Swimming Club escrita por Lis Sampaio


Capítulo 5
Capítulo 5




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Atrás de Natalie, um alto barulho a assustou. Eram... vuvuzelas?

Um ar agitado, animação que corria de aluno em aluno e o alto ruído de conversas ansiosas pra lá e pra cá caracterizavam o campus naquelas quase seis horas da noite de sexta-feira. A S.S. inteira estava animada para o jogo daquele dia, e isso era algo que não poderiam negar. O esporte definitivamente corria nas veias daquelas pessoas, Natalie observou.

Todos vestiam suas camisetas do time da escola, tinham rostos pintados e traziam aquelas coisas barulhentas que não podiam faltar numa boa partida de futebol. Não era um jogo tão importante, mas mesmo assim ninguém ousaria deixar de torcer para os colegas do clube de futebol. Eles eram como astros da S.S..

O jogo seria no próprio estádio de futebol da escola ­— também conhecido como quadra 2 — e havia um enorme tumulto no caminho, já que faltava pouco tempo para o início da partida e toda escola estava lá. O time feminino de natação se apertava para passar entre a multidão e conseguir entrar a tempo do jogo. Por algum milagre Jessica estava lá com elas também e definitivamente não tinha sido arrastada, apenas movida pela sua paixão fervorosa por futebol e pelo time da escola.

— Esses idiotas não andam. — Tina reclamou, se referindo ao grupo de pessoas que andava lentamente à frente delas. — O jogo vai acabar e ainda vamos estar aqui.

— Sim, isso me estressa. — Jessica revirou os olhos. — Vamos sair empurrando eles, quero ver meu jogo.

Natalie riu com a expressão de raiva da loira. Quase conseguia ver labaredas saindo de seus olhos dali a pouco.

Quando finalmente entraram na quadra, viram, ao longe, Jamie acenar para elas e apontar para os lugares vagos à sua frente na arquibancada. Ao lado dele, William, John e Henry conversavam animadamente vestindo a camiseta azul com o brasão laranja da S.S, o último deles tendo até mesmo o rosto pintado com as cores da escola.

— Eles guardaram lugar para a gente? — Rachel questionou, surpresa.

— Ah, meu deus, é por isso que eu amo o Jamie. — Tina disse, sendo fitada pelas amigas que sorriam sugestivamente para ela. — Foi modo de dizer. — Resmungou.

— Não que não seja verdade. — Jessica caçoou, vendo a menina de cabelos curtos revirar os olhos.

Elas subiram a arquibancada com pressa. Foram cumprimentadas pelos meninos do clube de natação com o corriqueiro "e aí" que já estavam acostumadas, e logo John disse:

— Salvamos a pele de vocês vindo pra cá. Íamos sentar lá do outro lado, mas aí o William lembrou que vocês vinham e achamos esses espaços vagos antes que o grupinho do pessoal de tênis sentasse.

— Finalmente serviu pra alguma coisa, hein, Will. — Natalie olhou para o irmão fazendo um "joínha" de aprovação. O gêmeo mais velho revirou os olhos.

— E serviu muito bem, aliás. — Tina disse, olhando ao seu redor e vendo as pessoas que não paravam de chegar por um segundo. — Está entupido de gente aqui, não íamos arrumar lugar de jeito nenhum.

— É porque muita gente da East Soul veio ver o jogo também. — Jamie falou. — Por pouco não soquei a cara daqueles engomadinhos no caminho pra cá. Eu odeio essa escola.

— Todos odeiam. — Rachel disse, dando de ombros.

— Por quê? — William questionou, rindo.

— Por quê? — Henry enfatizou a pergunta. — Porque eles são simplesmente uns bostas, meu caro. No último jogo eles provavelmente pagaram o juiz, porque não foram penalizados por um monte de faltas. Quase quebraram a perna do George!

— Isso é sério? — Natalie perguntou, chocada.

— Seríssimo. — Jess reforçou. — Eu fiquei com tanto ódio daquele dia. Espero que hoje o nosso time espanque, degole e cape esses imbecis.

— Parece que temos uma pessoa no mesmo espírito de antes... — Tina resmungou. — William, troca de lugar comigo, por favor?

— Ah, certo... — Ele disse, se levantando.

Jessica a olhou, intrigada. Isso significava que William ia sentar do seu lado agora?

— Onde você vai, Tina? — A loira questionou.

— Pra longe de você. Você sempre me bate no meio do jogo quando está afobada, eu saio daqui toda roxa. — A menina de cabelos curtos disse, ocupando agora o lugar de William entre John e Henry, sendo que o mesmo se sentava ao lado de Jessica.

— Ah, é uma dupla perfeita então, porque Will faz a mesma coisa. E grita também, de bônus. — Natalie revirou os olhos.

O time de natação inteiro riu, exceto os dois assuntos do momento, que procuravam não encontrar o olhar um do outro. Tanto Jessica quanto William por algum motivo ainda se sentiam esquisitos devido àquela conversa no dia anterior, mesmo que ela não tivesse tido nada demais. Era como se houvesse algo mal resolvido ali.

— O nosso ilustre capitão vem? — Natalie perguntou aleatoriamente e o pessoal todo a olhou um pouco sem entender a pergunta.

