Alguns dias depois e as palavras de Lindsay ainda me fazem pensar sobre Guss. – E parece que é só pensar nele, que ele aparece bem na minha frente.

Estamos no intervalo, eu e Izzie na biblioteca quando ele vem até nós.

— Aconteceu alguma coisa? – Izzie pergunta pra ele.

— Não... só queria ver como vocês estão, mas já vou indo. – diz não demorando a sair dali.

— Você não acha que ele tá estranho May? Eu em.

— Um pouco. – digo pensativa.

“Reunião do grêmio depois da aula.” – Elliot.

Quando vejo o nome dele no visor meu coração da um salto, mas a mensagem é apenas sobre o grêmio.

“Ok.” – Rose May.

Encaro a tela por um tempo esperando que outra mensagem apareça, mas desisto e bloqueio o celular.

— Deveria ir até ele se estar com saudades. – Izzie diz depois de comer uma batatinha.

— Eu não tô com saudades!

— Você é muito orgulhosa, ele te pediu desculpas, não teve uma atitude babaca...

— Eu sei disso.

— Então porque ainda está aqui? Devia ir até ele e dar um beijão na boca dele! – Izzie fala me fazendo rir.

— E a Briana?

— Ela me colocou contra a parede, dizendo que não vai ser um segredo pra sempre. Que ou nós contamos pra todo mundo ou acabou.

— Então porque não conta? – indago.

— Minha mãe... – Izzie pareceu desconfortável e preocupada.

— Você tem que enfrentar isso Izzie, ou vai perder a Briana. – digo com firmeza.

— Acho que nós duas aqui precisamos enfrentar nossos medos então.

As aulas passam e a cada minuto me sinto mais nervosa. – É só uma reunião do grêmio como qualquer outra – digo mentalmente. – Mas não paro de pensar em Elliot.

Sou a primeira a chegar na sala do grêmio. – Sam chega depois de mim, e os outros membros também, Elliot é o último a chegar. – Trocamos olhares assim que ele entra na sala, estou sentada em uma das últimas carteiras, enquanto Sam começa a falar sobre burocracias relacionadas ao grêmio, pego meu caderno e o desenho de Elliot, voltei a trabalhar nele a alguns dias, acrescentando detalhes que notei no tempo em que estávamos juntos.

Estou tão concentrada no desenho que só noto a constante vibração do meu celular em cima da mesa quando Sam me chama.

— Desculpa! – digo rapidamente pegando o aparelho. – Tenho que atender.

Saio apressada da sala e paro no corredor o nome de Izzie ainda está na tela.

— O que houve? – pergunto preocupada.

— Preciso de ajuda urgente! – diz me deixando ainda mais preocupada. – A reunião já acabou? Pode me encontrar na saída?

— Claro que posso. – encerro a ligação e entro na sala. – Sam eu preciso ir, pode me passar o que for necessário amanhã? – noto Elliot me olhar.

— Claro. – Sam confirma e vou até a mesa onde estava, arrumo minhas coisas apressadamente, saio da sala.

Encontro Izzie do lado de fora do colégio, ela parece nervosa, está enrolando uma mecha do cabelo no dedo – O toque dela quando está ansiosa.

— O que aconteceu?

— A Briana... – diz baixo.

— Vocês terminaram? – pergunto preocupada.

— Não. – Izzie me olha – Ela quer me levar na casa dela hoje!

— Essa é sua emergência Izzie? – indagou quase dando um tapa nela.

— May! Isso é muito sério ok? Os pais dela vão estar lá, o Brian vai estar lá! E não sei se você se lembra mas eu beijei ele antes de namorar a Briana! – Izzie está a beira de um surto – Tirando você ninguém sabe que estamos juntas, quer dizer, meu deus! São os pais dela.

— Calma! – digo tocando no ombro dela. – Vamos pra sua casa, vou te ajudar a escolher uma roupa, e vamos pensar em soluções para você se sair bem.

— Ai May! – Izzie me abraça forte. – Porque isso tem que ser tão difícil?

Passo toda a tarde na casa dela. – Ajudo a escolher uma roupa, a fazer o cabelo dela. Izzie parece que vai explodir de nervosismo, tento meu melhor para acalma-la.

Antes de voltar pra casa encontro com Guss chegando do treino de futebol. – ele sorrir quando me vê, paro na calçada para cumprimenta-lo.

— Quero ver você no próximo jogo May. – diz ainda sorrindo.

