Swimming Club escrita por Lis Sampaio


Capítulo 8
Capítulo 8




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Tina estava ajoelhada em frente a sua cama mexendo em alguns papéis que tirara da mochila da escola e esperando Natalie sair do banho para entrar, quando Jessica chegou do refeitório trazendo comida. Era hora do jantar, mas ninguém estava com muito pique para comer junto de toda aquela muvuca nas mesas. O dia já tinha sido cheio o suficiente.

A menina loira largou as três caixinhas de hambúrguer e os sucos em cima de uma das mesas de estudos, dizendo:

— Aqui estão. Vermont vai ficar extramente fez em nos ver comendo fast food. — Se jogou em sua cama, suspirando. — Estou cansada, vocês só me fazem andar.

— Você que quis descer pra pegar, eu falei que a gente podia mandar mensagem pra um dos meninos. — Tina falou, sem desviar a atenção das folhas sob a cama. A maioria eram coisas do conselho estudantil que provavelmente não deveriam estar ali.

— Você tem uma amiga super legal. — Resmungou. — O que está fazendo?

— Caçando a ficha do Alex. Fiquei pensando sobre ele hoje, e sobre umas coisas que ele me disse também, e queria terminar de ler o histórico escolar.

Jessica arqueou uma das sobrancelhas.

— Vem cá, por acaso o Alex sabe que você tem uma ficha com tipo, todos os dados da vida dele? — Questionou, curiosa.

— Hã... não. — Tina respondeu. — E também nem pode saber, porque eu estaria no mínimo ferrada.

—Ok, e quando você vai contar pra ele que se aproximou por causa do conselho estudantil?

— Não vou contar. Isso vai basicamente estragar tudo, desde o meu plano, até nossa amizade.

A amiga loira respirou fundo. Se perguntava se Tina sabia mesmo o que estava fazendo, porque, de fato, não parecia.

— Ok, mas e se ele descobrisse? Não seria pior ainda? — Jess voltou a indagar.

Christina fez uma cara de desdém e riu.

— Ele só descobriria se alguém contasse. Você não vai fazer isso, né?

— É óbvio que não, né Christina. Mas é sério, você precisa tomar cuidado com isso, porque eu ficaria extremamente magoada se soubesse que alguém está me ajudando só pra manter o cargo no conselho estudantil.

Tina parou um pouco para pensar. É, falando daquele jeito soava bem cruel, apesar de não ser uma verdade inteira.

— Mas eu não estou ajudando ele só por causa disso. — Explicou. — Ele virou meu amigo, eu realmente me importo com o Alex.

— Certo, mas quem vai provar isso pra ele? É um conselho, conta isso enquanto ainda faz pouco tempo que vocês se conhecem, porque quanto mais alto você sobe no conceito de alguém, mais dura é a queda quando cai. Seja uma boa amiga.

Tina assentiu, concordando com a amiga, embora não tivesse tanta intenção assim de contar a verdade para Alex. Ele era muito importante para ela, e sabia que não seria perdoada tão fácil mesmo tendo se passado pouco tempo que se conheciam.

Voltou a mexer nas folhas, até que finalmente encontrou aquela ficha. Não tinha reparado nisso, mas na foto Alexander parecia bem mais feliz do que costumava ser. Era uma daquelas fotos normais de anuário, mas mesmo assim se perguntava o que poderia ter acontecido de tão grave naquela história complicada com o clube para que ficasse assim: triste.

Leu a ficha, anotando mentalmente que nunca poderia deixar escapar o fato de que sabia informações pessoais sobre ele. Já sabia que seu aniversário era dia dezesseis de novembro, signo escorpião, tinha uma irmã mais velha, já namorou uma garota do clube de esgrima, e que foi... Tina piscou algumas vezes, lendo novamente "medalhista de ouro na corrida de 100m no Campeonato Mundial Junior de Atletismo de 2014". Espera, como? Alex era um cara famoso?

