Swimming Club escrita por Lis Sampaio


Capítulo 6
Capítulo 6




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O clube de natação amanheceu apressado. Mal tinham chego e o técnico já mandara todos os membros pra uma sessão de exercícios fora d'água para se aquecerem e acordarem rápido.

Tina estava preocupada, não conseguia se concentrar muito bem nas flexões que estava fazendo e o fato de não ter conseguido conversar com Jessica desde a noite anterior continuava martelando em sua mente. Assim que chegara do jantar encontrou a menina dormindo, e na manhã seguinte, quando se levantou, a amiga já não estava mais no quarto. Isso a preocupava, já que pensou que ter ido com ela no jogo tinha deixado as coisas normais novamente.

Nunca foi boa com palavras, disso ela sabia, mas queria falar com Jessica mesmo assim. Era horrível ver sua amiga desde o ginasial tão distante por causa de um erro de terceiros, não queria que tudo voltasse a ser como as duas últimas semanas tinham sido.

— Tina! — A voz do treinador acordou a menina, a fazendo dar de cara com o chão no meio de uma flexão.

— Ai... — Resmungou, se levantando enquanto passava a mão no queixo dolorido. — O que foi?

— Você está prestando atenção no que eu estou falando? — O homem questionou, de braços cruzados. O time todo fitava a menina.

— Absolutamente não. — Respondeu, sincera. — Pode repetir?

— Já fazem alguns minutos que eu mandei trocarem a flexão pra polichinelo, e você foi a única que continuou aí. — Vermont disse em desaprovação. — Como acha que vai ganhar em mais de uma modalidade assim?

Christina riu.

— Relaxa, eu não vou nem entrar em mais de uma modalidade mesmo. — Disse.

— Vai sim. Eu te disse semana passada, você vai fazer crawl e peito na competição, não se lembra?

A menina arqueou uma das sobrancelhas.

— Não, eu não me lembro. Não sou eu quem faz peito, isso era a parte da Jess.

— Que eu passei pra você, porque Rachel já tem modalidades demais e Natalie ainda é uma novata. — O homem de olhos claros falou.

— Sem chances, eu não vou fazer isso. — Christina cruzou os braços. — Eu não me lembro de ter concordado com isso, não tem a mínima possibilidade de uma banana que nem eu entrar em duas modalidades.

— Tem sim, e aliás você já está inscrita. Sem reclamações, pra piscina agora, todos. Ah, e não se esqueçam que semana que vem vamos fazer uma pequena competição de tempo ente vocês, então aproveitem hoje pra treinar.

Tina respirou fundo e revirou os olhos. Vestiu sua touca de natação e foi para uma das raias, mas não sem antes ser chamada por Jamie:

— Ei, Tina. — O menino disse. A garota estava com um pé atrás com ele desde o dia anterior, quando aparecera com Thais, por isso não esperava que ele a chamasse assim. — Você vai bem sim, relaxa.

Suas bochechas formigaram.

— ... Hã... Embora eu não acredite muito nisso, obrigada Jamie. — Ela falou timidamente.

— Você é boa, Tina, é só continuar treinando que vai ser fácil ir bem nas duas. — Ele deu um tapinha no ombro da colega e então se dirigiu à raia ao lado.

Ótimo. Perfeito. Tudo o que Christina precisava agora era daquele cara a elogiando. Como se não bastasse as mil e uma preocupações que a rodeavam, agora mais uma coisa tinha que aparecer pra desconcentrá-la?

Pulou na piscina pra tentar fugir dos pensamentos. Talvez a água gelada pudesse acordá-la melhor.

Enquanto isso, na raia 4, a campeã do time de natação também estava completamente imersa em pensamentos. Rachel completava o percurso estabelecido pelo treinador com a mente flutuando em questionamentos sobre o interescolar que estava pra chegar. Será que ela seria boa o suficiente de novo? Era provável que não ganhasse outra medalha, imaginou, já que o mesmo raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar.

