Ameaças de Areia. escrita por Carenzinha


Capítulo 7
N


Notas iniciais do capítulo

GENTE DESCULPA NÃO DEU PRA POSTAR SEXTA AAAAA



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N

 

Mike Almire Fernandiz.

15/10/2022                   

Das 14:00 até 21:00.

 

As contas complexas de matemática, os problemas da temida física e as ligações da química pareciam estar tomando conta da minha mente. Os números queriam pular para fora do papel, e eu podia jurar que estava vendo dobrado.

Na minha frente estavam empilhados diversos livros da área de exatas e biológicas. As luzes estavam acesas e do meu lado direito estava uma xícara cheia de café. Na minha frente estava uma parede bege, que eu gostava de olhar quando eu estava muito entediado ou não conseguia chegar ao resultado esperado da questão.

Encostado na parede da cozinha estava meu arco e flecha, aquilo que foi responsável por ser minha diversão por anos. Acima estava um alvo de dardos, que eu jogava quando estava entediado. Sempre gostei de arco e flecha, portanto praticava desde mais novo. Embora meu irmão nunca tenha se interessado pelo esporte ou entendido meu fascínio.

Eu só gostava de acertar no alvo, marcar o máximo de pontos e não decepcionar ninguém. Tudo o que eu precisava fazer, portanto olhava para as equações pensativo.

A minha folha de rascunhos (onde eu tentava fazer contas complexas) estava colocada sobre uma mesa de mármore branca com manchas marrons. De baixo da folha, estavam muitas outras em branco para o caso de erros. Do meu lado esquerdo estava meu celular, aberto em uma questão de matemática, a qual eu tinha copiado o problema. Na parede direita estava um relógio branco de ponteiro, que volta e meia eu o conferia para ver o quanto eu já tinha estudado. E ele estava indicando que eu já tinha ficado encarando os papeis tantas horas que era admirável eu não ter surtado ainda.

Os “2” me lembravam patos, os “3” pareciam uma letra M um tanto rebelde (pois gostavam de sair da posição que eram para ficar), ou uma letra E de mão vista do espelho. Os “4” me lembravam alguém fazendo a “postura da árvore” em uma aula de yoga. Os “8” pareciam o símbolo do infinito, para me mostrar o tamanho do meu cansaço: algo sem fim. As raízes quadradas não tinham mais sentido, os números imaginários começavam a dançarem no papel, e a minha folha de resolução estava parecendo mais um grande rascunho, por causa da enorme quantidade de rabiscos que estavam nela.

Tinha também todos os “1” que pareciam dançar para se encontrarem com os “3”, um número de má sorte na certa.

Azar seria o que eu teria se eu não passasse na prova prestigiada, a qual eu virava madrugadas estudando. Má sorte seria não realizar o meu maior sonho: trabalhar no Laboratório Flor de Lins, um lugar prestigiado, onde apenas os melhores cientistas conseguiam uma vaga.

Flor de Lins era um laboratório incrível, onde os membros poderiam fazer qualquer pesquisa que quisessem, eles teriam apoios dos patrocinadores. Os cientistas eram financiados por empresas e gente incrivelmente rica. Tinham liberdade para fazer experimentos que melhorariam a vida de todos.

Em parceria com biólogos, médicos e intelectuais, esses membros conseguiam achar curas de doenças, criar alimentos sinteticamente modificados menos prejudiciais, recriar espécies de plantas e animais já extintas.

 Quando uma pessoa entrava para Flor de Lins, ela via todas as portas se abrindo de uma única vez. Um incrível “mar de possibilidades” se abria para ela. A partir desse momento, o cientista passava a ser conhecido e respeitado. Passava a ter patrocínio para desenvolver seus projetos e suas opiniões. Quando falhava, tinha dinheiro necessário para tentar novamente, e quando acertava ganhava ainda mais fama e prestigio.  

O Laboratório era aquele com mais prêmios. Seus cientistas tinham descoberto os últimos inventos e melhorias atuais, portanto, de destacaram em importantes premiações, fazendo Flor de Lins conseguir o posto de melhor centro de pesquisa atual.

O lugar continha tudo o que era de mais novo e de mais avançado no ramo da ciência para ajudar seus membros a terem uma melhor chance de pesquisa e acerto.

