Swimming Club escrita por Lis Sampaio


Capítulo 9
Capítulo 9




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/775974/chapter/9

Dias B talvez fossem bem mais desgastantes do que dias A. Acordar cedo e ir direto para o clube, pra depois ir para as aulas extras, seguidas das aulas normais e só sair de lá às seis da tarde era no mínimo cansativo.

O sinal tinha acabado de bater quando Rachel, Jessica, Tina e Natalie saíram do prédio principal. O grupo estava com uma aura horrível e nem tentavam disfarçar o mal humor – quatro cabeças cheias de problemas e conflitos internos provavelmente não teriam muito espaço para se preocupar com isso.

Natalie talvez fosse a menos pior delas – seu rosto ainda esboçava um pequeno sorriso e estava tentando se animar lembrando da competição que ganhara anteriormente, mesmo estando acompanhadas de suas amigas num péssimo estado de espírito. É, talvez esse fosse seu maior problema no momento. Exceto isso, nada mais poderia frustrá-la depois de bater Gabe Mitchell na piscina.

— Meninas — Rachel chamou quando pararam numa praça, acordando todas de seus pensamentos. — Eu tenho que ir pra um lugar agora. Vejo vocês depois, certo?

Ela acenou rapidamente e subiu pelo caminho de pedra, que ia em direção ao lado oposto em que elas estavam. Jessica, curiosa sobre a atitude da garota, olhou para as amigas.

— Rachel está estranha. Alguém sabe o que houve com ela?

Tina deu de ombros.

— Sei lá. Ela está assim desde ontem. — Respondeu. — Faltou na competição, sumiu o resto do dia e quando encontramos ela de novo no clube hoje, não quis nem tocar no assunto.

— Calma aí, ela perdeu a competição ontem? — Jess questionou e as duas garotas assentiram. — Estou chocada. Quando foi a última vez que a Rae faltou em uma competição?

— Nunca. Ela nunca faltou nenhuma vez desde o primário.

Natalie cruzou os braços, desacreditada.

— Fala sério, ela nunca perdeu uma competição? Então deve ser um assunto grave mesmo. — Observou.

— Completamente. — Jessica disse. — O que ela disse quando vocês perguntaram sobre ter faltado?

— Disse algo como "ah... tinha me esquecido disso" e "acabei cochilando e perdi a hora" — Tina imitou, fazendo aspas com os dedos. — Ela deve achar que nós somos muito burras.

— Deve mesmo. Melhor ficarmos de olho nela pra tentar entender o que aconteceu, porque falar a gente sabe que ela não vai. — Jess concluiu, recebendo a aprovação das duas nadadoras.

Continuaram discutindo sobre o assunto sem tirar muitas conclusões no final, até que o celular de Tina tocou estrondosamente e atrapalhou a conversa. Na tela, o nome de Alice brilhava.

— Ah, fala sério. — Resmungou, sendo fitada pelas outras. — Conselho estudantil. De novo.

Elas reviraram os olhos, já cientes do quanto Tina detestava quando aquelas pessoas ligavam em seu celular. A menina de cabelos curtos então se afastou, para atender:

— Alô.

— Reunião agora.

E então a chamada foi encerrada repentinamente. Tina bufou em descontentamento. Não era que odiava completamente estar no Conselho; era nobre representar o clube, legal fazer as coisas pra escola, organizar eventos e etc, etc, mas a frequência daquelas reuniões de emergência a irritava – a arrogância exagerada da presidente exigente também poderia ser considerada um fator bem relevante para fazê-la parar de frequentar a salinha de reuniões.

— Tenho que ir — Avisou para as amigas. — Desculpa pelo abandono, Alice é uma chata.

Elas assentiram, sem objeções, e então Christina saiu sem nenhuma animação ou preparo psicológico para enfrentar mais uma competição de quem dorme primeiro.

— Ótimo, você veio. — Alice falou quando a viu passar pela porta e se sentar em uma das cadeiras.

— Também né, não tive opção. ­— Desdenhou. — O que houve dessa vez? Já vão me expulsar definitivamente do Conselho Estudantil? Por que olha, eu ainda tenho minha pasta de ideias e...

— Não é isso Nolace. — Luca a interrompeu. — Te chamamos aqui pra te parabenizar.

Tina por alguns segundos os encarou, sem entender muito bem o que estava acontecendo.

