Ameaças de Areia. escrita por Carenzinha


Capítulo 8
I




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I

 

Ethan Feduncio.

3/11/2023

Das 15:25 até 15:28.

 

Resolvi me levantar, sem saber onde eu estava.

Eu ofegava como nunca.

Sentia como se as paredes fossem me consumir.

Era claustrofóbico, sempre fui.

Apalpei as paredes do lugar, eram frias e metálicas.

O lugar era malcheiroso.

Suava frio, tremia intensamente. Conseguia me lembrar das últimas coisas que eu tinha feito antes de parar confinado em um lugar escuro, tenebroso e apertado.

Quando bateu às 15:00 vim correndo para a Flor de Lins porque o meu trabalho já ia começar. Vim apressado não pela possibilidade de estar atrasado, mas porque aquela areia estava correndo atrás de mim. Não importa o quanto eu tentava fugir, aquele rastro tenebroso continuava a me alcançar.

Mal cheguei na A-012 e fui bruscamente empurrado para um lugar desconhecido o qual eu gostei de chamar de: O pior dos meus pesadelos depois daqueles grãos.

O nome foi criado um segundo depois que me vi desesperado em um espaço fechado e escuro.

Um local abafado, quente, assustador, apertado. Alguém tinha me colocado nele, embora nessa altura do campeonato eu conseguisse ter inteligência suficiente para saber que na verdade era “algo”. Sendo mais especifico: uma coisa com cinco tenebrosas letras, areia.

Tentava andar no espaço apertado mas parecia impossível, eu estava imóvel de medo, me sentia tonto, tremia cada vez mais.

Recuei um pouco para trás visando recuperar meu ar. Porém, bati em algo, senti uma coisa. Vários grãos agrupados cheirando a ovo podre e a decomposição. Estremeci, perdi a respiração por alguns segundos e me senti incrivelmente tonto. Dei alguns passos para a direita e...

“AARGH!”

Minha cabeça latejou profundamente. Apalpei com as mãos o que tinha feito esse estrago. Era frio, metálico, assim como as paredes, também era um tanto fino. Eu não sabia o que era só sabia que quando recuei tinha encontrado o objeto e batido nele.

Estava escuro, era complicado enxergar qualquer coisa. Se ao menos eu conseguisse lembrar o que aconteceu...

Eu estava na A-012 me preparando para continuar meu projeto de biologia, quando notei pelo vão da porta a areia chegando. Aquela coisa sempre me perseguia, me ameaçava e me fazia sentir observado o tempo todo.

Resolvi me virar de costas, quem sabe não vendo a areia o problema pudesse diminuir. Ou talvez aquelas desgraçadas pensassem que eu estava as ignorando e resolvessem ir embora. Lembrava de ter respirado fundo e de sentir uma gota de suor escorrer por minha testa.

Foi quando escutei um barulho. A porta da A-012 estava sendo aberta. Porém, eu não tive coragem de olhar. Poderia ser o diretor me dando bronca ou pior, aquelas coisinhas granulares.

E, quando me dei conta tinha sofrido um empurrão e caído de cara em um lugar que eu não conseguia me lembrar o que ou onde era. Depois me levantei e percebi que estava trancado. Murmurei uns palavrões enquanto o medo começava a se apossar de mim. Agora, ele já me dominava.

Em meio ao meu desespero vasculhei os bolsos da minha bermuda e levei minha mão direita ao pomo da faca que Pietra me dera há alguns meses. Cheguei a achar essa ideia de carregar algo cortante uma coisa incrivelmente macabra, porém, quando comecei a ter assassinos na minha cola, decidi aderir aos conselhos da mulher.

Quando a secretária me ofereceu pela milésima vez se eu gostaria de uma faca e eu finalmente aceitei, ela me encarou com curiosidade e até uma esquisita admiração. Eu podia jurar que a vi sorrindo de maneira sinistra quando me entregou uma caixa com um instrumento afiado parecido com de chefes de cozinha. A diferença é que a lâmina parecia ser afiada diariamente.

Nas palavras de Pietra: “Uma verdadeira arma mortal nas mãos certas.”

Tive medo dessa frase.

A faca era um tanto pesada, mesmo assim conseguiu ser encaixada na bainha que Pietra também dera (o objeto estava encaixado em minha cintura). Mesmo assim uma parte do pomo ficava à mostra, o que fazia com que as pessoas achassem que eu era um assassino sanguinário ou algo do tipo. Mas, que escolha eu tinha?

