O Preço da Fama escrita por Holanda


Capítulo 4
Capítulo 4




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Eu não sou obcecada por ela…

Que grande mentira!

Obsessão poderia ser definida por alguns dicionários como apego excessivo a algo ou a uma ideia fixa a ponto de fazer algo ilógico e insensato em nome disso. Era exatamente assim que Yang era. Claro que ela se controlava a maior parte do tempo, e os anos a fizeram ser mais equilibrada com sua paixão platônica por Weiss.

Mas quando Yang era mais jovem, ela fez algo que definitivamente entrava na descrição de “insensato”.

Ela tinha dezoito anos recém-completados, era verão e todos os clubes e casas de show da cidade estavam cheios por conta das férias. Yang saiu uma noite de sexta-feira junto com um grupo de amigos, todos alfas e alguns betas, estavam indo para o show de uma das bandas de rock mais populares no momento, a Ignite. Mesmo depois de anos, Yang ainda adorava aquela banda de rock que tinha mais do que apenas um pé no heavy metal.

— Isso vai ser totalmente demais! — Kevin falou todo animado, ele se virou para o grupo de jovens, todos vestidos como ele, de calça rasgada e camiseta preta. — Tô falando sério, oh seus otários! Esse vai ser o ponto alto de nossas férias!

— É bom que seja, porque depois disso, eu vou ter de ir para a faculdade. — disse Ash.

— Nem todo mundo tem a sorte da Yang, que vai viajar para a Ásia. — Brandon deu um soco no braço de Yang.

— Ha! Até parece que é a turismo, né? Sei idiota! — Ela socou de volta o braço dele.

— Ela vai fazer uma jornada espiritual para treinar e ganhar um troféu, como naquele filme: O Grande Dragão Ocidental. — zombou Kayla fazendo uma pose de karatê.

Todos riam. Era verdade que Yang viajaria no final do ano com o seu pai para a Ásia, ela treinaria juntos de mestres renomados e participaria do torneio mundial de sanshou que aconteceria exatamente em um ano. Claro que ela estava absolutamente animada com isso, luta era uma de suas obsessões, como bem apontou Blake. Mas ela sabia que sentiria falta de tudo, sua família, amigos, até sua cidade. Entrar em um regime de treino total, isolada do mundo, não era como Yang gostava de fazer as coisas. Pelo menos, ela teria seu pai por perto e tentou se convencer que era uma oportunidade de aprendizagem única que muitos lutadores por aí se matariam para ter.

O que restava a Yang era aproveitar os meses que tinha antes da viagem.

— Vamos deixar essa conversa mole e entrar logo! Esse show vai ser demais! — Yang disse fazendo um gesto de chifres com as duas mãos, os amigos gritaram animados.

Eles estavam todos se dirigindo a entrada, a maioria das pessoas já tinham entrado para o show de abertura, no corredor que levava ao imenso auditório, havia vários pôsteres de apresentações, espetáculos e shows que ainda aconteceriam ali, um deles logo capturou a atenção de Yang.

Ela parou ali, nem muito próxima, nem muito longe. No pôster, Weiss estava sentada no chão, tudo branco atrás dela, seu cabelo alvo como marfim, estava preso atrás por um rabo de cavalo desalinhado. Usava meias-calças pretas, uma camiseta branca com uma maçã estampada e uma jaqueta do tipo colegial. Ao redor de seu pescoço delicado, estava um par de fones de ouvidos bem grandes de cor vermelha. Sua expressão era absolutamente neutra, mas Yang notou aquele brilho no olhar, quase imperceptível, mas em sua imaginação, era um brilho de pura indolência.

— Ei! Yang? Você vem ou não? — Kevin perguntou gritando e parecendo bem irritando, ele e o resto do grupo já estavam na porta entregando os bilhetes para um homem.

— Eu… — Yang não conseguiu pensar em nada para responder, ela ficou ainda mais nervosa quando Kevin caminhou a passos largos para perto dela.

— O que você tá olhando aí? — O jovem rapaz alfa se aproximou enquanto os outros membros do grupo entravam.