— Não sei. — John respondeu. — Talvez ele venha, quem sabe. Por quê?

— Ah... — Disse um pouco constrangida. — É que eu reparei no lugar vago ao lado de Jamie e achei que estivessem guardando pra ele.

Henry e John então fitaram o amigo de olhos pequenos com um sorriso malicioso.

— Ah, não, Nat. — Henry disse, rindo perversamente. — Esse lugar aí o nosso Jamiezão guardou pra garota dele.

— Garota dele? — A menina questionou, e fitou Tina, que tinha uma expressão estranha.

— Sim, Jamie é um atacante nato, não sabia? — John falou. — Ela já deve estar chegando, inclusive.

Tina, que estava logo junta dos garotos, engoliu a seco. Ok, era normal estar se sentindo péssima numa situação como aquelas?

Então não demorou muito para uma outra garota subir a arquibancada e sentar-se ali, ao lado de Jamie. Ela era alta, magra, tinha longos cabelos lisos e usava também uma camiseta com o brasão da S.S.

— Ah, pessoal, essa aqui é a Thais, do clube de vôlei. — Jamie apresentou a menina aos amigos. — É minha amiga de infância que vocês já ouviram falar.

— Oi, gente. — A garota acenou simpaticamente para o clube de natação, que acenou de volta.

— O John e o Henry você já conhece, mas esses são William, Tina, Jessica, Rachel e Natalie. — Disse, apontando de um a um.

Tina tentou sorrir de forma educada, mas sabia que de algum jeito ou outro aquilo teria saído mais como uma cara de dor de barriga. Ok, ela odiava esse negócio de rivalidade feminina principalmente por causa de garotos, mas ela estava desconfortável ali. Quer dizer, não era muito legal saber que seu crush tinha uma crush, né?

— Ah, queria poder trazer minha garota para o jogo... — John suspirou.

— Qual das duas garotas, John? — Henry caçoou.

— Ambas. — O loiro disse, levantando e abaixando a sobrancelhas.

— O jogo vai começar gente, presta atenção aí. — Jessica avisou, já super ansiosa, vendo o diretor da escola aparecer no centro do campo com um microfone na mão.

O homem fez um discurso curto e preciso sobre agradecer aos participantes, à escola, e etc etc como sempre fazia nos jogos interescolares que aconteciam ali. Não demorou até a partida começar de verdade, com George e seu time em campo e felizmente começando com a posse da bola.

— GEORGE SEU LINDO — John berrou ao amigo, chamando atenção de quase todo mundo ao redor para eles. — MARCA ESSE GOL AMOR

O time de natação gargalhou com aquilo já que de longe puderam ver o capitão rir no campo, envergonhado.

Era uma partida ofensiva. Os jogadores do outro time eram brutos, não tinham dó dos rivais e iam para cima sem nem pensar. Apesar de tudo, era fato que não tinham táticas tão boas, apenas força física e... provavelmente um juiz ao seu lado.

Vinte minutos passados e o placar continuava empatado: zero a zero. Dessa vez os jogadores da S.S estavam muito bem preparados, diferente do que contaram os membros do clube de natação sobre a última partida contra aquela escola. A defesa estava forte, e mesmo quando pensavam que não haviam esperanças de defender o gol, eles davam um jeito.

George de longe era o melhor do time. A bola estava com ele agora, mas consequentemente três jogadores do time oposto o marcavam. O menino baixinho passou para o colega de time mais próximo, sem muita opção, que avançou alguns metros e então chutou a bola diretamente no gol.

O estádio inteiro vibrou, sons de vuvuzelas e as vozes agitadas dos alunos da S.S tomavam conta do lugar, principalmente as de William e Jessica. Os dois berravam palavrões de felicidade.

Mas foi depois desse gol que as coisas complicaram. Os East Soul, nervosos, passaram a usar métodos ainda mais ofensivos, o que não parecia incomodar muito o juiz da partida. Com isso, eles conseguiram empatar com seu primeiro gol.

— ESSE JUIZ É UM LADRÃO DO CARALHO — Jessica gritou. — OLHA ISSO SEU FILHO DA PUTA, FOI FALTA.

— SIM, ALGUÉM TIRA ESSE JUIZ MERDA DAÍ — William exclamou.

Os amigos se entreolhavam sem saber muito o que falar. Estavam estressados com a partida também, mas chegava a ser cômico os dois adolescentes gritando feito malucos ali.

— Eu preciso filmar isso... — Jamie disse, rindo com aquela reação.

— Eu falei que meu irmão não batia bem das ideias... — Natalie murmurou.

— Jess também não ajuda. — Tina disse. — Felizmente saí de lá antes de apanhar dela.

O jogo a cada minuto ficava mais e mais estressante. Era uma pressão muito grande no estádio, estavam todos tensos, esperando que a S.S conseguisse um empate ao menos até o fim do primeiro tempo, mas não foi bem isso. Logo o time adversário conseguiu mais um gol, causando descontentamento geral, bem a tempo do final dos primeiros quarenta e cinco minutos.

Jessica tinha uma enorme carranca estampada no rosto.

— Eu não acredito nesse juiz, sério! — Ela falou, indignada.

— Nem eu, você viu o que aquele cara fez e não levou nenhuma falta? — William questionou. — Vamos bater nesse cara.

