NO DIA SEGUINTE

Clarice acordava sem a ajuda de sua mãe, como era de costume anteriormente em todas as manhãs.

Agora ela tinha motivos de sobra para chegar o quanto antes na escola, e poder aproveitar o máximo a hora do intervalo. Não mais lendo alguma coisa, o que fazia bastante enquanto Fernanda perambulava entre os seus conhecidos, já que ela dizia que eles não eram amigos, apenas algumas pessoas que ela gostava de trocar uma ideia ou outra. Algo que Clarice não entendia, mas também não questionava. Ela nunca questionava Fernanda.

Por motivos que ela não admitia para Fernanda, por ter medo de sufocar e acabar perdendo a única amiga que tinha, que ela amava tanto.

Mas agora com o Guilherme, parecia que o coração dela abria para novas possibilidades que ela não conseguia perceber que era possível de se acontecer.

Alguém mais na sua vida, que não era sua mãe ou Fernanda, e que o seu coração acelerava toda vez que olhava ao vê-lo.

Como naquele momento já sendo o intervalo e observando o Guilherme vindo na sua direção.

— Oi, Clarinha – Guilherme se aproximou dela já a cumprimentando

— Oi, Gui – ela diz sorrindo para ele, e faz uma pergunta logo em seguida - Como foi a sua aula?

— Não está sendo ruim – ele responde, ficando mais perto dela - Acabei nem perguntando, você dormiu bem ontem?

— Ontem? – ela diz soltando um sorriso sem graça - Você quer dizer hoje né? Já era muito tarde a hora que a gente se deu conta por termos nos distraídos conversando um com o outro – ela fala para ele envolvendo as próprias mãos, olhando nos olhos dele, e algumas vezes olhando para as próprias mãos.

Conversar com Guilherme sem a Fernanda do lado era uma sensação totalmente diferente da que ela tinha vivenciado. Tão boa quanto conversar com ele online. Algo que ela tinha feito durante aquela madrugada.

— Sim, isso é verdade! Mas conversar com você foi tão bom, que eu nem percebi a hora passar – ele disse olhando nos olhos dela

— Eu também gostei muito de ficar conversando com você – ela disse sorrindo para ele, sem desviar os olhos, mas sentindo o coração acelerar e muito.

Ela sentia um misto de vergonha, em querer olhar para qualquer outra coisa, e outra coisa que sentia, era de algo que era muito novo para ela, era desejo. Um desejo de ficar olhando por mais tempo para Guilherme, reparando cada detalhe do seu rosto.

— Clarinha – depois de uns longos segundos, ele pronunciava o nome dela sorrindo e começou a acariciar a bochecha dela - Você é muito linda!

Parecia que o coração dela iria sair pela boca de tão acelerado que estava, não conseguindo formular nenhuma palavra se quer. Percebendo que o rosto de Guilherme se aproximava lentamente dela. E os olhos dela começaram a olhar diretamente para os lábios de Guilherme.

Estando nitidamente muito perto um do outro, a boca um do outro se aproximando.

— Estou interrompendo alguma coisa? – surge a voz de Fernanda, fazendo com que Guilherme e Clarice tomem um susto, se afastando um pouquinho um do outro.

Clarice não sabe nem o que dizer, e quando olha nos olhos da amiga e tenta dizer alguma coisa. O sinal toca avisando que o intervalo tinha acabado, e os inspetores chamando os alunos para cada um ir para sua respectiva sala.

— Bom.. Eu vou indo, depois a gente se fala, Clarinha – Guilherme diz sorrindo para Clarice, que acena com a cabeça - Tchau, Fernanda! – ele diz olhando e se despedindo de Fernanda estranhando e não entendendo nada, não só pela forma dela dizer aquilo, mas a sua expressão como se não estivesse gostando de nada daquilo que ela tinha acabado de ver.

— Tchau! – Fernanda diz
secamente para ele.

Clarice com um misto de vergonha e euforia observando Guilherme ir para a sala dele, nem se dando conta que o clima estava estranho, pela parte de Fernanda estar estranha. Só pensando que Guilherme quis beijá-la alguns poucos minutos atrás.

— Vamos para sala, Clarinha – diz Fernanda virando e indo para a sala de aula delas. Enquanto Clarice apenas concorda e segue ela logo atrás, sorrindo por não acreditar que Guilherme queria beijar ela. Na frente, Fernanda tentava com todas as forças disfarçar a raiva e os ciúmes que estava sentindo

"- Isso não pode estar acontecendo" – ela dizia para ela mesma em pensamento.