Obviamente isso não servia para o Michael Phelps, mas na sua vida talvez aquilo fosse bem cabível.

Nos últimos dias, tinha pensado muito sobre aquilo. Também tinha pensado milhares de vezes na sua falta de problemas e dinâmica na vida. Quer dizer, enquanto suas amigas estavam cheias de mil e uma coisas para pensar, como traumas, garotos, problemas de recém-chegada e afins, ela só tinha... bom, a competição. Nada de garotos, nada de problemas, apenas sua vida normal. Talvez isso fosse bom por um lado, mas não deixava de ser frustrante. Se tivesse um diário, por exemplo, sempre relataria as mesmas coisas. Nem mesmo as aulas extras conseguiam mudar sua rotina, já que em começo de bimestre os professores não se atreviam a passar mais que lições normais.

Parou quando completou seu percurso e saiu da água. O treinador a mandou descansar por alguns minutos, a parabenizou pelo desempenho como sempre, e ela se sentou ao lado das pranchas.

Estava ainda viajando completamente, quando se assustou com uma figura masculina aparecendo na sua frente e balançando uma das mãos em frente ao seu rosto.

— Ei, nadadora. — O cara de cabelos compridos e pele bronzeada chamou. Ela semicerrou os olhos, tentando descobrir de quem se tratava aquela pessoa desconhecida.

— Oi? — Disse, ainda imaginando quem poderia ser aquele homem. Não aparentava ser muito mais velho, embora continuasse a ser um completo estranho.

— Hã... pode me dar licença? Preciso organizar essas pranchas. — Ele falou.

— Ah, certo, mas... quem é você? — Questionou finalmente. — Aqui a entrada só é permitida pra membros e funcionários.

— É isso aí, eu me encaixo na última opção. — Respondeu, rindo. — Não sei se apresentam o cara que limpa a piscina por aqui, então muito prazer, eu sou Eric. Cheguei hoje e... bom, sou tipo o zelador.

— Mas e o Sr. Wilcox? — Rachel perguntou, se referindo ao homem velhinho barbudo que trabalhava por lá até uns meses antes.

— Sr. Wilcox saiu de licença. Eu na verdade sou da faculdade aqui perto, estou cobrindo ele porque preciso de uma grana a mais. — Explicou Eric, coçando a nuca e então olhando em seu relógio. — Ah, droga, o horário. Bom, se me dá licença, preciso terminar de limpar o vestiário antes que vocês precisem ir se trocar. Até mais, nadadora.

— Até. — A menina acenou, vendo o cara de cabelos compridos sair. — E... ele esqueceu de arrumar as pranchas. — Murmurou para si mesma, rindo baixo.

Xx

Jessica amarrava seus tênis de dança cor-de-rosa no estúdio enquanto a professora de dança ainda não dava nenhuma ordem. Estavam todos se aquecendo para a sessão de passos da nova coreografia que Srta. Arantia iria passar, a maioria porque tinham acabado de chegar, mas a menina de cabelos loiros não precisava fazer isso. Já estava aquecida há um bom tempo, levando em conta que faziam quase quarenta minutos que estava ali.

Tinha saído cedo novamente do dormitório. Sabia que Tina iria querer conversar com ela mas preferia adiar aquele papo, assim como fazia desde o dia do afogamento. A melhor opção, sem dúvidas, era não tocar na ferida mesmo que ela não estivesse mostrando nenhum sinal de que se cicatrizaria em pelo menos duas semanas. Talvez tentar remediar fosse fazer doer ainda mais.

Estava tão distraída que demorou a notar quando uma menina entrou no estúdio cautelosamente, tentando não chamar a atenção de provavelmente uma pessoa em especial. Não que aquilo tenha adiantado muita coisa.

— Teresa Wendmont McPhillips. — A voz de Arantia correu severamente pelo ambiente de boa acústica e de repente todos os membros presentes no clube olharam na direção dela, surpresos. — O que está fazendo aqui?

— Bom dia pra você também, Srta. Arantia. ­— Uma menina de cabelos pintados extravagantemente de cor-de-rosa e lilás revirou os olhos.

