Powerless Against You escrita por Shiroyuki


Capítulo 4
Capítulo 4. Encontro




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Capítulo 4

Encontro

 

Se Izuku tivesse uma individualidade relacionada a fogo ou ácido, talvez já tivesse aberto um buraco no chão do corredor do segundo andar em frente ao seu quarto, de tanto andar de um lado para o outro. O que Kirishima havia falado na última noite fazia bastante sentido, e em teoria, parecia muito simples. Mais simples do que lutar com robôs para ser admitido na escola, lutar contra os professores durante as aulas, ou com a liga de vilões quando quer que eles resolvessem agir.

Ele havia convencido a si mesmo de que era perfeitamente capaz de ir adiante com o plano, bater na porta de Todoroki, e se escorar casualmente na entrada, sorrindo de um jeito legal, e dizer com toda a casualidade do mundo “Eu, você, encontro, no sábado. Passo aqui para te pegar às 4”. Na sua imaginação, isso fazia bastante sentido, mas a realidade era que ele não havia nem conseguido chegar ao elevador para ir até o quinto andar. No momento, enfrentar hordas de robôs, professores ou vilões parecia absolutamente mais desejável.

Na noite anterior, Kirishima havia sido muito prestativo, apesar da sua inexplicável empolgação em ajudar Midoriya, detalhando especificamente como ele deveria se comportar ao convidar Todoroki para sair, e quais lugares seriam os melhores para um encontro na cidade. Ele falava exatamente como um especialista, e embora Izuku ainda tivesse dúvidas sobre qualquer experiência real que o colega pudesse de fato possuir, agora começava a se sentir mais convencido de que talvez ele não estivesse falando apenas da boca para fora, afinal.

De qualquer forma, mesmo com os conselhos de Kirishima, e depois de ter passado mais uma parte da noite remoendo essas informações, Izuku ainda não havia reunido coragem suficiente para seguir em frente. Seria tão mais simples se ele pudesse fazer exatamente como fazia com os seus poderes, apenas se concentrar por alguns instantes, e logo, sentir toda aquela força fluindo pelo seu corpo, aquela incrível segurança de que poderia lutar, proteger e vencer sem problemas, tão confiante. Mas não funcionava assim para esse tipo de dilema, e novamente, ele se encontrava tão perdido e incapaz quanto no primeiro dia.

Um passo de cada vez, ele se forçou a seguir até o elevador, e respirando fundo, entrou no espaço limitado. Com a mão tremendo ligeiramente, ele se concentrou. Os números o encaravam de volta. Ele só precisava apertar o número 5, apenas isso. Estava na metade do caminho para isso, quando seu dedo vacilou, e ao invés disso, apertou no térreo. Soltou o ar, deixando os ombros caírem em sinal de derrota. Tentaria de novo, mais tarde, com certeza.

O elevador parou, abrindo as portas, e ainda olhando para o chão, Izuku saiu, pensando sobre o quanto estava sendo absolutamente covarde, e em como poderia fazer para parar de ser tão estúpido e superar isso de uma vez. Sua cabeça bateu em algo, antes que ele pudesse perceber para onde estava andando. Algo tocou no seu braço, impedindo que ele se afastasse demais, após a pequena colisão. Quando ergueu os olhos, seu coração falhou uma batida. Como se tivesse sido invocado diretamente pelos seus pensamentos, Todoroki o fitava, em um misto de surpresa e afeição, tão claros que Izuku mal conseguia conceber.

— Oi… – Todoroki murmurou suavemente, um sorriso breve adornando seu rosto e roubando o resto de fôlego que Izuku ainda possuía. A mão dele ainda pendia delicadamente no seu braço, de forma quase casual, e parecia não ter a menor intenção de se afastar. – Eu estava procurando por você.

Estava?— a sua voz saiu decididamente mais aguda do que pretendia. Ele pigarreou, sentindo o rosto esquentar, e tentou novamente – Estava me procurando?

