As Contrações da Fala escrita por Lyn Black, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 5
CAPÍTulo 5


Notas iniciais do capítulo

FINALMENTE MEU POVO, O QUE VOCÊS ESTAVAM QUERENDO QUE ACONTECESSE (ou não?)
Jweek, seu número 17 foi útil, obrigadaaaa
obs: sabe-se que Marius Black, tio-avô de Black que não ia com a cara da família, deixou sua herança para Sirius quando morreu.
Boa Leitura!



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CAPÍTULO 5

 

No centro da sala, diante da mesa

No fundo do prato, comida e tristeza

A gente se olha, se toca e se cala

E se desentende no instante em que fala

— Na Hora do Almoço, Belchior

 

As cortinas esfarrapadas precisavam ser remendadas, mas as agulhas provavelmente haviam se perdido pelos vãos do apartamento 17, quando Remus, ao voltar das florestas de Northumberland, se mudara para um lugar de menor custo. Ele havia perdido o enterro dos amigos, porém o rapaz se sentia prestes a colapsar ao pensar em dar de cara com Sirius no cemitério.

Missão finalizada, amuletos devolvidos para Dumbledore com um suspiro vagaroso e denso e restava ao rapaz seguir vivendo. A única alternativa, a Morte, ainda não lhe sorria, e sendo sincero, Remus podia estar passando por perrengues emocionais e financeiros, mas ele devia a todos que morreram na Guerra tentar existir. Ele desaprovava veementemente seu próprio raciocínio, mas a risada de Lily ecoava em sua mente, fazendo seu corpo se retrair diante de um mal que não podia fugir: a perda.

O Sol escorria pelas frestas, incidindo sobre o pacífico rosto de Remus, já desperto; deitar no colchão de olhos fechados estava se tornando um hábito. Estava claro demais, pensou, e entreabriu a vista, espiando a fina camada de poeira no chão. Lupin esfregou os olhos, e sentou no colchão que ficava no chão. Pegando a varinha da mesinha de cabeceira improvisada, fez um feitiço para ver as horas: nove e quarenta da manhã.

Grunhiu, esticando os braços. Quatro horas de sono não era o ideal, porém, era o que conseguira após o bico da última noite. O trabalho envolvera servir bebidas alcoólicas para jovens trouxas alegres e dançantes. O tipo de lugar que Remus tentara evitar como praga, mas acabara frequentando por causa dos marotos. Bem que sua experiência com eles lhe calhava para lidar com pessoas bêbadas, entorpecidas e querendo flertar com o jovem de vinte e um anos servindo bebidas.

Levantou-se da cama, e retirou a camiseta listrada, deixando-a apoiada na cadeira ao lado da mesa de estudos providenciada pelo locatário. Escovar os dentes? Feito. Ele até penteou os cabelos com os dedos, do jeito que acabara adquirindo após conviver sete anos com um James cheio de manias com suas madeixas. O quadrado de 25 por 25 centímetros servia como um espelho eficiente o suficiente para que ele evitasse olhar para as cicatrizes ganhas nas brigas com lobos na semana nas florestas do norte após a morte dos Potter. Segundo uma moça da noite anterior: “suas cicatrizes são sexy, você parece um perigo gostoso”, porém ele discordava bastante.

Remus jogou novamente água no rosto, tentando acordar. Cogitou procurar roupas limpas na mala não-desfeita – tinha histórico de ser expulso de apartamentos alugados em menos de um mês por passar uma impressão doentia para vizinhos –, mas não pretendia sair da nova casa tão cedo, então apenas lançou um feitiço de aquecimento. Ficar com o corpo exposto não era um hábito do moço de cabelos acastanhados, mas a letargia estava o fazendo ganhar novos costumes. A solidão o encarcerou nele mesmo com intensidade após a perda dos amigos.

Não iria conseguir dormir, sabia disso, e pelo menos podia adiantar os papéis de aplicação para um dos cursos da Liga de Defesa Contra as Artes das Trevas. Agora, com a guerra acabada, ele tinha que seguir com algum plano, mesmo sabendo que estava se sentindo mais perdido do que quando tinha dezesseis anos e a Professora McGonnagal teve uma conversa sobre carreiras com ele.

— Ai! – Seu grito ecoou pelo pequeno apartamento. Remus tinha talento para trombar com quinas inexistentes.

Um barulho de batidas contra o vidro da janela despertou o garoto do seu dedo mindinho latejante. Uma coruja negra forçava entrada contra a janela trancada, e um vinco apareceu entre os olhos de Remus ao não a reconhecer. Abriu a tranca, deixando-a entrar junto de uma corrente fria que o arrepiou da cabeça aos pés.

Após pegar a carta do seu bico, fez um carinho rápido na cabeça dela. O selo do ministério foi a primeira coisa que viu, e apoiado na bancada que servia como a mesa de refeições, Lupin rompeu o lacre. Quanto à leitura do testamento de James e Lílian Potter. Ele meneou a cabeça, e deixou a carta na bancada sem continuar a lê-la. Ignoraria os chamados, Sirius deixara bem claro que não queria vê-lo mais.

