As Contrações da Fala escrita por Lyn Black, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 2
CAPÍTulo 2


Notas iniciais do capítulo

Eu me inspirei bastante nesse capítulo, amo pesquisar e descobrir esses troços mágicos do nosso mundo!
A menção em Dorcas foi inspirada pela fanfic Persuasão, de Eponine!
Espero que gostem ♥ (Aninha em especial!)



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CAPÍTULO 2

 

Broken mornings, broken nights and broken days in between

Open ground, the sky is open, makes an open scene

 

[Pre-Chorus]

Just like in fiction, in every addiction

Oh fantasy's taking over, awake me

— Conqueror, AURORA

 

 

 

31 de outubro de 1981 - Halloween/Samhain

O dia 31 de outubro de 1981 apareceria nos futuros livros de História Bruxa Contemporânea, afinal, naquela noite, quando Lorde Voldemort não voltou de sua missão, os Comensais se desestabilizaram, e logo os boatos começaram. Os cochichos surgiram desenfreadamente: “Você-sabe-quem havia caído por causa do menino Potter”. Abruptamente, um conflito, que transpassava uma década e espalhava terror entre a comunidade bruxa, parecia estar sendo encerrado.

Os bruxos, como bem se sabe, pouco contiveram sua alegria. Eventos estranhos foram noticiados pelos trouxas, como revoadas de corujas na luz do dia e grupos de pessoas com estranhas roupas. Havia alívio no ar, um suspirar pesado que se deixava escapar pelas bocas daqueles que há tanto tempo andavam com varinhas tensas em mãos já trêmulas.

Na manhã do fatídico dia, um vento frio circulava pelos ares de  Northumberland. Localizado no norte da Inglaterra, o condado de Northumberland, banhado pelas águas do Mar do Norte, era um lugar calmo demais para toda sua carga de guerras. Por ser localizada numa região fronteiriça, a cidadela foi berço de confrontos, e o sangue ainda rega as raízes dos extensos campos da região. Os mitos, também. E era lá que Remus Lupin estava.

Oculto por uma pesada capa, que o protegia das rajadas da tempestade que se aproximavam pelo mar, Remus caminhava pela costa, observando o findar de um longo amanhecer. Nem mesmo uma forte poção de sono fora suficiente para aquietar sua mente.

Lupin, diferente da maioria dos lobisomens, nunca fora um lobo de matilha. Apesar de se ver como um lobo solitário, não ter contato por um mês com quase ninguém que, de fato, o conhecia, o deixava agoniado. Contudo, todos estavam fazendo sacrifícios. Não seria ele a julgar o seu maior do que o de outros.

A praia estava completamente deserta naquela hora, nem mesmo os turistas mais animados chegavam a arriscar o caminho que ele tomara, para ir do vilarejo até a costa, antes de haver movimentação. Os boatos de aparições eram suficientes para afastar curiosos durante a noite. Sendo Northumberland uma típica região da Inglaterra que conservava sua estrutura medieval, com um vilarejo que crescera à sombra de um grande castelo, as fantasias e mitos faziam parte da experiência, entretanto assustavam muitos.

O trajeto era extenso, mas Lupin apenas dera os ombros e se decidira por caminhar até seu destino, o Castelo de Bamburgo, epicentro de sua missão ali. Dumbledore não apenas exigira sua discrição, como um voto perpétuo havia sido selado. Um voto de silêncio.

Remus sempre admirara Albus Dumbledore; sua sabedoria, compaixão, poder, e quase invisível dor. Afinal, garotos feitos de estilhaços têm um olhar aguçado para reconhecerem outros garotos, um dia, já destroçados. Foi por isso que ele apenas concordou quando o antigo diretor o retirou do campo de batalha, apesar de precisarem de todas as varinhas possíveis contra o Lorde das Trevas.

Ele engolira em seco ao saber que sua missão envolveria desaparecer subitamente da vista de todos seus amigos, a única família que lhe restava. A insegurança quase o fez recuar diante da tarefa, mas Albus apenas sorriu, dizendo que confiava nele. Missão após missão, ele tinha raras chances de encontrar os amigos, e distância em tempos sombrios poderia causar um estranhamento fatal ou uma aproximação intensa.

