Powerless Against You escrita por Shiroyuki


Capítulo 5
Capítulo 5. Certeza




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Capítulo 5

Certeza

O escuro da sala de cinema, enquanto esperavam o filme ter início, deixava Shouto  apreensivo. O ambiente reservado, pouco iluminado, sem tanta gente ao redor, onde todos conversavam em voz baixa em tom de quase privacidade o deixavam extremamente auto-consciente de si mesmo e da presença de Midoriya ao seu lado, que fazia um esforço enorme para não comer a sua pipoca antes do início do filme.

Claro que eles já haviam assistido filmes juntos, em situações  que nada tinham a ver com aquela. No dormitório, com todos os seus colegas inquietos ao redor, vozes exaltadas e comentários ocasionais durante todo o decorrer da história. Invariavelmente, um dos dois acabava dormindo antes do fim. Mas agora, a situação era completamente diferente. Eles estavam em um encontro. Oficial. Sozinhos.

O cinema estava quase vazio, mesmo sendo final de semana. Duas fileiras abaixo, um casal de jovens que não deviam ser muito mais velhos do que ele próprio, já demonstravam o exato motivo de Shouto estar tão nervoso com a perspectiva atual. Os dois se agarravam sem qualquer pudor, certamente crendo que o escuro parcial da sala de cinema fosse o bastante para ocultar seus atos, ou então, tão absortos um no outro que nem se atentavam a esse detalhe.

Shouto podia não saber muito sobre relacionamentos e encontros, mas sabia o suficiente para ter ideia do que casais faziam em salas de cinema, durante um encontro, e aqueles dois ali embaixo estavam provando exatamente esse ponto. E se Midoriya soubesse disso também, e estivesse esperando que Shouto fizesse algo? Ou, pior ainda, e se Shouto fizesse algo e assustasse Midoriya, pegando-o desprevenido e acabando com todas as chances de fazer esse encontro dar certo?

Ele não sabia qual das perspectivas era a pior, e torturado pelos próprios pensamentos pessimistas e a ideia de que Midoriya iria odiá-lo não importando qual caminho ele escolhesse, ele tentou não demonstrar o quanto estava nervoso, embora já fosse tarde para isso. A demora para o filme começar só pioravam a situação.

Era por isso que ele havia ficado em dúvida sobre aceitar a ideia de ir ao cinema com Midoriya. Ao ar livre, em público, ele se sentia mais seguro e menos propenso a ceder a qualquer impulso inadequado que pudesse estar espreitando no fundo da sua mente. Mas, enquanto eles decidiam para que lugar deveriam ir primeiro, e Midoriya citou o novo filme de super-heróis que estava em cartaz, e ele parecia absolutamente radiante com essa alternativa. Todoroki jamais teria coragem de negar nada para ele, com aqueles olhos brilhantes encarando-o diretamente, não importando a situação.

Assim, ele foi obrigado a remoer todas as suas dúvidas causadas por pura inexperiência completamente sozinho, enquanto ouvia Midoriya explicar para ele tudo sobre o universo onde se passava aquele filme, com um entusiasmo que era sinceramente encantador. Todoroki jamais iria cansar de admirar a forma como Midoriya parecia transbordar cada vez que começava a falar algo sobre o qual fosse apaixonado.

Ele nunca havia sentido interesse nem sequer remotamente parecido em nada ao seu redor, e de início, podia ter jurado que o que sentia era inveja por Midoriya demonstrar tudo o que sentia e o que pensava tão abertamente, sem nada a temer. Agora, ele sabia muito bem que aquilo era, de certa forma, admiração. Por que ele não sabia como ser assim, e Midoriya era seu completo oposto. Essa admiração cresceu, tomou outra forma, se transformou completamente, e ali estava ele, cogitando seriamente se segurar a mão de Midoriya na sala escura de um cinema seria uma boa ideia, para começar.

