My Huckleberry Friend escrita por SnowShy


Capítulo 15
A Livraria




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POV. Linda

 

Acho que não foi a melhor ideia esperar o Henry voltar de viagem pra falar com ele. Talvez eu devesse ter escutado as meninas. Não é como se isso fosse atrapalhar todas as minhas atividades, afinal, eu também tô de férias, não é? O que será que ele deve estar pensando de mim agora? Deve ter sido muito difícil pra ele confessar aquela mentira sobre as aulas de Física, ele parecia tão envergonhado... Eu nunca pensaria isso antes de conhecer melhor o Henry, mas acho que ele é uma pessoa muito insegura.

Eu fico pensando nisso enquanto trabalho na livraria. Mas não estou distraída, consigo ficar atenta aos clientes e aos livros. Acho que eu fui egoísta. Fiquei tanto tempo concentrada em tentar entender os meus sentimentos, que acabei (ironicamente) colocando a pessoa por quem eu tenho esses sentimentos de lado. Eu podia pelo menos mandar uma mensagem perguntando quando ele vai voltar, né? É, acho que posso fazer isso.

Ou talvez não seja preciso. Acabo de avistar o Henry entrando na livraria. Ele não me vê. Eu fico imóvel por um tempo. Todos aqueles sentimentos voltam e parece que eu me desliguei do mundo. Eu me recomponho e vou atrás dele. Afinal, ele é um cliente, não é?

— Quer ajuda? — Eu pergunto.

Ele olha pra mim surpreso. Ele é tão lindo...

— Eu não sabia que você trabalhava nas férias... — Ele parece confuso e um pouco envergonhado. 

Deve ser por causa daquela nossa última conversa... O que quer dizer que ele provavelmente pretendia me evitar, por isso a surpresa por me encontrar aqui. Bom, acho que não posso culpá-lo, afinal, eu fiquei evitando ele durante toda a última semana de aula... Além disso, ele deve achar que eu estou com raiva e eu costumo ser insuportável com as pessoas quando fico com raiva delas. Mas eu não quero que o Henry ache que precisa me evitar, então tento conversar com ele normalmente. Explico que quero ganhar mais dinheiro pra faculdade e pergunto se ele procura por algum livro específico. Tento ser o mais simpática possível (até pra não deixar transparecer que estou nervosa de falar com ele).

Ele diz que está procurando a seção de romances policiais e eu dou um sorriso, é um dos gêneros preferidos. Enquanto eu levo ele até a seção, percebo uma coisa estranha. Se o Henry gosta tanto de ler, por que será que eu nunca tinha visto ele na livraria? Eu faço essa pergunta e ele responde que geralmente vai na livraria do shopping. Ele dá uma olhada nos livros, lê algumas sinopses e eu dou a minha opinião sobre eles, afinal, já li quase todos. Mas enquanto isso, também fico pensando na resposta que o Henry deu à minha pergunta. Será que ele prefere ir na livraria do shopping porque é menos provável que alguém da escola perceba que ele tá lá? Tipo, tem muita gente no shopping, ele pode entrar e sair da livraria sem ninguém perceber; já aqui na livraria do Bosley, que é bem perto da escola, qualquer um pode vê-lo...

— O que foi? — Ele pergunta, provavelmente por ter percebido a minha expressão.

Eu hesito um pouco, mas decido dizer:

— Você... tem vergonha de ler na frente das pessoas?

Ele dá um sorriso, um pouco sem jeito, e diz:

— Você percebe tudo, né?

— Deve ser por causa dos inúmeros livros de mistérios que eu li — eu falo, brincando, e ele ri. — Mas falando sério, você não precisa se importar tanto com o que os outros pensam.

— É, eu... acho que tô começando a entender isso. Eu sei que parece bobo, mas... eu sempre acho que as pessoas não vão gostar de mim se me conhecerem de verdade...

— Eu gosto de você.

Ele olha bem nos meus olhos, como se não estivesse acreditando no que acabou de ouvir, e sorri. Eu fico um pouco envergonhada e começo a me perguntar se o Henry consegue ouvir as batidas do meu coração porque elas parecem muito altas!

— Quer se encontrar comigo no parque hoje à noite pra gente conversar melhor? — Ele pergunta.

E eu aceito. Apesar de não entender exatamente se isso vai ser um encontro de amigos ou não...

