Protocolo - Bebê Aranha escrita por Pixel


Capítulo 4
Projeto Aranha


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindos a mais um capítulo! Esse quase que não sai hoje pq estou M-O-R-T-A, que nem o Peter, mas ainda assim bati a mão na mesa e falei:

— Eu posto essa caçamba hoje!

~~ Boa Leitura ♥



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 O resto da tarde acabou por ser bem divertida, apesar do filme em si não ser tão legal assim. Acontece que a apenas a presença de Tony — que aparentemente não se importava se estava ou não distraindo Peter do que estava acontecendo na tela enorme na frente deles — acabou por ser mais do que confortável; era divertida.

 Tony não ligava se estava numa sala de cinema meio lotada, ele ainda fazia os comentários mais absurdos sobre e filme, não economizando nas brincadeiras — teve um momento em que ele colocou os dois óculos, o escuro e o 3D, e fez graça para Peter rir como se ele tivesse dois anos.

 O bilionário julgava a atuação dos atores, apontava erros de continuidade e ria dos efeitos especiais. Peter não pode deixar de pensar no quão infantil seu pai era.

 Mas isso acabou contribuindo para uma ótima tarde juntos.

 Depois disso eles voltaram para a Torre, onde Peter pode observar a noite cair lentamente do seu quarto.

 ...

 — Eu odeio as aulas de educação física — Ned comentou no dia seguinte.

 A rotina escolar continuava a mesma de antes e Peter estava grato ao fato de que pelo menos isso não tinha mudado. Para a sorte — ou azar —, a primeira aula do dia dele, Ned e MJ era educação física.

 O uniforme era obrigatório agora, mas isso não quer dizer que Peter estava confortável em usar a camiseta azul com o emblema de Midtown, que era três vezes o número dele e por isso ele se sentia pequeno se comparado aos demais. É claro que o shorts amarelo também não ajudava.

 Eram esses pequenos detalhes e obrigações que Peter havia esquecido com o tempo, mas pelo menos ele tinha dois amigos para ajuda-lo agora. Não estava mais sozinho.

 Ele se lembra bem de como era antes da mordida, antes de fugir. As aulas de educação física eram insuportáveis em todos os níveis. Ele tinha asma e não conseguia acompanhar os demais alunos; ele cansava rápido demais, era lento demais, frágil demais. Nas corridas, o professor por diversas vezes o liberava, mas isso não quer dizer que ele não era obrigado a ficar ali e assistir os demais correndo em voltas pelo campo.

 A parte que Peter mais odiava era quando tinha algum tipo de jogo em equipe, seja ele basquete, handebol ou até mesmo futebol americano, qualquer que fosse. Nessas ocasiões, sua classe sempre era dividida em dois grupos, escolhidos a dedos pelos dois melhores atletas da sala.

 Porque sim, sua antiga escola tinha vários e vários troféus de torneios esportivos colocados em vitrines no corredor, sendo assim era cheia de valentões e atletas de todos os tipos. Peter nunca sequer falou com a maioria deles, mas ainda tinha um ou outro que o empurrava no corredor.

 Eles já chegaram a prendê-lo num armário por duas horas até o zelador o encontrar. Peter teve um ataque de asma naquele dia e a única coisa que o salvou foi o inalador.

  Como se já não bastasse, a sua falta de amigos significa que ele era sempre o último a ser escolhido; “aquele que sobrava”. Quando o jogo finalmente começava, ele era deixado de lado. Ninguém passava a bola, e quando passava, era apenas para acerta-lo de alguma forma. Eram as piores aulas.

 Mas ele não sabe se com a picada vai ser diferente.

 Claro, agora ele tem poderes, e por isso acaba sendo mais rápido, mais ágil e mais forte que o resto dos seus colegas. Entretanto, Peter odeia a ideia de tomar isso como uma vantagem para si. Foram raros os momentos em que ele tirou vantagem de alguém com seus poderes, mesmo em patrulhas. Por isso ele estava inclinando a fingir ser um nerd bobão que erra o chute na bola mesmo quando ela está parada.

  — O que é isso? — Peter perguntou.