Voltou a ler os dados do menino, ficando cada vez mais boquiaberta com as conquistas do garoto. Ele já conseguira diversas medalhas importantes, mesmo quando ainda não estava na S.S., e esteve por muitos anos no time junior nacional de atletismo. Ele era um prodígio! Como nunca tinha contado nada disso pra ela?

Suspirou e largou os papéis sob a cama novamente. Ok, informação demais para o cérebro. Além de informação, mais e mais perguntas acabavam surgindo. Por que raios alguém tão importante como ele tinha sido afastado do clube?

Xx

Era a segunda aula da manhã e Rachel já estava exausta. Natalie e Tina não paravam de falar um segundo sobre a competição interna que teriam mais tarde no clube, enquanto ela só se sentia ansiosa.

Ok, não era lá uma competição muito grande e provavelmente nem teriam expectadores direito, já que havia pouca gente que realmente se interessasse no clube — além dos fã-clubes de John e Gabe, e na melhor das hipóteses alguns curiosos —, mas nada disso a faria ficar menos ansiosa. A pressão sob uma recém-ganhadora de medalhas era muito grande no final das contas, e o treinador esperava que ela realmente fosse boa naquilo, caso contrário mandaria um daqueles treinos intensivos e cansativos que a faziam querer largar o clube por umas boas semanas.

Estavam aguardando a professora de geografia chegar, quando foram surpreendidos por um homem alto, de barba e óculos, que entrou na sala carregando a pasta de chamada que normalmente seria levada pela professora. Todos o fitaram, curiosos sobre quem poderia ser aquela pessoa, até que ele pigarreou.

— Boa tarde alunos.

A turma respondeu um "boa tarde" coletivo um pouco hesitante. Todos ainda se entreolhavam e cochichavam algumas coisas, sem saber quem aquele cara possivelmente seria. Haviam poucos professores substitutos na S.S., e aquele homem com cara de hippie desengonçado definitivamente não era um deles

— Bom, como vocês podem ver, a professora de geografia não veio hoje. Ela saiu de licença por talvez um mês e meio e eu vou assumir o lugar dela enquanto isso. — Falou. Ele tinha um tom de voz grave e calmo. — Antes de mais nada, muito prazer, eu sou o professor Julian. Sou novo por aqui e espero me dar bem com vocês no tempo em que eu estiver pela escola.

Os alunos continuaram em silêncio, apenas fitando o professor novo, que arqueou uma das sobrancelhas.

— Vocês não me parecem ser tão calmos assim. É algum problema comigo, ou...

— Por que a professora saiu de licença? — Donald, um dos representantes de classe e membro do clube de vôlei, quis saber.

— Não sei muito bem. — O tal professor Julian falou, refletindo um pouco. — Me disseram algo sobre ela ter quebrado um dedo, mas eu não tenho muita certeza sobre isso.

— Ah...

E então novamente a turma ficou quieta. Jessica, que até então estava de fone de ouvidos e não tinha prestado atenção em nada do que estava acontecendo, se virou para Natalie e perguntou baixinho:

— Quem é esse cara?

— Substituto. — Respondeu, voltando seus olhos para o cara na frente da turma.

Jessica abriu a boca num "ah..." de entendimento e voltou a atenção aos seus fones mais uma vez.

— Bom, pelo visto vocês não vão se soltar tão cedo, então vamos deixar o dia para as apresentações. Sem matéria por hoje. — O barbudo falou, já deixando os adolescentes um pouco mais animados. — O primeiro da fila, por favor comece a se apresentar. Nome, clube e... o que gosta de fazer. Vamos, vamos.

E então a aula se passou seguindo a brincadeira de apresentações do professor. Quebrando todo o padrão de aulas da Shooting Star, Julian foi interativo e divertido. Ele parecia estar realmente interessado nos alunos, especialmente quando começou a formar casais dentro da classe e quando mostrou grande interesse pelas integrantes do clube de natação. Em suas palavras, era um grande fã do esporte e tinha muito interesse em ver as competições das novas alunas de perto.

