Digimon Invocação escrita por Kevin


Capítulo 7
Episódio 06: Energia


Notas iniciais do capítulo

Basicamente 1 ano e 8 meses depois estamos de volta.

Peço desculpas pelo abandono da fic, as coisas ficaram complicadas, corridas e impossíveis de conciliar... e agora vendo exatamente o dia da ultima postagem, de começo a entender boa parte disso tudo.

Mas, tirando coisas boas de situações complicadas, o isolamento esta me permitindo votar a escrever. E quem me conhece sabe... não posso deixar trabalhos inacabados... então hoje trago para vocês a continuação de nossa fic... e deixo bem claro ELA TERÁ UM FINAL (já estou em vias de escrevê-lo).

Espero que gostem e perdoem-me por ter deixado a fic.



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— Eu falei que o encontraríamos aqui! -

 

Com a cabeça abaixada, sentado nos primeiros degraus da entrada do prédio de Cecília, encontrava-se um encolhido Daniel. Ele quase passava despercebido pelas pessoas que se notassem alguém ali, achariam que se tratava de um mendigo e desta forma tratavam de ignorá-lo rapidamente. Ele sabia que estava sujo, abatido e até fedendo, não culpava as pessoas por estarem a julgá-lo daquela forma e tinha esperanças que as criaturas que resolveram invadir o planeta fizessem o mesmo, ignorassem sua presença.

Ele levantou o olhar ao escutar a voz de Cecilia, havia fugido deixando-a sozinha quando em uma atitude inusitada a loira decidira arriscar-se com Impmon. Viu a loira caminhar um pouco fadigada acompanhada de Benjamin ao seu lado que parecia estar em melhores condições que a menina, mas visivelmente revoltado.

 

Ela conseguiu resgatá-lo? Realmente ele estava lá e saíram os dois vivos? Daniel surpreso não conseguiu nem levantar-se diante do pensamento que as coisas não aconteceram como ele havia imaginado.

 

— Vou tomar um banho e volto em dez minutos. - Disse a menina que parecia pronta para deitar na cama e dormir um dia inteiro. - Tem certeza que não preferem esperar lá em cima? -

 

Benjamin sorriu balançando a cabeça negativamente o que fez Daniel não entender o que acontecia. Por que eles esperariam ali fora, expostos e desprotegidos? Mas, pouco teve tempo de ordenar pensamentos ou verbalizar seus questionamentos, tão logo a menina desapareceu pela porta de entrada de seu prédio sentiu-se erguido pelas golas de sua camisa e blusa de frio e viu os olhos raivosos de Benjamin.

 

— O que pensa que está fazendo? -

 

Daniel tentou se impor, agarrando os braços do interiorano para se libertar, mas então viu a tatuagem na mão esquerda e paralisou.

 

— Escute aqui, covarde de merda! - Benjamin falou em voz baixa, mas com um tom sinistro. - Ocê nunca mais foge deixando alguém para trás... Ou Impmon será seu menor problema! -

 

Talvez fosse todo o ocorrido durante até aquele momento ou o fato de alguém realmente se prestar a gastar energia com ele dizendo que ele ainda teria mais uma chance, mas a verdade era que Daniel sentiu que Benjamin falava sério.

 

 

Digimon Invocação — Rituais
Arco 01: Pactos
Episódio 0
6: Energia

 

 

A noite na cidade Allen havia chegado com uma pequena frente fria que não se apresentava durante o dia, fazendo as pessoas ficarem ainda mais tímidas de realizarem eventos noturnos. Ainda assim, a vida noturna da cidade mostrava-se mais viva do que a vida diurna daquele sábado. Muitos bares e lanchonetes abertos com, pelo menos, meia dúzia de clientes em cada um deles, sem contar os supermercados que ainda estavam abertos e com um movimento considerado.

O trio de jovens que iniciou o dia discutindo um trabalho escolar e acabaram sendo perseguidos por digimons caminhavam pelas ruas observando a cidade que parecia alheia a tudo que havia acontecido perto deles. Mas, a verdade é que nenhum dos três sabia dizer, exatamente, o que havia acontecido e por isso estavam para se reunir a José que permanecera na casa de Benjamin aguardando o retorno do jovem que fora ao resgate de Cecília e Daniel para que pudessem conversar e reunir todas as informações que possuíam, escutar Penmon e Aururamon e assim, quem sabe, entender o que estava realmente acontecendo.