Um aroma invadiu seus desatentos sentidos, fazendo-o fungar levemente enquanto procurava os papéis de inscrição numa pilha. Ele conhecia aquele cheiro de algum lugar, tinha certeza, todavia ainda estava se ambientando com os perfumes dos vizinhos, então deu de ombros, continuando sua busca.

Os seus ouvidos, porém, eram aguçados demais para perder os passos que o atormentaram no seu quinto ano nos corredores, seguidos de batidas irregulares na porta, quase incertas.

Remus pegou a varinha, empunhando-a, e andou até a porta. Balançou-a levemente fazendo os vários cadeados da porta se destrancarem. Outro gesto, e ela se escancarou, revelando a figura no corredor cinza, iluminada apenas por uma vidraça suja que trazia luz para o lugar. Lupin lentamente abaixou a varinha, antes em riste.

Sirius e Remus apenas se encararam por alguns segundos, Lupin digerindo quem estava batendo na sua porta e o outro traçando as novas cicatrizes no torso do lobisomem. Sirius deu um sorriso discreto, do tipo que damos por educação, e encontrou os olhos de Remus. Atravessou a batente, se aproximando.

— Acho que já está na hora de conversarmos – disse, complementando logo após: –, por Harry.

Lupin processou a cena rapidamente e balançou a cabeça em concordância, convocando a blusa e trancando a porta atrás de Sirius com um pequeno “clic”.

— Fique a vontade – murmurou, enfiando a camisa pela cabeça.

Remus tinha uma questão complicada com pertencimento; ele não iria atrás de Sirius, mesmo sentindo que estava à deriva com o homem achando que ele era um traidor. Dumbledore havia comentado que o voto perpétuo não deveria ser desfeito devido ao que ele havia conseguido fazer no norte, mas que sempre havia um jeito de contornar isso. O mago, entretanto, não mencionara mais o assunto quando Remus aparecera em Hogwarts atrás de informações sobre Harry.

Vestido, ele observou Sirius fazer caminho pela sua nova casa, o jeito que o garoto passava os olhos pelo colchão desarrumado e pela pia com algumas embalagens sujas acumuladas.

— Foi difícil te encontrar, Remus – comentou, puxando a única cadeira disponível para se sentar.

— Como me achou, então? – questionou, mantendo os olhos no chão e transfigurou o abajur que ficava na sua mesinha de cabeceira em outra cadeira. – Não estou certo do porquê ter me procurado, pra ser sincero.

Sirius mexia num de seus cachos, fingindo distração, entrementes, observava as linhas de tensão e olheiras extremamente berrantes no rosto do rapaz.

— Bem, o Natal está chegando, é uma época de família  – respondeu, mesclando solenidade com marotice. – Shackelbolt me devia uma, então ele me deu, vamos dizer... – sorriu e deu uma piscada de olho marota que antigamente teria feito borboletas ganharem vida no estômago de Remus –, uma mãozinha em te encontrar.

Remus assentiu confuso.

— Achei que você não queria me ver mais… – ele pausou um pouco, traçando o perfil de Sirius. – Você deixou bem claro na casa da Emmeline.

— Eu preciso resolver essa parada, Remus, de verdade. Eu tenho algum motivo para não te querer perto do meu afilhado? – inquiriu, apoiando os cotovelos nos joelhos, tentando ao máximo relaxar a postura.  

Lupin deixou um som indignado sair da sua garganta.

— Estamos falando de Harry, é claro que não – exclamou, frustrado. – Você veio aqui para isso, Sirius, realmente? Ou esqueceu que você me acusou de trabalhar para aquele assassino?

Sirius deixou um suspiro irritadiço escapar pelas suas narinas.

— Eu me lembro, Remus.

— Então, porra? – Os olhos de Sirius se arregalaram, desacostumado com qualquer palavrão saindo pela regulada boca de Lupin, mesmo no tom baixo usado pelo lobisomem. – Eu só não te entendo, Sirius. Você bate na minha porta como se nada tivesse acontecido.   

Sirius revirou os olhos e se levantou da cadeira, passando a andar pelo apartamento, dividido em área do colchão e escrivaninha pela bancada da cozinha.

— Como estão as coisas com Alexei? Ele não foi preso, foi?

Dessa vez, Remus bufou, mas conteve sua exasperação, afinal, Sirius tinha, apesar de tudo, ido até ali.

— Ele está bem, se realmente quer saber. Voltou para a Rússia.

— Ah – respondeu Sirius, sem emoção. – Como você está com isso?

Remus observou o porte de Sirius, com sua barba a fazer e suas roupas amassadas. A colônia era forte, ele parecia ter acabado de sair do banho.