 Ele ficou um pouco confuso quando sua turma — assim como Ned e MJ — começaram a se juntar na arquibancada. A turma era bem maior, com muito mais alunos do que a sua antiga, mas mesmo assim Peter pode diferenciar Betty no meio dos alunos. Ele queria sorrir para ela e acenar, mas em nenhum momento seus olhos se cruzaram.

 O professor era o único a se mexer, se mantendo ocupado em arrumar a velha televisão de tubo e liga-la com a extensão até a tomada. Ele parecia ter feito aquilo várias vezes.

 — Não tinha isso na sua velha escola? — Ned perguntou num sussurro, baixo o suficiente para que apenas ele e MJ tivessem ouvido. Peter, por instinto, balançou a cabeça, mas logo em seguida recebeu uma cutucada da morena ao seu lado.

 Um pequeno aviso e ele entendeu que era algo que ele não chegou a ver.

  — Sério? Pensei que fossem obrigatórios em todo estado — Ned foi interrompido pelas conversas complicadas de algumas garotas sentadas na frente deles. Seus risos e fofocas eram altos demais, até para alguém normal.

 O trio de perdedores ficou um pouco mais no fundo, quase que no assento mais alto. Era possível ter uma visão mais ampla daqui e Peter gostou disso. Ele gostava se estar no alto, por mais simples que fosse.

 Ainda curioso e um pouco confuso, Peter se inclinou para a esquerda, para MJ, e sussurrou a pergunta novamente.

 — O que é isso?

 — São vídeos educativos — Ela disse sem desviar o olhar do livro que estava lendo, como se sua atenção estivesse totalmente presa nele. — É obrigatório em todo estado — Ela fez uma pausa e então acrescentou — E nós vemos eles na detenção também. É uma chatice

 Ele bufou uma risada e a cutucou amigavelmente com o cotovelo.

 — Você ficou de detenção. Pensei que não fizesse outra coisa senão ler — Ele a provocou, mas ainda assim MJ se manteve firme e não o encarou.

 — Eu gosto de desenhar pessoas em crise — Ela disse como se não fosse nada, mas estava revelando um hobby e Peter guardou essa informação no fundo da sua mente como algo precioso. — Tenho vários de você em casa. Se quiser te mando as fotos

 Peter sentiu seu rosto esquentar e desviou a atenção dela para a televisão ainda desligada.

 Ele tentou pensar nos momentos em que ambos estavam juntos, onde MJ poderia facilmente tirar um lápis e um papel e começar a desenha-lo. Era difícil dizer, já que ela era muito discreta quanto a isso. Mas o pensamento ainda o fez se sentir quente e envergonhado. Desajeitado.

  Não demorou muito e o professor havia terminado de instalar tudo, então assoprou o apito, apenas para chamar a atenção de alguns alunos que estavam conversando animadamente, em seus próprios mundos pessoais. O ginásio mergulhou em um silêncio anormal.

 A televisão então ligou e iniciou um vídeo.

 Peter só não esperava que o Capitão América, com o uniforme e tudo, aparecesse, sorrindo amigavelmente para a câmera em um corredor de um vestiário claramente feito em chroma key.

 — Oi, sou o Capitão América

 Peter não aguentou. Ele soltou uma risada que precisou ser abafa com ambas as mãos, caso contrário estaria ecoando por todo ginásio — isso não quer dizer que alguns alunos ao seu redor não ouviram, porque surpreendentemente, todos ficaram quietos, e havia apenas o som do seu riso.

 MJ o cutucou de novo.

 Peter iria se divertir muito com isso mais tarde.

 ...

 O desafio físico do Capitão América era relativamente fácil, para Peter claro, porque muitos dos seus colegas — incluindo Ned — estavam esgotados quando a aula começou a se aproximar do fim.

 Ned e Peter já haviam terminado, mas Ned optou por descansar e desistir de escalar a corda, a onde Peter agora estava apenas esperando pela sua vez.

 — MJ, eu acho que você está fazendo isso errado — Peter comentou, olhando descaradamente para a amiga.