— Nada! — Ela se apressou a dizer sentindo o constrangimento subir para sua face.

— Ah, olha só, não é aquela ômega sem graça que aparecia naquele programa idiota que só crianças e ômegas debilóides assistiam?

— Cala a boca! — Yang gritou irritada.

— Eeeh, ficou brava por que? Todo mundo já entrou e você aí olhando feito uma idiota para essa ômega magrela! — Yang sentiu seu sangue subir para a cabeça, ela estava muito tempo de socar a cara dele. — Não me leve a mal, ela é até gostosinha. — Ele riu. — Do tipo que dá para comer, esse tipo de ômega, a gente fode e depois…

Kevin não terminou a frase porque Yang acertou um soco direto bem no queixo dele. O garoto alfa caiu no chão sem nem saber o que lhe atingiu. Antes que ele pudesse se recuperar completamente, Yang estava em cima dele com o punho fechado apontado para seu rosto.

— O que está fazendo? — Ele perguntou atordoado, um pequeno filete de sangue estava saindo de um corte eu seu lábio.

— Você é um idiota por tratar ômegas assim! Alfas como você me enoja!

Ele arregalou os olhos e abriu a boca para dizer algo, mas Yang acertou outro soco dele, e depois outro, quando ia para o terceiro alguém agarrou ela por trás e a puxou para longe de Kevin. Era o homem que recebia os ingressos que correu para separar a briga assim que percebeu.

— Pare já com isso! Ou vou ter de pedir para que você se retire. — Ele falou e Yang se desvencilhou dos braços dele fazendo uma careta.

— Tá certo! Eu não faço a menor questão! — Ela disse com uma cara azeda e se afastando deles.

— Você é maluca! — Kevin gritou quando viu Yang saindo na outra direção.

Yang o ignorou, ela foi na direção da saída, diabos, o que  ela estava pensando? Claro que as palavras do Kevin foram estúpidas, mas ela acabou de bater na cara de uma pessoa que ela conhecia a pelo menos quatro anos, e provavelmente arruinou a amizade, tudo por causa de uma garota que ela nem conhecia e provável que nunca fosse conhecer.

Ela percebeu que havia parado de andar, Yang olhou em volta para perceber que estava no saguão principal, bem de frente a bilheteria. Havia uma placa com os shows que aconteceriam e se tinham ingressos disponíveis ou não. Os olhos de Yang caíram imediatamente no nome de Weiss.

Front: Disponível

Yang mordeu o próprio lábio claramente travando uma luta interna, mas ela nunca foi de pensar muito antes de agir. Seus pés se moveram e quando notou, estava na frente da bilheteria, um rapaz ômega estava do outro lado serrando as unhas com uma lixa colorida.

Ele olhou com cara de tédio para Yang, mas logo o nariz dele se contraiu quando seu cheiro chegou até ele. O ômega ficou tenso, os ombros enrijeceram e quando ele falou, pareceu nervoso:

— No que posso ajudar?

Yang rapidamente entendeu, quando ela se irritou e atacou Kevin, seu corpo deve ter liberado um monte de feromônios alfas. Ela estava assustando aquele ômega sem querer.

— Não é nada… me desculpe, eu já estou indo. — Yang se virou para sair, seu rosto deve ter sido mais penoso do que ela poderia admitir, pois imediatamente o ômega da bilheteria a chamou.

— Espere! — Yang se virou para ele e viu um leve rubor em seu rosto. — Pode… pode pedir, me desculpe por antes, eu não queria te ofender.

Yang quase sorriu ao entender que ele havia pensando que ela estava saindo por causa da careta que ele fez. A loira se aproximou de novo, ainda hesitante.

— Eu quero… um ingresso para o show da Weiss Schnee. — Ela disse bem baixo já sentindo arrependimento por aquilo quando seu rosto aqueceu.

— Desculpe, acho que não entendi bem, você quer um ingresso para o show da Weiss? — O rapaz ômega estreitou os olhos desconfiado, provável que fosse apenas curiosidade, mas na cabeça de Yang, ele estava a julgando.