— Sim. Podemos conversar? – Todoroki olhou para os lados, indicando que eles ainda estavam em frente ao elevador, no meio do caminho de quem quer que quisesse transitar por ali. Izuku acenou com a cabeça, imediatamente nervoso sobre isso, embora não tivesse ideia de para onde deveria ir.

Como sempre, a cozinha e a sala de tv estavam ocupadas, e Izuku não cogitou a possibilidade de subir de volta para o quarto de um dos dois, porque isso parecia simplesmente… não, seu coração ainda fraco e sem treino não aguentaria algo do tipo. Ainda. De qualquer forma, Todoroki parecia já ter alguma ideia, pois sem pensar muito, puxou Izuku pelo pulso para que ele o seguisse para fora do dormitório.

O campus da escola era imenso, coberto por um gramado que parecia não ter fim, com pequenos bosques rodeando toda a sua extensão, e cobrindo o caminho até o prédio principal. Os dormitórios das outras turmas eram visíveis de onde estavam, mas Todoroki apenas rumou para o jardim que rodeava o edifício pertencente à turma 1-A, e logo Midoriya entendeu qual era a sua intenção. Haviam bancos espalhados pelo jardim e, embora eles ainda pudessem ser vistos por alguém através das janelas, dificilmente alguém ouviria sua conversa dali. Era o máximo de privacidade que poderiam pedir em um dormitório escolar como aquele.

Não menos nervoso do que estava antes, Midoriya se acomodou no banco de madeira logo ao lado de Todoroki, sentando tão perto dele quanto podia, sem de fato se encostar, embora isso não fosse racionalmente intencional. Todoroki pareceu relutante em soltar seu pulso, e acariciou de leve as costas da sua mão antes de enfim liberá-la de seu aperto, repousando educadamente sobre o banco, no espaço entre os dois.

— Então… – A curiosidade em Izuku sempre havia sido maior do que qualquer insegurança, e quase sem perceber, ele já havia iniciado o assunto antes que Todoroki se pronunciasse. – O que você queria falar comigo?

Se não estivesse tão acostumado com a fachada impenetrável de Todoroki, Izuku teria considerado que a breve hesitação dele antes de começar poderia ser por nervosismo. Ele soltou o pulso de Izuku, e apertou as mãos, uma contra a outra, vacilando o olhar entre os arbustos que rodeavam o local onde eles estavam, e o prédio principal da escola, ao longe. Definitivamente, estava inquieto. Nervoso assim como ele, o que já era algo inacreditável por si só. Mas Todoroki Shouto estava se tornando um mestre em pegar Izuku de surpresa nos últimos tempos, então, não seria estranho se ele realmente se sentisse dessa forma, afinal.

Shouto começou a falar, hesitante e lentamente, e mal pareceu perceber a expressão de apreensão em Midoriya, que praticamente prendeu a respiração esperando pelo que estava por vir.

— Depois de… bem, do que aconteceu – entre nós parecia desnecessário acrescentar –  eu estive pensando bastante…

Na verdade, Shouto havia tomado coragem e ligado para a sua irmã mais velha para tirar as suas dúvidas. A relação entre os dois andava muito mais próxima do que jamais havia sido, depois que Shouto decidiu abrir-se um pouco mais para as pessoas ao seu redor, e Fuyumi tinha um noivo, então, ela tinha que entender sobre essas coisas, não é mesmo? Foi a conversa mais constrangedora da vida de Shouto, contando com aquelas que ele havia tido com Midoriya, com toda a certeza, mesmo que ele tivesse tentado convencê-la de que sua curiosidade era somente algo hipotético, para um amigo. Ela riu tanto que ele teve certeza de que não havia acreditado em uma palavra da sua mentira.

— Sim? – Midoriya incentivou. Seus olhos estavam completamente voltados para Shouto, com expectativa e curiosidade fazendo o verde cintilar ainda mais do que o normal. O rosto corado, destacando ainda mais as adoráveis sardas, faziam Shouto pensar imediatamente em morangos, e ele precisou de algum esforço a mais para focar no que pretendia dizer, e parar de pensar no quanto queria tocar nas bochechas de Midoriya para descobrir se eram tão macias quanto pareciam.