 Ela estava deitada de costas num colchonete igual aos outros, erguendo e abaixando os braços ritmicamente enquanto lia um livro. A cena era cômica e ao mesmo tempo estranha. Só alguém como MJ faria isso.

 — Quem foi que disse? — Ela perguntou sem desviar o olhar, concentrada apesar da posição.

 — Eu

 — Então não dá pra confiar

 Peter revirou os olhos e se virou para Ned, que estava sentado na arquibancada conversando com Betty, que era a única menina que não estava deitada em um colchonete fazendo abdominais — ou pelo menos fingindo faze-lo. Peter os observou de longe enquanto a fila andava e então, por milagre, Betty olhou em sua direção.

 Dizer que seu rosto se iluminou não era um equívoco. Ela simplesmente abriu um dos maiores sorrisos do mundo e acenou com entusiasmo para Peter; ele acenou de volta.

 Betty voltou a falar com Ned, aparentemente tendo um assunto a mais agora. Peter tentou ouvir parte da conversa, mas desistiu depois de um tempo já que o barulho no ginásio era alto demais e ele poderia ter uma sobrecarga sensorial se se esforçasse demais. Isso não seria muito legal, principalmente em horário de aula.

 Peter então olhou para a fila e para as cordas amarradas no teto. Vários alunos subiam e desciam, alguns com facilidade, outros lutavam para se manter a apenas alguns centímetros do chão. Ele já fez isso antes, na sua antiga escola, mas nunca havia conseguido chegar ao topo. Na verdade, 50 centímetros era o seu recorde. Sua respiração sempre engatava e ele acaba escorregando de volta para o chão.

 — Por que você está aqui? — Uma voz zombeteira captou sua atenção e Peter se viu olhando diretamente para Flash Thompson, a apenas alguns metros de distância.

 Ele tinha várias aulas com Flash, isso excluindo o Decatlo. Até agora ele nem ao menos falou com Peter, mas isso era algo bom, já que um suposto valentão estava bem longe dele naquele momento.

 — Faz parte dos exercícios — Um garoto baixinho, magricela, com grandes óculos redondos disse, se encolhendo.

 Ele parecia com Peter antes da picada.

 O jovem aranha sentiu algo entalar em sua garganta. Talvez fossem as memórias dos anos escolares voltando para ele, numa época onde ele não sabia se defender, onde ele só queria tirar fotos e nada mais. Queria ser invisível.

 Não precisou de muito para entender o que estava acontecendo. Um valentão sendo um valentão. Não importa qual seja a escola, sempre vai ter um babaca com o ego enorme.

 — Vai ficar com as garotas e o balofo, isso não é pra você — Flash, não apenas humilhando o garoto, mas também Ned que estava longe e completamente alheio a isso.

 Peter sentiu a raiva fervescente dominar seu corpo, e não era sempre que isso acontecia. Ele sempre soube lidar com isso, não importa o momento; mas agora, aqui, ele parecia estar revivendo um flash back do passado, não a pior parte, mas ainda assim algo intolerável.

 Ele sabia o que era ser humilhado, e estava disposto a impedir que a mesma cena se repetisse.

 Algo estralou dentro de Peter e ele se viu avançando entre os alunos, claramente furando fila, mas ninguém o impediu, provavelmente porque viram a determinação em seu rosto.

 — Hey — Ele o chamou. — Você é o Flash né?

 Isso pareceu captar a atenção do Thompson, que tirou sua atenção do garoto baixinho e olhou para Peter. Seus olhos se estreitaram no mesmo instante e um careta se instalou em seu rosto.

 — Sou — Disse quase como se isso fosse um desafio.

 — Se acha tão bom assim? — Peter perguntou, a ironia clara em sua voz, mas Flash não pareceu entender.

 — O quê — Suas mãos agora estavam na cintura, uma postura defensiva.

 Peter ignorou o fato de que agora parte do ginásio estava em silêncio — ainda haviam vozes aqui e ali — e a maioria dos alunos estavam prestando atenção nos dois. Apenas nos dois.