— É para a minha irmãzinha. — Ela mentiu.

— Sua irmãzinha? — Ele levantou uma sobrancelha. — Okey, então.

Yang suspirou de alívio quando pareceu que ele havia aceitando sua história, por outro lado, ela se sentia meio culpada por Ruby. Sua irmã realmente adoraria ir para aquele show, mas a ideia de alguém conhecido a vê-la ali era humilhante demais.

— Aqui! Você vai pagar no cartão?

— Sim, vou! — Yang fez o pagamento e o ômega lhe entregou o ingresso.

— Quem sabe do dia que sua irmãzinha vir aqui. — Ele falou lhe dando uma piscadela com apenas um olho e sorrindo meio provocador. — A gente possa conversar melhor.

Yang engoliu a seco tentando descobrir se ele sabia de sua mentira ou não, acabou que ela decidiu que não dava para saber disso e apenas deu um sorriso sem jeito e murmurou um “com certeza” saindo o mais rápido que podia dali.

— Por que você estava dando em cima daquela alfa? — Uma garota beta que estava no outro guichê da bilheteria perguntou fazendo uma careta.

— Tirando o cheiro, ela era bem fofa. Você não achou?

A garota beta apenas levantou uma sobrancelha.

Alguns dias depois, Yang estava andando de um lado para o outro em seu quarto, o ingresso estava em cima da mesa como se a desafiasse silenciosamente. Ela estava tão perdida em pensamentos que não notou quando Blake entrou.

— Você vai abrir um buraco no chão de tanto andar para lá e pra cá. — A morena disse sorrindo.

Yang se virou para ela:

— Você tem de me ajudar, eu não posso contar com mais ninguém!

— O que houve? — Blake perguntou subitamente séria, ela fechou a porta atrás de si e caminhou até a amiga alfa.

— Eu fiz uma cagada!

— Como assim? — Yang apontou para o ingresso, Blake olhou confusa e foi até a mesa o pegando em suas mãos. — Você quer ir em um show da Weiss Schnee? Tá maluca?! Lá vai está cheio de ômegas!

— Eu sei! É por isso que eu preciso da sua ajuda! — Yang falou em desespero.

— Como assim? Qual o seu plano? — Blake cruzou os braços.

Yang olhou em volta, não havia ninguém, mas ela verificou de qualquer forma, depois ela correu para o banheiro que ficava em seu quarto e voltou rapidamente com um pequeno cilindro de vidro.

Os olhos inquisitivos de Blake rapidamente focalizaram no frasco e sua mente aguçada ligou os pontos.

— Você só pode está de brincadeira? Inibidor de feromônio injetável? Sério?

— Não tem outro jeito! Outros tipos de inibidores de feromônios alfas demoram muito tempo para agir! — Yang falou apreensiva.

— Mas Yang… essas coisas são muito agressivas e perigosas, só podem ser usadas com prescrições médicas e compradas por maiores de 21 anos, como você conseguiu isso para começo de conversa?

— Eu dei o meu jeito ai… — Ela coçou a parte de trás da cabeça desviando o olhar.

— Eu preciso te lembrar da vez que você achava que estava demorando muito para se desenvolver e outros alfas da escola já tinham músculos e você queria porque queria tomar hormônios, seus pais não deixaram e você tomou mesmo assim e foi parar no hospital?

— Não precisa me lembrar disso… Não vai dá nada de errado, minha mãe usa isso quando ela entra no calor.

— Ah, então foi assim que você conseguiu. — Blake constatou voltando a cruzar os braços.

— Por favor… me ajuda a usar.

Blake a encarou por alguns instantes, depois soltou um suspiro muito longo e cansado:

— Você tem seringa aí?

Yang ficava o tempo todo olhando para os lados esperando que alguém lhe olhasse com cara feia, mas ninguém o fez. Parecia que o inibidor de feromônio funcionou perfeitamente e ninguém desconfiou que ela era um alfa, ela também não sentia os efeitos de está rodeada de ômegas. Yang podia sentir o cheiro doce e atrativo que certamente deixaria qualquer alfa imediatamente louco, mas ela não estava sentindo nada, nenhuma reação em seu corpo.