— Você gostaria de… quando tivermos um final de semana livre, claro, ir comigo à algum lugar? – Ele falou de uma só vez, torcendo para que Midoriya não notasse o nervosismo evidente em sua voz. Os olhos dele se arregalaram ainda mais, enquanto o vermelho do seu rosto se intensificava.

— Sair com você? Para… algum lugar? – ele repetiu, incrédulo. Shouto sabia muito bem que seu coração havia acelerado, e que isso provavelmente resultaria em um comportamento ainda mais alvoroçado do que ele pretendia, mas já não sabia mais o que fazer para disfarçar. Ele não era bom nisso.

— Sim. Eu não pensei ainda em um lugar, mas… hm, você não precisa aceitar se não quiser. – No que Shouto estava pensando quando seguiu os conselhos de Fuyumi daquela forma?! Eles raramente tinham finais de semana livres para sair da escola, questão de segurança, e Midoriya iria preferir ir visitar a sua mãe no seu tempo livre! E Midoriya era gentil demais para recusar e dizer a verdade à Shouto, então é claro que ele iria se sentir acuado, pressionado a aceitar mesmo que essa não fosse sua vontade. Shouto estava sendo ridículo.

— Como… como em um encontro? – Midoriya indagou, quase sem fôlego. Shouto voltou a encará-lo, sem saber como interpretar a súbita emoção que invadiu a expressão de Midoriya. Foi a sua vez de ficar ainda mais ruborizado.

— Acho… acho que sim? – Os dois trocaram olhares constrangidos por alguns segundos, antes de desviar rapidamente de volta aos próprios pés, em sincronia. – Você… quer? – Shouto ergueu somente o olhar, tentando encontrar qualquer sinal de dúvida ou desagrado presente na expressão de Midoriya. Se ele parecesse minimamente desconfortável, Shouto retiraria tudo o que havia dito ali, em um instante.

Porém, traindo as piores expectativas de Shouto, Midoriya sorriu – sim, ele sorriu, e nesse pequeno momento, Todoroki sentiu todas as suas apreensões sendo varridas da sua mente instantaneamente. Midoriya parecia irradiar luz própria, e Todoroki se sentiu ligeiramente ofuscado, com seu coração batendo quase na garganta, e um calor inexplicável preechendo-o por completo, sem distinção entre o lado esquerdo e direito.

— Nada poderia me deixar mais feliz, Todoroki-kun! – ele respondeu com um entusiasmo contagiante, enquanto de forma quase automática, se colocava mais próximo de Todoroki no estreito banco, até seus joelhos se tocarem – Eu quero ir em um encontro com você! Q-quer dizer… – subitamente consciente da forma como agia, Midoriya voltou a se encolher, mergulhando novamente no embaraço e na hesitação anteriores – Eu… q-quero muito. Na verdade, eu… eu estava pensando em como faria para convidar você! – Midoriya escondeu o rosto completamente vermelho atrás das mãos, impedindo que Todoroki o visse, enquanto continuava a falar, com a voz abafada por elas agora. – Eu passei a noite pensando nisso, e estava tentando juntar coragem para ir até você, e convidá-lo para sair e… e… você foi mais rápido! Me desculpe, Todoroki-kun, eu estava tão inseguro, e duvidei que você iria querer ir a qualquer lugar comigo, mas… mas…

— Está tudo bem, Midoriya. – Todoroki teve vontade de rir, mas se conteve, em respeito à Midoriya. Tanta hesitação e tanto nervosismo, para no fim, os dois estarem pensando exatamente na mesma coisa. Seria cômico, se não fosse tão desesperador. Sem pensar, Todoroki cedeu aos próprios impulsos ao menos uma vez, e repousou a mão esquerda no ombro de Midoriya de forma tranquilizadora. Sentiu claramente como ele pareceu estremecer com aquele simples toque, e, lentamente, baixou as mãos que cobriam seu rosto. – Não precisa se preocupar com nada disso. Eu não… não teria recusado o seu convite. Acho que isso já está bem óbvio, até, não é?