Quase dois meses depois, aquilo pesava nos seus ombros. Pesava pela insegurança de ser acolhido novamente. A raiva escondida no rosto de Sirius naquela noite ainda estava reverberando na sua mente. Ele precisara se aproximar de Alexei, e as coisas se desenvolveram de maneira surpreendente, contudo ele sentia que, independente da explicação, seria condenado enquanto a guerra durasse. E ela não tinha data para acabar, uma das muitas razões que tiravam o sono do rapaz, fazendo suas olheiras serem sua marca característica.

As ondas quebraram na areia com força, sobressaltando Remus, que agarrou a varinha no bolso, quase a empunhando. Afinal, estavam em guerra, e esta é o sinônimo do reino da desconfiança. Ele admitia que, com ela, havia momentos em que duvidava de velhos amigos, pois Voldemort provara que há algo de sombrio dentro de todos, só esperando para ser desperto.

Um arrepio desgostoso passava pela espinha de Remus ao pensar no Lorde das Trevas. Ele matara com suas próprias mãos, Lupin sabia, Dorcas Meadowes, a mulher mais destemida que conhecera durante sua juventude. Porém Remus também escutara os rumores abafados sobre a verdade por trás da morte de Dorcas. Ele não precisara levantar a varinha, diziam, porque Voldemort era um mestre em persuadir as pessoas a verem somente a desesperança diante delas. Elas mesmo puxavam o gatilho, diziam as línguas, quando Voldemort se dava ao trabalho de fazer uma vítima em especial.

O castelo começou a se tornar mais detalhado à medida em que ele se aproximava. E se estava lá agora, era pelas informações sussurradas pelo afilhado de Greyback. Remus passara semanas indo de pequeno vilarejo em pequeno vilarejo, farejando não um cheiro específico, mas magia. Agora, ele tinha um instinto de que havia a achado. Hoje era seu prazo, ele precisava tê-la encontrado.

Traçando seu caminho à beira do oceano, Remus se lembrou do encontro com Dumbledore. Lá, fora introduzido a uma crença trouxa da Escócia e do norte da Inglaterra: o mito da Rainha de Elphame. Albus explicara a origem do mito popular nos julgamentos de uma mulher acusada de bruxaria, quem teria dado origem aos rumores e mitos sobre um ser mágico, a Rainha das Fadas.

Entretanto, crenças como essa sempre tinham algum fundo de verdade, Lupin sabia. Não era a toa que os trouxas tivessem uma versão notavelmente distorcida sobre lobisomens, todavia soubessem de suas existências. Um calafrio passou pelo corpo dele ao entrar nos limites mágicos do castelo. Havia algo poderoso lá, ele conseguia sentir. Algo ansiando por contato num dia tão mágico como o Samhain.

Encontrar a Rainha Elphame das baladas escocesas, então, era uma estranha missão relegada a Remus, pois quer ele gostasse ou não, lobisomens eram seres mágicos. Ele não conseguira se convencer disso, porque crescera escutando ser uma aberração, contudo existiam matilhas de lobisomens profundamente conectadas a uma magia muito mais antiga do que Hogwarts, muito diferentes de Fenrir Greyback. Era o estranho caso do afilhado do mesmo, quem debandara para exploração até receber um chamado do padrinho durante a guerra.

Porém, lobisomens só compartilham segredos e tradições com integrantes da matilha, e Lupin sabia que tinha o indistinguível cheiro de um lobo marcado e fugido. Sua presença causava instantânea desconfiança no lobo dentro de qualquer ser meio-lobo. Menos, para sua sorte, no ferino Alexei Greyback, quem parecia fascinado com as conversas de Remus e aberto a compartilhar informações preciosas após um contato íntimo.

O que era outra dor de cabeça, já que o Voto Perpétuo o impedia de explicar para Sirius, por exemplo, que Alexei era necessário, e na verdade, uma pessoa interessante. Não que Sirius estivesse agindo de uma forma muito madura, tinha que admitir, mas seu sumiço total só pioraria as coisas.

