ele sabia a onde tinha cada esquina.

 Lembranças vieram até ele e ele repensou se essa foi ou não uma boa ideia. Sim, ele se sentia estranho quando o imaginava roubando uma mercearia para sobreviver; quando se imaginava mancado pelas ruas, quase congelado pelo frio.

 Quando imaginava a sensação do vento em suas roupas e a adrenalina de estar em queda livre.

 Esse era o Queens afinal, e apesar da sua vida ter mudado, o bairro, o lugar em que ele cresceu, continuava o mesmo. Era estranho quando ele pensava nisso. Se tornava mais ainda, quando ele se lembrava o que ele já viveu nesses arredores.

 Pater franziu o cenho quando percebeu que ele e Ned estavam andando diretamente para o sr. Delmar. Era como uma ironia da vida e ele não pode impedir o sorriso de brotar em seu rosto.

 — Sr. Delmar? Sério? —Ele comentou, levantando uma sobrancelha para o amigo.

 — Que foi? Eles têm o melhor sanduíche do Queens, eu falei — Ned deu de ombros.

 — Eu sei, e concordo plenamente

 Peter tentou deixar de lado o sentimento de culpa quando cruzou a porta e foi recebi pelo calor agradável.

 ...

 — Você acha que em algum lugar no espaço existe aliens pilotando naves espaciais? — Ned perguntou, rindo dos seus próprios pensamentos.

 Ambos estavam sentados no chão, com as diversas peças de LEGO espalhadas ao redor enquanto trabalhavam para formas a base da millenium falcon. Peter já tinha terminado os seus dois sanduíches e agora estava focado apenas no quebra-cabeça a sua frente. Pouco a pouco as peças eram colocadas no lugar. Era quase terapêutico naquele ponto.

 Peter riu.

 — Se existe deuses nórdicos, então existe alienígenas — Peter disse distraidamente. — Mas eu não sei se eles estariam pilotando naves espaciais. Talvez estivessem preocupados com outra coisa

 — Por quê? É totalmente viável — Ned argumentou.

 — Sim. E assustador. Que nem naquele filme do Alien —  Peter comentou e para a sua surpresa Ned começou a rir. Algo divertido de ouvir.

 — Eu preciso assistir esse filme de novo — Ele disse, se inclinando para colocar mais uma peça no lugar certo. — O que acha de vir aqui em casa na semana que vem? Eu acho que devo ter o dvd escondido em algum lugar

 Peter parou em seus movimentos por um momento, imaginando o quão fácil seria se Sexta-Feira pudesse simplesmente colocar o filme na televisão assim como ela faz na Torre; era necessário apenas um comando e pronto.

 — É uma ótima ideia — Ele engoliu em seco, desviando o olhar. — Mas que tal você ir na minha casa...? Tenho certeza que meu pai tem o Alien em algum lugar

 — Pode ser — Ned concordou, de uma forma tão simples que nem sequer fazia jus ao nervosismo que Peter estava sentindo. — Nós podemos chamar a MJ daí. Mas você acha que ela gosta de Terror?

 — Provavelmente — Peter concordou distraidamente.

 Ele podia sentir o nervosismo rastejando pelas suas costas, e por um momento pensou que suas mãos estavam úmidas. Procurando alguma coisa para desviar a sua mente, Peter olhou ao redor.

 O quarto de Ned era pequeno, quase do mesmo tamanho do antigo quarto de Peter. As paredes eram decoradas com pôsteres de Star Wars e Hobbit. Nas prateleiras de livros, o que menos tinham era livro, que foram substituídos por brinquedos e figurinhas.

 Os livros, por sua vez, estavam espalhados por todo canto.

 Surpreendentemente, Ned era organizado. Sua cama estava feita e o chão limpo, até mesmo as vidraças da janela não pareciam ter nenhuma sujeira.

 Um sorriso então se formou em seu rosto quando Peter percebeu que, no alto de uma estante de livro, estavam organizados uma série de quadrinhos, uma ao lado da outra, e não foi preciso de mais nada para identificar do que se tratava.

