As Contrações da Fala escrita por Lyn Black, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 4
CAPÍTulo 4




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CAPÍTULO 4

 

Swallow nostalgia, chase it with lime

Better than dwelling

And chasing time

Missing occasions

I can't rewind

Can't help but feel like

I've lost what's mine

— SUBURBIA, Troye Sivan

 

— Harry, não por aí! – gritou Sirius, se atirando pelo corredor para tentar alcançar o pestinha, com uma roupa infantil dependurada numa de suas mãos.

O pequenino de fraldas encarava a escada com uma cara levemente marota, prestes a se aventurar pelo vão entre os pilares do corrimão quando o homem o alcançou, levantando-o no ar. Sirius desceu as escadas em passos apressados com a criança no colo, lutando para manter o atiçado menino lá.

— Ão, ão – chiava a criança, numa tentativa de sair do colo do padrinho, esticando seus braços para o chão.

Aprontar pequenas cenas, como aquela, era algo típico de Harry. Da última vez, Sirius achara que ia acabar de vez no St. Mungus, após Harry simplesmente pular do berço depois de Black o colocar lá, certo de que ele dormia profundamente; testando a resistência do coração do moço.

Cheio de risadinhas, Harry puxou os cachos de Sirius para chamar sua atenção.

— Pa-pa, au-au – balbuciou, enquanto tentava sair dos braços dele, praticamente voando, em direção a cadeira onde o padrinho lhe dava de comer.

Antes de colocá-lo sentado, Black rodou Harry no ar, rindo ao escutar as gargalhadas que saiam da boca avermelhada do bebê. As risadinhas de Potter se espalhavam pelo ambiente, que era uma versão adaptada da antiga casa onde ele passara seu primeiro ano de vida com os pais. Sirius achara que seria uma melhor adaptação para o afilhado, por isso, se esforçara para criar um lugar de aconchego.

Já fazia pouco mais de um mês desde que Sirius encarara a varinha de Albus Dumbledore, ao chegar à Rua dos Alfeneiros com Hagrid na garupa. Saíra de lá com o adormecido Potter num cesto, após usar o seu autocontrole, de uma forma que orgulharia os amigos falecidos, para dialogar com um homem quem, com razão, o responsabilizava pelas recentes mortes.

Agora com a responsabilidade nos braços, Sirius se dera conta dos mil cuidados a tomar. Harry, primeiramente, precisava de um lar de verdade, um ambiente de conforto conhecido, não do apartamento de Sirius. Ao menos, foi isso o que Molly Weasley opinou veementemente. Além disso,  Black precisava de algum referencial, e a maternidade exercida pela ruiva era um bom guia ao seu ver.

Era impressionante como aquela criança transformava coisas inofensivas em potenciais riscos!, pensou Sirius. Após fazer um feitiço para se assegurar de que o menino de cabelos rebeldes não se jogaria da cadeira, ele acendeu o fogão com a varinha e quebrou um ovo na frigideira. Harry espiava pelas suas costas, batendo suas mãos gorduchas no suporte para a comida, ele parecia determinado a acelerar o processo que conhecida bem após o mês com o padrinho. Repetia num mantra as sílabas chaves, “pa-pa”.

— Pelas fadas de Morgana, já vai, Pontas Junior – exclamou Sirius, com um sorriso, olhando por sobre seu ombro o menino que o encarava compenetrado, ansiando pela comida.

Ele enfeitiçou a colher de pau para se mexer sozinha enquanto buscava numa prateleira a travessa de arroz conservada, via um feitiço incrível que aprendera nos seus tempos morando sozinho após Hogwarts. Rapidamente, misturando o arroz com o ovo, Sirius se deu por satisfeito. Ainda melhoraria as comidas de Harry, entretanto, por enquanto, seus improvisos haveriam de bastar.

Sentou-se em frente ao menino, com a comida num dos pratos coloridos que recuperara da antiga casa. Harry olhava para a mistura com brilho nos olhos, fazendo o mais velho sorrir com ternura. Já conhecendo as bagunças de Harry, retirou a jaqueta de couro, querendo preservá-la das mãozinhas que, certamente, iriam chegar ao ovo, apesar dos seus esforços.

— Boca de leão, Har... - Sirius nem precisou completar a frase, já que o menino abocanhara a colher e mastigava tudo como um filhote de dragão.