Após saírem do prédio de Cecilia, com ela arrumada para passar a noite fora informando que não teria problemas com o pai, que iria dobrar no serviço e só voltaria na noite seguinte, seguiram para a casa de Daniel. O garoto obrigou a dupla a esperar na pracinha do bairro próximo enquanto ele inventaria uma desculpa para os pais. Foram, trinta minutos de espera onde a menina ainda apresentava certa fadiga enquanto comia uma barra de cereal sem dizer nada. Quando Daniel reapareceu parecia mais contrariado do que quando partira e sua mochila parecia maior que a necessária, mas o silêncio permanecia entre eles, dizendo apenas o indispensável e o caminho da casa de Benjamin foi tomado.

 

— Não entendo porque envolveu José nisso. -

 

Talvez a necessidade fosse quebrar o silêncio que havia se formado e que Daniel percebia com facilidade que era algo rotineiro entre eles com aquilo resultando sempre numa discussão estranha e nada amistosa. Ainda que ele reconhecesse, fosse o culpado das estranhezas e animosidades na maioria das situações.

 

— Tenho a impressão que ele gosta de questionar. - Cecilia deu uma risada. - Primeiro questionou porque ele tinha que ir junto, depois porque tinha que ser na casa de Benjamin, em seguida o motivo de irmos andando e agora... -

 

Daniel revirou os olhos já que todas as perguntas eram pertinentes e para nenhuma delas a resposta foi convincente. “Pode ir para casa sozinho, mas não ligue pedindo ajuda ou pergunte sobre o que descobrimos depois!”. Foi a resposta para a primeira pergunta. Logo, ele não tinha escolhas ou estaria desprotegido. Para o questionamento do local a resposta foi já está decidido. Ou seja, ele não tinha escolha. Quanto a ir andando sequer ouve resposta e como não tinha conhecimento de onde era a casa de Benjamin acabava sem escolhas a não ser seguir o garoto. No final, ele não tinha escolha alguma em nenhum dos questionamentos que fez.

 

— Fui atacado quando estava com ele. -

 

Daniel meneou com a cabeça um tanto surpreso diante a primeira resposta clara que teve, especialmente porque veio de Benjamin. Mas percebeu que ele parou observando uma casa e seus arredores. Cecilia e Daniel se olharam por alguns instantes e viram Benjamin começar a dar a volta na casa e ir para a porta dos fundos e assim entraram pela porta da cozinha.

Assim que entram o grupo se surpreendente com José acabando de pôr na mesa da cozinha duas caixas de pizza, enquanto em cima da pia havia garrafas de refrigerante.

 

— Que bom que estão bem! - Disse José ao vê-los entrando pela porta da cozinha. - Comprei um lanche para nós, achei que chegariam com fome. -

 

— O entregador acabou de sair, né? - Questionou Benjamin que apenas recebeu uma confirmação com a cabeça.

 

Ele veio pela porta de trás porque percebeu algo estranho nos fundos da casa? Daniel pareceu pensar sobre aquilo enquanto Cecilia saudava José e Benjamin conferia as fechaduras da casa.

 

Sentados em volta da mesa, começaram a comer, sem saber exatamente o que deveriam conversar naquele momento. De fato Daniel não comia desde o café da manhã e não estava fazendo-se de rogado naquele momento ele havia retirado da mochila um pote de biscoitos caseiros e posto na mesa que parecia bem convidativo a todos, talvez por isso não se incomodasse em comer tanto. No entanto, os demais comiam de forma moderada ainda tentando encontrar uma forma de começar a falar.

 

— Aururamon não deveria se alimentar também? - Questionou José. - Acho que gostariam destes biscoitos, são excelentes! -

 

Era claro que José tentava puxar uma conversa, ou guiando para que a conversa fosse para o assunto que os reuniam ou dando-lhes outra opção de assunto, no caso os biscoitos caseiros que Daniel trouxe.

Benjamin parou por alguns instantes e olhou para Cecilia consultando-a sobre as condições dela para chamar Penmon novamente. Era evidente que os digimon deveriam ter necessidade de se alimentar, mas, com certeza, pizza, biscoitos e refrigerante eram pouco indicados para uma planta e um pinguim, além disso chamar aos dois ao mesmo tempo poderia resultar em um conflito devido a forma como Aururamon tratou Penmon. Ainda assim, era necessário fazerem-no!

 

— Eu não entendi bem, mas os digimons materializados usam de nossa energia. - Cecilia suspirou. - Seria bom eles terem uma fonte secundária para não acontecer o que aconteceu no lixão. -

 

Daniel engasgou ao escutar aquilo. Tossindo ele afastou-se da mesa e após algum tempo encarou a menina loira questionando aquela fala.