— Deveria estar descansando no dormitório. Quem te permitiu sair?

— O médico. — A tal Teresa disse, cruzando os braços e olhando para a mulher com uma expressão de desaprovação. — Meu pé já está bom, você sabe disso. Não tem motivo pra não me deixar participar dos ensaios de novo.

— Quer ter algum problema sério e nunca mais dançar, garota?

A menina ficou em silêncio por alguns segundos e foi até sua mochila recém largada no chão, suspirando. Todos os que antes se esticavam nas barras de ferro grudadas nas paredes de espelhos, agora prestavam atenção na cena da professora e da aluna esquisita. Provavelmente entediam bem mais da situação do que Jessica, que tinha um ponto de interrogação na testa.

— Aqui, o comunicado que o doutor mandou. — Teresa falou, entregando uma folha de papel impressa para a mulher de cabelos presos meticulosamente num coque. ­— Antes que pergunte: não, não é uma assinatura falsa e eu também não o paguei pra escrever isso.

Mesmo desconfiada com a situação, Arantia correu os olhos pelo papel, pensativa. Parecia estar tentando conseguir motivos melhores para volta de sua melhor dançarina além do fato de já estar completamente recuperada.

— Certo, você está dentro. — A mulher disse, arrancando um enorme sorriso da menina de cabelos coloridos depois de um longo suspiro. — Só que dessa vez, dona McPhillips, sem extrapolar. Não vamos perder nossa principal novamente.

Teresa bateu continência para Arantia, animada por finalmente estar de volta ao seu lugar favorito no mundo.

Jessica, como esperado, não tinha entendido bulhufas de todo aquele diálogo dramático. Não gostava de ser deixada de fora dos acontecimentos, porém daquela vez era uma coisa que simplesmente não poderia perguntar ao coleguinha ao lado. Não poderia porque os coleguinhas do lado não falavam com ela.

Foi quando a menina de cabelos cor-de-rosa apareceu ao seu lado que ela se sobressaltou. Teresa a encarou por um tempo, até abrir um sorriso simpático e dizer:

— Não nos conhecemos. Você é nova aqui?

Jessica estava um pouco acanhada. Certo, tinha que ser legal, era aquela sua única chance de socializar com alguém do clube.

— Sim, eu... entrei faz umas duas semanas. — Respondeu.

— Ah, tá explicado então. — A menina disse, começando a se alongar numa das barras ali. — Eu sou Teresa, muito prazer. Seu nome é...?

— Jessica. — A loira sorriu.

— Certo, Jess. Você veio de onde?

A menina pensou um pouco no sentido daquela pergunta.

— Hã... do clube de natação. Acabei me transferindo de lá no começo do semestre.

Teresa arqueou uma das sobrancelhas, pensativa. Ficou algum tempo olhando para a nova colega, tentando se lembrar de alguma coisa, até que exclamou:

— Oh, certo! Você é a nadadora que chamam de Sereia, né? — Questionou, entusiasmada. — Eu vi suas competições ano passado. Você é muito boa, por que saiu de lá?

Aquelas palavras fizeram seu peito doer um pouco e aquele apelido talvez machucasse ainda mais. Ok, ela nunca poderia fugir daquele assunto com gente de fora, de toda forma.

— Problemas pessoais com o clube no geral. — Respondeu, um tanto cabisbaixa.

— Me parece que eu não deveria ter tocado nesse assunto. Desculpa aí. — Deu um sorriso, culpada.

— Sem problemas. — Jessica sorriu fraco.

Logo a conversa das duas foi interrompida por Arantia, que decidiu dar as boas vindas de volta à Teresa na frente de toda a turma. Puro exibicionismo.

Logo iniciou-se o treino da nova coreografia, que a menina de cabelos rosa surpreendeu a todos ao pegar com uma rapidez incrível, e passaram uma boa parte do tempo determinado às atividades do clube revezando entre alongamentos e ensaios. A professora, como sempre, passou as horas elogiando os alunos a fazendo as comparações que costumava fazer para aumentar a competitividade entre eles. Daquela vez, todos eram comparados com a recém-chegada de volta que parecia não ter nenhuma dificuldade em dançar. Ela era perfeita.