Harry fez alguns grunhidos ininteligíveis  de boca cheia, indicando que queria mais. Sirius sorriu e deixou um pequeno suspiro escapar ao notar que a forma troglodita de devorar as coisas era igual ao jeito de James, após os treinos de quadribol.

Encheu mais uma colher, e Harry quase comeu a mão de Sirius ao abocanhá-la, repetindo a dinâmica pelos minutos adiante. Pelo menos, dessa vez, o Potter colaborava para comer, porque, quando ele cismava, Sirius encarava instantes em que desejava ardentemente a paciência de Remus. Apostava que ele manteria a calma quando Harry decidisse que nenhum vegetal entraria em contato com a sua boca.   

Depois que Potter deu um jeito de se certificar de que o prato estava limpo, Sirius encantou-o para ir para a pia, onde o processo de lavagem mágica se iniciou. Black fez um carinho nos cabelos bagunçados do bebê entretido com um fio que puxava de seu macacão azulado.

— Você sente saudade, não sente... – sussurrou para o menino, passando suas mãos pelos seus próprios cabelos, bagunçando–os ainda mais.

Sirius andava com olheiras e madeixas levemente desgrenhadas pelas últimas semanas, sem tempo para suas vaidades. Ficara com um completamente choroso, e irritadiço, Harry por alguns dias enquanto tentava reparar a casa dos Potter com a ajuda de Arthur Weasley, o ruivo mais proativo e faladeiro da Ordem. Molly, sua esposa – também ruiva! – o ajudara com a criança, e Black se assustou com a irmã dos Prewett, manejando tanta coisa simultaneamente; era impressionante. Harry nem a estranhara, um alívio para Black, já que após um dia inteiro chamando por “Mama” e “papa”, a criança parecia ter se esgotado fisicamente e aceitado as tentativas de palhaçadas do padrinho por caridade.

Ele temera que Harry ficasse apático, mas Molly o acolhera como se fosse seu próprio filho, e ele vira os olhos verdes do garoto brilharem diante da algazarra dos outros Weasley. Sirius só o deixara lá, cheio de atenção, mas sem ser o foco, enquanto ajeitava o antigo lar, mas pretendia trazer Harry para brincar com Rony e os outros novamente.

Uma semana depois da terrível noite, Sirius retornara para a casa dos Potter adaptada. Quando Harry identificara onde havia chegado na moto, deu gritinhos de êxtase. Naquele momento, Black engoliu em seco e seus olhos nublaram; não havia mamãe e papai naquela casa, seus pilares estavam destroçados. A criança esperaria encontrá-los lá, de braços abertos para um abraço, mas se decepcionaria, supôs Almofadinhas ansioso.

Um chá com Bathilda Bagshot, para ambientar o pequeno, uma volta pelo vilarejo e vários gracejos mágicos foram as medidas que Sirius classificou como reintrodução a Godric’s Hollow. Até que entardeceu e ele precisou cruzar a batente para, finalmente, mostrar ao afilhado uma nova vida ali.  

Curiosamente, Harry nem mencionara os pais do seu jeitinho Harryresco e, após se acomodar no tapete felpudo na sala de estar com Sirius, se jogou no moço, dando gritinhos de guerra. Black se deixou cair teatralmente no tapeçaria vermelho, fazendo caretas e, depois, se transformando em animago, o que praticamente fez Harry aprender a quicar de tanta animação.

Após muitas lambidas, uma janta salva pelas quentinhas que Molly insistira que ele levasse – ela deixara claro que o seu Harry não passaria fome –, a criança adormeceu no colo de um jovem esgotado. Uma semana sem Lily e Prongs se completara e parecia que eles deixaram o filho, na verdade, para cuidar dele, e não o contrário.

Agora, os dois já estavam encarando os flocos de neve de dezembro. Ele, às vezes, via uma rotina aparecer, mas Harry tinha, cada vez mais frequentemente, momentos onde parecia outra criança. Quieto, introvertido e desanimado, luzes de Natal traziam sobriedade para o pequeno ao invés de animação. Almofadinhas sabia que talvez devesse arranjar indicação de algum medibruxo por causa do trauma, mas ele estava com cicatrizes expostas também, sozinho naquele vilarejo, incapaz de agir.