— Oi?

Alice limpou a garganta.

— Bom, te chamamos aqui pra mostrar pra você que você está seguindo o caminho certo no auxílio do seu amigo Alex. — A ruiva falou. — Os professores nos notificaram que ele compareceu às aulas normalmente sábado e hoje.

Um sorriso alegre se abriu no rosto da menina de cabelos curtos.

— Ele foi pra aula hoje? — Questionou, e a líder do conselho assentiu.

— E se comportou muito bem por sinal. Imaginávamos que ele poderia dar algum trabalho, mas foi ótimo.

E então a expressão de Tina se fechou.

— Falando assim parece que estão fazendo experimentos em um animal. Vocês conseguem ser bem insensíveis com pessoas que não são engomadinhas que nem vocês. — Defendeu o amigo. — Alex não é um vândalo só porque deixou de fazer as coisas na escola por um período.

Os membros do conselho, seis no total daquele dia, se entreolharam. Luca anotou alguma coisa em sua prancheta, que por sinal parecia ser embutida nele desde o primeiro ano, e voltou a fitar Tina.

— O que foi? — A menina questionou.

— Você não pode se envolver tanto assim com ele, você sabe, né? — Dinah, uma das garotas do conselho, disse. — Vai ser difícil contar pra ele depois que só entrou nessa por causa do conselho se continuar assim.

— Eu não vou contar nada pra ele. ­— Rebateu.

Alice, por sua vez, respirou fundo e a olhou com uma pontada de desprezo, como sempre fazia.

— Uma hora ou outra vai ter que contar. Então... nós já terminamos por agora. Seja lá o que você está fazendo pra ajudar o Alexander, pode continuar a fazer e procure não se envolver. Está dispensada, Christina.

Tina saiu da sala batendo os pés. Um suspiro longo e cheio de cansaço fugiu de seus lábios, soprando seu cabelo da frente do rosto, assim que atravessou o pequeno pátio da administração da escola.

Xx

Natalie estava sozinha, andando pelos arredores da escola com a cabeça nas nuvens, quando se deu conta de que tinha ido parar na porta do clube de natação. Já tinha virado um verdadeiro costume caminhar até aquele lugar, era como sua segunda casa. Suspirou, se sentando em um dos degraus da escada e olhando para o céu. Eram oito horas – um dia de lua cheia ótimo pra observar o céu e procurar constelações – já tinha jantado com as meninas e feito suas tarefas das aulas, e por isso estava absolutamente desocupada.

Relaxou seus ombros, ainda pensando nas coisas que tinham que fazer no restante da semana, quando ouviu um barulho vindo de dentro do ginásio. As luzes estavam acesas, imaginava antes que poderia ser porque Vermont estava ajeitando uma papelada das competições àquelas horas, mas então o ruído pareceu se transformar em uma conversa afobada.

Se atentou ao som e concluiu que aquilo não definitivamente não era uma conversa. Era mais uma discussão, uma briga. Quem estaria lá dentro? Pensou em se esgueirar pela porta e ir ver o que estava acontecendo, mas antes disso foi puxada bruscamente por alguém que a arrastou para fora das escadas, em direção aos arbustos que cobriam uma parte da grama.

Se soltou com dificuldade da pessoa, até ver que se tratava de Gabe. O que raios o garoto estava fazendo a puxando para trás de um monte de mato? Ela o olhou incrédula, e já ia começar a discutir com o menino, quando ele sussurrou:

— Fica quieta, eu preciso ouvir. — Disse aquilo num tom autoritário, o mesmo que usava para dar ordens ao time, se levantando um pouco para ter a visão da porta de vidro do clube. O garoto alto ainda segurava seu pulso, mas provavelmente não tinha percebido isso.

— Hã? Ouvir o quê? — Natalie questionou, também sussurrando. — Por que diabos você me arrastou pra cá?

— Quero ver se eu estou certo sobre uma coisa, se você tivesse entrado teria atrapalhado tudo.

A menina, mesmo que sem entender absolutamente nada, ficou em silêncio. Ficaram esperando alguns minutos escondidos, até que as luzes de dentro se apagassem e o treinador Vermont saísse sozinho pela porta de vidro, carregando sua bolsa e alguns papéis na mão.