 

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Não sinto mais nenhum digimon por aqui.

 

Impmon estava no lixão da cidade, resolvera ficar ali uma vez que o fedor ajudava a ocultar o seu e visivelmente era um bom lugar para esconder-se com facilidade de qualquer humano que não deveria vê-lo.

 

O plano não saiu como o esperado, era para um lado ser destruído e o outro ficar tão abatido que eu pudesse eliminá-lo. No entanto, não pude eliminar o lado vencedor porque apareceu outro humano invocador com digimon. Será que ele estava apenas fingindo por causa da presença do outro quando o persegui mais cedo? Mas, então porque só usaram Penmon quando surgi? Bem, ao menos sei que são dois invocadores e os Evilmons foram eliminados. Quanto a mais Evilmons chegarem, não preciso me preocupar pelos próximos dias, pois vão demorar para sentir falta de dois trastes como aqueles. Agora, os invocadores certamente não vão demorar a me procurar. Terei no máximo esta noite para descansar e descobrir o porquê dos meus poderes estarem falhando.

 

Impmon tentava criar uma bola de fogo com as mãos, mas apenas fagulhas surgiam, deixando-o irritado com aquilo.

 

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Daniel precisou de uns 5 minutos para conseguir se acalmar após descobrir que Benjamin e Cecilia corriam sério risco. Penmon sabia, mas nada havia dito sobre o verdadeiro elo de digimon e humano, e não se podia entender bem o motivo disso. No entanto, Aururamon não escondeu de Benjamin quando estavam a procurar Cecilia e Daniel pela cidade.

Um digimon precisa de uma fonte de energia para habitar o mundo material e quando invocado por um humano torna-se servo deste humano para protegê-lo. O humano tornar-se mestre e doa energia para este digimon poder permanecer materializado e ativo no mundo material.

Por isso, quando Penmon lutava e começou a se cansar, exigia mais energia de Cecilia que foi ficando cansada também. Quando Penmon foi ficando exausto a menina também foi ficando exausta. Somado aos ferimentos e a falta de energia que Penmon sentia ele tentava a cada instante conseguir mais e mais energia da menina a ponto de ambos já estarem a segundos de um desmaio.

Aururamon explicou para Benjamin, o básico desta doação e doação de energia e avisou que não deveria deixar que nenhum dos dois desmaiasse, especialmente o humano, pois se estivessem em batalha estariam desprotegidos.

Assim, quando Aururamon e Benjamin chegaram ao lixão e viram a situação já sabiam o que tinham que fazer, retirar Penmon da luta e fazer Cecilia recolher seu servo antes que ela desmaiasse. Benjamin até seguiu a ideia como deveria, mas ficou surpreso que Aururamon confrontando Penmon daquela forma e naquela hora.

 

— Bem… Acho que está na hora de reunirmos todas as informações. -

 

José parecia ser o mais calmo e por isso tentou inciar a conversa que precisava ser iniciada, uma vez que dirigiram-se a sala para que tudo começasse.

 

— Você agora é o líder? Você nem tem relação com tudo isso. - Disse Daniel rispidamente.

 

José apenas sorriu e fez sinal para que ele tomasse a frente. Mas, durou apenas cinco segundos até que Daniel balançasse a cabeça frustrado diante daquilo. Ele controlar aquela reunião fazia dele o líder e significava que aceitava se envolver e ele não estava aceitando aquilo.

 

— Penmon! -

 

— Aururamon! -

 

Daniel surpreendeu-se com a atitude da dupla ao chamar os digimons, viu a criatura de penas azuladas surgir e olhar em volta por alguns instantes e de repente parar encarando a segunda criatura, a planta de pétalas roxas na cabeça que havia insultado-o em frente a sua mestra e sabia exatamente quem ele era.

No entanto, a planta olhava para Daniel com certa curiosidade. Percebia a frustração do garoto e por alguns instantes pareceu tentar imaginar o que seu mestre Benjamin queria com aquela reunião.

 

— Mestre Benjamin, desconfio que este humano que nunca vi seja o outro que foi atacado por Impmon. - Aururamon pareceu procurar uma confirmação junto ao moreno interiorano. - Então, reuniu a todos os envolvidos para protegê-los? -

 

— Como falei antes, não sabemos de nada e precisamos entender o que está acontecendo, Aururamon. - Disse Benjamin. - Por sinal, obrigado pela ajuda no lixão para resgatar Cecilia e Penmon! -

 

— Era meu dever te apoiar. Além disso, Evilmons são lixos, não foi trabalho algum! -

 

— Oras… Eu poderia ter vencido-os sem você! - Disse Penmon revoltado.