Para a infelicidade do segundo ano, a aula de Julian acabou rápido, e o restante do dia seguiu normalmente. Eles tiveram todo tipo de aula chata que pudesse acabar com o clima ótimo que o novo professor tinha deixado — e isso incluía a terrível aula de biologia com o pigmeu raivoso.

Foi quando o último sinal tocou, que indicava a hora do almoço, que as quatro garotas suspiraram juntas de alívio, saindo da sala.

— Ah, temos uma hora até a hora da competição interna de hoje. — Natalie comentou.

— Não sei se eu fico triste ou feliz. — Rachel disse, cabisbaixa.

— Competição? — Jessica perguntou, embora soubesse que talvez abrir a boca para falar sobre o clube não era uma boa ideia. Isso ainda a machucava bastante. — Vocês já vão ter uma competição interna?

— Sim... — Natalie respondeu. — Infelizmente.

— Ah... — A menina coçou a nuca, dando um sorriso triste. — Boa sorte pra vocês.

— Obrigada.

Tina, que até então observava o diálogo, notou o quanto o humor da melhor amiga mudava ao entrarem naquele tipo de assunto. Talvez aquela fosse a hora certa para dar início à conversa que fora tão adiada nos últimos dias pela menina de cabelos loiros.

— Olha, Jess, eu sei que talvez não seja legal conversar sobre isso, mas... — Tina começou a dizer, só que logo foi interrompida.

— Teresa! — Jessica exclamou ao ver de longe uma menina de cabelos cor-de-rosa chamativos. E lá estava ela fugindo, de novo.

A garota, que não estava a muitos metros de distância, abriu um sorriso amigável e se aproximou do quarteto.

— Oi, Jess, estava te procurando. — Falou. — Vamos amoçar juntas hoje de novo?

— Vamos. Eu estava indo pro refeitório agora mesmo com as meninas. — Falou. — A propósito, essas aqui são Natalie, Tina e Rachel, minhas amigas. Pessoal, essa aqui é a Teresa, ela é do clube de dança.

As meninas acenaram simpaticamente, com exceção de Tina, que estava de braços cruzados, indignada pela interrupção. Jessica ia continuar a fugir dos problemas por quanto tempo mais?

— Bom, eu vou almoçar com ela agora. Vejo vocês mais tarde? — Perguntou a loira, como quem não quer nada.

As amigas assentiram, a vendo sair dali com a nova amiga em direção ao refeitório. As outras duas olharam para Tina.

— Eu vou socar a cara da Jessica. — Falou. — Ela realmente largou a gente aqui só porque não queria entrar naquele assunto?

— Foi por isso mesmo? — Natalie perguntou. — Achei que eu estava ficando louca por ter essa impressão.

— Ah, gente, vocês deveriam ser mais compreensivas. É difícil pra ela falar sobre isso ainda, e uma conversa como essas sobre um assunto delicado assim pode piorar tudo. — Rachel falou, dando um tapinha no ombro da garota de cabelos curtos.

Tina suspirou.

— Você tem razão, mas ainda sim precisamos conversar com a Jess. Sério. Até o William já deu conselhos pra ela e nós não conseguimos nem mesmo abrir a boca.

— Eu me sinto uma inútil quando isso acontece, nunca consigo falar nada. — Natalie comentou.

— Às vezes o que ela precisa não são palavras, e sim que a gente esteja lá com ela. — Rachel aconselhou novamente. — Bom, agora vão comer. Eu vou subir pro dormitório agora porque mais cedo Brianna disse que tinha chego uma carta pra mim lá, vejo vocês na competição.

— Certo. — Natalie disse, acenando para a amiga.

Tina, mesmo enquanto ia para o refeitório, continuava pensativa. O que Rae tinha falado fazia algum sentido, de fato, mas era ruim ficar sem Jessica no clube. Queria tanto que aquilo se resolvesse rápido para que a amiga ficasse bem logo e aquela expressão constantemente abatida não aparecesse mais em seu rosto, mas pelo visto as coisas demorariam a voltar aos eixos.