— Merda. — Gabe falou baixinho, mas o homem a alguns metros deles pareceu escutar, já que se virou e olhou ao redor por alguns segundos. Eles se encolheram no arbusto até ouvirem o som dos passos no chão de pedra se distanciar.

Os dois adolescentes só saíram de trás dos arbustos altos e bem cortados quando já não havia mais sinal do treinador de olhos claros por ali. Folhas e galhos pequenos enfeitavam o cabelo deles e Natalie até quis rir vendo o imponente capitão daquele jeito, mas se conteve para dizer:

— Explique-se. — Cruzou os braços. — O que raios foi tudo isso?

— Não tenho muito o que explicar. — Deu de ombros. — Só acho que tem alguém vindo pro clube fora de horário pra ir atrás do Vermont.

Natalie olhou pra ele com uma das sobrancelhas arqueadas, se segurando para não rir.

— Então nosso capitão faz do tipo fofoqueiro? Oh, bom saber. — Caçoou.

Gabe revirou os olhos.

— Nada disso. É que eu acabei ouvindo ontem depois das competições Vermont discutindo com alguém. A mesma discussão se repetiu hoje depois do nosso horário de treino, e agora de novo. — Respondeu. — O problema é que eu nunca consigo ver quem é a pessoa.

Natalie parou um pouco para pensar. Era fato que havia mais uma pessoa ali e provavelmente numa briga com Vermont, Gabe tinha razão nessa parte, mas o que isso tinha a ver com ele?

— Você é bem intrometido. — Concluiu.

Gabe cruzou os braços.

— Eu sinceramente não ligo para o que você acha sobre mim, Campbell. — Disse, fazendo menção de sair andando, mas logo a menina segurou seu braço.

— Calma. Se tinha mesmo alguém lá, o que é quase certeza porque eu ouvi uma discussão e ninguém em sã consciência discute sozinho, onde essa pessoa foi parar? Não saiu junto do treinador nem nada, isso é estranho.

O menino deu de ombros.

— O ginásio tem várias entradas.

— Mas essa pessoa ia sair separada dele por quê? Essas horas nem passam pessoas por aqui.

— Aposto que eles ouviram seu escândalo.

— Ou ouviram o bonitão me puxando pro meio dos arbustos. — A menina fez uma careta de desprezo pra ele.

— Que seja. Eu só sei que isso tudo é muito estranho.

— Por que alguém andaria atrás do Vermont tão insistentemente?

— Eu não sei. — Disse, pensativo, mas logo em seguida lançou a Natalie seu melhor olhar sarcástico: — Pra quem me chamou de intrometido, você parece bem interessada em descobrir quem estava lá dentro.

— Aproveita enquanto eu estou comprando sua paranoia, Mitchell.

Natalie respirou fundo, tentando juntar algumas informações. Tinha ouvido a conversa, mas não tinha conseguido entender uma palavra sequer, por isso nem fazia ideia de quem poderia estar ali.

Depois de uns minutos a fio em silêncio, falou:

— Certo, é verdade, nada disso é da nossa conta. — A menina se rendeu. Os problemas do treinador eram problemas do treinador.

— Tem razão, que seja. — Gabe balançou a cabeça. Aquele com certeza não era o comportamento que esperariam de um capitão – e tinha feito questão de agir assim logo em frente a ela. Repentinamente, o rosto do nadador ficou vermelho. — Eu vou pro dormitório agora. Desculpa pelo... hã... arbusto.

E dito isso, o garoto saiu em meio às árvores da escola na direção do dormitório masculino. Natalie balançou a cabeça em desaprovação. A cada dia, Gabe Mitchell parecia ainda mais esquisito.

Xx

Já era mais de seis e cinquenta da manhã, e Jessica ainda estava vestindo o uniforme da escola. Tinha acordado atrasada, não ouviu o alarme, não ouviu Natalie e Tina a chamarem, e agora estava se preparando completamente em cima da hora.

— Podem ir sem mim. — Disse às meninas, que a esperavam sentadas na cama de Tina. Rachel também estava com elas.

— Não tem problema, a gente te espera, Jess. — Natalie falou.

A menina cruzou os braços, e revirou os olhos.

— Vão logo antes que eu expulse vocês daqui. Sério. — Lançou um daqueles seus olhares mortíferos. — Vocês não vão ficar sem comer por minha causa.