Ela sorriu animada, parecia que estava dando tudo certo.

As luzes apagaram e a voz de Weiss ressoou pelo auditório lotado, gritos foram ouvidos, ela surgiu no palco sob uma luz branca, nada além de um microfone da mão. Yang lembrava de ouvi-la agradecendo a presença de todos e começar a cantar uma música bonita que ela adorava. Ela só ficou ali olhando meio boba para o palco, mesmo quando músicas mais agitadas surgiram e um grupo de dançarinos apareceram para executar coreografias muito bem ensaiadas juntos com Weiss.

Pelo menos, aquelas lembranças ficaram. Yang acordou no hospital no outro dia, lhe disseram que ela teve uma reação adversa ao uso do inibidor. Nem precisou de esforço para imaginar que ela foi bombardeada com broncas dos seus pais, mas quando Blake veio visitá-la e perguntou se valeu a pena…

Sim… valeu… — Yang não respondeu, mas pensou apenas para si mesma.

Aquelas lembranças foram sacudidas para longe conforme Yang corria, sua rotina de treino da semana sempre começava com uma corrida de 30 quilômetros pelo parque que ficava perto de sua casa, o lugar era tranquilo e bem arborizado, perfeito para inciar o dia do jeito que Yang gostava: enchendo seu corpo com uma boa dose de endorfina.

Ela monitorou com cuidado seus passos e batimentos cardíacos através de um relógio de pulso especialmente projetado para essa função. Mantendo a velocidade constante e evitando superaquecimento.

Yang respirou fundo e manteve o ritmo da corrida, ela ajeitou o fone de ouvido de onde ela podia escutar a voz de Weiss, só mais cinco quilômetros.

 

~**~

 

Weiss pôde contar um, dois, três vincos que se formaram entre as sobrancelhas de sua empresária. Aquilo não era bom. Glynda a olhava de forma extremamente crítica com seus olhos verdes por detrás dos óculos, o cabelo loiro opaco estava amarrado em um coque e ela usava um terno formal impecável.

— Você entende grego? — Weiss franziu o cenho em confusão diante mulher beta à sua frente.

— Desculpe? O que?

— Eu perguntei se você entende grego? Porque estou pensando em falar com você nesta língua para ver se você escuta alguma coisa que eu falo para você.

Os olhos de Weiss reviram quase que automaticamente:

— Me poupe do sermão, nós duas sabemos que eu não tive culpa alguma, a impressa não me deixa em paz!

— Você não colabora.

— Do que está falando?

— Eu estou falando deste seu post! — Glynda ralhou virando a tela de seu computador para Weiss ver o que ela apontava.

Era seu perfil em uma rede social, o post que ela havia feito no dia anterior estava aberto:

 

Apesar de minha fama, não sou imune aos estereótipos sociais impostos a ômegas. O padrão de relacionamento esperado seria alfa x ômega, e essa ideia de relacionamento ideal entre dinâmicas que supostamente se completariam, acaba criando no imaginário popular essa imagem de que todo alfa e ômega juntos são um casal. Lamento informá-los, mas o mundo está mudando. Ainda bem.”

 

Claro que foi um post feito completamente de propósito, depois que Cat insinuou que Weiss estava se envolvendo com Yang, seu perfil se encheu de fãs perguntando se era verdade. Weiss chegou a ficar irritada em como alguns pareciam excitados com a ideia e outros mandaram mensagens a criticando por supostamente está saindo com um alfa. Ela sempre teve que lidar com esses fãs mais tóxicos e com as críticas, porque obviamente não bastava a mídia ficar invadindo sua vida, as pessoas tinham de criticar tudo que ela fazia.

Não perderia a oportunidade de usar aquilo para uma bela crítica. A situação não era novidade, todos sabiam que Weiss é militante da causa ômega e ela era conhecida já por seus comentários de cunho crítico que davam o que falar. Muitos a admiravam justamente por causa de sua posição, outros acreditavam que ela não deveria tornar público suas opiniões.