— Todoroki-kun… – Midoriya chamou, com a voz sussurrada. As luzes fracas se apagaram completamente, e o som alto das caixas de som ecoou poderosamente pelo local, quando a tela se acendeu e começou a transmitir os primeiros avisos. Midoriya se inclinou na direção de Todoroki, erguendo o rosto para chegar até seu ouvido.

O arrepio que percorreu o corpo do adolescente ao sentir a respiração do outro tão próxima não podia se comparar a nada que ele já tivesse sentido antes.

— Você desligou seu celular? – Midoriya indagou, inocentemente, completamente alheio ao efeito que causava. A voz dele, sussurrada e ligeiramente rouca, pareceu invadir o sistema de Todoroki de uma só vez. Ele engoliu em seco e levou algum tempo para processar a mensagem.

—… Ahn…  Celular…? Sim. Sim. – ele balbuciou de volta, apalpando o bolso da calça até encontrar o aparelho e desligá-lo apropriadamente. Midoriya sorriu, satisfeito, voltando a sentar direito, e ofereceu seu balde de pipoca à Todoroki. Ele aceitou, e seus dedos roçaram nos dele quando ambos colocaram as mãos ali ao mesmo tempo.

Todoroki respirou fundo. Os trailers haviam começado. Seria uma longa sessão.





Todoroki estava certo em imaginar que não conseguiria prestar atenção em nem mesmo um segundo daquele filme. Não parecia ser um filme ruim, e ele confiava no gosto de Midoriya para esse tipo de coisa. Mas a distração era maior do que isso.

A pipoca de Midoriya não conseguiu sobreviver aos trailers, e já no primeiro ato do filme, havia acabado. Todoroki tinha que admitir que parte da culpa por isso era sua, mas ele não podia fazer nada se acabou comendo rápido por puro nervosismo. Midoriya não pareceu ligar para isso, porém. Com o obstáculo do balde de pipoca fora do caminho, ele apoiou o braço no encosto do lado de Todoroki, sentando para trás, completamente confortável.

Rígido em seu assento, Todoroki o espiava com o canto dos olhos a cada cinco segundos. A luz trêmula da tela era a única coisa iluminando o rosto de Midoriya, e ele parecia absolutamente absorto na história. Mal piscava, seu rosto se contorcendo em caretas em reação ao que acontecia na história, fosse algo triste, revoltante ou doloroso. Nas cenas cômicas, ele ria com vontade, seus ombros tremendo junto com a risada melódica, e Todoroki deixava escapar um sorriso, apreciando o que via. Nenhum filme conseguiria prender completamente sua atenção da mesma forma que Midoriya fazia sem qualquer esforço.

A sua impulsividade acabou vencendo a silenciosa batalha interna que estava sendo travada aquele tempo todo contra o auto-controle, e sem mais se conter, Todoroki ergueu uma das mãos, apoiando também o braço no encosto ao lado de Midoriya, fazendo com que ambos se tocassem em toda sua extensão.

Midoriya tencionou visivelmente diante do toque inesperado, mas não se afastou, nem tirou os olhos da tela. Seus ombros relaxaram, e ele deixou seu braço ali, tocando no braço de Todoroki, como se isso fosse apenas natural. Sentindo-se mais confiante, Todoroki deslizou os dedos até encontrar a mão de Midoriya, girar e entrelaçar na sua. Ele aceitou de bom grado, apertando os dedos de leve contra a pele de Todoroki.

O sorriso que ele viu se espalhar no rosto de Midoriya, dessa vez, nada tinha a ver com a história do filme, e com um sorriso próprio semelhante, ele voltou a olhar para a tela, tentando acompanhar a sequência de eventos que aconteciam ali, para ao menos ter o que comentar depois. Era uma tarefa complicada, quando ele sentia o polegar de Midoriya fazendo pequenos círculos contra as costas da sua mão, e podia notar com severa perfeição a pele calejada e cheia de cicatrizes, fruto de toda a dedicação de Midoriya, roçando de uma forma surpreendentemente agradável contra a sua.