As três se entreolharam.

— Eu nem como de manhã. — Tina disse. — Eu te espero aqui então.

— Fala sério, Christina, para de fogo e vai logo. Eu encontro vocês na sala. — Disse uma última vez e as garotas suspiraram. Era engraçado como Jessica sempre agia como a mãe do grupo.

As três se levantaram e saíram do dormitório relutantemente depois da insistência de Jess. A loira, por sua vez, amarrava com dificuldade os cadarços do sapato.

— Merda. Ainda tenho que passar maquiagem. — Praguejou e então se levantou correndo em direção ao banheiro.

Pegou um batom escuro que tinha na porta do espelho e passou rapidamente sem muito cuidado. Logo em seguida penteou mais uma vez os cabelos e correu de volta para o quarto, pegando em sua prateleira os materiais do dia e colocando todos na bolsa.

Quando saiu do dormitório, faltava pouco tempo para o sinal bater. Correu até o refeitório já quase vazio e, como imaginado, não encontrou nenhuma de suas amigas por lá. Quando estava pensando em ir direto pra sala, esbarrou em alguém sem querer.

— Ah, Jessica. — A menina de cabelos rosados disse ao ver a colega de clube. — Desculpa aí.

— Tudo bem, eu que estou distraída. — Falou, e então notou que a menina tinha em mãos uma bandeja com iogurte, achocolatado, pão e uma maçã. — Vai comer agora?

— Vou. ­— Deu de ombros. — Nunca chego cedo na aula mesmo, então tanto faz. Quer sentar comigo? Estou sozinha agora, meu namorado sumiu na fila. Deve ter ido pra sala.

— Ah, tá bom. Embora eu ache que não vou comer, então...

Teresa tirou de sua bandeja o copo de achocolatado e deu na mão de Jessica.

— Pronto, toma isso. — Disse.

Elas então se sentaram em uma mesa e começaram a conversar. Mesmo que faltasse três minutos para o sinal bater, que mal faria um pequeno atraso, não?

— Você conheceu o professor novo? — Jessica questionou à colega de cabelos cor-de-rosa enquanto tomava um gole do leite no meio da conversa.

— Julian? — Indagou, dando uma colherada no pote de iogurte sob sua bandeja. Já tinha comido o pão e a maçã, diferente da loira, que demorava eternamente pra tomar um simples copo de leite.

— Ele mesmo.

— Sim, mas não fui com a cara dele. — Falou. — Achei legal de mais.

Jessica riu.

— Eu também tive essa impressão, mas o achei simpático. As vezes ele cumprimenta os alunos no corredor, coisa que a maioria dos professores nessa escola não estão acostumados a fazer.

— Pura verdade. Eles não têm muita educação não, acho isso um horror. — Fez uma expressão de desgosto.

A menina de cabelos loiros arqueou uma das sobrancelhas, curiosa.

— Você não gosta dos muito simpáticos e... nem dos que não cumprimentam. Estranho.

Teresa deu de ombros.

— Nunca me dei muito bem com professores. É quase um dom, sabe? — Riu. — Mas e as coisas com suas amigas, como andam?

Jessica quase engasgou com seu leite de chocolate.

— Como assim? — Perguntou.

— Acabei percebendo da outra vez que você praticamente fugiu delas no meio de uma conversa. Isso significa que há algo errado, né?

A menina de cabelos loiros coçou a nuca. Não sabia dizer se Teresa percebia as coisas rápido demais ou se ela quem era muito óbvia, mas mesmo assim aquelas palavras a deixaram surpresa.

— Não posso dizer se realmente há algo errado, mas... Ah, sei lá. — Deu de ombros. — É só que elas ficam tentando entrar numa conversa sobre uma coisa delicada pra mim, Tina principalmente. Ela acredita no tal "poder do diálogo" e acha que só trocar algumas palavras pode resolver uma situação complexa.

Teresa pensou um pouco.

— Acho que dialogar é bom quando tem um problema complexo envolvido. — Deu de ombros. — Mas se você achar que é uma coisa muito delicada, deveria avisar às suas amigas.

— Essa é a pior parte. Não quero entrar no assunto. — Resmungou.

— Bom, Jessica, vou ser sincera com você. Mesmo se continuar fugindo desse assunto, ele não vai desaparecer. Não sei nem do que se trata, mas com certeza nada vai simplesmente sumir sem que as coisas sejam resolvidas do jeito certo.