De tempo em tempo, Jessica trocava algumas palavras com a Sra. Sabe-tudo. Ela era uma pessoa simpática, mesmo que grande parte da turma se sentisse intimidado com sua presença, e simplesmente conversava com todos — até mesmo com aqueles que diziam baixinho pelos cantos o quanto detestavam tê-la de volta.

— Dá pra acreditar nela? — Teresa perguntou ao fim do ensaio, se jogando no chão ao lado de Jessica com uma garrafa d'água na mão. A professora tinha acabado de dispensá-los, mas isso não a impediu que desse uma bronca na menina de cabelos rosados por ter começado tão intensamente. — Não sei porque se preocupa tanto comigo. Ela sabe que eu estou bem.

— Talvez porque você seja a melhor daqui. — Jess deu de ombros.

— Ou ela ame implicar com a sobrinha dela. — Revirou os olhos.

— Você é sobrinha da Srta. Arantia?

Teresa assentiu enquanto pegava um prendedor de sua bolsa para amarrar o cabelo.

— Infelizmente. Desvantagens da vida, porque ela pode ficar de olho em mim noventa e nove por cento do tempo. — Bufou a menina. — Depois dessa minha licença de alguns muitos meses ficou tudo pior.

— Mas... eu tenho uma pergunta, por que saiu de licença?

— Machuquei o pé durante um ensaio. Na verdade é uma história engraçada, porque eu estava brava com algumas coisas e acabei fugindo no meio da aula para dançar aqui. Só que o problema é que o chão tinha acabado de ser polido, então eu escorreguei e acabei rompendo os ligamentos do pé. — Riu.

— Isso é sério? — Jessica questionou, supresa.

— Seríssimo. — Respondeu.

Talvez por algum motivo Jess tivesse se identificado um pouco com aquela história. Foi basicamente o mesmo consigo, a diferença era que talvez nunca fosse superar aquele trauma, enquanto Teresa tinha sido forte o suficiente para se levantar de novo.

Decidiu não perguntar mais nada sobre o assunto. Não queria se encher de falsas esperanças e motivação idiota com algum discurso sobre nunca desistir que a menina provavelmente faria. Acreditar que poderia nadar novamente só resultava em problemas e mais problemas.

As duas saíram juntas do prédio de dança para o refeitório. Não tinham tanto papo assim, isso era fato, mas conversar sobre algumas coisas aleatórias já bastava pras duas meninas que não tinham bem com quem socializar. Considerando que Jessica a tinha achado uma companhia extremamente agradável, talvez não ficasse mais tão sozinha assim dentro de seu novo clube.

Xx

Tina tinha saído sozinha do ginásio. Rachel e Natalie estavam apressadas para entregar um texto para o professor de sociologia e por isso saíram na frente, enquanto a garota continuava com a cabeça nas nuvens.

Estava seguindo seu habitual caminho para a velha quadra enquanto pensava ainda no que Jamie tinha dito mais cedo. Não sabia se deveria se deixar iludir por aquela pequena motivação, mas voltar sempre os pensamentos para aquilo era inevitável, levando em conta que tinha esperado mais de um ano para ouvir aquele tipo de palavras vindas da boca do menino de olhos pequenos.

Subiu as escadas de grama até o lugar mais isolado do campus, e não se surpreendeu ao encontrar Alexander lá. Diferente das outras vezes, ele estava com um caderno em mãos escrevendo alguma coisa.

— Alex fazendo lição? É isso que eu estou vendo? — A menina brincou ao se aproximar dele. — Milagres acontecem.

— Sim, é isso. — Ele riu, acanhado, ao notar a presença de Tina ali.

A menina de cabelos curtos sentou ao lado do amigo, espiando as folhas que ele escrevia. Estava respondendo um questionário de química.