Todoroki acariciou a mão de Midoriya em resposta, e ele prontamente se aproximou do seu assento, deitando a cabeça em seu ombro sem qualquer cerimônia. Os fios ondulados, na desordem habitual fazem cócegas contra o pescoço de Todoroki, e ele podia sentir o aroma do shampoo que ele usara naquela manhã. Uma onda de calor varreu seu corpo, e ele temeu que isso ativasse sua individualidade. Seu rosto estava quente, e Midoriya devia ter percebido o súbito aumento de temperatura, pois segurou com mais firmeza a mão de Todoroki, e virou o rosto na sua direção.

— Tudo bem? – ele indagou, sem formar as palavras de verdade, apenas mexendo os lábios.

Todoroki levou algum tempo antes de responder.

— Sim. – E ele sabia que estava dizendo a verdade. Por que, como poderia não estar bem? Ele esteve ao redor de Midoriya durante meses, desejando sua atenção sem saber exatamente como fazer isso nem o motivo pelo qual queria tanto se aproximar dele, e mesmo depois de terem se tornado amigos, nunca parecia o suficiente. Agora que ele entendia o que estava sentindo, e mais do que isso, estava ali, com Midoriya ao seu lado, não podia mais hesitar ou desperdiçar qualquer segundo a mais. Precisava apreciar a sorte que havia tido, algo tão raro para ele.

Pela primeira vez, Shouto permitiu-se relaxar completamente na presença de Midoriya, com a mão dele firme na sua, o rosto acomodado em seu ombro, quase como se pertencesse àquele local. Naquele momento, ele podia ter certeza de que já não havia mais nada a temer. Fosse qual fosse a perspectiva de Midoriya sobre o relacionamento dos dois, Todoroki se esforçaria para atender, e os dois descobririam juntos o que fazer, da melhor forma possível, algo que estivesse bem para os dois. Com um suspiro tranquilo, Todoroki deitou sua cabeça contra a de Midoriya, mergulhando no perfume que pertencia somente a ele, e voltou a prestar atenção no filme.

Não lembrava de ter se sentido tão confortável assim antes, e se pudesse, ficaria naquela mesma posição, dentro da sala de cinema, pelo resto do dia.





Quando as luzes do cinema se acenderam novamente, Shouto piscou, atordoado. Ele nem sentiu o tempo passar, e não havia percebido que os créditos finais já rolavam na tela. Midoriya ergueu a cabeça, parecendo também ter despertado de um estado de torpor, e piscou algumas vezes, virando para Shouto e sorrindo logo depois, como se o fato de ele ainda estar ali ao seu lado fosse motivo de alívio.

— Foi um bom filme. Espero que façam logo uma sequência! – Midoriya comentou, rapidamente voltando à sua empolgação anterior, enquanto soltava a mão de Shouto (que ainda estava agradavelmente aquecida graças a ele) para juntar as embalagens de pipoca e refrigerante que consumiram ali.

— Foi sim. – Todoroki respondeu, sem muito a acrescentar. Ele não havia prestado tanta atenção quanto se esforçara para tentar. Só podia esperar que Midoriya não fizesse comentários muito específicos sobre a história do filme, porque que ele não fazia ideia de como responder.

Os dois esperaram apenas pela cena pós-créditos antes de se erguerem, seguindo o fluxo de pessoas que descia as escadas para sair da sala de cinema, e Midoriya se adiantou para jogar na lixeira o que tinha nas mãos. Juntos, eles saíram do local, Midoriya embarcando em um longo monólogo emocionado sobre teorias e comentários das cenas que haviam acabado de assistir, enquanto seguiam de novo em direção à rua.