Jess suspirou fundo e abaixou a cabeça sobre a mesa. É, Teresa estava certa, e ela sabia disso. Não poderia continuar a fugir daquela forma, embora ainda não soubesse bem o que fazer.

O sinal para a aula tocou logo em seguida, e as duas se levantaram da mesa não muito animadas para irem para suas respectivas aulas. Saíram juntas com pressa para o prédio principal e se despediram ao chegarem no corredor, já que Teresa teria aulas no segundo andar, e então Jessica seguiu sozinha até a terrível sala de biologia.

Xx

— Notei que uma de nossas nadadoras está muito triste hoje. — Julian disse, parando em frente à mesa de Rachel. O período de aulas tinha passado voando e aquela já era a última aula do dia, felizmente agraciada pela presença do novo professor de Geografia, que depois de passar um vídeo e um questionário, deixou todos livres. — O que houve, hã... Rachel, né?

A menina pareceu acordar de repente de um sono profundo. Estava pensativa desde o começo do dia, ainda pelo mesmo motivo que antes, só não sabia que estava com uma cara tão mal no nível de até mesmo o professor novato perceber.

— Hã? Ah, eu estou bem. — A menina mentiu, dando de ombros. — Só estou com sono.

— Não parece, mas não vou te fazer falar sobre os seus problemas na frente da sala toda. ­— Deu um tapinha no ombro dela. — Só quero que saiba que as coisas se resolvem com o tempo. Podem anotar isso no caderno, alunos, o professor de Geografia está dando uma aula de filosofia agora. Se o problema for homens, cara Rachel, saiba que eles sempre são um problema. 

Todos os alunos da sala riram com o comentário do professor. Rachel, em seu canto, suspirou. Quem dera se o problema fosse garotos.

Logo o homem barbudo andou até a mesa de Natalie e sorriu para a aluna.

— E essa aqui foi nossa ganhadora de dois dias atrás, não? — Questionou. — Meus parabéns, você foi ótima naquela competição.

Natalie corou e sorriu timidamente, agradecendo. É verdade, tinha se esquecido que Julian aparecera lá no ginásio naquele dia, durante a competição. O primeiro professor que decidia ir ver uma competição interna do clube, de acordo com Christina.

— Eu gosto bastante do clube de natação. ­ — O barbudo falou. — Talvez vocês me vejam lá frequentemente durante as competições no interescolar. Quem sabe eu consiga dar um jeitinho de ver o time treinando também, né?

Tina, de sua mesa, riu.

— Impossível. O treinador não deixa ninguém de fora entrar durante os treinos. — Ela falou.

— A gente dá um jeitinho. — Brincou, dando uma piscadinha.

Enquanto isso, Rachel ainda suspirava, deitada na carteira, tristemente. Não conseguia relaxar de forma alguma e parar de pensar naquela maldita carta, o que raios estava acontecendo com ela? Um dos motivos pelo qual era conhecida era por ser uma pessoa completamente "de boa", mas agora as coisas estavam ficando tão complicadas, que até mesmo esse título seria capaz de perder.

Certo Rae, dizia para si mesma mentalmente não precisa fazer sua escolha agora. Lembre-se do que o Eric te disse.

Mas mesmo esse seu mantra não conseguia deixá-la menos triste. Não importa o quanto pensasse no assunto, nunca conseguia escolher entre seus amigos e seu futuro. Aquelas eram duas coisas pelas qual sempre prezou muito, por isso se tornava cada vez mais difícil tomar uma decisão.

Mentalmente decidiu que deveria ir procurar Eric de novo e pedir conselhos depois das atividades do clube. Embora ele fosse só o cara que limpa a piscina, ela sabia que ele entendia muito mais da vida do que ela.

Xx

O sinal do almoço tinha acabado de bater quando Tina saiu voando sem nem se despedir direito das amigas para falar com Alex na quadra. Não via o amigo desde sábado, e ainda não sabia muito bem como falaria com ele depois de fazer a incrível descoberta sobre suas medalhas, mas mesmo assim sabia que devia conversar. Apesar de tudo, estava orgulhosa dele. Saber que tinha ido às aulas nos últimos dias a deixou radiante no dia anterior, e precisava parabenizá-lo pelo grande passo.