Xx

O vestiário masculino estava num clima agitado. Tinham acabado de ser notificados por Henry que havia mais gente do que o costume nas arquibancadas, e isso os deixava ansiosos. Além disso, as apostas sobre os ganhadores rolavam soltas entre os cinco meninos, e até mesmo o carrancudo Gabe tinha se deixado participar um pouco da parte divertida do time.

Mas, ao contrário do que o imaginado, as apostas não eram sobre quem venceria, era sobre quem ficaria com o último lugar.

— Eu aposto no Henry. — John caçoou. —Ou na Tina.

— Eu aposto no William. — Jamie falou. — Nosso tubarãozinho aqui não é de nada.

William deu uma cotovelada no maior, incomodado por novamente ter o amigo tirando sarro daquele apelido idiota.

— Sempre quis saber o motivo de te chamarem de tubarão... — Henry refletiu, enquanto vestia seu traje de banho.

— Eu também. — John admitiu.

O menino de cabelos pretos suspirou.

— Uns anos atrás, na minha escola antiga, eu tinha sido campeão algumas vezes — Começou a dizer. — e tinha um grupo de garotas que me perseguia pra lá e pra cá. Era tipo o fã-clube do John. Uma delas escreveu no blog do colégio que eu parecia um tubarão por causa do aparelho que eu usava, e acabou que a escola inteira aderiu. Então eu acabei virando o tubarão da natação.

Jamie, talvez pela milésima vez, gargalhou com aquela história, acompanhado de Henry e John.

— "Tubarão da natação" — Henry repetiu, rindo. — Fala sério, isso é péssimo.

— E o melhor de tudo é que está escrito na ficha dele. — Jamie acrescentou. — E no Facebook também. As pessoas dão feliz aniversário pra ele falando "parabéns, tubarão!".

William revirou os olhos, balançando a cabeça em desaprovação.

Logo o treinador apareceu no vestiário, chamando todos os nadadores para a piscina porque a competição já ia começar.

Por outro lado, o time feminino estava tenso. Ou pelo menos dois terços dele. Tina e Natalie estavam extremamente preocupadas porque Rachel ainda não havia chego, não atendia o celular e nem respondia mensagens. A competição ia começar, e a melhor nadadora não estava ali.

Elas saíram do vestiário já com seus maiôs, toucas e óculos. Se aproximaram do treinador, e logo Tina avisou:

— Acho que Rae não vem. Ela não dá sinal de vida.

O técnico Vermont respirou fundo.

— Certo, vamos sem ela. ­— Disse.

Na arquibancada haviam algumas pessoas espalhadas, a menina de cabelos curtos, posicionada na raia 6, observou. Haviam os costumeiros fã-clubes, mais alunos curiosos do que de costume e... o professor Julian? Ele estava ali?

— Ei. — Cochichou para Natalie que passava em direção à raia 2. — O professor legal de mais cedo está ali.

— Não consigo enxergar, minha visão é ruim. — A menina falou.

— Ali, lá em cima. — Apontou para o homem, e ele acenou para elas.

— Ah, é ele mesmo. Esquisito. — Natalie deu de ombros, e então voltou a andar até sua raia.

Ao seu lado, Gabe apareceu. Se posicionou na raia 1, como sempre, e a fitou antes de botar os óculos de mergulho.

— Boa sorte, Campbell. — Disse, num tom tanto desafiador quanto irônico.

— Você vai precisar mais do que eu, Mitchell. — Ela sorriu para ele, colocando seus óculos também.

Com todos já posicionados em seus lugares, a competição não demorou a começar. Os nadadores eram ágeis em suas braçadas, como verdadeiros profissionais, e o som de seus corpos em contato com a água ecoavam no ginásio, acompanhados dos gritos das fãs de Gabe, que estavam tensas com a acirrada distância entre ele e a menina da raia 2.

Era uma competição de tempo, quem completasse o percurso estabelecido no menor tampo, tinha a vitória. Gabe começou liderando. Sem Rachel ali, ele imaginava que seria muito mais fácil conseguir ganhar dos outros, mas não foi bem assim. Natalie passou ele com tanta facilidade quanto poderia ter, o que o deixou perplexo.