Laboratório Flor de Lins era um nome muito pronunciado por “cabeças” da ciência. Os grandes revolucionários da medicina e botânica começaram como estagiários de lá, receberam ajuda para a tese e mestrado e se mostraram perfeitos gênios da ciência. Muitos voltaram para Flor de Lins, onde passaram a darem aulas lá dentro e financiar projetos de outros jovens entusiasmados e com sede por conhecimento.

O grande prédio é parte universidade e parte “área de trabalho”. Na universidade, os jovens que se demonstrarem incríveis passam a estudar lá. Já na “área de trabalho” é para cientistas mais experientes, onde trabalham em projetos de extrema importância. Muitos daqueles que fazem faculdade no laboratório, continuam lá na “área de trabalho”

Na minha época de faculdade, não tive coragem de tentar uma vaga para estudar no Flor de Lins, por achar que eu fracassaria. Acabei passando em outra faculdade onde estudei biologia e química. Resolvi prestar estágio na indústria farmacêutica, pois estava decidido a fazer algo nesse ramo.

Já a física, eu tratei de estudar sozinho, sempre me dedicando ao máximo.

Meu sonho de ser cientista está presente na minha vida desde os 7 anos de idade, graças a ele resolvi fazer uma faculdade relacionada e me especializar em uma determinada área. Eu amaria fazer remédios para curar doenças das pessoas, fazendo todos terem uma vida mais saudável.

No fundo, eu sempre quis trabalhar no Laboratório Flor de Lins, então eu acabei me sentindo um tremendo fracassado quando eu não consegui ter a coragem necessária para prestar a prova de lá. Porém, o destino parecia estar me dando uma nova chance quando foi divulgado publicamente que o Laboratório pretendia desenvolver um remédio responsável por curar mais de 20 tipos de doenças, e para isso estava em busca de novos cientistas.

O pessoal do Laboratório resolveu chamar o projeto de “Projeto Cura”.

Eu mal pude conter minha empolgação quando soube disso, eu realizaria o que eu sempre quis. Estaria no lugar que eu sempre quis estar.

Então, eu estava com 24 anos pretendendo entrar na “área de trabalho” do Laboratório.

“Devo estar louco.” Eu pensei, mas eu sorria ao ver a oportunidade me esperando.

Mas, uma coisa fez meu coração se despedaçar e meu corpo ser tomado por um nervoso gélido: apenas um cientista seria escolhido para começar a desenvolver o projeto na “área de trabalho”. Somente um conseguiria fazer o “Projeto Cura”, aquele que obtivesse as melhores notas nas três provas que seriam aplicadas.

Dessa vez eu decidi não deixar a oportunidade passar, resolvi preencher o formulário, a ficha de inscrição e entrega-lo para o Laboratório, eu estava determinado a prestar a prova e passar com louvor.

Porém, um sentimento de dúvida perdurou em minha mente quando eu entreguei aquela folha super suada. Um medo de ter feito a coisa errada, de ter sido tolice me inscrever e achar que eu seria capaz de competir contra várias pessoas muito bem preparadas. (me contaram que mais de 200 pessoas já tinham se inscrito, e ainda faltava um mês para acabar o prazo para a inscrição).

Meus pais e meu irmão me disseram que já estavam orgulhosos de mim só por eu ter decidido que prestaria a prova. Eles também contaram que me achavam incrivelmente capacitado para prestar a prova, e mais: passar em primeiro lugar. Mas, confessaram que se caso eu não passasse, não teria problema nenhum, pois eles saberiam que eu iria ter dado o meu melhor. Então de qualquer forma estavam felizes e orgulhosos de mim.

Uma pena que eu não conseguisse pensar isso de mim mesmo, já que me sentia um fracassado só de pensar que eu poderia não conseguia passar em primeiro lugar. Eu sempre me cobrei bastante, e sempre quis que eu tivesse o melhor desempenho possível. Portanto, para mim seria uma desonra eu não conseguir a nota máxima.

Sei que sempre prezam a pessoa ter feito o melhor dela. Mas, eu prezo conseguir o trabalho no Laboratório Flor de Lins, desenvolver o Projeto Cura e permitir para as pessoas uma vida longa e mais saudável.

Cocei meus olhos enquanto encarava a folha molhada e rabiscada. Eu odiava sofrer com o suor. Mordi o meu lápis enquanto tentava distinguir qual era a nova conta, a conta antiga, e a conta mais antiga ainda. Parecia um grande amontoado de números e fórmulas.