— Eu apoio. Vou pegar um taco do clube de beisebol, você vai ver. — A loira falou. Embora fosse uma brincadeira, seu tom de voz não deixava aquilo tão claro.

O grupo estava eufórico com o fim do primeiro tempo. Jamie e Thais não paravam de falar um segundo um com o outro; Rachel vez ou outra palpitava na conversa empolgante de Will e Jessica; John, Natalie e Henry falavam sobre as duas namoradas do menino mais velho e enquanto isso Tina, que estava sentada logo ao lado do loiro, não tinha conseguido prestar muita atenção no jogo. Ela não podia deixar de se sentir extremamente esquisita ao ver seu querido Jamie conversando tão intimamente com outra garota.

Os outros membros do clube não demoraram a perceber aquilo. Natalie cutucou então a amiga, interrompendo seu diálogo com os outros dois.

— Ei, compra uma água pra mim? Estão vendendo logo ali. — Apontou para um homem com algumas garrafas ao longe.

— Você sabe que isso é o olho da cara, né? — Tina questionou.

— Não. Quanto é?

— Quinze reais. — John disse, fazendo Natalie arregalar os olhos.

— Shooting Star Academy roubando nosso dinheiro até em dias de jogo. — Henry caçoou.

— Ok, deixa pra lá. Não tenho quinze reais. — A menina de cabelos cacheados resmungou.

— Bom, mas eu tenho. — John disse, e então fitou Tina com um sorriso. — Tina, minha adorável amiga Tina, compra pra mim?

Christina revirou os olhos. Certo, qual era o problema deles com ela?

A garota pegou o dinheiro da mão do menino loiro e se levantou de onde estava sentada, passando para sair.

— Ufa... — Natalie sussurrou para o amigo. — Fez bem em tirar Tina daqui.

— Eu sei, não aguentava mais ela com aquela cara. ­— Ele falou no mesmo tom. — Coitada. Sei como se sente.

— Você? — Jessica riu, entrando na conversa. — Até parece, John.

— Ok, talvez eu não saiba tão bem assim como ela se sente. — O loiro falou. — Mas é triste mesmo assim.

— É mesmo. — William disse, se virando também. — Mas acho que seria uma opção bem melhor gastar seus quinze reais com comida ao invés de água, cara.

Natalie assentiu, rindo.

Jamie, que até então conversava animadamente com Thais, desviou a atenção da conversa por um segundo ao ver que a amiga de cabelos curtos saíra de lá.

— Onde Tina foi? — Questionou.

— Comprar água. — Jessica respondeu ao notar que Natalie e John não conseguiriam dizer nada sem soltar algo ácido sobre o namorico do garoto com sua amiga de infância.

— Ah... — Ele murmurou. — Devia ter pedido pra ela comprar pra mim também.

Os colegas de clube se entreolharam, com sorrisos um tanto forçados no rosto, assentindo.

Do outro lado da arquibancada, Tina estava pensativa. Então aquela garota que Jamie disse que gostava era, na verdade, Thais? Não sabia como tinha guardado esperanças de que pudesse ser ela mesma, sinceramente, já que nunca houve a mínima chance de sua paixão ser recíproca. Já tinha comprado a água e estava voltando para o seu lugar quando se surpreendeu ao ter a visão de um garoto de piercing no nariz e óculos de grau andando não muito longe um pouco desorientado entre as pessoas e buscando um lugar para sentar-se.

— Alex! — Exclamou, chamando a atenção do garoto, que acenou para ela.

Tina foi em sua direção, vendo o garoto sorrir com seus olhos brilhantes.

— E não é que você veio mesmo? — A garota sorriu de volta.

— Pois é. Eu não tão esquisito assim, não acha? — Ele perguntou, rindo. — Mesmo que eu esteja bastante desconfortável por aqui. Na real não tem ninguém que eu conheço e fale comigo além de você.

— Também estou meio desconfortável. — Tina falou, coçando a nuca. ­— Mas fala sério, Alex, a escola inteira tá aqui. Como você não fala com alguém além de mim?

— Acredite se quiser. — O menino deu de ombros, ajeitando seus óculos. — Não tenho nem onde sentar mais. Fui no banheiro e perdi meu lugar.

Christina riu.

— Quer vir sentar com a gente? Eu estou lá do outro lado com o clube de natação. — Convidou.

— Certo, não vou recusar. — O garoto falou.

Os dois então foram andando até o outro lado.

— Mas então quer dizer que eu vou conhecer o Jamie? — Alex questionou no meio do caminho, com um sorriso brincalhão.

Tina fechou a cara e revirou os olhos.

— Vai conhecer ele e a namorada dele. — A menina resmungou.

— Você gosta de um cara que namora?

— Não, ele não namora, mas eu tenho certeza que logo logo vai. E com uma garota extremamente bonita e legal, pra variar.

— Clichê.

— É, acontece. Comigo, talvez, vezes de mais.

Quando chegaram no lugar em que o clube de natação, acompanhado de Thais, conversava e ria como de costume, todos olharam curiosos na direção de Tina, esperando alguma explicação de quem seria aquele menino de óculos.