Logo atrás deles, estava John, Jamie, William, Tina e Henry. Na segunda ida, dessa vez de costas, John acabou perdendo velocidade e sendo ultrapassado por William e Jamie, que disputavam um terceiro lugar. Tina, por sua vez, não nadava com muita vontade e tinha dificuldade em se manter à frente, por isso não demorou para que Henry tomasse sua posição também.

A competição terminou aos gritos do pessoal da arquibancada: Natalie conseguiu o primeiro melhor tempo, Gabe o segundo, William o terceiro, Jamie o quarto, Henry o quinto, John o sexto, e Tina, como imaginado, por último.

Ao saírem da água, Natalie e Gabe se encararam algum tempo, até o menino murmurar:

— Bom trabalho, novata.

A garota dona do primeiro lugar sorriu para ele quase que involuntariamente e então foi falar com Vermont, que a chamava.

— Você foi ótima, Natalie. — Ele falou. — Sem dúvidas foi bem acirrado, mas foi muito bom. O seu melhor tempo desde o começo dos treinos.

— Obrigada, treinador. — A menina sorriu.

— Por outro lado — O homem virou-se para Tina. — o que houve com você, Christina? Foi péssimo.

A menina suspirou, tirando sua touca.

— É, eu sei. — Deu de ombros. — Já falei, eu sou uma banana.

Ele revirou os olhos.

— Se está indo mal de propósito só pra eu desistir de ter dar as duas modalidades, pode ir esquecendo. Treino intensivo pra você hoje.

Tina arregalou os olhos e pôs as mãos na cintura. Droga, tinha sido descoberta.

— Ah não. — Exclamou, indignada. — Fala sério, Vermont, para de ser velho.

— Eu sou velho e você é uma mentirosa. Agora vai logo tomar uma ducha, vai. — Empurrou a nadadora em direção ao vestiário do clube.

Antes que ela pudesse entrar, uma figura a surpreendeu ao sair correndo das arquibancadas e passar por ela quase a derrubando. Pessoa tinha cabelos compridos, era magra, correu na direção de Jamie e... o abraçou mesmo ele estando todo molhado.

Certo, era Thais.

Tina bufou discretamente ao ver aquela cena, e não se deteve em sair andando para o vestiário. Era uma droga ter um crush com namorada.

Por outro lado, William ria alto.

— Parece que o ilustre Jamie perdeu pro tubarãozinho de nada, né? — O moreno riu alto.

Jamie deu um soco no braço dele.

— Você foi bem, cara. Parabéns. ­— Falou, fazendo um cumprimento com as mãos com o garoto.

— Vocês todos foram ótimos! — Thais exclamou. — Nunca tinha visto uma competição de natação de perto, isso é incrível.

— Você ainda não viu nada. — Jamie disse. — Uma competição de verdade é bem mais emocionante, eu acho. Deveria ir assistir o interescolar.

— Eu vou, pode deixar. — Sorriu.

Xx

Rachel chegou ao ginásio quando todos já não estavam mais lá. Mesmo que o horário ainda fosse de funcionamento dos clubes, Vermont tinha deixado os nadadores livres depois da competição do dia, e por isso nem ele estava por ali.

A garota suspirou, se sentando na beira da piscina com um peso enorme no peito. No final das contas tinha mesmo perdido a competição, mas não era aquilo que a deixava aflita daquela forma. Ah, quem dera se fosse. Se nunca tivesse lido aquelas três palavras:

"Você foi aceita."

Mais cedo, quando foi pegar a carta que tinha recebido, se chocou ao ver que o remetente era a diretoria da Wild Winters Athletic High School, ninguém mais ninguém menos que a maior escola de esportes do mundo, na Noruega. O conteúdo? Um convite para que fosse estudar por lá e ser nadadora no time deles.

Era pra ser uma notícia extremamente feliz, daquelas que te deixa em choque por algumas horas e pulando e gritando de alegria no sofá, se uma das condições não fosse ela se mudar em um mês. Um mês. Ela tinha 30 dias para se decidir, arrumar suas coisas e passar dois anos inteiros num país estrangeiro em outro continente. Não era cruel?

