As Contrações da Fala escrita por Lyn Black, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 3
CAPÍTulo 3


Notas iniciais do capítulo

Não sei bem o que dizer... Yas, obrigada por ter me ajudado a desenrolar esse capítulo!
Boa Leitura!



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CAPÍTULO 3

 

No light, no light in your bright blue eyes

I never knew daylight could be so violent

A revelation in the light of day

You can't choose what stays and what fades away

—          No Light, No Light, Florence + The Machine

 

 

O brilho verde e então uma explosão em Godric's Hollow.

A atmosfera inglesa tremeu levemente. Bruxos sensíveis sentiram uma rachadura no tempo, um eco se propagando pelas suas peles. Quem estava acordado no pequeno vilarejo, relatou ver uma luz verde se diluindo pelo céu após o estrondo.

Não muitos carros trouxas estavam se aventurando por aqueles lados, notou Sirius em sua motocicleta, cabelos ao vento. Ele apenas balançou a cabeça e pisou no acelerador, querendo chegar o quanto antes. Estava se sentindo muito sozinho ultimamente. Abandonado. Um sentimento de alerta o tinha feito, porém, passar no esconderijo de Peter e não havia rastro dele.

Primeiramente, Sirius pensara que ele fora raptado pelos Comensais, mas não havia sinal de luta. Tudo estava calmo demais naquele apartamento oculto, quase como se ninguém morasse ali. Pettigrew era um sujeito bem bagunceiro, Sirius lembrava-se das brigas entre ele e Remus por organização no dormitório compartilhado. Ele prendeu a respiração e se atirou na sua motocicleta encantada que rugiu pelos céus, mas não chegou a tempo.

Havia algumas casas trouxas com luzes acesas, mesmo sendo tarde. Então, ele viu a casa em pedaços, e sentiu a garganta fechar, sem ar mesmo envolto de ar. Não parecia haver muita movimentação ao redor da casa, oculta em algum nível para os trouxas, mas Sirius percebeu algumas pessoas espiando das janelas. Identificou, por exemplo, a casa vizinha de Bathilda Bagshot, completamente escurecida. A mulher estava fora de vista, provavelmente com Dumbledore para informá-lo da tragédia.

Existem pausas que antecipam uma continuidade. Momento onde tudo parece congelado diante de nossos olhos, como o momento de tensão suspensa por um cínico escritor. E, então, a água desagua sobre nossas cabeças, nos colapsando com seu peso. Alguns encontram formas de respirar ao fugir daquela cachoeira que desce dos céus. Outros se assemelham à torrente, num conformismo quase heroico. Você quase não conseguiria distingui-los da água que apenas não parece parar de cair. Um dia, sua memória passa a não distinguir os tempos onde o mundo não era feito de água.

Sirius crescera escutando sobre como os Blacks eram grandiosos, nomes honráveis na bendita Árvore de Família. Walburga tinha mania de falar da importância de se estar naquela árvore. Para o menino, porém, aqueles nomes e retratos não passavam de um decrépito cemitério. Em breve ele seria apenas uma lembrança num galho apodrecido. Sua morte nunca fora uma questão, e sim, um jeito eficiente de perturbar sua mãe com piadas categorizadas como de “extremo mal agouro”.

Saber, porém, que um dia você vai morrer, porque afinal todos nós vamos, não havia o preparado para ver outros morrerem. Comensais da Morte e Voldemort tiraram o sarcasmo de Marlene, a sagacidade dos gêmeos Prewett e as falas difíceis de Dorcas da vida de Black. Fizeram-no encarar um mundo mais opaco, onde tudo existia apenas por um fio. Um mundo onde ele empunharia varinha, e seria decidido quem viveria e quem morreria junto e contra pessoas com quem ele crescera.

Entender que Lily e James estavam inatingíveis para ele, pertencentes ao inexistir, foi a pausa de Sirius. Não porque ele não havia entretido aquela angustiante possibilidade antes, afinal, aquilo era uma guerra, mas eles eram a sua família. Eles, Harry e até alguns momentos antes, Peter. Remus, bem, era uma questão delicada, mas diante dos destroços e do indistinguível cheiro de perda, ele tinha certeza de quem era o grande traidor a ser perseguido, e não era Lupin.