Shouto pouco entendia do que ele tagarelava, para ser sincero, mas era adorável a maneira como Midoriya ficava tão animado falando sobre as coisas que gostava, com seu tom de voz se erguendo, e os olhos brilhando com a empolgação. Um sorriso se espalhou sem permissão pelo rosto de Todoroki.

— … então, naquela parte em que o prédio explodiu, eles poderiam ter… ter… ahn… Todoroki-kun? – Midoriya parou de falar abruptamente, ao sentir o olhar fixo do outro. – O que houve?

— Nada. – Você é fofo. Refletindo as palavras que Todoroki não conseguiu dizer, sua mão se ergueu involuntariamente, roçando de leve no rosto dele, até enrolar os dedos nas pontas dos cabelos revoltos, tentando sem muito sucesso colocar uma das mechas atrás da orelha.

Midoriya corou por inteiro diante do ato inesperado, e sem saber como reagir apropriadamente, se enrolou novamente para voltar a falar, se remexendo inquietamente.

— V-você quer ir a algum outro lugar, agora? Digo, só andar por aqui também é bom, mas nós podemos olhar as lojas, ou comer alguma coisa, ou… eu não sei, não faço ideia do que as pessoas fazem normalmente em encontros já que eu nunca fui em um, mas nós podemos fazer qualquer coisa que você queira, Todoroki-kun, eu espero que você não esteja entediado também, já que fui eu quem escolheu o filme, mas… se você quiser ir para casa também, para mim está ótimo, eu só…

Todoroki calmamente segurou uma das mãos de Midoriya na sua, fazendo-o cessar o discurso nervoso que ele estava promovendo de uma só vez.

— Olhar as lojas e ir comer alguma coisa parece perfeito para mim.

O sorriso tranquilo ainda estava lá, e sentindo o coração falhar uma batida com essa visão, Midoriya assentiu, e sem mais hesitar, continuou a acompanhar o passo calmo de Todoroki, as mãos unidas enquanto seguiam para fora do cinema.

Havia muita coisa para ver, embora de início, nenhum dos dois soubesse exatamente para que lado ir. Olharam vitrines, entraram em alguns lugares, Midoriya procurou edições novas dos quadrinhos que acompanhava, e Todoroki parecia interessado em saber mais sobre qualquer coisa que ele mencionasse gostar durante a passagem pelas lojas. Se Midoriya ficasse olhando mais de cinco segundos para qualquer produto que fosse, ele logo se oferecia para comprar – o que o outro polidamente insistia em recusar todas as vezes.

Escolheram um lugar mais calmo para comer alguma coisa. Um café pequeno e discreto em uma das ruas principais, onde eles puderam sentar juntos em uma das mesas menores, com seus joelhos se tocando por baixo da mesa, e conversar em voz baixa. Midoriya ria adoravelmente de qualquer coisa que Todoroki comentasse, o que fazia seu peito aquecer de um jeito confortável, e um sorriso terno espalhar-se discretamente no seu rosto sem que ele nem ao menos percebesse.

Horas se passaram sem que eles conseguissem notar, tão envolvidos que estavam em tudo o que faziam, e principalmente, na companhia um do outro. Cada vez que iam de um lugar a outro, Todoroki tinha a certeza de segurar a mão de Midoriya firme na sua, quase como um reflexo automático. Midoriya tomou a frente mais uma vez, e decidiu levar Todoroki à um Fliperama, quando ele admitiu nunca ter visitado nenhum. Como esperado, ele não era exatamente bom nisso, mas Midoriya era um professor paciente, e ele tinha bons reflexos. Depois de tudo, se Todoroki acabou vencendo mais partidas em alguns dos jogos, era sorte de principiante.

Ainda que estivesse consciente de que o encontro estava se encaminhando para o fim, e que logo eles teriam que rumar para a escola mais uma vez, antes do toque de recolher, Midoriya não queria que o dia terminasse ainda. Queria passar mais tempo com Todoroki, e se pudesse naquele exato momento poder escolher outra individualidade que não fosse o One For All, talvez ele desejasse algo que pudesse parar o tempo, e prolongar aquele dia por pelo menos um pouco mais.