 

No final das contas, acho que não foi um encontro romântico. Eu não tenho certeza porque nunca estive em um, mas é até melhor que não tenha sido, porque eu acho que não saberia como agir... Enfim, a gente só ficou no parque conversando, assim como na outra vez. Mas foi um pouco diferente. Porque no final nós acabamos sendo muito sinceros um com o outro sobre certas coisas. Ao contrário do que eu pensava, ele não tinha vergonha de ser visto comigo, apesar de realmente se preocupar muito com o que as pessoas pensam dele. Eu posso até ter julgado ele certo em alguns momentos, mas acho que na maioria eu estava muito errada!

Ele também me contou sobre as férias divertidas dele na Califórnia e eu sobre as minhas férias sem graça aqui na cidade. Acho que vamos ser bons amigos a partir de agora. Mas não tenho ideia se vamos ser mais do que isso...

~~

POV. Henry

 

Eu acabei conseguindo aproveitar bem as férias. Passamos um mês na Califórnia e depois voltamos para Fahrion City. Eu não sabia bem o que fazer em relação à Linda. Talvez por ter quase certeza de que nunca vai acontecer nada entre a gente, eu fico com medo de tentar. Eu até pensei que a primeira coisa que eu fosse fazer quando chegasse na cidade seria procurá-la, mas acabei mudando de ideia. Achei que depois de um mês eu já estivesse pronto pra ver ela de novo, mas acontece que eu não tava. Não sei o que tem de errado comigo, qualquer pessoa no meu lugar acharia isso uma besteira...

O que eu não sabia, era que eu precisava ver a Linda. Então o acaso acabou fazendo isso acontecer. Eu já sabia que ela trabalhava na livraria Bosley Livros, mas não achei que ela trabalhasse até nas férias, por isso fui lá. Meu coração começou a acelerar quando eu ouvi a voz dela. Eu fiquei todo atrapalhado, nem sei direito o que eu falei. A única coisa que eu sei é que o que eu sinto por ela é muito mais forte do que eu me lembrava.

É impressão minha ou ela não tá com raiva de mim? Na verdade, ela tá tão simpática que nem parece que a gente passou um mês sem se falar... Eu digo pra ela que tô procurando a seção de romances policiais e não fico surpreso quando ela diz que gosta desse gênero, afinal, a Linda lê de tudo!

Enquanto eu folheio um livro da Agatha Christie, percebo que ela (a Linda, não a Agatha) me olha de um jeito intrigado.

— Você tem vergonha de ler na frente das pessoas? — Ela pergunta.

Eu realmente não esperava por essa pergunta. Sim, eu tenho vergonha de ler na frente dos outros, mas, no momento, começo a ficar com vergonha por ter vergonha disso. Acho que a Linda, além de ler muitos livros, também sabe ler as pessoas...

— Você percebe tudo, né? — Eu digo.

Bom, isso não é 100% verdade, já que ela nunca pareceu perceber que eu gosto dela, mas enfim...

Ela responde com uma anedota sobre ter ficado expert em desvendar mistérios por causa dos livros, o que me faz rir. É estranho, eu sempre me sinto desconfortável quando penso em toda essa coisa de não conseguir ser eu mesmo com todo mundo, mas, mesmo tocando num assunto que é tão difícil pra mim, a Linda tá conseguindo fazer eu me sentir à vontade, não sei como ela faz isso...

Em seguida, ela diz que eu não preciso me importar com o que os outros pensam e eu acabo me abrindo com ela, dizendo que eu sempre acho que as pessoas não vão gostar de mim se me conhecerem de verdade, mas não consigo dizer isso olhando diretamente pra ela.

 

— Eu gosto de você.

Eu ouvi isso mesmo ou imaginei? Nunca achei que a Linda realmente gostasse de mim, pensei que ela só me aturasse, por isso inventei aquela história de aula de Física... Ela gosta de mim? Eu olho nos olhos dela e vejo que ela diz a verdade. Mesmo me conhecendo bem e sabendo o quanto eu sou patético, ela gosta de mim! Claro, provavelmente é só como amigo, mas é melhor do que nada... Sendo assim, eu decido fazer o que devia ter feito há muito tempo e pergunto se ela quer se encontrar comigo no parque. Eu não sei no que isso vai dar, só sei que eu quero passar mais tempo com ela sem ter que inventar alguma desculpa como nas outras vezes.

 

Nós conversamos muito no parque. A Linda contou que não ficou com raiva pela história das aulas de Física, apenas confusa. Eu até tentei dizer a ela o que eu sentia, mas não sei se é o momento certo. Só sei de uma coisa: tô apaixonado por essa menina.


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