Dumbledore o encarregara, então, de entrar em contato com sua natureza mais renegada para invocar a verdadeira origem dos boatos trouxas. Nicnevim, a deusa anciã das bruxas, conhecida por realizar desejos e, segundos superstições, estar conectada ao limbo que se encontrava entre os mundos. Tecnicamente, ele não invocaria um ser poderoso de verdade, mas faria uma cerimônia para se conectar com as essências mágicas dela para convocar ajuda da deidade contra Voldemort. Aquele era o dia perfeito, afinal ela era a imagem do Samhain.  

Era tudo muito poético, pensou Remus, ironicamente, chutando uma pedrinha no meio da areia. Ele era um lobo solitário, e não era somente ele quem pensava isso. Seguindo um conselho de um bruxo que morava numa das primeiras aldeias que visitou, buscou achar alguma matilha escondida nas florestas do norte. Seu chamado fora completamente ignorado, como Alexei previra. Ele se confortava na solidão, mas ela era sufocante de vez em quando. Conectar-se com seu lobo interior era se conectar com quem ele ignorava quase sempre. Uma dor muito grande para abraçar com orgulho.

Remus sentia falta das piadas de James, do jeitinho conselheiro de Lily e do pequeno Harry. Uma criança doce demais para tanto horror. Seu coração contorcia-se, porém, com mais força, por Sirius. Só de pensar no outro rapaz, Lupin sentia uma vontade de correr.

Correr, porque nas últimas vezes que vira Sirius, encontrara um homem sombrio e com ar maldito. Cabelos desalinhados e o odor de whisky de fogo sempre o cercando. Ele trazia uma insegurança desconfortável em Lupin, seus sentidos traçavam rastros de algo em Sirius que o afligia. Tinha medo de cada vez o reconhecer menos.

Sirius Black andava com um semblante estranho fazia algum tempo. Arisco, evitando falar com Remus sobre qualquer coisa que não fosse a Ordem. Talvez em razão da suspeita sobre Alexei, mas Sirius os flagrara duas semanas antes, no máximo, e o comportamento de Black tinha meses. Ele não havia sido exposto para a Ordem por ele, até recebeu cartas de Kinglsey. Por que Sirius daria cobertura para um suposto traidor, então?

Lupin era introvertido, porém evitar falar sobre urgências o matava aos poucos, e Black era o mestre em evitar lidar com o que o corroía, até ser tarde demais. Aqueles, porém, eram tempos sombrios, e Lupin aprendera, ao perder amigos para raios esverdeados, que não havia mais tempo para deixar as coisas para depois.

Se Sirius se fazia calar, havia algo de muito errado: o papo sobre Greyback poderiam esconder algo mais sombrio. Os instintos de Remus perto da Lua nunca erravam, para seu desespero. Ele não conseguia evitar esperar o pior. Sendo um Lupin, portanto, não conseguia evitar se culpar por isso.

Perdido nos pensamentos, Remus começou a caminhar pelo gramado, já traçando com os olhos uma entrada para o castelo. Lugares como aquele tinham cheiro de magia, e ele sentia, com certo tremor, algo dentro dele despertando mesmo sem uma Lua Cheia por perto.

Naquele entardecer,  Remus fez o ritual. Os amuletos que carregava estavam agora ativados, e ele sentia uma ligação com algo maior do que ele, uma magia que nem lhe pertencia.

Porém um trauma maior pareceu romper o elo feito com Nicnevim. Ele a sentiu deixando-o por completo ao terminar de ler pela terceira vez a carta que chegou para ele na manhã seguinte. Pela próxima semana, Remus Lupin esteve inalcançável, até mesmo para Dumbledore, perdido pelas florestas do Norte. O Lorde das Trevas caíra enfim e, em sua queda, carregara James e Lily Potter.


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Notas finais do capítulo

Ai, ai... Meu Remus...
Compartilhem suas dores e amores nos comentários comigo!
Até o próximo ♥



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