A garota apresentou rapidamente o amigo aos colegas de clube, que não segurou uma risadinha ao ouví-la dizer o nome de Jamie, e logo eles deram espaço para que os dois se sentassem. Alex parecia um pouco receoso de estar no meio de tanta gente, mas Tina o integrou facilmente nas conversas em grupo, e até que aquele conjunto de torcedores tão diferentes uns dos outros conseguiu criar uma boa harmonia.

— William troca de lugar e arranja o par perfeito, Jamie chama uma amiga e já são um casal, Tina sai pra comprar água e traz um cara na volta... Esse tipo de coisa poderia acontecer comigo, não acham? ­— Henry questionou, brincalhão.

— Estamos na mesma então, Henry. — Rachel riu, fazendo um high five com o menino de cabelos cacheados.

— Somos três. — Natalie suspirou.

No degrau de baixo, William revirou os olhos e Jessica cruzou os braços, ambos em insatisfação com o comentário.

— "Par perfeito"? Ah, vai à merda, Henry. — Jessica deu um tapa no amigo.

— E nós não somos um casal. — Thais riu, enquanto Jamie corava sem dizer nada.

— Ainda. — Henry piscou para a garota, que gargalhou.

Tina, por sua vez, tinha uma expressão estranha causada por uma leve cutucada que sentia no peito ao ver aqueles dois juntos. Se recusava a acreditar que era ciúmes, afinal, nunca tinha sido do tipo que sentia aquele tipo de coisa por causa de... garotos.

Alex não demorou a perceber aquilo, e cutucou a amiga se segurando para não rir:

— Eles fazem um casal legal. — Provocou sussurrando, vendo o rosto de Christina se contorcer numa expressão de insatisfação.

— Obrigada por me lembrar disso. — Ela falou, arrancando risadas do garoto novamente.

O jogo não demorou para voltar. Naquele tempo todos estavam bem mais tensos do que antes, e Jessica e William gritavam mais do que nunca. Era uma competição acirrada e o placar continuava o mesmo, até finalmente o juiz marcar uma falta. Pênalti, e quem ia chutar seria George.

— Agora vai. — Jamie disse.

— Se o George errar essa eu jogo ele pela janela. — Jessica falou, tensa.

— A gente expulsa ele da escola. — John completou.

O estádio inteiro estava de olho na bola. Estava tudo tão silencioso quanto um campo de futebol lotado poderia estar, e quando o apito soou e o menino pequeno vestido com as cores da escola chutou a bola, metade das pessoas lá arregalaram os olhos para não perder nenhum segundo daquela jogada.

E um belo gol fez o estádio todo vibrar. O time de natação todo se levantou da arquibancada comemorando com o quanto conseguiam gritar, e até mesmo as vuvuzelas soaram estrondosamente.

Com o jogo empatado novamente, os alunos da S.S tinham esperanças maiores de ganhar daquele time qual tinham tanta rivalidade. Porém, mesmo depois da falta, os East Soul continuavam em seu modo agressivo de jogo sem ligar para as penalidades que eles provavelmente não sofreriam devido ao juiz ao seu favor.

— EU VOU QUEBRAR A CARA DESSES IMUNDOS. — Jessica exclamou.

— É SÉRIO, COMO DEIXAM PASSAR ESSE TIPO DE COISA? ISSO É IMPOSSÍVEL. — William gritou. — SEU JUIZ DE MERDA, TIREM ESSE CARA DAÍ.

— ROUBEM DISCRETAMENTE SEUS ANIMAIS. — A menina voltou a dizer.

Ninguém nem conseguiu reclamar da gritaria dos dois naquela hora, porque de fato todos concordavam que ou aquele jogo estava sendo roubado, ou o juiz tinha algum grau de cegueira.

A partida prosseguiu sem mais gols devido aos reforços na defesa, e de longe qualquer um poderia perceber que os jogadores de ambos os times estavam nervosos. As expressões de felicidade dos membros da S.S pelo gol tinham sido trocadas por rostos preocupados com o tempo, já que faltavam apenas quinze minutos para o fim da partida.

Eles tinham que conseguir ganhar aquela, era o que ecoava na mente de todos que viam o jogo. Não poderiam perder novamente para a escola que antes tinha ganho de forma tão covarde e injusta.

Mas as expectativas deles não foram exatamente cumpridas. Mais uma vez, o time adversário conseguiu um gol, e aquela foi a vez dos vários adolescentes que vestiam azul-celeste, cor dos East Soul, se levantarem e vibrarem. Enquanto isso, os alunos da escola-sede da partida vaiavam o ponto, indignados.

Não demorou mais para o apito do juiz soar pelo campo, anunciando o fim do jogo. O sentimento de derrota compartilhado pelas pessoas no estádio deixava um clima triste, mesmo que alguns torcedores surtassem com aquele resultado. Não precisaria de muito esforço para descobrir quem estava xingando palavrões bem alto, não?

— Que ódio, cara! — Natalie exclamou, estressada. — Nunca fiquei tão nervosa com uma partida dessas, sério. Eu vou dar um safanão nesse juiz.

— Esse juiz é um merda total. — Thais concordou com a garota. — Quem colocou aquela droga lá?

— Provavelmente esses East Soul idiotas, né. — Jamie suspirou. — George deve estar mal.

— Isso é óbvio. — John falou. — George ficou péssimo quando perdeu da última vez também. E essa é a segunda vez contra a mesma escola.