Quando estava se aproximando do lugar cheio de árvores onde ficava a escada para o esconderijo compartilhado dos dois, Christina se deparou com uma figura magra e de uniforme alguns metros à frente.

Se aproximou devagar, pronta para dar um susto no menino, quando foi pega de surpresa por ele, que se virou e exclamou:

— Ei!

Christina se sobressaltou com aquilo, dando alguns passos pra trás com a mão no peito pelo susto. Alex ria da cara da menor.

— Acha mesmo que eu não ia te notar aqui? — Questionou.

— Acho. ­— Ela disse, desapontada. — Não sabia que tinha um sexto sentido.

— Ou olhos pra ver a sua sombra se aproximando. — Ele apontou para o chão, onde a luz do sol do meio-dia fazia o contorno exato da menina no chão.

— Merda.

Novamente Alexander riu.

— Você estava indo pra quadra? — Questionou e a menina assentiu. — Que coincidência. — Brincou.

— Eu até apostaria uma corrida com você até lá, mas esqueci que estou falando com um membro do clube de atletismo. — A menina riu, acrescentando mentalmente "e que é medalhista de ouro".

— Membro afastado, você quer dizer.

— Ainda assim é um membro.

O garoto de óculos riu, balançando a cabeça em desaprovação. O casal de amigos subiu as estreitas escadas para a velha quadra, tomando cuidado ao ver se não tinha ninguém ao redor deles. Largaram suas mochilas no chão e se sentaram, como de costume.

— Você sumiu. — Comentou o garoto.

— Awn, foram só dois dias e você já sentiu minha falta? — Questionou Tina, apertando as bochechas de Alex e o fazendo gargalhar.

— Certo, chega. Como foram esses dias longe do seu melhor amigo? ­— Entrou na brincadeira.

— Foram normalmente ruins, o de sempre. — A garota deu de ombros. — Incluindo o fato de que Jamie Crowley me viu perder epicamente na competição interna do clube ontem. Acho que ele me acha um nada.

De repente a expressão de Alex mudou para uma cara esquisita. Parecia desconfortável ou algo assim.

— Ah, Jamie... — Falou, sem muita emoção. — Mas eu não entendi a parte da competição. Como assim perdeu epicamente?

Christina mordeu o lábio, se segurando pra não rir.

— Então, é uma história engraçada. — Começou a dizer. — Bom, teve uma competição interna no clube esses dias e eu tentei ficar numa posição bem baixa de propósito para o treinador me tirar de alguma modalidade no interescolar. Na verdade foi tudo burrice minha, porque era óbvio que o Vermont não ia facilitar pra mim, mas aí acabou que eu realmente fiquei em último e... ganhei um treino intensivo de brinde.

— Fala sério, eu não acredito nisso. ­— Ele riu, tampando o rosto com as mãos. ­— Ele pelo menos te tirou de uma modalidade?

— Não, infelizmente, mas não custa tentar. — A menina deu de ombros. — E seus dias, como foram?

O menino então suspirou, com um pequeno sorriso no canto dos lábios.

— Melhores do que o esperado. Tenho ido pras aulas e... acho que as coisas estão correndo bem. — Disse.

Mesmo já sabendo da notícia, Christina abriu um enorme sorriso para Alexander, que corou sem saber muito o motivo.

— Você tá mesmo indo pras aulas? — Perguntou, recebendo um aceno positivo de cabeça como resposta. — Isso é ótimo, Alex! E seus amigos, falaram com você?

Aquela pergunta fez o sorriso do garoto murchar um pouco.

— Não. Não acho que vão tão cedo, mas pelo menos as pessoas da sala estão me tratando normalmente. — Deu de ombros. — É estranho falar isso, mas é praticamente por sua causa que eu estou parando de matar aulas. Você me motiva bastante, Tina.

As bochechas da menina de cabelos curtos começaram a tomar uma cor mais avermelhada. Era a primeira vez que ouvia algo assim de alguém.

— Isso é bom?

— É sim. — Ele sorriu para ela. — Quer ouvir música? — Estendeu um dos fones que estavam pendurados em seu ouvido para ela.

— Eu passo. Seu gosto musical é ruim. — Brincou. — Só ouço se você deixar eu escolher a música.