 — Você se acha tão bom assim? — Repetiu, com mais força dessa vez. Peter se lembra de MJ já ter usado esse tom várias e várias vezes, mas em momentos e situações muito diferente desta. Ainda assim, ele achou que era perfeito. — Por que eu acho que ganho de você

 Flash riu, e junto com eles alguns alunos que estavam ao redor. Ele parecia ver graça em ser desafiado desse jeito, mas Peter não encontrou nada além de zombaria em sua postura.

 — Eu sou o melhor da turma Parker — Ele declarou em alto e bom tom, abrindo os braços como se para enfatizar suas palavras. Não hesitou em deixar claro que sabia o sobrenome de Peter.

 Pelo menos uma parte dele.

 Thompson não tinha uma aparência de atleta, mas Midtown não era uma escola que exibia troféus de futebol ou qualquer outro torneio esportivo. Não, Midtown exibia prêmios de ciências e matemática; projetos fantásticos criados por alunos anteriores e que o diretor Morita, assim como toda a escola, tinha orgulho de mostrar.

 Por isso Flash se sentia superior. Porque ele era bom em algo que muitos nem ao menos pensavam em dedicar seu tempo.

 Peter sorriu, não com malicia, mas com verdadeira diversão. Ele lançou um olhar para o garoto ainda encolhido a poucos metros de Flash e lhe lançou uma piscadela encorajadora. Isso pareceu anima-lo.

 — Vamos por isso em prova então — Disse, se aproximando de Flash e das cordas. —Eu e você, quem chegar primeiro no topo ganha.

 Flash franziu o cenho, claramente ameaçado. Ele não hesitou quando disse:

 — Feito

 A essa altura alguns alunos tinham se reunido ao redor, curiosos, mas não tão empolgados com a pequena rixa. O garoto se afastou, se juntando a multidão quando Peter e Flash se posicionaram de frente para a corda.

 — O que ele está fazendo? — Ned perguntou a pouco metros de distância.

 — Sendo o típico Parker — Foi MJ quem respondeu.

  Peter não se preparou como Flash, que posicionou os pês e as mãos na corda, em vez disso ele tomou seu próprio tempo. Não havia nada de novo em escalar uma corda, não importa se um ginásio inteiro estava olhando pra ele. Peter tinha feito bem mais do que isso, e muitas mais vezes do que ele poderia contar.

 Algum amigo de Flash — seja lá quem foi — deu um grito de partida.

 Peter deu vantagem ao Flash, demorando três segundos para segurar a corda e começar a escalar de fato. Havia algo familiar nos movimentos e ele não precisou pensar muito quando rápidamente avançou para o topo.

 Ele não usou sua força sobre humana, apenas o que ele tinha foi necessário. Talvez, se fosse antes da picada, ele estaria tão nervoso que sua respiração estaria presa e ele estaria arfando por ar — provavelmente já estaria de volta ao chão. Peter podia até mesmo imaginar o professor desesperado olhando para ele sem saber o que fazer.

 Foi então que ele ouviu uma serie de suspiros surpreso, seguidos de murmúrios. Uma algazarra diferente, quase que empolgada e animada. Peter então percebeu que se estendesse o braço, seria capaz de tocar no teto do ginásio.

 Ele olhou para baixo, para Flash, que estava a 3 metros longe dele, para seus colegas e para o professor boquiaberto. Por um momento ele pensou que tinha ido longe demais, mas então o garoto de antes, aquele que estava sendo intimidado, sorriu para ele e acenou.

 Aquilo bastou como vitória.

 Peter deixou seu corpo escorrer pela corda, certificando-se de não cair muito forte ou abruptamente, qualquer coisa que desse algum sinal anormal. Ele pousou no chão e soltou a corda.

 Ele olhou para Ned, tão boquiaberto quanto o professor. Peter já podia ouvir as perguntas vindo e sorriu para isso.

 — Você trapaceou! — Flash veio logo depois dele, pousando no chão de uma forma mais desajeitada, quase tropeçando.

 Peter não se deu ao luxo de zombar dele em voz alta, mas ainda assim se virou e lhe lançou um sorriso.

 — Eu não trapaceei. A menos que você considere como trapaça o fato de eu ser melhor que você

...

  Peter estava morrendo de tédio.