— A gente precisa ir falar com ele. — O menino de olhos pequenos disse, preocupado. — Eu vou lá. Vamos, Thais?

— Tá bom. — A garota disse. — Tchau, gente. — Acenou para os outros ali antes de sair com Jamie, segurando o garoto pelo braço.

Tina fez uma careta.

— "Vamos, Thais?" — Ela imitou o menino, com uma voz de deboche, assim que eles saíram do campo de visão dela.

Rachel deu uma cotovelada na amiga, revirando os olhos, enquanto Alex não conseguia segurar o riso.

— Christina Nolace, desde quando você é ciumenta assim? — A menina de pele negra perguntou, sorrindo de forma irônica ao ver a amiga corar.

— Isso não é ciúmes! — Exclamou. — Só estava brincando.

— É ciúmes sim, Tina. — Jessica, que até então conversava com William e Henry indignada sobre o jogo, se virou para dizer.

A garota cruzou os braços e revirou os olhos. Odiava quando as pessoas a liam daquela forma.

— Bom, melhor já irmos, não acham? — Natalie questionou, olhando ao redor. — Estão todos saindo.

— Sim, concordo. — John falou. — Eu ainda tenho que encontrar a Anna pra jantar com ela. Ela deve estar saindo agora do clube de handball.

— Anna é qual das namoradas? A 1 ou a 2? — Henry questionou.

— A 2. — John riu.

Então o pessoal todo, com exceção de William e Jessica, saiu da quadra. Os dois estavam ainda extremamente entretidos na conversa sobre o quanto queriam matar o juiz, e por isso acabaram sem perceber que só restavam ambos ali na arquibancada. Foi quando o assunto finalmente acabou e Jessica deu um suspiro, chateada pela perda, que William disse:

— Tenho a impressão de que fomos largados.

A menina de cabelos loiros olhou ao redor.

— Quê? Cadê os outros? ­— Ela questionou, buscando os amigos em qualquer lugar daquela quadra. Só restavam algumas poucas pessoas espalhadas pela grande arquibancada, mas nem sinal deles ali.

— Eu sei lá. — William deu de ombros. — Largaram a gente aqui pelo visto. Bons amigos, hein.

— Nem me fale. — Ela revirou os olhos, se levantando. — Acho que já vou embora então.

— Vamos juntos. — O menino alto se levantou também.

Jessica o olhou por alguns segundos sem dizer nada. Depois de um longo tempo alucinada sobre o jogo, finalmente conseguira notar: estava conversando com William sem problemas, sem brigas e sem discordâncias. Nunca passou pela sua cabeça, desde o dia em que o conhecera, que passaria tanto tempo falando com aquela pessoa detestável — e que na realidade não era tão detestável assim.

Os dois saíram pelo caminho que levava para o refeitório, suspeitando que o resto do clube estivesse lá. Estavam em silêncio, mas logo o menino de cabelos escuros pigarreou:

— Bom, Jessica, está sendo esquisito andar lado a lado sem falar nada, então vamos pelo menos fingir que estamos conversando.

— Certo. Isso está mesmo esquisito.

— Muito. Aliás, eu já te contei como eu plantei meu pé de abacaxi?

A menina o encarou com uma das sobrancelhas arqueadas e logo começou a rir.

— Isso não foi bom pra fingir que estamos conversando. — Disse. — Sabe, você não é tão ruim quanto eu imaginei. É bom xingar o juiz com alguém.

— É, você também não é tão chata assim, só numa boa parte do tempo. — Brincou e ela lançou um olhar de reprovação à ele. — Ok, eu sei que a gente briga por tudo, mas o que acha de uma trégua?

A menina pensou um pouco.

— Trégua? Tipo... cessar fogo?

William assentiu e Jess cruzou os braços, ainda pensando.

— Tudo bem. Podemos ter uma trégua temporariamente. — Disse finalmente, dando de ombros.

O menino sorriu com aquilo e Jessica desviou o olhar, com medo de baixar mais ainda a guarda na frente de seu rival e acabar se ferrando.

— Conhecidos, então? — Ele estendeu a mão.

— É, conhecidos. — A garota apertou a mão dele. — Espero que você não tenha colocado essa mão em nenhum lugar nojento.

William revirou os olhos e então os dois saíram de volta ao caminho que seguiam. Era aquele, os dois pensavam, um pequeno passo pra talvez começarem a se dar melhor.

Xx

Natalie andaria 500 quilômetros inteiros por uma pizza de graça. Sério.

Quando recebeu a mensagem de Jamie no grupo do clube de natação avisando que ele e os outros garotos quiseram fazer uma noite da pizza surpresa para George e os caras do time de futebol, foi como se uma brisa de felicidade tivesse tomado conta dela e das outras três meninas que matavam tempo na entrada do clube de natação. E a melhor parte: seria tudo por conta dos caras da pizza que trabalhavam no refeitório.

Tinha sido uma boa ideia, pensou, fazerem algo assim para o garoto que se esforçou tanto durante a partida. Depois do que John dissera sobre ele ficar arrasado com a perda no último jogo, imaginaram que daquela vez ele realmente merecia uma recompensa por ter trabalhado tão duro.

— Aposto que Jamie vai levar Thais. — Tina resmungou enquanto iam até o refeitório.