E o pior de tudo era que, como se não bastasse o tempo e a distância, raramente conseguiria visitar sua família, já que a grade escolar daquele colégio era extremamente pesada. Muito mais do que um colégio de elite como a S.S teria.

Respirou fundo, vendo seu reflexo na água da piscina e pensando em como contaria tudo aquilo para suas amigas. Na verdade, não queria contar. Sabia que elas a pressionariam até não poderem mais, porque assim como ela, elas tinham um sonho como aqueles: ir para outro país, nadar num lugar de prestígio. Só que no momento, pressão era tudo que a menina menos queria.

Se assustou ao notar, ainda pelo reflexo na piscina, outra pessoa atrás de si. Era Eric, o rapaz que cuidava do clube.

— Seus colegas já foram embora, nadadora. — Ele disse, se sentando ao lado dela. — Está tudo bem com você?

— Ah... não tenho muita certeza. — Suspirou, apoiando a cabeça nos cotovelos.

— Certo, a piscina pode esperar um pouco pra ser limpa. Quer conversar sobre o que aconteceu?

Rachel ficou algum tempo em silêncio. O universitário de cabelos compridos já estava começando a achar que a menina não estava muito afim de papo, quando ela disse:

— O que você faria se tivesse que escolher entre seus amigos e seu maior sonho?

Eric pensou um pouco enquanto tirava um elástico de seu pulso e prendia os cabelos para trás. Logo respondeu:

— Essa é uma pergunta difícil. Acho que depende muito das circunstâncias.

— Como assim?

— Depende do que está envolvido. Por exemplo, se você escolher seu sonho você nunca mais vai ver seus amigos? Ou se você escolher seus amigos, você nunca vai arranjar outra oportunidade de seguir o sonho? Isso é bem circunstancial.

Rachel deu de ombros.

— Faz sentido. — Falou, e então voltou a suspirar. — Eu não consegui vir pra competição de hoje. Você sabe quem ganhou?

O rapaz bronzeado assentiu.

— Foi uma das duas garotas que estavam nadando, a da raia 2.

— Ah, a Natalie. — Sorriu. — Bom, pelo menos o idiota do Gabe perdeu pra ela. É reconfortante saber disso, no final das contas.

Mais um momento de silêncio, apenas com o som costumeiro do filtro da piscina fazendo seu trabalho, até ser a vez de Eric falar alguma coisa:

— Eu estava lá em cima assistindo a competição com os outros, seu time é bom. — Disse.

— É, eles são mesmo. — A garota suspirou. ­— Não quero largá-los.

— Olha, vai por mim, quanto mais você pensar sobre isso, mais vai ser difícil de tomar uma decisão. Não sei exatamente o que está rolando, mas ficar se remoendo sem tomar uma decisão é bem mais torturante. Deixa seu coração escolher e vai.

— Eu tenho medo dele escolher errado.

— Não vai não. — Ele deu um sorriso reconfortante e um tapinha no ombro da menor. — Vou terminar de limpar essa piscina aqui agora, mas se quiser conversar pode dizer. Não tenho os melhores conselhos mas esse ouvido aqui está sempre disponível pra desabafos.

Rachel riu, assentindo. Ela então se levantou do chão do ginásio e se despediu, não querendo causar mais incômodo para o cara de cabelos bonitos que já tinha tomado alguma parte de seu tempo para ajudá-la.

Tá, não tinha sido uma ajuda tão grande assim. Mesmo que tentasse seguir o conselho de não ficar se remoendo, uma parte mais forte de Rachel insistia em fazê-la entrar naquela linha entre felicidade e desespero. Talvez o desespero fosse quem a puxasse mais.

Voltou para o dormitório torcendo para não encontrar com ninguém, e logo se jogou em sua cama para dormir e esquecer tudo aquilo. Suas colegas de quarto felizmente demorariam a chegar, por isso tinha tempo o suficiente para pensar — ou se desesperar — sozinha.

 


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