— Acho que posso fazer isso. – confirmo antes de ir pra casa.

Assim que chego procuro meu desenho na mochila e não o vejo lá, meu caderno também não está aqui. – Só falta eu ter me esquecido deles no colégio.

— Burra! – digo em voz alta sentindo raiva de mim mesma.

Assisto um filme de comédia romântica com a minha mãe, noto que nós duas estamos segurando o choro.

— As garotas dessa casa estão muito sentimentais. – Mamãe comenta antes do filme acabar.

Subo para o quarto já a noite, me deito e pego o celular, acabo no perfil do Instagram de Elliot, ele não tem muitas fotos dele mesmo, são mais paisagens, e de outras coisas. – são fotografias lindas.

“Ei, ocupada agora?” – Elliot.

Leio a mensagem duas vezes para ter certeza do que estou vendo. – Minhas mãos estão trêmulas enquanto digito.

“Oi, estou livre no momento” – Rose May.

A próxima mensagem dele demora um pouquinho a chegar, já estava quase roendo as unhas.

“Então pode vim até aqui fora?” – Elliot.

Ele está aqui? Como assim? – A confusão logo da lugar ao nervosismo e pulo da cama. Vou até o espelho e solto meu cabelo arrumando ele. – Não respondo nada, apenas desço as escadas e saio de casa.

Vejo ele encostado na moto em frente à minha casa. Caminho até lá.

— Ei, oi?! – digo mexendo no cabelo tentando conter o que sinto.

— Você esqueceu isso... – ele se vira e pega algo na mochila.

Meu caderno e o desenho estão nas mãos dele. – Primeiro sinto alívio de ver minhas coisas novamente, depois vergonha pois Elliot provavelmente viu que eu o desenhei.

Pego as coisas da mão dele enquanto nos olhamos.

— Você é muito talentosa Rose May. – diz, seu olhar é intenso. – Uma artista. – Sinto meu coração acelerar.

— Obrigada... – agradeço baixo, mas audível.

— Poderia ter me mostrado antes...

— Ele ainda não estava pronto. – falo sobre o desenho.

— Eu sei... – diz e já não sei mais se estamos falando sobre o desenho. – Eu preciso... – Elliot se aproxima de mim, nossas testas se encostam e sinto meu coração bater acelerado.

Como eu senti falta disso, falta dele. – Fecho os olhos quando sinto ele se aproximar, mas os abro quando ele recua.

— Não posso mais fazer isso. – seus olhos azuis estão sérios.

— O que? – pergunto já sabendo a resposta.

— Não posso brincar com você, Rose May. – Sinto meu coração doer escutando suas palavras. – você é especial, e se tornou importante pra mim...

— Então porque você não fica? – minha voz sai frágil demais.

— Por que eu não posso, você sabe que não posso.

— Elliot... – Sinto meus olhos arderem.

— Você merece alguém que ainda acredite no amor Rose May, alguém que não vai ir pra outro país...

— Você pode acreditar... – digo tocando no rosto dele.

— Passei toda minha infância vendo o casamento arruinado dos meus pais, quando dei uma chance pra isso fui traído por alguém que gostava. – ele diz e é uma das poucas vezes que vejo magoa em seus olhos. – Não posso correr o risco de isso acontecer com você! Não posso fazer isso com você.

— Mas como você sabe se isso vai acontecer Elliot? Por favor...

— Não posso Rose May. – fala e retira minha mão do seu rosto. – Isso tem que acabar aqui.

As lágrimas começam a rolar pela minha bochecha, ele se aproxima mais uma vez e as enxuga com o polegar.

— Desculpa... – digo e ele me olha sem entender. – Eu me apaixonei por você. – confesso pra ele e também pra mim.

— Rose May...

— Acho melhor você ir agora. – digo voltando a caminhar pra dentro de casa. Não olho pra trás.

A noite é longa. – Sinto que meu coração se partiu. – Agora entendo o exato sentimento de coração partido. Achei que Guss tinha feito isso, mas a dor que sinto agora, meu Deus, isso é muito pior!

Lembro de todos os nossos momentos e isso me faz ficar mais triste. – O sorriso dele, o jeito que me olhava, até a maneira que me provocava.

Não consigo me perguntar o porquê de tudo isso, eu sabia desde o começo que terminaria assim. No fundo, eu já sabia que estava me apaixonando por ele.