— E qual o problema? — Rachel provocou. — Eles são amigos.

A menina de cabelos curtos revirou os olhos.

— Não imaginava que você fosse tão ciumenta assim, hein, Tina. — Natalie comentou, rindo. — Você tava com uma cara durante o jogo, nossa...

— Todos viram a cara da Christina durante o jogo. — Jessica caçoou. — Ela é muito óbvia, não sabe disfarçar.

— Mas eu não tenho nada pra disfarçar, ok? Não estou com ciúmes. — Afirmou, mas parecia mesmo estar querendo era se convencer daquilo. ­— Deveria ter insistido pro Alex ficar com a gente aqui... — Refletiu.

— Também acho. — Rachel falou. — Pelo menos com ele você para de ficar falando do Jamie.

Novamente Tina revirou os olhos e não disse mais nada. Sabia que as meninas jogariam aquele ciúme na cara dela até a morte se continuasse insistindo no assunto.

Chegaram no refeitório, que já tinha pouco movimento, e não tiveram que fazer muito esforço para encontrar a grande mesa formada pela junção de três delas no canto do lugar. Todos já esperavam lá, sentados e conversando animados. Até mesmo George e o time de futebol pareciam felizes, embora tivessem perdido do maior rival deles.

Sentaram-se nas cadeiras vazias, prontas para aproveitar a noite de barriga cheia.

xx

Gabe acordou com o som de seu celular apitando. Olhou ao seu redor, vendo o dormitório vazio e sem sinal de John ou de seu outro colega, Michael, em nenhum canto.

Eram oito horas. Tinha passado a tarde toda depois das atividades do clube dormindo, já que não teria mais nada para fazer quando o jogo contra os East Soul começasse devido a toda escola estar basicamente paralisada, e acabara perdendo a hora de se levantar.

— Ótimo, sem jantar de novo. — Resmungou, calçando os chinelos e indo para o banheiro arrumar os cabelos bagunçados.

Sua cara estava péssima, pra variar, com as olheiras de sempre e tudo mais. Talvez fosse verdade que pessoas com muitas preocupações acabam desenvolvendo problemas como ansiedade e insônia, porque desde que o treinador anunciara que a competição interescolar estava próxima, ele não conseguira mais dormir direito ou pensar em qualquer coisa que não fosse treinar.

Certo, estava acabando com a sua saúde, era verdade, mas não tinha muito o que fazer sobre isso. Nadar, competir e ganhar medalhas eram as únicas coisas que se importava desde que botara os pés naquela escola há dois anos atrás, e não poderia abrir mão da vitória, mesmo que seus problemas pessoais também fossem numerosos demais para simplesmente ignorar.

A foto de família amassada no canto da escrivaninha, ao lado da lixeira que não conseguira acertar, era a prova disso.

Pegou então seu celular para ver do que se tratava a notificação que o acordara.

Jamie Crowley enviou uma mensagem em S.S. Swimming Club

Ótimo, coisas do clube era tudo o que precisava naquele momento, pensou ironicamente.

Jamie Crowley: "Vamos fazer uma noite da pizza aqui no refeitório às 20h30 pra animar o George e o time de futebol. O pessoal da pizza disse que pode deixar tudo por conta da casa, desde que sejam só os dois clubes. Vocês vem, né?"

Suspirou. Provavelmente aquele convite não o incluía, já que ninguém naquele clube parecia gostar muito dele principalmente depois do problema com Jessica. Não que fizesse muita falta uma "noite da pizza" com pessoas que ele nem fazia questão de trocar palavras, afinal, provavelmente estariam apenas jogando tempo fora ali, mas em momentos como aquele ele realmente gostaria de não ser o capitão babaca do time.

No mesmo momento, outra mensagem chegou. Dessa vez era John o remetente.

John: "Você não vem?"

"Deveria vir."

"Vai ser bom pra você."

Ok, talvez o convite o incluísse sim, mas isso não significava que seria bem-vindo ou que o tratariam bem, principalmente se aquela novata, Natalie, estivesse por lá. Ele sempre dava um jeito de ofender aquela menina mesmo sem perceber, e não queria arrumar brigas. Não num dia como aqueles.

Mas foi quando o maldito John enviou a foto de uma pizza de queijo que seu estômago roncou em alto e bom som. Tudo bem, talvez devesse dar uma passadinha lá apenas pra comer.

xx

Era engraçada a forma que a conversa fluía entre os presentes naquela noite mesmo que a maior parte sequer se conhecesse antes. Jamie tinha feito questão de chamar a todos e apresentar um por um, já que não supreendentemente sabia quem era cada pessoa da mesa. As pizzas, que não demoraram para chegar, estavam mais deliciosas do que o normal e deixaram todos muito satisfeitos.

Assim como o imaginado, Thais estava lá também. Ela era alto-astral e divertida, cativava a todos e mesmo a ciumenta Tina tinha criado uma simpatia enorme por ela. A menina de cabelos lisos e Jamie definitivamente faziam um belo casal, todos tinham que admitir, embora ela não parecesse tão interessada assim nele.

Mas o que marcou a noite não foi nem a pizza, nem as conversas e nem a gentileza dos organizadores do jantar. Foi a presença da pessoa que chegou bem na hora de comerem as pizzas doces e surpreendeu a todos.