Os dois riram, baixo, por alguns instantes, e Midoriya pareceu relaxar. Então era isso. Tão simples. Eles tinham um encontro. Juntos. Todoroki não conseguia encontrar em si a motivação para retirar a mão do ombro de Midoriya, ele também não parecia se importar. Na verdade, era quase como se ele estivesse se inclinando na direção do toque, acalentado pela temperatura da pele de Todoroki, aproximando-se para sentir mais. Shouto só precisava subir um pouco mais a mão, passando pelo seu pescoço, e enfim poderia descobrir como era a textura dos morangos no rosto de Midoriya...

— Oh! – Como se tivesse acabado de lembrar de algo importante, Izuku sobressaltou, e Shouto em reflexo, removeu a mão do lugar no mesmo instante. – Você não usa os fins de semana livres para visitar a sua mãe?

Shouto sentiu-se reconfortado pela menção. Ele só havia citado essa informação uma única vez, para Midoriya, e ele ainda lembrava.

— Ela não vai se importar, eu posso ir no próximo. Na verdade, ela vai ficar feliz, porque falar somente sobre a escola é tedioso, e eu vou ter coisas novas para contar…

— Ah! Você vai falar sobre mim para ela! – Midoriya irradiou em um misto de vergonha e exultação sobre esse pequeno fato. Todoroki coçou o rosto e desviou o olhar. Não tinha como falar para ele que ele já falava de Midoriya para a sua mãe desde a sua primeira visita, quando os dois ainda tentavam hesitantemente se aproximar um do outro novamente, e agora, que seu relacionamento com ela estava melhor e mais sólido, Midoriya fazia parte da maioria das conversas.

— Bem, hm… tem algum lugar em especial que você queira ir? – ele desviou o assunto sem que Midoriya sequer notasse, e ele abriu um pouco mais o seu sorriso, com um sutil dar de ombros como resposta.

— Qualquer lugar que você queira está bom pra mim. – ele continuou a sorrir, e Todoroki não tinha certeza de que seu coração era o suficiente para aguentar. Mais um pouco e ele estaria prestes a transbordar daquele sentimento inominável que sempre parecia inflar no seu peito quando Midoriya fazia esse tipo de coisa. – Na verdade, eu nem me importo muito… digo, desde que você esteja lá…

Parecendo notar somente naquele segundo o peso das suas palavras, Midoriya voltou a se inquietar, embora, dessa vez, não tivesse escondido o rosto. Todoroki o fitou, sorrindo discretamente, e segurou a mão que estava fechada em punho sobre a perna de Midoriya, para chamar a atenção dele para si novamente. Os dois se encararam diretamente, talvez, pela primeira vez de verdade durante aquela interação.

Midoriya prendeu o ar, e Todoroki não lembrava mais o que pretendia falar. Algo sobre sentir o mesmo que Midoriya. Sobre seu desejo insano e simples de apenas estar perto dele. Todas as palavras pareceram sumir do seu vocabulário de uma só vez. Seus dedos se entrelaçaram quase por hábito, e inconscientemente, os dois se aproximaram, sem nunca desviar o olhar, e apenas o som audível dos próprios batimentos cardíacos ecoando nos ouvidos.

Todoroki tinha certeza de que essa era a hora de fazer alguma coisa. Seu corpo se movia quase involuntariamente – quase, porque ele estava extremamente ciente da vontade que o impelia para frente, e do objetivo final, e isso não era completamente alheio ao seu conhecimento.

Midoriya lentamente fechou os olhos, e ele sentiu que deveria fazer o mesmo. Suas mãos pressionadas uma contra a outra eram a única âncora de realidade que garantiam que nada daquilo era um sonho ou um devaneio.