 Não importa o quão legal a Torre em si possa ser, ele ainda não pode ficar subindo e descendo e chamando a atenção de todo mundo para ele. Nessas duas semanas, ele nem ao menos visitou os andares inferiores, sabendo perfeitamente que era lá onde os laboratórios da Torre funcionava. Era uma espécie de barreira invisível que ele instalou para se manter dentro dos limites.

 Hoje, por exemplo, apenas Tony, ele, Sam e Natasha então na Torre; e todos estão ocupados. Bucky e Steve sairam para dar uma visita no Brooklyn enquanto Peter estava na escola, Clint e Scott estão em algum lugar por aí. Sabe se lá o que esses dois malucos fazem.

 Peter não quer incomodar seu pai e muito menos seus “treinadores”, por isso ele se trancou no quarto sem ter absolutamente nada para fazer.

 Havia apenas algumas leituras para o dever de casa, solicitadas pela professora de Inglês, e Peter terminou em menos de uma hora. Não tinha dever de casa real, sem contas, sem pesquisa, sem trabalho ou cartaz; talvez o motivo disso fosse porque era apenas o segundo dia de aula.

 Peter desistiu de dar uma volta na internet logo nos primeiros minutos, isso porque ele realmente não estava com paciência para as redes sociais — ele nem sequer sabia como a maioria delas funcionavam; tinha passado tempo demais fora e perdido muitas coisas —, mas ele ainda leu as notícias dos últimos dias e terminou em menos de meia hora.

 Depois disso ele ficou deitado na cama por 20 minutos antes que sua mente começasse a pirar com uma enxurrada de pensamentos sobre a sua vida; sobre Tony, sobre Skip, sobre Ned, sobre MJ, sobre seus tios. Seus pensamentos vagaram tanto que Peter poderia jurar que estava começando a se sentir claustrofóbico dentro do enorme quarto.

 Ele estava olhando para o teto, para a parte de trás da cama de cima e para a lâmpada apagada. Ainda era de dia.

 Peter então se lembrou da época em que ele costumava a ler de cabeça para baixo, usando suas teias para ficar em uma posição confortável. Ele aprendeu a gostar dessa posição, chegando até mesmo ser um pouco melhor para ele pensar e focar.

 Era algo legal.

 Ele prestava mais atenção no livro por algum motivo. Talvez isso fosse um efeito colateral do seu DNA aranha.

 De repente, Peter realmente queria estar de cabeça para baixo.

 — Sexta-Feira... — Peter chamou a I.A, um murmuro baixo e monótono.

 — Sim, Peter? — Ela perguntou logo em seguida, a voz, mesmo que artificial, deixava claro o seu interesse em nele.

 — Você iria estranhar se eu ficasse de cabeça para baixo? — Ele perguntou, realmente esperando que I.A não fosse contar ao sr. Stark se ele, de fato, ficasse de cabeça pra baixo.

 — Como assim Peter? — Não é sempre que uma I.A superinteligente soa confusa, e Peter riu para essa pequena conquista.

 — Se eu ficasse de cabeça pra baixo na parede, você iria contar para o sr. Stark? — Ele perguntou novamente, sendo mais especifico agora.

 — Bem, isso é impossível Peter — Ela disse, sua voz artificial realmente parecer confusa com o rumo dessa conversa. Além do mais, ela realmente parecia convicta de suas palavras.

 Isso ampliou seu sorriso.

 — Tá, mas suponhamos que seja possível — Peter forçou seu corpo para cima e se sentou na cama. — Você iria contar pro meu pai?

 — Só se o chefe me perguntar diretamente — Sexta-Feira disse, ainda parecendo confusa.

 Peter acenou para Sexta-Feira, mesmo sabendo que ela não era uma pessoa de verdade. Ele se levantou da cama e caminhou em direção as janelas, afastando as cortinas para poder ter uma visão melhor do lado de fora.

 A neve estava caindo sem parar, tanto que Peter podia ver as ruas sendo tomadas pela cor branca. Ele estendeu a mão para a parede ao lado da janela, depois a outra e começou a subir na parede, alcançando o topo depois de um tempo, então ele se virou de cabeça para baixo e cruzou os braços, olhando pela janela.