— Gabe! — John exclamou quando o último membro que faltava no clube de natação apareceu ali. Pelo visto o capitão do time tinha recebido as mensagens e milagrosamente decidira se juntar a eles. — Por que demorou? Perdeu a maior parte das pizzas.

— Estava dormindo. — Ele falou, se sentando um pouco relutante na única cadeira vaga, ao lado de Natalie. Ótimo, as coisas estavam começando péssimas.

O menino estava surpreso com a quantidade de pessoas ali, não imaginava que seria tanta gente assim.

— Ah, certo, mas pelo menos você veio. — Jamie disse. — Estávamos falando agora sobre as competições que estão chegando.

— Ah... — Gabe coçou a nuca, se servindo de um dos pedaços da pizza de chocolate. Ótimo, definitivamente não deveria ter saído do dormitório, não para começarem com aquele assunto.

A algumas cadeiras de distância, Jessica engoliu a seco. Já estava sendo difícil o suficiente para ela ouvir todos comentarem sobre os treinos duros que estavam tendo para o interescolar, e agora ainda teria que aturar a presença do capitão do time de natação, a única pessoa que ainda realmente não estava pronta para ver.

Ao notar o desconforto da amiga, Tina pôs a mão em seu braço, como se estivesse pedindo para a garota se acalmar. Ela não foi a única a notar isso, William também percebeu, e logo cortou a conversa:

— Quando vocês vão jogar de novo? — Questionou ao time de futebol.

— Mês que vem vamos ter jogo interno do clube e no outro mês começa a escalação para o campeonato interestadual. — Um dos meninos respondeu. — Então é por aí.

— Ah, certo... — Will falou.

— Mas sobre nossas competições... — Jamie começou a dizer.

— Vocês foram muito bons hoje. — Natalie cortou o garoto intencionalmente, entendendo a intenção do irmão gêmeo em iniciar outro assunto. Ela notou que Gabe também parecia desconfortável em falar sobre as competições, por isso era melhor para todos que parassem a conversa. — Eu nunca fiquei tão ansiosa com um jogo na minha vida.

— Infelizmente nós não fomos bons o suficiente. — Matthew, um garoto do time que tinha cabelos ruivos, disse um pouco cabisbaixo.

— Fala sério, né. — Thais que até então comia alegremente seu pedaço de pizza de pêssego, indignou-se. — Tá mais que na cara que eles ganharam por causa do juiz, isso não tem nada a ver com vocês. Vocês foram ótimos.

— Você acha? — O ruivo perguntou.

— Com certeza. — Reforçou.

Os outros presentes concordaram. Gabe apenas assentia silenciosamente, refletindo sobre como era estranho ser o único da mesa que não estava presente no estádio. O garoto nunca foi de ir nesse tipo de evento, principalmente considerando que estaria completamente sozinho no meio de uma multidão de alunos gritando e soprando vuvuzelas, por isso realmente sequer imaginava que a S.S poderia perder.

— Você assistiu ao jogo, né, capitão? — Henry questionou ao cara de cabelos castanhos, como se lesse seus pensamentos.

— Hã... — Ele murmurou. — Não. Acabei dormindo a tarde toda.

— Isso é sério? — John questionou, rindo. — Você é um antissocial mesmo, viu.

— Eu não dormi direito essa noite e o clube me esgotou hoje. — Justificou, com seu tom sério de sempre, embora aquele não fosse o único motivo. Havia o fato também de que ele detestava futebol.

— E mesmo se não estivesse esgotado não iria também. — O loiro rebateu. — Eu te conheço, Gabe.

O menino de cabelos castanhos suspirou e voltou a comer. Alheios aos dois, as pessoas da mesa voltaram a conversar sobre coisas aleatórias, como o clube de vôlei de Thais e a família enorme de Tina.

Jessica, mesmo com a intervenção dos amigos no assunto, passou a falar um pouco menos. Se lembrou, então, do motivo de não estar passando mais tanto tempo junto com o clube e evitando ficar sozinha com as meninas: o modo que aquilo tudo a deixava deslocada. Não se sentia mais parte do time de natação, mesmo que todos os colegas ainda a considerassem um deles, e era um pouco masoquista da sua parte ficar se fazendo lembrar toda hora disso para que a vontade de estar junta deles novamente não aumentasse.

As três amigas estavam percebendo que a garota de cabelos loiros estava falando cada vez menos, e foi quando ela se levantou da mesa, na desculpa de estar indo comprar um suco, que elas se entreolharam.

— Temos que fazer alguma coisa. — Rachel sussurrou.

— Vai atrás dela, Tina. — Natalie disse.

— Eu? Vamos nós três. — A garota de cabelos curtos falou.

— Ela só ouve vocês, eu ainda não sou tão próxima dela assim. — A outra insistiu.

— Já sei quem é a melhor pessoa pra ir. — Rachel disse e então levantou o olhar para a mesa, onde os outros conversavam. William as fitava curioso.

Natalie então entendeu o recado e fez sinal para que o irmão fosse falar com ela. Ele a olhou com uma das sobrancelhas arqueadas, mas não demorou para se levantar da mesa e ir atrás de Jess com alguma desculpa aleatória.

Jessica estava do outro lado do refeitório, em frente a uma máquina de sucos quando William chegou.