Enquanto andavam um ao lado do outro, aproveitando o tempo que ainda restava para andar pela praça que ficava próxima ao distrito comercial, Midoriya admirava Todoroki em silêncio, fitando o rosto dele de perfil, percebendo o pequeno sorriso calmo que havia se instalado em sua expressão, satisfeito consigo mesmo por poder presenciar aquele pequeno momento de tranquilidade. Todoroki raramente demonstrava o que sentia daquela forma, e Midoriya permitiu-se sentir uma pontinha de orgulho por cogitar a possibilidade de ser o motivo para que isso acontecesse.

Todoroki pareceu notar a atenção que Midoriya depositava em si, e o fitou de volta. Os olhares se cruzaram, e ambos sorriram, corando ligeiramente, sem motivos para desviar o olhar, não dessa vez. Eu quero beijar ele. O pensamento que correu pela mente de Midoriya naquele instante, tão repentino e tão verdadeiro, o fez corar com mais furor, enquanto voltava a atenção novamente para o caminho.

Será que agora era o momento certo? Midoriya queria, ah, como queria – mas como saber se Todoroki iria querer isso também? Eles não haviam conversado sobre isso tão abertamente assim, e Midoriya ainda sentia aquele medo irracional que alertava que qualquer movimento em falso poderia fazer Todoroki afastar-se sem que ele pudesse fazer nada para impedir.

Eles estavam em uma praça, sem muita gente ao redor. O Sol do final da tarde iluminava as árvores e flores ao redor, dando à paisagem ao redor ares de uma pintura. Midoriya sabia que não teria muitas chances de fazer isso nos dormitórios, se desejava ao menos alguma privacidade para esse momento. A não ser que ele convidasse Todoroki para o seu quarto… o que sinceramente, ele ainda não sabia se estava preparado para fazer. Ainda.

O momento e o lugar pareciam perfeitos. Os lábios de Todoroki, naquele sorriso discreto e quase imperceptível, que alguém que não o conhecesse bem jamais notaria, certamente pareciam convidativos. Os lábios se mexiam, quase hipnoticamente, na direção de Midoriya. Só então ele percebeu que isso significava que Todoroki estava falando com ele, e como se despertasse de um transe, ele piscou algumas vezes, erguendo os olhos para encarar Todoroki como um todo (e não apenas seus lábios).

— … você quer? – Foram as palavras soltas que Midoriya conseguiu compreender. Ele queria. Ah, como queria!

— Sim! – Ele respondeu quase automaticamente, agitado. – … Quero o quê?! – completou, ligeiramente confuso. Um beijo, diz que é isso, por favor. Aquela parte atrevida do cérebro de Midoriya parecia estar ganhando voz, e isso era um problema.

Todoroki apontou para um quiosque não muito longe dali, onde vendiam sorvetes. Não era exatamente o que Midoriya esperava, mas não parecia uma ideia ruim também. Ele voltou a concordar, os dois seguiram para aquele lado, escolheram os sabores, e Todoroki fez questão de pagar, apesar da imediata recusa de Midoriya em aceitar, o que parecia ser completamente em vão.

Os dois seguiram a passos lentos, sem se afastar muito do lugar, concentrando-se mais no sorvete do que em caminhar. Todoroki segurou o seu sorvete com a mão direita, mantendo-o a uma temperatura mais baixa, habilidade que Midoriya adoraria ter por apenas alguns segundos, porque ele sempre acabava fazendo bagunça quando seu sorvete começava a derreter.

— Nós podemos sentar ali… – Midoriya começou a olhar ao redor, procurando um lugar mais agradável para ficar, mas foi surpreendido pela proximidade inesperada de Todoroki. Por um segundo (um maravilhoso segundo), ele teve certeza que seria beijado. O rosto de Todoroki vinha em sua direção, e ele chegou a fechar os olhos, cheio de expectativa, mas ao abri-los novamente, se deparou com o outro deliberadamente roubando um pouco do seu sorvete.