— Engraçado você começar justamente pela pior matéria. — Comentou.

— A pior matéria? — Riu. — Isso é química.

— Então, a matéria mais insuportável do ensino médio.

— Química é legal, Tina, nem vem. É a única que eu realmente faço sem problema nenhum.

— Estamos falando da mesma química? Porque não parece. — A menina brincou.

Os dois riram.

— Certo, agora o que te deu a louca de fazer lição? — Tina questionou.

— Algo tipo... motivação momentânea? Sei lá. — Resmungou, mordendo a ponta de trás do lápis enquanto olhava para o nada, pensativo. — Talvez eu vá para a aula hoje também.

Christina arregalou os olhos e botou a mão no peito, surpresa.

— Não é possível. Caramba, hoje é o dia dos milagres. Vai cair um temporal.

— Exagerada. — Revirou os olhos.

A menina sorriu para o garoto e o cutucou com o cotovelo, feliz.

— Não vai me dizer mesmo o motivo de ter decidido ir hoje do nada depois de passar todos esses dias matando as aulas?

Alexander suspirou.

— Bom, uma pessoa me disse que era melhor eu considerar ir para a aula, ou repetiria de ano. — Olhou significativamente para a menina de cabelos curtos.

— Certo, pode dizer, eu sou um gênio influenciador, não acha? — Questionou a menina, convencida, enquanto ria. — Estou feliz que você vai, Alex.

O garoto de piercing riu baixo, voltando a atenção ao seu caderno e aos exercícios de sua matéria preferida. Enquanto Tina pensava na vitória em ter dado o primeiro passo de sua missão, Alex refletia sobre como seria aparecer nas aulas depois de tanto tempo. Tinha medo de encarar determinadas pessoas da classe novamente, mas se quisesse continuar na escola, aquele era ao jeito.

Quando o menino guardou o caderno depois de responder todos os exercícios, Tina indagou:

— Eu sei que você vive fugindo desse assunto, mas por que você não vai pras aulas normalmente e nem para o clube? Sabe, não precisa responder se não quiser, é só uma coisa que tem me deixado curiosa.

Alex suspirou. Era um assunto que não gostava nem um pouco de falar, diria, mas não via motivos em esconder aquilo de Christina. Embora se conhecessem há pouco tempo, sentia que podia falar com ela sobre uma parte de seus problemas. Além do mais, era provável que ela ficasse sabendo de tudo uma hora ou outra.

— Eu fui afastado do meu clube. — Confessou. — E... sobre as aulas, tem a ver com isso também. — Ele deu de ombros, afastando o cabelo dos olhos.

— Como assim "afastado"? — Tina perguntou. — Eles podem afastar as pessoas assim?

Alexander assentiu.

— Eu fiz uma idiotice nas férias e acabei sendo punido por isso com o afastamento. O pessoal do meu clube me odeia por eu ser um babaca e meus amigos também não falam mais comigo. — Sorriu fraco.

— Esses seus amigos... Eles estão na sua turma, né?

— Infelizmente.

— Por isso você não vai às aulas? Por causa dos seus amigos? — Questionou, um pouco surpresa. — Eu não esperava isso. Na verdade... imaginava que fosse só algum rebelde sem causa ou coisa assim.

— Talvez eu seja algo próximo disso mesmo. Nunca fui uma pessoa muito exemplar. — Alex deu de ombros e riu, sem muito humor no tom de voz. — É, acontece.

A menina deu um sorriso fraco, na tentativa de confortá-lo. Ok, aquela confissão não era bem o que ela esperava vindo dele, mas sem dúvidas saber de seus problemas era um passo enorme para ajudá-lo a se reerguer.

— Era sobre um desses amigos que você estava falando quando disse que encontrou alguém que não queria ver, então? — Tina quis saber, recebendo um manear positivo de cabeça. — Qual era o seu clube, afinal?

— Atletismo. — Respondeu com um grande pesar na voz. — Estava no clube há dois anos. Mas eu entendo o time, eles tiveram toda razão do mundo pra não me querer lá com eles. Eu só estrago tudo.