Eu não pretendia matar ninguém, assim como eu não ia matar. Só aceitei o objeto porque estava morrendo de medo dos grãos de areia, e se caso eles tentassem algo contra mim eu poderia amedronta-los.

É possível cortar areia com uma faca, certo?

Não sabia, mas quem se importava? Eu poderia estar com uma faca sem nenhuma utilidade, porém queria amedrontar aquela ameaça, então não consegui negar quando a secretária me ofereceu o objeto. Eu nunca treinei com facas, então eu não sabia se conseguiria realmente me defender.

Porém, quem ligava? Eu tinha uma faca.

O lugar ficava cada vez mais abafado. Minha testa estava completamente molhada de suor, eu queria sair, mas não encontrava forças para gritar, estava com medo.

Peguei a faca. Era complicado enxergar no escuro, porém eu sabia que a mesma tinha uma capa roxa um pouco mais clara do que o pomo. Pietra a chamava de “Julieta”, ela me disse que gostava de nomear as facas, cada uma de sua coleção possuía nome e apelido. Se não estivesse tão nervoso com a perseguição dos grãos teria perguntado sobre quantos objetos cortantes ela tinha.

 “Na real, pra tá sendo perseguido por areia eu devo ter em um mundo paralelo, copiado o trabalho de algum cientista e ter levado por ele.” Falei para eu mesmo, no mais alto tom que meu desespero deixava. Logo depois bufei. “Na moral, que porcaria eu fiz pra merecer o que tá acontecendo?”

Tentei andar, tentei respirar normalmente.

Respira.

Inspira, expira.

“Está tudo bem, Ethan. Você não está trancado em um lugar desconhecido, escuro apertado e fedido.” Pensei. “Na verdade, está sim.”

Fechei meus olhos. Tinha certeza que tinham se passado horas.

Gritei:

“AAARGH! COMO SE NÃO BASTASSE A AREIA AGORA TEM ESSA CLAUSTROFOBIA! MAS QUE...” Foi quando minha cabeça latejou novamente, tinha batido mais uma vez naquele objeto metálico desconhecido. Massageei os meus cabelos e já imaginava um galo levantando. O pânico não saia de mim, aquele lugar escuro me consumia. Aquele lugar incrivelmente fechado por quatro paredes metálicas e geladas. “Porcaria.” Murmurei.

Olhei para a parede oposta ao objeto que já tinha batido a cabeça duas vezes, depois olhei para a faca que estava na minha mão e tive uma ideia.

Segurei o objeto ao contrário, com minha mão direita tocando mais a capinha do que o pomo. Dei uns passos para a esquerda e toquei em mais areia. Uma coisa que parecia estar misturada com algo líquido, o cheiro piorou, o que me fez pensar que esse era o motivo para o odor podre, a areia. Sempre a maldita areia.

Respirei fundo e cerrei as sobrancelhas, me perguntava quanto tempo eu estava trancado.

Comecei a bater com o pomo na parede de metal, completamente desesperado. Dava golpes com força, na esperança de alguém perceber ou escutar.

Notei uma pequena deformação no metal, sorri, talvez se alguém aparecesse eu estaria livre. Porém, um súbito sentimento me invadiu. E se o lugar ainda estivesse igual? E se o que eu estava vendo fosse apenas algo da minha cabeça? Talvez eu estivesse enlouquecendo.

“Conviver com uma areia assassina realmente faz mal à mente humana.” Pensei comigo um tanto cansado.

Depois, voltei a dar novos golpes e, reunindo toda a força que conseguia passar por cima do meu desespero, comecei a gritar enquanto usava a faca.

“ALGUÉM ME TIRA DAQUI, EU ‘TO’ DESESPERADO CARAMBA!”

Comecei a ofegar e a me sentir nauseado, eu era claustrofóbico e odiava isso profundamente.

O local cheirava tensão, desconforto e areia. Eu sabia que aqueles grãos podres estavam envolvidos nisso de alguma forma.

Bati no metal mais algumas vezes enquanto tremia. E, foi quando uma luz surgiu e eu ouvi o melhor e mais incrível som de todos.

O som de uma porta se abrindo, a liberdade chegando.

Quando pensei em comemorar fui surpreendido por uma mão desconhecida me agarrando pela blusa e me puxando bruscamente para fora do local que eu estava confinado.


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