 — Você tem os quadrinhos do Capitão América? — Perguntou, gesticulando para os quadrinhos no topo da estante. Um sorriso já estava estampado em seu rosto e Peter não pode se conter.

 Era irônico, porque ele dúvida que até mesmo Steve tivesse a sua própria coleção de quadrinhos. Por vezes o capitão ignorava essas coisas, não importa quantas vezes Peter tentasse chamar a sua atenção.

 — São do meu pai na verdade, mas eu os guardo — Ned disse, dando de ombros distraidamente. — Mas eu ainda gosto, então conta

 — Que legal! — Peter exclamou, rindo. Um som que trovejou por todo seu peito. — Eles são originais?

 — São — Ned agora estava olhando para ele, sorrindo também. — É até meio estranho quando se paga pra ler. Tem os traços da década de 40 — Ned comentou. — Daqui a alguns anos pode ser que dê para vender para algum tipo de museu

 — Nem o verdadeiro Capitão América deve ter isso — Peter disse, balançando a cabeça de um lado para o outro.

 — Como será que ele é na vida real? — A pergunta veio de repente, fazendo com que Peter voltasse a encara-lo. — Quer dizer, os quadrinhos retratam ele como um verdadeiro herói que é capaz de tudo. O símbolo da coragem e blá blá blá mas eu não consigo parar de imaginar ele comendo uns três pedaços de Pizza antes de dormir

 Peter riu e por um momento ele não registrou as próprias palavras, empolgado demais para perceber.

 — Isso é verdade! Mas ele come três pizzas inteiras

 — O quê? — Ned perguntou, não de forma acusativa ou até mesmo desconfiada, mas isso não impediu o pânico de florescer no corpo de Peter.

 — Quer dizer — Ele desviou o olhar, buscando alguma coisa para dizer que apagasse as suas palavras anteriores. — Ele deve comer três pizzas inteiras... Metabolismo acelerado e tudo mais

 — Então você acha que ele é um ponto sem fundo de comida — Ned riu, não uma pergunta real, apenas um comentário simples.

 — Sim, exatamente — Peter concordou com um aceno abrupto, sentindo parte do pânico escorregar para longe dele lentamente.

 — Se for verdade então eu e o Capitão América temos uma coisa em comum

 Os dois riram do rumo da conversa, estranha demais até mesmo para eles. Peter realmente não se lembra da última vez que se divertiu com LEGOS dessa forma; por isso estava grato e feliz.

 Mas então ele sentiu seu telefone tremer no bolso e o alcançou sem cerimônia.

 “Tô te esperando garoto”

 Era Happy. Literalmente a primeira mensagem que ele já mandou para Peter.

 — Tenho que ir — Peter anunciou com uma encolher de ombros, deixando claro que ele mesmo não estava feliz com isso.

 Ainda era muito cedo para passar a noite na casa de um amigo. Talvez um dia Peter consiga fazer esse pedido sem grandes problemas; mas por enquanto ele vai optar por dar um passo de cada vez.

 — Mas já? — Ned exclamou, também desapontado. — Não chegamos nem na metade...

 — Estão me esperando — Por mais que ele não quisesse, Peter impulsionou seu corpo para cima e soltou um suspiro. Ele se virou para pegar sua mochila e joga-la por cima dos ombros. — Mas foi muito legal Ned, a gente devia fazer isso mais vezes

 — Da próxima vez vai ser na sua casa — Ned sorriu, também se levantando. Havia uma certa leveza quando ele estendeu um punho para Peter.

 — Sim na minha casa — O jovem aranha retribuiu o sorrido, dando um soco fraco no punho de Ned.


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Notas finais do capítulo

Me desculpa por qualquer erro, eu estou literalmente caindo de sono! Bem, foi isso hoje, acho que temos mais um capítulo antes da desgraça.

Até amanhã!

~~ See Ya Later



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