— Ah, aí estão vocês!

Midoriya e Todoroki se afastaram como imãs de pólos opostos, tão rápido que o movimento mal pôde ser sentido. Numa das janelas atrás do banco onde estavam, Sero acenava amplamente, com um sorriso idiota intacto no rosto. Todoroki geralmente era muito calmo e no controle de suas ações, não perdia a compostura com facilidade para assuntos cotidianos como este, mas naquele momento, ele sentiu muito bem que poderia congelar seu colega de classe naquele lugar sem pensar duas vezes, em um piscar de olhos. Se tivesse o enfrentado com esse tipo de motivação durante o festival esportivo, a luta entre eles não teria durado dois segundos.

— O-oi, Sero-kun… – Midoriya gaguejou, rápido em tentar manter uma fachada de tranquilidade. – Algum problema?

— Satou fez sobremesas demais de novo e tá todo mundo comendo aqui! Vocês não querem?

Midoriya aceitou o convite – eram doces, afinal! – embora sua frustração fosse bem óbvia. Todoroki passou o resto da tarde encarando Sero Hanta com uma animosidade amedrontadora, fazendo-o estremecer cada vez que notava os ferozes olhos bicolores na sua direção, e ele genuinamente não sabia dizer o que havia feito de errado para merecer esse tratamento.

 

 

 

O trem-bala andava rápido demais para ser possível apreciar a paisagem do lado de fora, mas Midoriya não teria como fazer isso, mesmo que não fosse esse o caso. Ele estava tão concentrado em não parecer estranho, e não demonstrar o nervosismo que sentia, e em fazer Todoroki se divertir e… ah, ele ficava tão bem usando roupas casuais que era quase uma covardia.

Não era a primeira vez que Izuku tinha a chance de ter essa visão, mas Todoroki parecia ter tomado o cuidado de escolher suas melhores roupas, e ele até havia colocado perfume! O aroma amadeirado e fresco combinava demais com Todoroki, e ficava invadindo os sentidos de Izuku sem a sua permissão, considerando o quanto eles estavam sentados perto um do outro, e ele sinceramente não sabia o que fazer quanto a isso. De certa forma, sentia uma pontinha de orgulho em saber que a razão para Todoroki ter tido todo esse trabalho (completamente desnecessário, na sua humilde opinião, já que Todoroki tinha esse dom de sempre parecer impecável não importando as circunstâncias) era para sair com ele.

Ele também havia levado um pouco mais de tempo escolhendo sua roupa para hoje, e até tentou pentear os cabelos de algum jeito mais comportado, tarefa que se provou inútil cinco minutos depois, quando tudo estava de volta à bagunça de sempre. Quando desceu para o térreo a fim de encontrar Todoroki, e finalmente o viu, tão bem arrumado, quase recuou e voltou para o seu próprio quarto para encontrar qualquer outra coisa que pudesse fazer a sua aparência comum demais parecer melhor, ou apenas se recolher à sua insignificância e possivelmente nunca mais sair de lá. Só não fez isso porque Todoroki já havia percebido sua presença, e o fitava com aqueles olhos cheios de uma emoção que Izuku não sabia descrever mas que fazia seu coração acelerar mesmo assim, – e, droga, devia ser crime alguém ser tão lindo, talentoso, poderoso, incrível, e ainda se vestir bem, tudo ao mesmo tempo, daquele jeito.

Os dois trocaram curtas saudações, ambos claramente ansiosos e incertos, e juntos, seguiram para a estação de metrô, que não ficava realmente muito longe da escola. Conversaram algumas amenidades no caminho, em voz baixa, como se qualquer exagero pudesse ser perigoso. Não havia muito o que conversar, já que eles passavam todos os dias juntos, na escola ou no dormitório, e logo que o trem que os levaria para o centro da cidade chegou, o assunto esmoreceu. Os vagões não estavam nem de longe vazios, mas eles conseguiram encontrar lugares para sentar. Era uma sorte imensa que nenhum dos seus colegas tivesse resolvido aproveitar o final de semana, e acabasse vindo para o mesmo lado que eles naquela hora. A maioria deles havia aproveitado para visitar as famílias nos dias livres que tinham.