 

Os dois digimon presentes se encararam por alguns instantes, mas Cecilia quebrou o clima.

 

— Penmon eu te perguntaria o porquê não falou sobre o consumo da minha energia. Você apenas me ensinou a dispensá-lo para poupar energia, o que significa que sabia sobre isso. Ainda assim, vou esperar o momento que esteja pronto para me dizer até porque temos mais informações a levantar do que essa. -

 

Penmon olhou para sua mestra surpreso com o que havia sido dito, ele apenas sentou-se no chão daquela sala, temendo o que estava por vir.

 

— Vamos começar pelo início. - Disse Daniel. - Sou Daniel, tenho 15 anos e sou humano, adolescente, e não tenho ideia do que seja um digimon ou do que está acontecendo. - Daniel resolveu começar indicando o que cada um deveria dizer, seu nome, idade, o que era, seu tempo de vida e a quantidade de informação que tinha sobre aquilo. - Adolescente significa que ainda estou em uma fase da minha vida em que estou aprendendo as coisas. - Daniel resolveu completar a informação, imaginando que a palavra adolescente seria desconhecida pela dupla de criaturas.

 

Se minha observação está certa, cada um deles, neste momento, possui um pedaço de informação que precisa ser colocado em ordem cronológica. Além disso, preciso entender o que são estas duas criaturas. Quando falarem de idade saberei o quanto conhecem sobre os humanos.

 

Daniel havia proposto algo para se organizar e entender o que eram aquelas criaturas. Mas, ele mal sabia que as perguntas revelariam mais do que gostaria.

 

— Cecilia, 15 anos, adolescente humana. Disso tudo só sei o que foi dito por Penmon, que os digimon não ligados a humanos querem invadir e dominar nosso mundo. - Cecilia parou. - Ah, sim! Os Evilmons vieram atrás de Impmon. -

 

Daniel fez uma rápida anotação.

 

— Benjamin, 15 anos, humano adolescente. Além do que me foi contato por Aururamon, de ter percebido que Impmon está sendo caçado por outros digimons, descobri que meus pais também estão envolvidos com tudo isso. - Naquele momento ele levantou-se e estendeu o porta-retratos dos pais, mais jovem, com a tatuagem a mostra. - E descobri como se faz a invocação. Mas, não a entendo exatamente. -

 

Daniel fez novas anotações.

 

— José, 16 anos, humano adolescente. Acompanhei Benjamin nestas últimas descobertas e percebi que a maioria das minhas revistas de RPG possuem alguma informação relevante que se liga a tudo isso. Bom, pelo menos teoricamente… É o que tenho acreditado desde que invocamos… - José apontou para Aururamon.

 

Daniel ficou parado alguns instantes observando seu caderninho como quem parecia decidir se fazia sua anotação, ou se realmente acreditava naquilo. Mas, acabou por anotar.

 

— Aururamon. - Benjamin indicou que era para ele falar.

 

— Sou Aururamon dos Espíritos da Floresta. Sou um digimon da fase treinamento a pelo menos seis anos e treino a cinco. - O digimon parou por alguns instantes. - Acho que minha fase de treinamento equivaleria ao que chamam de adolescentes humanos, mas temos algumas diferenças. Posso compartilhar tudo o que eu conheço com vocês para tentarmos entender o que está acontecendo no seu mundo, pois apesar do que parece não creio que estejam sendo invadidos como está criança disse a vocês. -

 

Penmon fuzilou Aururamon com o olhar e levantou-se pronto para soltar sobre a planta, mas foi detido pela Cecilia que segurou-o. Daniel fazia anotações do falado pela criatura tentando abster-se da briga que começava a acontecer.

 

— Penmon, pare com isso. - Disse Cecilia. - Apresente-se a todos e passe informações. -

 

— Não! - Penmon cruzou os braços-asas, irritado.

 

— Eu digo por ele. - Disse Aururamon. - Penmon, digimon da Tribo da Água. Ele é um digimon na fase de treinamento a apenas 1 mês, o que significava que não iniciou seu treinamento ainda. Todo o conhecimento que ele tem é de histórias que escutou. Até aonde sei, era o digimon criança mais levado da Tribo da Água. -

 

Penmon se libertou de Cecilia e saltou sobre Aururamon que rapidamente revidou prendendo em seus chicotes.