“Qual era a droga da equação que eu estava usando mesmo?” Pensei enquanto colocava minhas mãos em minha cabeça e refletia sobre como eu deveria ser mis organizado em meus cálculos.

Eu passei meus olhos pelas contas rabiscadas com “X” ou circuladas. Alguma coisa tinha que fazer sentido na minha bagunça.

“Desse jeito nem parece que você é de exatas!” Eu murmurei me repreendendo. Como eu pretendia ganhar o primeiro lugar e ir fazer o Projeto Cura desse jeito? Eu precisava arrumar essa bagunça de números.

Fiz o mais lógico possível: amassei toda a folha, e depois inutilmente a desdobrei. Então, peguei uma outra folha e comecei a fazer o problema novamente. Volta e meia murmurava uns xingamentos para o papel e para mim, pensando em como aquilo poderia ser absurdamente simples e ao mesmo tempo, muito complicado.

Depois de um tempo, refiz a tão temida fórmula. A borracha devia ter diminuído para sua metade, de tanto que eu apaguei. Tinha tentado ser menos desorganizado dessa vez, e me senti feliz com o resultado.

Tinha menos rabiscos do que a maioria das coisas que eu escrevia. Contemplei o resultado: tinha usado dezesseis linhas para chegar em uma simples “raiz de 2”. Mas, pelo menos eu tinha que admitir: foi o problema de matemática mais complicado que eu já tinha resolvido em toda a minha vida.

“Finalmente acabou!” Pensei enquanto soltava um suspiro de alivio. Aquela coisa monstruosa chegou ao final. Peguei meu celular e conferi a resposta com a da internet.

E para a minha total infelicidade, minha resposta estava errada.

“OH DROGA!” Eu gritei enquanto amassava o papel com uma enorme fúria. “COMO EU VOU ENTRAR PARA A FLOR DE LINS? EU SOU UM RETARDADO!” continuei gritando, não conseguia acreditar que tinha ficado quase meia hora em um problema de matemática e o meu resultado tinha dado errado.

Outra coisa: a prova vai ter tempo limite para acabar, então como eu pretendia passar demorando mais de vinte minutos em uma questão?

“Eu estou arruinado.” Murmurei e apoiei minha cabeça na mesa, depois coloquei minhas mãos em meus cabelos e passei a olhar a desonra que o problema estava me mostrando. Admiti que eu seria um grande fracasso no concurso.

“Não sabia que os gênios eram tão bagunçados.” Uma voz conhecida surgiu atrás de mim, era meu irmão mais velho.

“Eu não sou um gênio.” Disse desapontado.

 “Então me explique o que você fez ai, estou me sentindo um burro então, já que não faço a menor ideia do que está escrito ai.” Meu irmão disse dando uma leve risada. Era incrível como o tom descontraído e animado dele fazia tudo ficar menos tenso.

“Acha mesmo que está bagunçado?” Eu me virei o olhando.

“Se eu acho?” Ele voltou a rir. “É mais fácil desamarrar um nó górdio do que entender esses rabiscos ai. Pensando bem, isso não seria um novo nó górdio? Sabe? Eles adaptaram a lenda para o papel, se for isso sua bagunça está perfeita!”

“Ah.” Eu murmurei um tanto desinteressado, meu irmão era fascinado pela lenda do nó górdio.

“Qual é o problema, Mike? Você nem começou a rir...”

“Ah você sabe, Silas. É esse lance com as provas.” Eu respondi.

Silas rapidamente puxou uma cadeira e se sentou do meu lado. Logo depois disse:

“Escuta, Mike. Você é o cara mais inteligente que eu conheço. E eu não estou falando isso só porque puxou pra mim na genética...”

Eu soltei uma risada.

“É a verdade, cara. Você vai arrebentar nessas duas provas!” Ele completou.

“Três.” Eu o corrigi.

Não era apenas uma prova, mas sim três. Uma envolvendo química, física e matemática, outra com biologia e a área em que sou especializado, indústria farmacêutica, e a última sobre conhecimentos em experimentos, onde teríamos que executar ao vivo diversas experiências.

“Ah que seja.” Ele deu de ombros. “Mas, tenho certeza que você vai conseguir.”

“Ah sei lá, eu mal consigo acertar uma mera conta.” Falei desanimado, queria confiar em mim assim como Silas confiava.