 A posição familiar lhe trouxe um sentimento de calmaria e ele se permitiu fechar os olhos.

 — Peter? Você está de cabeça pra baixo na parede? — Sexta-Feira perguntou e Peter sentiu uma risada borbulhar em seu peito, fazendo todo seu corpo tremer e o som alegre ecoar pelas paredes.

 — Sim, Sexta-Feira — Ele se acalmou o suficiente para falar e então abriu os olhos, encarando o teto mais uma vez.

 — Como? — Peter suspirou e voltou a sua atenção para a janela.

 — Um dia talvez eu te conte... — Sua voz soou distante, mas felizmente Sexta-Feira não tinha objeções. Peter deixou que sua mente vagasse para longe, novamente.

 Ele observou os prédios ao redor, observou a neve caindo, observou o Central Park ao longe, observou o céu nublado e a forma como os raios de sol lutavam para se esgueirar entre as nuvens. Era calmante olhar para a cidade desse ponto de vista.

 Peter então sentiu um aperto no coração, uma sensação sufocante no peito, que fez com que ele inclinasse a cabeça para trás e batesse na parede.

 Ele sabia perfeitamente o que era.

 Ele estava com saudades de se balançar pela cidade com as suas teias; com saudade do sentimento de adrenalina que passava pelo seu corpo toda vez que ele entrava em queda livre, mas não precisava ter medo de cair, sabendo que a próxima teia iria lhe segurar.

 Ele sentiu falta do vento frio, da visão magnifica que a cidade tinha quando ele parava em cima de um prédio particularmente alto.

 Peter sentiu falta de ser livre. De poder sair e ver a cidade, mesmo que a neve dificulte a sua vida; ele ainda tinha saudades de ser o Homem-Aranha, de se esgueirar pela noite para parar um assalto, para ajudar alguém que ele nem ao menos conhecia.

  Ele sentia falta do seu alter ego, da outra parte da sua personalidade que rapidamente também se tornou parte do seu ser.

 Por um momento, Peter realmente considerou abrir a janela e pular, sem medo de cair porque sabia que suas teias iriam chegar no outro prédio antes disso, mas então ele se lembrou que seus atiradores estão em sua mochila, abandonada em baixo de uma mesa de escritório em um prédio velho no Queens.

 Longe demais para ele simplesmente pega-los.

 A menos é claro, que ele construa novos.

 Peter abriu os olhos com esse pensamento. Seu coração vibrando em seu peito com a ideia de começar a trabalhar novamente, de começar a se mover, de voltar a ser Homem-Aranha.

 Ele pulou, girando no ar para cair de pé no chão, uma agilidade que ele não usava a muito tempo, mas que não estava enferrujada.

 Peter correu para a sua escrivaninha, pegando uma folha branca e um lápis de escrever, de repente encontrando algo para fazer.

 ...

 A noite caiu rapidamente, mergulhando seu quarto em uma escuridão. Peter realmente não sabia que horas eram e ele nem ao menos se importava. O silêncio era seu único companheiro e ele aproveitou isso para deixar a sua mente vagar, indo e vindo em ideias que estavam encubadas a muito tempo.

 O jovem aranha estava sentado em sua mesa de trabalho em seu quarto, com apenas a luz do abajur iluminando as folhas espalhas pela mesa. Bolinhas de papel com projetos rejeitados estavam espalhado pela escrivaninha e até mesmo pelo chão; o lixo transbordando.

 Peter não estava muito preocupado com isso. Ele estava focado no papel na sua frente, tanto que conseguiu ignorar a dor nas costas de passar tanto tempo curvado sobre a escrivaninha.

 Era uma noite agradável, apesar de todo o frio congelante que estava fazendo do lado de fora da Torre. Ele estava com uma manta ao redor dos ombros, praticamente enrolado nela enquanto trabalhava em seu “projeto secreto”.

 O som vigoroso do lápis no papel era o único barulho que ecoava pelo quarto. 

 Quando Peter começou a esboçar projetos horas atrás, ele realmente estava querendo focar apenas nos atirados, até que ideias de drones, câmeras escondidas, visão de calor, visão noturna, rastreadores e mais uma pancada de possibilidade vieram a sua mente e ele começou a trabalhar nelas.