Todoroki não demonstrava qualquer desconforto, mas para Izuku, o silêncio era quase pior do que a morte. Ele começou a repassar todos os lugares em que eles poderiam ir, no centro da cidade, mentalmente, decidindo quais seriam melhores de se visitar, imaginando se Todoroki não iria se sentir entediado fazendo essas coisas com ele, e a se lamentar por ter escolhido roupas tão simples, quando Todoroki parecia tão bem naquela camisa, que certamente não vinha de uma loja de departamentos barata como as roupas de Midoriya e… wow… o perfil de Todoroki era tão bonito, quando ele olhava daquele ângulo…

— O que disse? – O rosto que Izuku admirava virou-se para encará-lo, e ele recuou, com o susto. – Você já está murmurando algumas coisas tem um tempo…

Izuku estava pronto para se desculpar por esse seu terrível hábito, mas a lembrança surreal de Todoroki confessando que gostava de quando ele fazia isso o fez se conter. Ele deixou um sorriso mínimo, quase presunçoso, aparecer, mas só por alguns segundos.

— Não é nada. – ele voltou a se sentar direito ao lado de Todoroki, e dessa vez, foi mais audacioso, e aproximou-se o suficiente para que sua cabeça estivesse quase escorada no ombro dele. Afinal, era para isso ser um encontro, não é mesmo? Ele estava pensando se deveria segurar a mão que estava ali, disponível e tão próxima, quando Todoroki voltou a se pronunciar.

— Você… já fez isso antes? – Todoroki indagou, parecendo distraído em observar as pessoas ao redor, mas Midoriya conseguia notar aquela pequena ruguinha que o fazia franzir o nariz quando ele estava preocupado com algo. Era ótimo poder observar esse tipo de detalhe tão de perto.

— O quê? Um encontro? – Midoriya riu pelo nariz, rechaçando a ideia – É a primeira vez… que me convidam para um. – ele resolveu ser sincero, não que isso fosse uma grande revelação. Era só pensar um pouco, e Todoroki perceberia que alguém como Midoriya, que nem amigos tinha direito até recentemente, jamais seria alvo de confissões e esse tipo de coisa. Não que Izuku se importasse com isso. Para ele, ser um herói era a única prioridade, e o resto era apenas o resto. Até recentemente, pelo menos. – É a primeira vez que eu tenho vontade de ir em um, também. – ele resolveu acrescentar. Todoroki girou o rosto na sua direção, admirado, como se o que Izuku falava fosse algo surreal demais para acreditar.

Izuku pensou em esclarecer que só teve vontade de fazer isso porque era com ele, mas naquela altura, isso já devia ser evidente demais. Contentou-se em sorrir em resposta, sentindo seus ombros relaxarem ao receber um daqueles sorrisos discretos que Todoroki reservava somente para ele, e logo, todo o nervosismo e as dúvidas que ele carregou consigo até ali, esvaeceram como se nunca tivessem existido.

Os dois levantaram juntos quando o trem parou no ponto pretendido. Muitos dos outros passageiros tinham o mesmo destino, e no pequeno tumulto que se formou na tentativa de sair do transporte, Izuku segurou o pulso de Todoroki, garantindo que eles não fossem se perder um do outro. Sua mão escorregou em direção à mão do outro, entrelaçando seus dedos nos dele e rapidamente se habituando à temperatura ligeiramente mais alta do que seria o normal em alguém, quase como se isso já fosse um hábito. Nenhum dos dois se incomodou em soltar, mesmo quando já estavam seguindo para longe da estação, com Izuku guiando o caminho.


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Notas finais do capítulo

Oi gente! Foi mal pela demora! Não era minha intenção, mas acabou acontecendo .-. Espero que tenham gostado do capítulo, apesar disso o/



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