Havia um nome, é verdade, ecoando como um sussurro na sua mente. Se aquilo tivesse acontecido um ano antes, ele estaria criando Harry junto com Remus. Não que eles estivessem juntos em dezembro de 1980, mas não havia a maldita estranheza, desconfiança e mágoa presentes na última reunião na casa de Vance. Remus realocaria suas pilhas de livros para alguma estante, arranjaria uma vitrola e vinis trouxas, e sorriria para Sirius quando ele estivesse caindo no desespero de criar uma criança.

Apesar de saber que o bebê já ressonava há boas horas, Sirius não deixou de pisar de leve ao sair do quarto que ocupava, localizado no antigo cômodo  o casal costumava ficar, ao lado do quarto de Harry. Era quase um hábito não conseguir pegar no sono e ficar sentado no chão da varanda, até seus olhos tremerem com os primeiros indícios de que a Terra, de fato, girava ao redor de si mesma, trazendo a despedida da madrugada.  

Não tentar achar Remus era uma política de orgulho, claramente, porque Sirius tinha noção de que o moço não estava em Azkaban como aliado de Voldemort. Ele não vira a sombra do lobisomem no enterro dos amigos, algo que procurara avidamente entre as árvores que rodeiam o cemitério de Godric’s Hollow.

As pessoas, entretanto, tinham outras preocupações e ninguém parecia desesperado com o paradeiro de Lupin após a morte dos Potter. Black até sondara Longbottom no enterro, mas Frank pareceu ignorante como ele, enquanto Alice comentou achar que o outro estava ainda em uma missão. Alice e Frank, porém, não poderiam ajudar com a situação sobre Rems agora, pensou pesaroso, amaldiçoando sua prima de sangue.

Duas semanas após o assassinato de seus amigos, Black teve que deixar Harry com os Weasley para uma reunião da Ordem. Voldemort havia oficialmente caído, mas as consequências daquela destrutiva guerra precisavam ser remendadas.

Nenhum rastro de Remus, além da resposta de Dumbledore ao questioná-lo, abruptamente, em meio a uma reunião, se iriam deixá-lo assim, sumido. Com sua pacificidade inabalável, o mago apenas dissera enigmaticamente algo sobre Lupin encontrar seu caminho de volta quando fosse hora. Um velho enervante, Black praguejara em sua mente.

Sirius encarou as nuvens que adornavam o céu naquela queda da noite. Elas pareciam iluminar o céu, mas, ao mesmo tempo, o sufocavam. Ele suspirou, e tragou um cigarro. Até cogitara ir atrás de Alexei Greyback, mas o sabe-se-lá-o-quê de Remus sumira do mapa também. Provavelmente estão se consolando, Black se deixara pensar, amargurado, enquanto lutava internamente com seus pensamentos, sem pregar o olho mesmo depois de observar o céu por horas.

Ele se lembrava da tentativa de súplica por confiança de Remus, apesar de sua leve embriaguez na hora do confronto. Talvez soubesse mais de onde o lobisomem estava caso houvesse se deixado escutar, todavia, o Sirius da época tinha a certeza de que havia um informante entre eles.

Ele não queria acreditar que Remus faria algo assim, e por isso ele era a pessoa perfeita para o enganar. Black não podia deixar passar em branco o que vira na Travessa do Tranco porque ele se julgava conhecedor dos jeitos sinceros de Remus. Ele não permitiria se dar o luxo de se deixar convencer de que havia chance de não estar sendo traído pelo sutil e cada vez mais afetuoso Lupin. Então, cuspira desprezo nas suas palavras.

Agora, uma agonia o corroía. Ele perdera James para a morte. Pettigrew para a traição. E Lupin? Será que ele perdera o rapaz por não conseguir enxergar de verdade quem era o inimigo?

Naquela noite, ele adormeceu na batente da casa do Menino que Sobreviveu, só acordando com o Sol esquentando sua face. Algo no cheiro das gardênias dos vizinhos nublou seus sentidos com os olhos feridos de Lupin ao escutar sua ordem de saída. Ele se lembrou do menino, que estava um andar acima, abraçando o lobo de estimação, alguns dias antes, balbuciando “Alu”, ou algo do tipo, e, com a imagem impregnada na sua cabeça, Sirius se espreguiçou e foi preparar a mamadeira da criança, pensando no que faria.  


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Notas finais do capítulo

BEIJUS NESSE NARIZINHUS
Contem tudo nos coments eu amo falar cm vcs e só mordo se pedirem!



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