Ameaças de Areia. escrita por Carenzinha


Capítulo 5
E




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E

 

Mike Almire Fernandiz.

2/9/2023            

Das 14:00 até 14:10.

 

Olhava para um grão de areia que fora colocado cuidadosamente no microscópio, um dos muitos que eu coletei na rua e em qualquer lugar que eu pudesse acha-los. Eu os estava comparando, na esperança de encontrar uma semelhança na composição deles, visando solucionar o problema.

Eu não sabia mais o que estava acontecendo.

No começo achei que eu estava ficando maluco, já que via areia saindo pelas mãos das pessoas. Mas, quando vi meu irmão se jogar da janela e se transformar em areia, eu percebi que era tudo mais sério do que eu pensava.

De uma hora para outra parecia que meus olhos tinham se aberto para um problema que estava presente na sociedade desde um tempo que eu não conseguia determinar. Passei a ficar mais atento, e descobri relatos de hospitais com pacientes “sujos de areia” ou coisas do tipo. Perguntei para pessoas que alegaram conhecer alguém que tinha areia dentro do corpo, e pouco a pouco, isso foi se espalhando.

Eu tinha vasculhado bibliotecas e sites de informações, medicina e farmacêutica, mas nada parecia resolver. Ninguém tinha a resposta para a grande questão: o que estava acontecendo?

Antes aquilo era praticamente inexistente, mas agora várias pessoas estavam fazendo filas em hospitais para perguntar o que significava soltar grãos pelas mãos. Os médicos não sabiam a resposta, mas pediam para elas não comentarem sobre o que estava acontecendo, pois não queriam um escândalo.

Eu sabia de tudo isso porque pesquisei muito e conversei com muita gente. Eu sentia que estava pirando. Antes eu já queria achar respostas, mas, depois que percebi que meu irmão também estava com os sintomas, minha vontade de descobrir o que estava ocorrendo aumentava ainda mais.

Pietra, relutante, me disse algumas informações (isso depois de ficar pedindo por semanas). Algumas pessoas batiam na porta do Laboratório confusas, normalmente Pietra mandava elas para outros cientistas que a secretária julgava “mais experientes” (sendo que eu era um dos Destaques), ou simplesmente dizia que ela comunicaria alguém e que tudo seria resolvido.

Acontece que Pietra não comunicava ninguém, na maioria das vezes ela esquecia que as pessoas pediam ajuda ou simplesmente as ignorava. A secretária não passava a informação para nenhum cientista.

Eu cheguei a me perguntar o motivo daquela garota ainda não ter sido demitida, e cheguei a conclusão de que Tarcísio devia ter medo das facas da secretária, ou talvez uma possível queda. Embora eu descartasse a segunda opção, Pietra parecia cruel e fria demais para ter um coração e muito menos para mexer com os sentimentos de alguém.

Como se isso não bastasse, Ethan estava esquisito demais. O garoto não fazia mais piadas e seu sorriso tinha desaparecido, ele parecia andar tenso com algo, e, não importava o quanto eu insistia, ele não me contava.

Eu assumia que estava ausente, pois estava atordoado com tudo o que aconteceu. Mas, isso não era motivo para meu colega se afastar tanto. Parecia até que ele estava me ignorando.

Outra coisa ainda mais estranha eram meus pais. Eu tinha que lidar com a preocupação diária de não poder contar para meus pais o que tinha acontecido com Silas, pois tinha prometido a ele que não falaria nada. Porém, os meus pais pouco perguntavam sobre meu irmão.

Eu estava confuso e até assustado, pois Silas não dava noticias já que tinha cometido suicídio. Mas, meus pais não pareciam se importar ou perceber a ausência dele, o que me chocava. Se minha memoria não falhava, devia ter comentado que meu irmão estava na faculdade apenas duas vezes. Depois disso, meus pais não perguntaram mais nada.

Atormentado com o silêncio deles, resolvi tocar no assunto de Silas e de como ele estava ausente. Meus pais apenas sorriram e responderam que ele estava bem na faculdade, o que me deixou pior. Eu me sinto mal por eles não saberem o que realmente aconteceu.

Silas se suicidou para “não ser controlado”, algo que eu não entendia, mas provavelmente isso estava ligado à areia, pois as últimas palavras de meu irmão foram para eu tomar cuidado com as “ameaças de areia”.

Acabei contando para Ethan o ocorrido com meu irmão, pois eu tinha prometido não contar aos meus pais. Porém, esconder algo tão sério me sufocava, e acabei confiando nele para revelar o ocorrido. Ele falou palavras de consolo e disse que me apoiaria na minha decisão de pesquisar mais sobre essa areia.

O garoto parecia me evitar. Então, a não ser que ele pensasse que estaria me ajudando ficando longe do meu projeto, ele estava descumprindo a parte do “me dar apoio”.

Eu suspirei enquanto encarava uma pilha de cartas. Eu disse para Pietra e para Tarcísio que eu ficaria responsável por desvendar o que estava acontecendo, então, eu vinha recebendo várias cartas de pessoas desesperadas.

Na maioria das vezes eram coisas como: “fui tirar uma casca do meu machucado e saiu areia”, “cortei meu dedo e saiu areia”, “ralei meu joelho e saiu areia”, “meu vizinho cortou o pé e jorrou areia dele”. E até o mais impressionante: “Minha irmã deu a luz e tinha areia na barriga dela”

Então, eu consegui ter uma ideia do problema: a areia circulava no corpo no lugar do sangue. Quando uma ferida é aberta, por exemplo, sai areia por ela. Em todas as situações que era para jorrar sangue, jorrava areia.

Cada dia mais e mais pessoas ficavam desesperadas com esse assunto, e cada dia apareciam mais chances de tudo isso se espalhar. No começo o diretor queria manter isso tudo em segredo, para não afligir a população. Porém, os pedidos de socorro aumentavam e, era nítido que logo a notícia seria divulgada para todos. Portanto, Tarcísio disse que contrataria outros cientistas para serem meus novos colegas de trabalho. Começaríamos tudo daqui a algumas semanas.

Eu achei que ficaria mais preocupado com a reação de Ethan, mas, a julgar pelo comportamento do garoto, duvido que ele ligaria para não sermos mais parceiros.

“Eu vou descobrir quem te controlava, Silas. Eu vou atrás daquele que te matou.” Eu disse determinado enquanto encarava as cartas, a maioria estava suja de areia.

Meu irmão tinha me dado uma pista: tomar cuidado com a areia.

E eu não deixaria as Ameaças de Areia me vencerem.  


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