 Até perceber que o Homem-Aranha ainda não tinha um traje adequado.

 Quando ele começou com toda essa ideia de vigilante, Peter realmente não tinha muitos recursos. Ele só queria uma desculpa para se manter o mais longe possível de Skip, então ele simplesmente pegou uma mascará vermelha qualquer e botou na cara.

 Com o passar do tempo, aquela mesma máscara começou a se rasgar por causa dos esforços do dia, e o tecido, frágil demais, não ajudava em nada. Ele se lembra de lutar com uma agulha em mãos por horas apenas para concertas os rasgos e deixar ela inteira de novo.

 Mas agora ele tinha recursos — tecnologia Stark — e por isso começou a trabalhar duro para criar um traje para o Homem-Aranha do zero, algo que gritasse: — Eu sou um herói! Por favor não tenha medo de mim

 Ele estava quebrando a cabeça para criar algo único e que se tornasse a sua marca registrada. Peter não era muito bom em desenhos, mas ainda assim ele precisava de um esboço antes de partir para a pratica.

 As cores vermelho e azul estavam gravadas na sua mente desde o início, já que a aranha que o picou era vermelha e azul. Além do mais, Peter queria algo que fosse solto, que permitissem que ele se movesse com facilidade; ele decidiu que elastano era perfeito para isso.

 Os olhos eram muito importantes. Peter era sensível e os olhos, se projetados do jeito certo, iriam lhe ajudar a focar na hora da luta, sem muitas distrações. Ele queria algo que realmente lembrasse uma aranha e, ao pesquisar por mascaras de lutadores no Google, teve uma onda de inspiração.

 Os olhos seriam brancos, feito com um material que lhe permitisse focar sem grandes problemas, algo em que ele ainda estava trabalhando.

 Os detalhas em formato de teias estavam por toda a área vermelha da roupa, o que inclui rosto, omoplatas, parte do tronco, antebraços e panturrilhas. Ele decidiu que gostava disso.

  Para completar todo o visual, Peter colocou uma aranha preta bem no peito, o que ele esperava que deixasse sua marca registrada. Havia outra aranha também, só que nas costas, em vermelho.

 Era meia-noite quando ele finalmente terminou o desenho, satisfeito com o seu trabalho e se vendo mais do que ansioso para finalmente colocá-lo em pratica. Ele podia sentir o cansaço em seus ombros, seus olhos levemente pesados, mas ele estava se sentindo energético por dentro. Foi isso que o manteve acordado.

 — Peter, devo dizer que já passou da meia-noite, você tem aula em oito horas— Sexta-Feira disse, um aviso claro. A preocupação em sua voz era nítida e isso fez ele pensar se o sr. Stark não tinha criado uma atualização para ela se tornar mais gentil.

— Não se preocupe Sexta-Feira, vou ficar bem — Peter garantiu, guardando o projeto do terno em uma pasta única que ele escolheu especificamente para guardar os projetos relacionado ao Homem-Aranha.

 — Na sua idade é ideal ter pelo menos 8 horas de sono. Se você adormecer agora terá sete horas e quarenta minutos de sono. Isso não é recomendado Peter, você pode se sentir cansado pelo resto do dia — Peter revirou os olhos para a I.A, que parecia tão preocupada quanto Tony.

 — Eu sei, eu sei. Só preciso terminar isso aqui — Peter pegou uma outra folha de dentro da pasta, essa já contia alguns rabiscos a lápis do que seriam seus novos atirados.

 Ele estava trabalhando nisso antes do terno, mas se viu tendo alguns problemas. A ideia inicial era que eles fossem pequenos, quase imperceptíveis quando ele estivesse usando, seja com ou sem o traje. O problema é que isso também significa que o espaço para armazenar fluidos de teias também seria pequeno, então ele teria que trocar a cada hora.

 Isso poderia ocupar muito tempo. E se ele estivesse se balançando e do nado o fluido de teia acabasse? Nada iria impedi-lo de cair no chão e se machucar seriamente. Pior ainda se fosse no meio de uma luta acirrada.