Sua empresária era uma dessas pessoas.

— Quantas vezes eu vou precisar te dizer, Weiss? Deixa os boatos morrerem por si mesmo.

— Nada que você diga vai me convencer de que agi errado. — Weiss falou firme. — São minhas opiniões e eu compartilho o quanto eu quiser.

Glynda soltou um suspiro alto e ajeitou o óculo no rosto.

— Eu não sei o que faço com você.

— Que tal parar de dar pitaco na minha vida pessoa? — Weiss disse mal-humorada.

— Meu trabalho é cuidar da sua carreira e por mais que você odeie isso, não dá para dissociar sua vida pessoal de sua carreira. — Glynda esperou alguma resposta de sua cliente, mas a ômega apenas ficou lá com a cara fechada, era óbvio que Weiss não queria discutir. — Você está se envolvendo com essa alfa lutadora? — Ela perguntou soando mais amistosa.

— Óbvio que não! Neptune está saindo com ela e sem falar, você acha mesmo que esse tipo de alfa faz o meu tipo? Por favor! — Ela desdenhou e Glynda apenas levantou uma sobrancelha para ela.

— Não importa, tenho uma boa notícia para você. — Weiss se virou para ela prestando mais atenção a suas palavras. — Estamos quase fechando o acordo com o Flynt para o show especial na final do campeonato de futebol.

— E o que está faltando? — perguntou animada, ela queria muito essa parceria.

— Flynt concordou com todos as suas propostas, porém o empresário dele não, eu estou tentando negociar sobre o tempo, mas ele está fazendo linha dura para aceitar.

— Você explicou que vamos cantar uma música juntos? Ele entende o que isso significa? Sabe o quanto será bom para a carreira do Flynt? — Weiss parecia incrédula com a informação que o empresário de seu amigo estava dificultando a parceria. Eles já havia cantado juntos antes e nunca houve esse tipo de problema.

— Esse espaço de show no intervalo da final do campeonato é muito cobiçado, natural que ele queira que seu cliente tenha mais tempo em destaque. Mas acredito que ele cederá logo, Flynt se mostrou muito empolgado com a ideia.

— Agilize isso o mais rápido possível, vou falar com Flynt para preparamos a apresentação. — Weiss começou a se levantar.

— Espere, tem mais uma coisa. — Glynda a chamou de volta. — Com relação ao Sage…

— Eu estou indo falar com ele agora, já está tudo acertado. — Weiss correu para fora do escritório, ela já estava bem atrasada para seu compromisso na gravadora.

Assim que Weiss entrou no banco de trás do carro, Klein a cumprimentou.

— Vejo que está animada, fico feliz de não terem brigado como da última vez. — O homem ômega baixinho e espirituoso sorriu para ela se virando do banco do motorista.

— Sim, mas estou atrasada, Klein, corre para a gravadora, por favor! — Ela falou sorrindo e colocando as mãos juntas como uma oração.

Klein riu:

— Claro, é para já!

 

~**~

 

Weiss abriu a porta entrando na sala pequena e escura da gravadora que pertencia a Sage. De nome Wings, a gravadora era parceira dela, sendo a responsável por todos os seus discos nos últimos anos, claramente, aquela parceria ajudou a Wings crescer em seus primeiros anos de existência, já que Sage a começou do zero depois que a SSSN se desfez.

Ainda dava para ver fotos, velhas lembranças da época da SSSN. Aquela boyband fez um sucesso meteórico com músicas dançantes e performances bem coreografadas, mas nada tirava da cabeça de Weiss que o fator que fez a banda estourar foi o tanquinho dos seus integrantes.

Sun, Sage, Scarlet e Neptune formavam o quarteto quente do momento. Mas isso foi há seis anos. Agora, cada um deles seguiu suas carreiras de forma independente. Sun era um modelo muito bem pago e disputado por marcas de grife, Sage seguia carreira sendo cantor de Hip Hop e com sua própria gravadora, ele agora estava casando com Scarlet, cuja principal atividade atualmente era de estilista.