— Ele é uma pessoa sensível, vou sentir falta. Nunca apoiou Voldemort, diferente do que você acha e me acusou de fazer, Sirius.

Depois de retornar de Northumberland, Remus teve a chance de rever Alexei uma vez mais, antes do outro lobisomem partir para longe. Tiveram uma conexão curta, mas ele foi o único contato pessoal de Remus após a morte dos Potter com quem conseguiu se deixar desabar. Merlin sabia o que ele teria feito se não houvesse trombado com ele, em meio ao seu desespero, quando desembarcou em Londres.

— Você não vai realmente me culpar por isso, vai? – perguntou, gesticulando com as mãos.

Remus deu de ombros, sem retorquir imediatamente.

— E Harry? – A menção da criança fez sorrisos se abrirem em ambas as faces.

— Se eu parar no Mungus vai ser por causa dele, Aluado! Não sei como Lily e James – sua voz quebrou um pouco ao falar o nome dos amigos – faziam. Apesar que ele está ficando cada vez mais amuado com o espírito natalino de Godric’s Hollow.

Uma sombra pareceu fazer casa no rosto de Black, o que fez com que Remus, quase instintivamente, se levantasse e apoiasse levemente uma mão no braço dele.

— Vai levar um tempo, mas ele vai se acostumar. Todos nós vamos.

Black pareceu estar preso a algo dentro de sua mente.

— Talvez, mas é recente. Eu ainda consigo sentir a presença deles ao meu redor.  – Seus olhos acinzentados encontraram os cor de mel do rapaz. – Eu tenho dinheiro suficiente do tio-avô Marius para ficar com o Harry integralmente, mas é demais para mim.

Lupin concordou com a cabeça.

— Onde ele está agora, por falar nisso?

Sirius, mesmo contrariado pela presença do outro, sorriu ao falar do menino.

— Bathilda se ofereceu para ficar com ele, ela adora o Harry, bem que Lily dizia que ela o mimava. Pensei em deixá-lo n’Toca com os Weasley, mas Molly está com a bebê recém-nascida, não tive coragem de pedir a ela.

Remus assentiu com a cabeça.

— Molly me contou sobre Harry – comentou, fazendo Sirius arquear as sobrancelhas. – Nós nos encontramos na Ordem algumas semanas atrás.

— Ele se lembra de você, sabia? – indagou, tentando estudar minuciosamente o rosto de Remus sem se deixar levar pelos novos matizes dele, quem parecia ter pegado Sol nos últimos meses.

Remus pareceu ter um sobressalto, e sorriu com os dentes.

— Ele é tão pequeno, não sei como. – exprimiu, sorrindo.

— Não parece tão pequeno quando quase te atravessa com uma vassoura de brinquedo – respondeu Sirius, rindo um pouco.

Um silêncio acabou se estendendo entre eles. Remus sentia uma insegurança diante do jeito mais presente de Sirius, e Sirius tentava esmiuçar o garoto solitário que vivia lá. Aquele, entretanto, não era um silêncio cúmplice, mas uma espécie de pausa onde há muito o quê se falar.

Sirius foi o primeiro a se desconcertar com o fim do eco de sua voz. Limpando as mãos na sua calça jeans trouxa, e fechando os botões do longo casaco que usara para enfrentar o frio até chegar na porta de Remus, limpou a garganta, chamando a atenção de Lupin para si.

— Te vejo no Natal, então – falou para Remus, com o seu típico sorriso mirabolante.

— Isso é um convite? – o rapaz perguntou, abrindo um leve sorriso.

Sirius balançou a cabeça, fazendo seus cachos e o perfume deles invadir o ambiente, e se dirigiu para a porta.

— Convite, intimação, que diferença faz, Aluado? – terminou a frase com uma piscadela.

— Sei...   

Retirando a varinha do bolso, tentou destrancar a porta. Lupin deu seu sorriso “por essa você não esperava”, e lançou seu próprio encantamento não-verbal.

— Novos truques? – Sirius questionou, um sorriso enfeitando seus lábios avermelhados pela friagem que chegava do corredor.

— O show não pode parar – Lupin retrucou.

Uma cor havia parecido se instalar em ambos os rostos.

— Está certo, Remus, está certo – falou de seu jeito jocoso.

Virou-se e continuou a andar, complementando num tom mais alto:

— Eu mando uma coruja com os detalhes.

Quando estava quase virando o corredor, sendo observado ainda por Remus, que se escorara contra a batente, parou, virou e encarou Lupin seriamente. Dedo apontado, lábios crispados, bem diferente da imagem leve que havia deixado sua porta.

— Não invente de gastar muito dinheiro com algum presente para o Harry, Morgana sabe que ele precisa de nós muito mais do que brinquedos.

— Sensato – replicou o lobisomem, com uma pequena piscadela, fazendo algo no Black tremer.

Sirius logo desapareceu de vista, aparatando após descer pela saída de incêndio externa do prédio, num beco.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam do encontro?
Beijos enormes!



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