  Ele precisava dar um jeito do tempo de recarga ser bem maior, mas para isso ele precisa colocar o seu cérebro para trabalhar.

 Se ao menos Sexta-Feira parasse de falar sobre insônia.

 ...

 Peter estava, realmente, dando o seu melhor para pensar em alguma solução, e ele conseguiu chegar em uma que aumentou o tempo de recarga do fluido de teias para três horas. Ele também decidiu que a melhor alternativa era criar uma espécie de medidor, que iria lhe avisar quando suas teias estivessem quase acabando.

 Logo, o projeto estava pronto e ele se viu tentado a sair do seu quarto e se esgueirar para o laboratório do seu pai, apenas para pegar alguns materiais e começar a de fato trabalhar, mas então um último olhar para o relógio no seu celular e a ideia foi embora.

 Eram duas e quatro da manhã.

 Ele estava nisso a horas, sem descanso e sem comida. Ele nem ao menos tomou um banho e aparentemente só agora o cansaço do dia recaiu sobre seus ombros.

 Peter não tinha notado o quanto seus olhos estavam pesados, mal ficando abertos. Ele se sentia esgotado.

 Peter gemeu, se espreguiçando com uma careta. Suas costas e sua mão direita estavam doloridas, apenas um lembrete das horas que ele ficou ali naquela cadeira. Ele bocejou, decidindo que já era hora de ir para a cama.

 Antes que ele pudesse se levantar da cadeira uma batida na porta ecoou pelo quarto e logo a porta se abriu com um rangido prolongado demais.

 — Peter? Sexta-Feira me disse que você ainda estava acordado — A voz calma, mas ainda assim hesitante do sr. Stark chamou a atenção de Peter e ele se virou para encarar o bilionário.

 — Oi Tony — Ele disse, um sorriso fraco e cansado no rosto. Peter esfregou os olhos, tentando se manter acordado um pouco mais e também manter a sua mente clara.

 Ele pode ver que o próprio sr. Stark estava sujo de graxa, tanto em seu rosto quanto suas roupas. Peter resolveu não questionar, assumindo que era apenas o trabalho dele.

 — Você já devia estar dormindo — Ele disse, severo e autoritário. Peter já estava assimilando esse tom de voz quando o sr. Stark queria ou repreende-lo ou deixar uma regra clara.

 Mas mesmo isso não impediu ele de se sentir mal quando encarou os olhos preocupados do mais velho.

 — Desculpa, eu acabei perdendo a noção do tempo... — Peter encolheu os ombros, se sentindo culpado. Ele dobrou a folha na sua frente, quase que desesperado para esconde-la e acabou por mistura-la com outros papeis.

 — Vamos garoto, pra cama — Ele não teve tempo de reagir, logo seu pai estava guindo-o para a cama, sem deixa-lo nem ao menos guardar a folha que agora estava largada em cima da escrivaninha. — Amanhã você tem um longo dia

 Peter foi empurrado para a cama pelo mais velho e decidiu não contraria-lo — em parte porque não tinha forças para isso. Ele já estava com os olhos fechados quando Tony jogou um edredom em cima dele.

 — Desculpa por isso sr. Stark — Ele resmungou, meio adormecido.

 — Tudo bem, Pete — Ele sentiu a mão quente de seu pai afagar seus cabelos amorosamente, enviando um sentimento quente para todo o seu corpo. Peter não conseguiu lutar contra o sorriso contente que dominou seu rosto. — Mas que isso não se repita

 Ele concordou com um aceno fraco, usando toda a sua consciência no ato.

 — Boa noite pai — Foi a última coisa que Peter disse antes de ser sugado para o mundo dos sonhos.


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Notas finais do capítulo

Foi isso então (eu falei que iria focar um pouco mais na vida escola, mas pelo menos tivemos um progresso com o traje, não é mesmo?), espero que tenha gostado. Sinceramente, só tenho a agradecer a vocês por todo o apoio, é incrível!

Até amanhã, eu acho ♥ Ah! E me perdoe pelos possíveis error, eu to caindo de sono

~~See Ya Later



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