Sirius esticou a mão para dentro do seu casaco, tocando o doce que comprara mais cedo para trazer para o pequeno Potter: Lily desaprovaria, é claro, mas no fundo ela agradeceria o amigo com gestos pelo carinho. Agora, não havia nada restante, além de um assassino para pagar, pensou, retendo a mistura de escuridão que o tomava dentro de seus olhos.

A dor parecia querer impedi-lo de adentrar os destroços. Era demais para ele. A noite o espiava de surdina. Era uma cena trágica demais para ser ignorada. Sirius inspirou profundamente antes de adentrar a casa, que pendia fragilmente, com vários escombros. Sustentava-se por pouco, ele notou, já que a força da magia emitida lá quase a colocara abaixo.

Madeiras quebradas, a sala parcialmente destruída. Embaixo de escombros, ele pensou ter visto parte do corpo de seu melhor amigo, mas o homem não quis comprovar sua tese. Não tinha forças para segurar o corpo de James.  Subitamente, ele escutou um barulho de passos pesados atrás dele. Virou-se de varinha em punho, as mãos tremendo.

Hagrid abriu um pequeno sorriso entristecido e Sirius retribuiu-o com um meneio de cabeça.

— Vi sua moto lá na frente, Sirius – disse.

Rubeus Hagrid tinha um corpo grandalhão, mas não precisou se agachar muito para passar pela porta, afinal, era apenas um buraco que se assemelhava a uma.

— Acabei de chegar – ele respondeu.

Hagrid olhou ao redor e murmurou, olhando para Sirius:

— Pobres James e Lily. Tão bons, tenho certeza de que lutaram até o último instante.

A lua junto das escassas luzes externas eram as iluminações na sala destroçada na penumbra. Um choro infantil invadiu os ouvidos dos dois, que olharam para cima, na direção do quarto do pequeno Potter, olhos arregalados.

— Como... – a voz de Sirius apenas flutuou no ar, enquanto Hagrid se apressava pelas escadas que haviam impressionavelmente resistido.

O bruxo mais novo se precipitou atrás de Hagrid, mas quando Sirius alcançou o andar de cima, o outro já retornava segurando em seus enormes braços uma criança de assustados olhos verdes. Ela balançou as pequenas mãos para Black, as lágrimas ainda escorrendo pelo rostinho avermelhado.

Sirius se aproximou de Hagrid, passando a mão nos cabelos de Harry, tão parecidos com os de James. Uma pequena cicatriz em forma de raio manchava a testa de seu único afilhado, mas não havia sinais de feridas. Apenas uma lembrança física do que ocorrera.

— Ele sobreviveu Àquele-que-Não-Deve-Ser-Nomeado – falou o meio-gigante.

Sirius estendeu a mão para Harry, que prontamente agarrou o dedo indicador do padrinho.

— Ele na verdade o derrotou – respondeu Sirius, olhos fixos no menino, em mistura de espanto e encanto.

Rubeus olhava para a cena com olhos pinicando, e com um barulho forte inspirou, gerando aquele som que fazemos quando nos seguramos para não chorar.

— Sirius, tenho que ir, não sabemos se os malditos comensais ainda vão aparecer por aqui – falou enquanto ajeitava melhor o bebê nos seus braços.

Ele soltou o dedo do garoto, mas a criança ainda espiava-o, reconhecendo quem sempre fazia palhaçadas que fazia “papa” e “mama” rirem junto dele.

Hagrid começou a descer as escadas, acomodando melhor o pequeno Harry no seu casaco, querendo aquecê-lo na fria noite. Sirius desceu atrás, alarmado e completamente indisposto a se separar tão facilmente do último Potter.

— Hagrid, qual é? Espera aí, ele é meu afilhado, a minha responsabilidade – disse Sirius, fazendo Hagrid encará-lo pensativo, olhando os olhos determinados do Black. – Lily e James querem ele comigo.

Rubeus suspirou e coçou a barba.

— Sirius... São ordens de Albus, não posso descumpri-las e chegar sem esse menino – falou, indicando a criança que agora resolvera brincar de puxar as barbas do gentil grandalhão.

Sirius coçou a cabeça, olhando de esguelha para a moto. Virou-se para Hagrid, obstinado.