— Ei! — Tina deu um empurrão no garoto, o surpreendendo. — Fala sério, você não devia se torturar assim. Todos cometem erros.

— Se você soubesse das minhas cagadas, provavelmente daria razão a eles também. — O menino murmurou.

— Se você acha isso, eu prefiro não saber então. — Cruzou os braços. — Mas o que importa é que você vai pra aula hoje. E vai ficar em todas as aulas, né?

Alex deu de ombros.

— Sei lá. Provavelmente não vou conseguir ficar perto deles por muito tempo.

— Você não pode parar sua vida inteira por causa disso. — Encarou o menino de óculos. — Sei lá, Alex, eu sei que esse tipo de situação é muito complicada, principalmente porque estamos falando de amigos e um time, mas os problemas não vão se resolver se você continuar fugindo deles assim.

O menino de cabelos castanhos ficou em silêncio. Aquele conselho tinha o colocado para pensar. Talvez Tina estivesse certa, mas era algo bem mais complexo do que ela imaginava — bem mais complexo do que qualquer um imaginava. Não tinha sido uma simples punição, uma simples burrada e uma simples briga. Havia tanta coisa envolvida naquela situação que chegava a ser ridículo.

A menina então resolveu mudar de assunto depois de ver a expressão confusa de Alexander. Contou sobre o que havia acontecido mais cedo no clube: sobre a mudança de modalidades, a ansiedade e o que Jamie havia falado.

— É idiota eu me iludir com um elogio do Jamie?

— Talvez...

A menina lançou um olhar repreendedor para o amigo, como se pedisse sinceridade.

— Tá bom, bastante idiota. — Ele riu baixo, debochado. — Você gosta pra caramba dele.

— Nem tanto. Ele só é incrivelmente bonito e legal, mas fora isso, não tem nada de bom.

Alex gargalhou com aquela afirmação tão cara-de-pau.

— Devia contar pra ele que você gosta dele. — Falou, dando de ombros.

— Não devia não. Ele vai me dar um pé na bunda lindo, o garoto é apaixonado pela Thais. — Resmungou. ­— E eu, Christina Nolace, sou um nada perto dela.

— E você pede para eu não me torturar, quando você faz exatamente a mesma coisa. — Observou. — Se você é um nada, nós somos dois nadas.

— Sim. Dois nadas tristes.

Alex e Tina se entreolharam e fizeram um high-five, para então desatarem a rir.

Xx

— Não acredito que ele não aceitou o texto. — Natalie reclamou, indignada sobre como aquele maldito professor de sociologia poderia ser tão intolerante. — Que cara chato.

— Eu falei pra você que ele era regrado com prazos. — Rachel deu de ombros. — Mas não se preocupe, a gente pode compensar isso com o trabalho bimestral.

— É bom mesmo. Não quero ir mal nas matérias nessa escola também. — Natalie falou.

As duas tinham acabado de sair da sala de sociologia, no prédio principal. Era hora do almoço, mas ainda tinham algum tempo antes de irem para o refeitório comer. Não estavam tão afim de chegar lá na hora da muvuca nas filas.

Caminharam até uma das pequenas praças ensolaradas e se sentaram sob a sombra de uma árvore grande. O tempo estava ótimo, ótimo para passar a tarde toda dormindo ou aproveitar a brisa com fones de ouvido. O cheiro de grama, observava Natalie, era definitivamente um calmante.

Ultimamente tinha estado muito preocupada com as coisas que a rodeavam, mesmo que não houvessem tantos motivos para isso. Certo, Jessica era um bom motivo para se preocupar e a pequena competição interna do clube também, mas haviam coisas que definitivamente não mereciam sua atenção e mesmo assim preenchiam sua cabeça de tempos em tempos. Uma delas tinha até mesmo nome: Gabe.