Neptune agora trabalhava com Weiss como seu produtor musical, por isso não foi surpresa para ela quando viu seu amigo beta de cabelo azul sentado na frente de um painel cheio de botões conversando com Sage a seu lado.

— Weiss? Que bom que você chegou. — Sage falou sorrindo largamente quando se virou para ver quem tinha entrado.

— Não perderia isso por nada. — Ela sorriu de volta e se aproximou do homem alfa.

Sage, como muitos dos cantores de Hip Hop, era negro, o cabelo pintado de verde e levantando para cima, seu corpo inteiro ostentava várias tatuagens e ele usava uma pesada corrente de ouro com o seu nome gravado. Apesar do visual extravagante, ele era um sujeito bem simples e gentil, um dos poucos alfas que Weiss era amiga e tinha muito apreço.

— Você é uma mãezona. — Ele disse a abraçando, mas ainda sentado em sua cadeira.

— Para com isso. — Ela riu batendo em seu ombro.

— Mas não é verdade? — Neptune falou se esticando para olhar para ela. — Você está paparicando o garoto como uma mãe coruja.

Ela fez uma careta para ele.

— Como ele está se saindo. — Weiss perguntou decidindo ignorar Neptune e olhar para o vidro que separava a sala acústica onde Jaune estava cantando perto do microfone.

— Veja você. — Sage lhe ofereceu o fone de ouvido com um sorriso, Weiss o pegou e colocou na cabeça e uma voz masculina bem tranquila chegou a seus ouvidos com uma música bonita.

Do outro lado do vidro, estava Jaune, um rapaz beta que Weiss descobriu por acaso em um pequeno bar que ela frequentou uma vez. Ele era jovem e talentoso, mas precisava de muito trabalho para ficar lapidado dentro do ramo musical e ela resolveu patrociná-lo, e aqui estava ele, gravando suas primeiras músicas e Weiss não podia deixar de se sentir orgulhosa quando a música romântica invadiu seus ouvidos. Jaune tinha a voz surpreendentemente boa, apesar de sua timidez e seu péssimo gosto para roupas. Mas isso poderia ser consertado com o tempo.

Jaune percebeu sua presença, ele sorriu para Weiss que acenou para ele por trás do vidro, ele estava sentando em um banquinho com um violão nos braços, seu cabelo loiro foi recém-cortado. Weiss lembrava que quando o conheceu ele andava com o cabelo longo e uma barba por fazer na esperança que aquilo fosse fazer as pessoas o respeitarem… claro que era uma má ideia.

Weiss promoveu uma mudança radical no visual dele, tudo parte do plano para lançar a carreira de Jaune na música e aquela gravação era o segundo passo.

A música terminou e com um aceno de cabeça, Sage autorizou Jaune a sair, ele rapidamente correu para fora da sala e parou na frente de Weiss com seus olhos azuis cintilando de expectativa.

— O que achou? Estava receoso em começar sem você ter chegado. — Ele falou tímido.

— Você foi ótimo, Jaune, e qualquer coisa, pode confiar no Sage. — Weiss colocou uma mão sobre o ombro forte do alfa e sorriu para ele.

— Você tá indo muito bem, mais duas músicas e a gente fecha hoje. — Sage falou e Jaune assentiu.

— Queria conversar um pouco com você. — Weiss puxou levemente o braço do rapaz beta.

— É sobre a música? — Ele perguntou parecendo nervoso.

— Não, não é nada disso. — Weiss se apressou a acalmá-lo, ela propositalmente começou exalar um pouco de feromônio ômega a fim de deixá-lo mais tranquilo, pareceu funcionar, os ombros de Jaune abaixaram bem menos tensos do que antes. — Eu tenho uma surpresa boa para você, pedi para Sage não te contar porque queria lhe dizer pessoalmente. — Ela fez uma pausa quase dramática. — Nós vamos ao programa do Oz Night Show e quero que você faça um dueto comigo.

Parecia que toda a cor havia sido sugada do rosto de Jaune e por um instante, Weiss achou que ele vomitaria.

— Jaune, você está bem?