O irritante garoto novo, aquele que esbarrou comigo na lanchonete, que me provocou, que me tirava a paciência. – Exatamente ele partiu meu coração.

Pego no sono pensando nele, do começo ao fim do que vivemos juntos.

Na manhã seguinte parece que não consigo nem abrir os olhos. – Quando desço pra tomar café minha mãe me lança um olhar preocupado.

— Querida, está tudo bem? – pergunta e eu desabo em seus braços.

Conto tudo pra ela, que me ouve tão pacientemente. – Sinto um nó na garganta quando lembro de algumas coisas.

— Porque os jovens complicam tanto as coisas? É óbvio que ele tá apaixonado por você querida... – faz uma pausa. – Mas se ele não pode assumir isso, você deve seguir em frente então.

— Mas mãe isso dói tanto, como vou...?

— Quando me divorciei do seu pai também achei que nunca pararia de doer, mas meu amor, eu te prometo que a cada dia vai doer menos, até não doer mais. – ela me abraça de novo.

Izzie me manda várias mensagens dizendo que o jantar com os pais de Briana foi ótimo, e que eles são pessoas incríveis, Brian entendeu tudo numa boa e que ela está muito feliz. – respondo algo rápido e curto, Izzie me manda outras mensagens mas acabo não respondendo.

Falto a aula por dois dias, não me sinto preparada para ver Elliot de novo.

Izzie bate na minha porta no segundo dia que estou em casa, escuto ela brigar comigo por não ter dito nada.

— Não queria estragar seu momento Izzie, você estava tão feliz. Não ia te encher com meus problemas.

— Você é minha amiga May! Faz isso de novo e eu te mato. – diz me abraçando.

Conto o que aconteceu pra ela, mas sem muitos detalhes, ou eu choraria mais uma vez. – Ela xinga Elliot e tenta me animar de todas as formas possíveis.

Tento ficar um terceiro dia em casa, mas minha mãe quase grita comigo.

As aulas passam rápido, me concentro o máximo nos exercícios. – Durante o intervalo Izzie me lembra que hoje tem o jogo do Guss.

— E a Briana vai estar na torcida né, então... – Izzie sorri boba.

— Não acredito que você namora uma líder de torcida. – digo rindo.

— Nem eu!

As outras aulas terminam e logo eu e ela já estamos acomodadas na arquibancada do campo. – Izzie quis se sentar bem na frente, para que pudesse ter uma melhor visão da Briana.

Pouco antes de jogo começar Guss acena pra mim, e eu retribuo. – tento gritar boa sorte no meio do falatório. – ele se aproxima da arquibancada e digo mais uma vez.

— Boa sorte! – sorrio pra ele que retribui.

— Obrigado!

O jogo começa, Izzie vibra a cada vez que Briana olha pra ela. – Parece que ela é a estrela do jogo. E de certo forma ela é pra Izzie.

Tento prestar o máximo de atenção, mas por vezes me pego pensando em outra pessoa, Elliot. – E assim vejo o jogo terminar, com nosso time levando a vitoria.

Todos comemoram pelos corredores da escola, eu e Izzie ficamos próximas ao vestiário esperando por Briana, assim que ela sai as duas se abraçam, também abraço Briana parabenizando-a pela excelente torcida.

Deixo as duas um pouco sozinhas e caminho pelos corredores, pretendo ir para a área externa tomar um ar.

Avisto Guss vindo comemorando com os outros jogadores, seu sorriso é de orgulho e satisfação. – ele me vê e caminha até mim, quando nossa distância é pequena Guss abre os braços e sorrio pra ele.

Ele me abraça pela cintura, e rodeio seu pescoço com meus braços. – Sinto ele me apertar com firmeza.

— Parabéns Guss!

— Ainda bem que você estava lá. – ele me abraça ainda mais.

Olho por cima de seus ombros e perto da porta da área externa vejo Elliot nos  olhando – meu coração acelera, o olhar dele é de tristeza?! – Não consigo ter certeza pois ele logo sai dali.

Guss me solta depois de um tempo, ele ainda sorri, mas nota minha expressão.

— Está tudo bem May? – pergunta preocupado.

— Sim, claro! – digo forçando um sorriso. – Você foi demais hoje. – mudo o assunto rapidamente.

— Guss? – um dos garotos do time chama ele.

— Tenho que ir, eles querem comemorar.

— Tudo bem.

Vou até a área externa mas não encontro Elliot por ali. – Saio do colégio e sigo o caminho para casa sozinha.