“Mera conta?” Silas riu novamente. “Isso aqui é o rascunho do inferno, cara!”

Eu revirei os olhos de leve, sorrindo.

 Ele apontou para um número aleatório e exclamou:

“Olha só, é o capeta em pessoa!”

Isso me fez dar um sorriso.

“Escuta, Mike. Se um dia alguém te falar que você não é bom, não deixe, cara. Você é incrível, maninho.” Silas falou, meu irmão era definitivamente alguém ótimo.

Meu irmão era uns 20 centímetros mais alto que eu, tinha cabelos marrons mais claros que o meu, com cachos tão compridos que passavam da cintura. Desde pequeno sempre fugiu do cabelereiro, mesmo quando minha mãe implorava para ele cortar a cabeleira, nem se fosse um pouquinho. Às vezes usava um elástico para prender o cabelo, que era sempre da cor verde.

Silas era um artista nato, bom em matérias tanto de humanas quanto de exatas. Era pintor amador (embora eu o considerasse melhor do que muitos profissionais) nas horas vagas, e agora estava em seu terceiro ano da faculdade de artes cênicas.

Meu irmão tinha 27 anos, mas resolveu começar a de faculdade de artes cênicas com 24. Antes de decidir por atuar, ele cursou gastronomia, e logo parou. Com 24 finalmente decidiu por ser um ator, e eu nunca o vi tão feliz desde quando começou o curso.

Silas sempre foi alguém completamente alto-astral, que faz de tudo para deixar os outros felizes, sempre esteve presente quando alguém precisava de ajuda em um problema. Era o melhor irmão que eu poderia querer.

“Obrigado, você também.” Eu disse.

“Eu? Só rabisco e faço umas caretas em um palco. Você que é o gênio.” Silas respondeu.

“Pelo menos os seus rabiscos têm sentido. E você faz caretas melhores do que as minhas.” Eu disse fazendo uma careta.

“Eu duvido.” Ele respondeu.

Eu abaixei a cabeça e confessei:

“Eu estou com medo de não conseguir trabalhar no Flor de Lins.”

Meu irmão olhou para mim como se eu tivesse falado a coisa mais absurda do mundo.

“Você pirou? Tanto estudo deve estar te fazendo mal.” Ele disse. “Se tem alguém capacitado pra ir trabalhar naquele laboratório é você.”

Eu dei de ombros sem acreditar muito.

“Agora, larga esses livros. Vamos jogar vídeo game.” Meu irmão disse animado.

“Silas, você sabe que falta pouco tempo para as provas e eu tenho que ser o melhor.” Eu disse desapontado.

“Ah, que mané provas o que? Você está estudando ai nessa mesa faz tanto tempo que você está quase virando parte da mobília!” O modo expressivo, gesticulado e até um tanto exagerado como Silas falava, me fez ter ainda mais certeza que a faculdade de artes cênicas era a faculdade perfeita para ele.

“Você tá fazendo uma faculdade que é a sua cara.” Eu disse com um sorriso.

“Nossa, então essa faculdade deve ser maravilhosa!” Ele exclamou. “Agora, bora jogar?”

“Mas...” Eu disse pensativo enquanto olhava para meus livros empilhados.

“Vamos logo, Mike. Seus livros idiotas ainda vão continuar mofando quando você voltar.” Silas falou.

Eu já tinha estudado por mais de seis horas, eu merecia um descanso.

“Certo.” Eu disse me levantando.

Meu irmão sorriu.

“Aposto que eu ganho de você.” Ele disse me desafiando.

“É ruim, heim? Eu duvido.” Eu respondi.

Silas colocou sua mão em meu ombro, fez uma cara séria e respondeu com confiança.

“Eu vou ganhar.”

Logo depois começou a rir, despenteou meus cabelos e passou seu braço sobre meu ombro. Nós dois nos dirigimos para a sala, onde eu sentei no sofá e Silas começou a escolher um jogo. Olhei para meu irmão e pensei em como eu era sortudo em ter alguém para tentar me ajudar, me apoiar e tentar me fazer rir.

“Vai ser bom eu me distrair por alguns minutos, a prova é só em dezembro, ainda estamos em outubro.” Eu pensei, tentando me tranquilizar.

Silas jogou um controle para mim.

“Agora tente vencer o mestre!” Ele se gabou.

Nós dois rimos e começamos a jogar.


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