Alex riu, balançando a cabeça em desaprovação.

— Tudo bem então, Sra. bom gosto musical, põe uma música aí. — Estendeu o celular para Tina, que deu um sorriso maquiavélico.

Ela colocou uma música qualquer, que não fosse nenhum daqueles raps esquisitos que Alexander curtia, e lá eles passaram o restante do tempo do almoço. Era engraçado, Tina notou, que quando estava com Alex o tempo passava mais devagar. Talvez aquilo fosse devido ao fato de ficarem sempre num mundo à parte ao restante das pessoas, reclamando sobre a vida e as vezes só olhando pro nada e apreciando a companhia um do outro; ou então talvez fosse porque ele era um cara que realmente pensava como ela na maior parte do tempo.

De toda forma, era bom conhecer alguém assim.

xx

Rachel estava nadando no clube, sozinha, quando a pessoa que ela esperava apareceu. Faziam alguns minutos que o horário de atividades tinha sido encerrado e o treinador Vermont a tinha deixado praticar mais um pouco sozinha, por isso Eric estava lá.

Talvez parecesse um pouco insensível de sua parte ir atrás do mais velho apenas para pedir conselhos — o que de fato era —, mas não haviam outras opções para Rachel. A menina estava sozinha daquela vez, afinal de contas ainda não tinha tomado vergonha na cara o suficiente pra conversar com as amigas. Obviamente essa vergonha na cara não viria tão cedo, né.

— Acho engraçado te ver na piscina. — O rapaz comentou, se sentando na borda enquanto a menina ainda estava lá dentro.

— Por quê? — Ela questionou, curiosa.

— Porque parece que você se sente mais confortável aí dentro do que fora. — Riu. — Na verdade, todos vocês nadadores parecem. No dia da competição eu acabei notando isso, estavam todos tão a vontade...

Rachel riu.

— Também né, anos enfiados na água cheia de cloro. — Brincou, se aproximando de onde ele estava e saindo da água, tomando cuidado para não molhar o universitário de cabelos compridos.

— Então, uma pergunta. — Ele disse. — Como vão as coisas com sua decisão super importante?

Rachel suspirou.

— A mesma coisa. Inclusive eu queria saber se você tem algum conselho bom o suficiente pra me tirar desse buraco, porque olha...

— Bom o suficiente eu não sei se é, mas eu estava pensando nessa situação ontem, e acabei me lembrando de uma coisa que minha avó cigana me dizia quando eu era mais novo.

— E o que é que ela te dizia?

— "O que é pra ser, será". — Eric falou, fazendo aspas com os dedos. — Isso quer dizer que não importa que caminho você tome agora, as coisas sempre vão tomar seus eixos depois.

Rachel pensou um pouco.

— Bem vago.

— É, pois é. Por algum motivo eu imaginei que isso fosse se encaixar na situação, mas como eu não sei muito sobre o que está acontecendo, posso estar enganado. — Deu de ombros.

— Não, você está certo. Se encaixa na situação. — Disse, reflexiva. Logo deu um longo suspiro. — Pra ser sincera, eu não queria falar isso pra ninguém, mas... naquele dia eu recebi uma carta de uma escola de esportes incrível no exterior, avisando que eu fui admitida lá.

Eric fez uma expressão mista em surpresa e contentamento.

— Mas...?

— Mas eu tenho um mês pra decidir se eu vou pra lá, passar esse ano e o outro longe de todo mundo, ou se fico aqui mesmo. — Suspirou. — Essa é a pior decisão que eu já tive que tomar em toda a minha vida.

— Na vida nós temos que tomar várias decisões difíceis. Mas relaxa, que quanto mais difícil, melhor o resultado. — Sorriu reconfortantemente. — É como dizem, águas mansas não fazem bons marinheiros.

Rachel riu com aquilo. Era verdade. Embora fosse difícil escolher, sabia que tomaria a melhor decisão para si no final. Ou pelo menos tinha fé nisso.

— Obrigada, você é um ótimo conselheiro. — A menina sorriu.

— Dou os créditos à minha avó. — Riu. — Bom, se você for mesmo pro exterior, não esqueça de me trazer uma lembrancinha na volta. — Levantou e abaixou as sobrancelhas, arrancando risadas da menina.

— Pode deixar, eu definitivamente não vou esquecer.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Swimming Club" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.