— Eu… eu… meu Deus, isso é sério? Weiss? Isso é sério? O programa do Oz? — Ele colocou as mãos no rosto fazendo uma cara de desespero. — Weiss, eu não posso fazer isso! Milhares de pessoas vão está vendo!

Weiss riu da reação exagerada dele, mas percebeu que o desespero dele era normal, até bem-dizer dois meses atrás, Jaune se apresentavam para no máximo 70 pessoas dentro de pubs aleatórios pela cidade. Agora ele estava indo para as coisas realmente grandes nesse mundo louco da música e Weiss estava mais do que comprometida a ajudá-lo.

— Jaune, olha para mim. — Ela puxou as mãos dele do rosto o forçando a olhá-la. — Eu sei que isso é assustador, a plateia sempre deixa a gente com um frio na barriga, acredite em mim, isso nunca vai passar, mas é sua carreira que está em jogo, você pode desistir ou lutar por ela.

— Eu…

— E outra coisa, eu sei que isso será difícil, por isso ficarei a seu lado, será um dueto, você não cantará sozinho.

Jaune se emocionou:

— Obrigado, obrigado por tudo, Weiss, você está fazendo tanto por mim, me sinto até meio mal, parece que estou te usando para me promover.

— Não tem problema nisso, Jaune, eu quero te ajudar!

— Não sei nem como te agradecer.

— Agradeça sendo incrível. — Weiss lhe disse sorrindo. — Que tal ensaiamos a música.

— Sim! Vamos! — Ele respondeu todo animado.

 

~**~

 

— Então você vai levar o garoto para o programa do Oz? Não acha um passo grande demais para ele? — Neptune perguntou depois que os dois entraram no carro de Weiss e Klein começou a dirigir o veículo.

Já havia passado do meio da tarde, naquela altura.

— Se me lembro bem, sua carreira não decolou depois da apresentação no programa do Oz? Isso e a barriga de fora. — Weiss respondeu com sarcasmo na voz.

Neptune apenas bufou fechando a cara, Weiss sabia bem que ele não gostava quando se falava sobre o tempo com sua antiga banda. Ela imediatamente se repreendeu mentalmente.

— Então, como anda as coisas com sua alfa lutadora? — Weiss perguntou esperando que mudar para um assunto mais agradável para Neptune fosse ajudar o humor de seu amigo. — Ela não se chateou com essa história da Boop, não é?

Pareceu surtir o efeito desejado, pois Neptune logo se virou todo animado.

— Claro que não! A Yang é a pessoa mais incrível que já conheci, ela não se chatearia com algo assim! Falei com ela ontem a noite, nada demorado, só uma troca de mensagens, ela disse que vai voltar a rotina de treino, me mandou até essa foto! — Neptune levantou o aparelho telefone com uma foto de Yang na tela e Weiss quase engasgou.

Ela se viu com os olhos grudados na imagem. A loira atlética estava fazendo uma pose na frende de um espelho quando bateu a foto, uma mão segurando o telefone e a outra na bainha de sua bermuda puxando um pouco para baixo para exigir ainda mais seu abdome cheio de músculos pelos treinos. Fora o calção, a única peça de roupa vista era um sutiã esportivos preto com a mesma estampa de coração amarelo flamejante que Weiss havia visto nas roupas da loira no dia da confusão no camarote da arena Vytal. Ela estava sorrindo e o corpo meio molhado, provável de suor, Weiss acharia um tanto nojento, mas repentinamente, ela se pegou rastreando cada uma das linhas musculares que ficavam no abdômen da alfa.

Percebendo o que estava fazendo, ela desviou o olhar afastando o aparelho com a mão em um gesto de desdenha:

— Guarde fotos íntimas para si mesmo!

— Mas não é nem nudes! — Neptune brincou. — Mas se você quiser ver….

— Não!

Ele riu alto, gargalhando pra valer e Weiss sentiu suas bochechas aquecerem.

— Pare com isso! Pare imediatamente! — Ela exigiu.

Do banco da frente, Klein levantou uma sobrancelha observando discretamente o ocorrido pelo espelho retrovisor.



*

 


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