— Ei. — Ele chamou.

— Oi. — A menina falou, tentando ajeitar seu semblante triste para que ele não percebesse. Infelizmente aquele garoto percebia tudo. ­— Veio me empurrar da fila?

O menino revirou os olhos, rindo.

— Claro. — Respondeu. — Você sabia que é mal-educado sair da mesa do nada?

— Não acho que você seja o mais adequado para falar de educação. — Ela rebateu, tentando usar um tom brincalhão, mas sem muito sucesso.

— Você está certa.

— Valeu por cortar o assunto àquela hora. Surpreendentemente, foi legal da sua parte. — A garota falou. — Mas não precisa se preocupar tanto assim comigo. Tá tudo bem.

— Não acredito muito nisso. — William cruzou os braços. — E nem suas amigas parecem acreditar.

— Foram elas que te mandaram agora?

O moreno assentiu.

— Diga a elas que tá tudo bem, então. Eu acho que já vou pro dormitório, estou um pouco cansada e tal.

— Tudo bem, não vou te pressionar. — Will falou, tentando projetar um sorriso fraco em seus lábios, mas sem muito sucesso. — Até amanhã, então.

— Até. — Jess acenou e saiu levando consigo uma latinha de suco de maracujá que caíra da máquina.

William voltou pra mesa e olhou para a irmã significativamente, como se avisasse por uma espécie de "telepatia de gêmeos" que a outra menina tinha ido embora e que talvez fosse melhor deixá-la sozinha.

— Quando formos pro dormitório a gente tem que conversar com ela. — Tina falou, preocupada.

Rachel assentiu.

— Ela vai ficar enfiando minhocas na própria cabeça se ficar sozinha toda hora. — Falou.

Natalie concordava com as duas. Do pouco que conhecia sobre Jessica, uma das coisas que não era muito difícil de descobrir era o fato de que a menina tirava conclusões precipitadas quase que o tempo todo. Entendia o lado dela, de certa forma, porque também tinha esse problema, mas aquilo não deixava o problema menos preocupante.

O que restou da noite da pizza, foi o suficiente para que a maioria das pessoas ali saísse satisfeita. Por outro lado, Gabe, que continuava sem saber muito bem o que estava fazendo num evento como aquele, era um dos únicos que não pareciam tão felizes assim mesmo depois de ter comido quase seis pedaços das pizzas doces ali. Era por isso que odiava socializar, sempre acabava deslocado e se afundando nas preocupações de sempre.

Quando todos estavam saindo da mesa e se despedindo, o menino já tinha dado tchau na desculpa de ter coisas para fazer e estava no meio do caminho. Não para o dormitório, já que não queria encontrar John e conversar sobre o quanto não tinha aproveitado a noite, mas para o clube de natação, que basicamente era seu refúgio em dias como aquele. Ele só não esperava ouvir uma voz conhecida soar atrás de si:

— Você sabe que nadar depois de comer faz mal, né?

Ele se virou e encontrou Natalie, a menina de cabelos cacheados do clube, que tinha os braços cruzados e o fitava.

— Eu não vou nadar. — Respondeu.

— Veio fazer o quê aqui? — A menina perguntou. — Não querendo me intrometer nem nada, afinal, isso não é da minha conta né.

Gabe suspirou.

— Vim fazer exatamente o que você estava fazendo da outra vez.

— Sentar na arquibancada e olhar pra piscina? — Questionou e ele assentiu. — Bem inusitado.

Eles ficaram em silêncio algum tempo, parados em frente ao clube de natação, até Gabe limpar a garganta, dizendo:

— Obrigado por ter mudado de assunto mais cedo.

— Ah... — Natalie coçou a nuca, pensativa. — Não era só você que estava desconfortável em falar sobre as competições, então, né... Só ainda não entendi o porquê.

— Eu tenho meus motivos. — Falou num tom um pouco mais baixo.

— Não consigo imaginar motivos pra um cara que nem você, que ainda por cima é capitão do time, não querer falar sobre as competições.

O garoto cruzou os braços e suspirou, rindo baixo.

— As pessoas só falam disso comigo, quer um motivo melhor? — Ele desabafou. — Minha cabeça está cheia disso já. Como se não bastasse treinar todos os dias, ainda esperam que eu fale sobre isso o tempo todo também?

Natalie ficou um pouco chocada com aquela sinceridade toda. Gabe era humano, afinal?

— Você sabe que isso tudo é culpa sua, né? — Questionou, dando de ombros. — Você só fala disso, não há nada diferente pra pensarem de você. Não sai da piscina por um segundo, não falta aos treinos, é um carrasco com o horário de todos do clube...

— Porque é isso que esperam de mim.

— Deveria parar de ligar para o que esperam de você. Se continuar se matando assim, não vai conseguir ganhar a competição de jeito nenhum.

Gabe ficou em silêncio, observando a menina de cabelos cacheados um pouco atônito por suas palavras. Como ela poderia dizer que ele não ganharia a competição? Por acaso aquilo era algum tipo de sermão?

— Bom, eu já vou, as meninas estão me esperando no dormitório. — Natalie falou. — Tchau pra você.

— Tchau. — Gabe respondeu, vendo a menina se virar e sair de lá apressada.


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