— É o meu afilhado, Hagrid. Ele acabou de perder os pais, precisa de mim. – A face de Pettigrew apareceu um sua mente. - Para onde você está indo?

Rubeus o olhou, deixando um suspiro escapar. Ele entendia Sirius, mas ao mesmo tempo, tinha ordens expressas de Dumbledore para retornar com a criança em mãos.

— Rua dos Alfeneiros, Surrey. É meio longe, mas a criança aguentará a viagem.  

Nesse momento, Sirius fez uma cara completamente escandalizada. O horror invadia cada poro e sua voz chegou a esganiçar:

— Dumbledore só pode estar caducando, Hagrid, os Dursley simplesmente detestam Lils e Pontas. Harry não vai ficar com eles, não me importa o que Dumbledore acha que está fazendo. Eu praticamente conheço a irmã de Lily e o javali que é o marido dela! Harry precisa de família que o ame. Eu sou o guardião legal, Dumbledore não tem poder sobre isso. Ele ficará comigo.

Rubeus encolheu os ombros, internamente concordando com o que Sirius dizia, mas balançou a cabeça em negativa.

— Olha Black – chamou-o, os pés pendendo para a direita, ainda sem se mover. Hagrid olhava para Harry como se ele fosse algo prestes a se quebrar nos seus braços. –, eu confio em Albus, mas você está certo sobre ele precisar da família.  

Sirius sorriu vitorioso, e esticou as mãos para pegar o menino, que o encarou com seus penetrantes olhos, mas Hagrid continuou segurando-o firmemente, e atravessou o que restava da batente da porta da antiga casa dos Potter.

— Você vem comigo – concluiu Rubeus.

Sirius negou e apontou para a casa destruída.

— Eu não posso – disse. – Eu preciso dar um jeito nisso, Hagrid, o quanto antes.

O meio-gigante o olhou duvidoso, e abaixo o tom da sua cavernosa voz.

— Já estão dizendo por aí que essa foi a queda definitiva d’Aquele-que-não-deve-ser-nomeado, os seguidores vão vir aqui atrás dele. Não há mais nada o que fazer pelos Potter, Sirius.

— Peter tem que pagar – disse resoluto, encarando a consequência de sua ideia de não ter sido o fiel do segredo.

Hagrid arqueou suas grossas sobrancelhas e enrolando Harry melhor no seu peito, afastando-o da friagem, falou:

— Você acha que Pettigrew... – uma expressão de desconforto invadiu o rosto de Rubeus, mas ele logo balançou o rosto. – Se você está certo, precisamos levar Harry daqui logo. Dumbledore poderá ajudar com Pettigrew, não deixe que sua teimosia te separe de Harry.

Um vinco apareceu entre as sobrancelhas do Black.

— Como? Eu não me separaria do Harry...

Hagrid o interrompeu, abrupto.

— Nunca se sabe o que pode acontecer nesses tempos. Ele precisa do padrinho vivo.

Sirius engoliu em seco, balançando a cabeça a contragosto.

— Vamos. – Indicou a motocicleta encantada, sentando-se nela.

Sorrindo um pouco, Hagrid montou na moto junto de Sirius após um feitiço de extensão do espaço.  O vento contra o rosto do garoto deserdado pelos Black secou qualquer lágrima que tentava escapar em meio ao vazio.

Ainda derramaria lágrimas e quebraria vasos, mas tinha um dever maior do que ele mesmo. Seu irmão se fora. Um irmão entranhado em seu coração. Lily e James se casaram em guerra. Tiveram um filho enquanto o mundo desabava.

Quando os Potters pediram que ele fosse o padrinho, havia um peso implícito que a esperança tentava disfarçar. Quando a profecia chegou até eles, Sirius engoliu em seco e jurou que colocaria os Potter acima de tudo. Até mesmo do apoio que dava para Remus, se necessário. Protegê-los mesmo se custasse a sua vida.

Era assim que os Blacks lidavam com família de verdade, ele achava. Família acima de tudo. Harry era tudo que lhe restava de Pontas e de Lily. Ele poderia estar órfão, mas nunca ficaria sozinho.

Eles atravessaram a noite sem trocar palavras, o barulho do motor embalando O Menino que Sobreviveu num sono profundo.  

 

 


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Notas finais do capítulo

Preciso das reações de todxs vcs, leitorxs!



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