Talvez fosse idiota de sua parte, mas algumas coisas em Gabe vinham chamando a sua atenção desde o dia em que o vira nadando no ginásio depois das aulas. Tinha reparado que, mesmo carrancudo e extremamente impossível, o menino era ligeiramente triste e melancólico. Poderia ser uma impressão errada, mas tinha quase certeza que algo o incomodava na maior parte do tempo, embora isso não justificasse o fato dele ser um verdadeiro babaca com todos do clube.

Chacoalhou a cabeça quando se viu novamente imersa em pensamentos a respeito do capitão insuportável do time. Seus problemas não eram de sua conta. Se arrependia bastante de ter tentado puxar algum assunto com ele no dia anterior, por isso era melhor guardar suas ideias mirabolantes numa gavetinha antes que decidisse ir atrás dele novamente.

— Você está bem? — Rachel questionou, rindo com a expressão da menina de cabelos encaracolados. — Acabou de balançar a cabeça do nada.

— Estou, eu acho. — Respondeu, pensativa, voltando a prestar atenção naquela praça completamente bem arquitetada, assim como o resto da escola.

Foi então que seu celular tocou, guardado no bolso do uniforme. No visor, o nome de alguém que Natalie não conversava pelo telefone há bastante tempo: sua mãe. Nas últimas semanas as duas apenas trocaram mensagens e fotos fofinhas por causa da correria da menina na escola nova, por isso não esperava receber aquela ligação tão repentinamente.

— Oi? — Ela atendeu, um pouco afobada para saber o motivo da chamada.

— Natalie! — A mãe exclamou do outro lado da linha. — Como você está? Pensei que não fosse atender, já que deveria estar almoçando agora.

— Estou enrolando um pouco antes de ir pro refeitório. — Admitiu, rindo. — E eu estou bem sim, mãe, e você?

— Extremamente corrida. Tive que dar um tempo aqui no trabalho pra te ligar, a floricultura está muito movimentada ultimamente. — Disse. — Bom, eu só queria te avisar que não nesse domingo, no próximo, vamos fazer uma festinha pra Louise por causa do aniversário dela. Você e Will podem vir, né?

Os olhos da menina de cabelos cacheados brilharam com aquilo. Tinha esquecido completamente do aniversário de sua sobrinha mais nova, mas com certeza iria. Não poderia perder aquilo por nada, afinal, a menininha era seu xodó.

— É claro! — Exclamou.

— Ótimo. Então domingo bem cedinho seu pai vai buscar vocês aí, pode ser?

— Sim. Vou falar com o William, amanhã mesmo nós vamos comprar um presente pra ela.

— Não comprem nada muito caro, viu? Vocês sabem que a Louise destrói quase tudo em questão de minutos.

— Pode deixar. — Riu. Então, ao fundo da chamada, pôde ouvir uma vozinha gritar seu nome. — Ela está aí?

— Sim, e está morrendo de saudades, pelo visto. — A mãe riu. — Bom, vai lá comer filha, não quero você passando mal aí. Beijo, te amo.

— Beijo mãe, te amo também.

E a chamada foi encerrada.

Rachel, ao lado da amiga, observava a cena com certa curiosidade.

— O que houve? — Perguntou.

— Houve que eu vou finalmente ver minha família domingo que vem. — Respondeu, entusiasmada. — Minha sobrinha vai fazer uma festinha de aniversário e eles me querem lá.

— Que legal. — Rae sorriu. — É aquela sua sobrinha das fotos no quarto? — Questionou, se lembrando de um porta-retratos com a foto de uma garotinha de cabelos cacheados e sorriso arteiro.

— Ela mesma. Inclusive já tenho planos pra amanhã também, tenho que comprar o presente dela com William. Você deveria vir com a gente. — Convidou. — Aí a gente chama as outras meninas também.

— É uma boa. Conheço algumas lojas legais no shopping pra comprar brinquedos para crianças.

— Perfeito. Vamos procurar as outras duas, então. — Natalie se levantou.

As duas nadadoras se levantaram dos bancos e saíram da praça sem muita pressa. Iriam para o refeitório ver se achavam Tina ou talvez Jessica.

 


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