— Hm, esse é bom também. – O sorriso que se seguiu ao comentário, enquanto Todoroki displicentemente voltava a prestar atenção no seu próprio sorvete, pegou Midoriya de guarda baixa, e ele tinha certeza que seu tempo de vida havia acabado de se reduzir com aquele curto momento. Seu coração não aguentaria muito mais daquilo.

Enquanto segurava o sorvete com a mão esquerda, seus dedos voltaram a se entrelaçar de leve com os de Todoroki, e ele decidiu que não se importava de viver menos por causa disso.

— Você viu o que eu acabei de ver?

Como ainda estavam próximos ao quiosque, Midoriya conseguia ouvir perfeitamente o que as duas atendentes conversavam. Ele não havia prestado muita atenção nelas – seu foco estava voltado para Todoroki, aparentemente, mas ao que parecia, elas haviam prestado atenção neles dois.

— Aquele não é o filho do Endeavor?!

Izuku não ligava muito para o que quer que estivessem falando, mas Todoroki pareceu travar ao seu lado. Diminuiu o ritmo dos passos que já eram lentos, praticamente parando no mesmo lugar, logo ao lado do quiosque e fora da visão das duas que conversavam. Izuku teve o impulso de sair dali no mesmo instante – nada do que elas pudessem falar que envolvia o pai de Todoroki teria qualquer possibilidade de ter efeitos positivos, mas Todoroki não respondeu quando ele tentou continuar a andar.

— Tenho certeza que sim. O outro também é meio familiar, acho que vi ele na TV durante o festival da UA. Deve ser estudante de lá também.

Não era surpresa reconhecerem Todoroki, já que a aparência dele era tão marcante e dificilmente confundida, mas Izuku já esperava que sua identidade passasse batida tanto tempo depois da transmissão do festival.

— Os dois não pareciam meio… – a voz de uma delas diminuiu para um sussurro, que nenhum dos dois conseguiu distinguir àquela distância. – Você não acha? – a outra riu um tanto alto. Midoriya mordeu o lábio, desejando mais ainda sair dali. Conhecia aquele tipo de risada. Era exatamente como quando ele estava no fundamental. Ele estava acostumado a ser tratado assim, mas saber que elas estavam incluindo Todoroki nisso o enfurecia mais do que a sensação de obviamente estar sendo ridicularizado.

Midoriya estava pronto para dar meia volta e enfrentar aquelas garotas, obrigá-las a retirar o que quer que tivessem dito sobre Todoroki, embora ele não soubesse nem mesmo o que exatamente diria a elas, mas a mão do outro ainda o segurava no mesmo lugar.

— Será que o pai dele sabe disso?

— Não consigo nem imaginar! Como será que ele reagiria se soubesse…

Com aquelas palavras, Todoroki ergueu os olhos para Midoriya, a face ainda mais pálida do que o normal, e uma expressão que Midoriya havia visto há tanto tempo atrás, e que só conseguia classificar como medo. Algo fez seu coração apertar e doer, quando ele segurou a mão de Todoroki ainda mais firme. Não sabia o que fazer.

— Vamos… vamos para casa… – ele murmurou, fracamente, e sem nada a dizer, Todoroki o acompanhou. Midoriya olhou para o sorvete na sua mão, e já não parecia mais fazer sentido ele ainda estar ali, mas terminou de comer apenas para não desperdiçar o dinheiro de Todoroki.

O silêncio que perdurou entre eles durante todo o caminho de volta parecia estranho, errado e pesado demais para que Midoriya tivesse coragem de quebrar. A única coisa da qual ele tinha certeza era de que algo não estava certo, e ele não fazia ideia de como consertar.


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Notas finais do capítulo

Desculpa.



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