 

— Parem! - Gritou José.

 

Benjamin tentou separá-los, mas parecia inútil.

 

— Não se preocupe que não drenarei suas forças. - Disse Aururamon. - Apenas comporte-se! Você é inexperiente e eu sequer tenho meu treinamento concluído. Ou seja, ambos não deveríamos ter sido invocados, mas fomos. Então ajude os humanos que nos invocaram. -

 

— Não acredite nele mestra! -

 

Penmon berrou. Ouviu um bufar e em seguida sentiu-se livre olhou para Aururamon que olhava para o garoto do nariz avantajado. Ele havia bufado e parado de fazer suas anotações encarava os dois digimons.

 

— O que é um digimon? - Questionou Daniel.

 

— É uma pergunta muito filo… - Cecilia começou a falar e foi interrompida por Daniel que fez um gesto para que ela se aquietasse.

 

— O que é um digimon, Penmon? - Questionou Daniel.

 

— Já expliquei isso para minha mestra. É uma pergunta estranha para ser feita. É o mesmo que perguntar o que é um humano. - Disse Penmon.

 

Daniel ponderou aquela resposta por alguns instantes. Em seguida virou-se para Aururamon e apenas acenou com a cabeça indicando que era a vez dele responder. Os outros três adolescentes ficaram curiosos com o que Daniel estava tentando fazer.

 

— Tenha em mente a existência de dois mundos. O Mundo Material, o de vocês onde diversas criaturas habitam e o ser vivo dominante aparenta ser o ser humano. Enquanto existe o Mundo Digital, onde o nome já diz, composto por dados digitais, onde os seres vivos de lá são tão bem, em maioria, compostos por dados digitais ordenados de forma aleatória. Os seres vivos digitais do Mundo Digital são conhecidos como Digimon, uma abreviação para Monstros Digitais devido à aleatoriedade como os dados se juntam. - Aururamon parou por alguns instantes. - Para os humanos, monstro é algo ruim, mas de fato no seu por menor é apenas algo desconhecido e fora do padrão. Por isso, dados aleatórios são monstros. Monstros digitais, Digital monsters, Digimons. -

 

— Então… - Daniel começou. - Digimon é um monstro digital, que habita um mundo digital onde os seres são compostos de dados digitais que se organizam de forma aleatória, na maioria das vezes. -

 

Aururamon acenou com a cabeça concordando.

 

— Acredito no Aururamon. - Disse Daniel. - Conte-nos tudo que precisamos. -

 

— Por que? - Penmon ficou surpreso. - Por que acreditar nele e não em mim? -

 

Daniel levantou os óculos e massageou as juntas dos olhos. Percebeu durante este movimento que todos também tinham o mesmo questionamento. Aquilo era difícil para ele, era um desgaste de energia desnecessário na opinião dele.

 

— Justamente por você ter que perguntar. - Disse Daniel de forma debochosa, deixando o pássaro aquático digimon azul confuso. - Primeiro, são duas respostas plausíveis, uma levando em conta ciência e outra filosofia. Significa que não existe uma resposta certa. Eu poderia optar pela sua resposta ou pela dele, mas opto pela resposta científica dele por ela me dar mais informações com o que trabalhar, ainda que não possa comprovar todas. Mas, sua resposta filosófica resumida não dá muitas informações. -

 

Penmon piscou durante alguns instantes parecendo tentar entender o dito pelo rapaz do nariz avantajado. No final ele havia dito que só estava acreditando em Aururamon e não nele porque a resposta de Aururamon dava mais informações do que a de Penmon. Não era questão de confiança, era questão sobre com que informação podiam trabalhar.

 

— Segundo, Aururamon disse que você é uma criança e basicamente está agindo como uma com todo este showzinho e birra. Ainda que não seja, está irritado demais e continua a se recusar a passar as informações da versão da sua resposta. - Daniel pausou e o encarou. - Por que eu escolheria sua resposta? -

 

Apesar de a fala ser dirigida a Penmon o grupo na sala estava surpreso e atônito, assim como a ave azul de água. Daniel apresentava uma lógica que eles não podiam acompanhar naquela hora da noite. O garoto medroso parecia ter conseguido se acalmar e pensar de forma lógica diante a tudo aquilo.

 

— O que você sabe disso tudo? - Questionou Daniel voltando as anotações e dirigindo-se a Aururamon.

 

— Eu não tenho ideia do que está acontecendo neste momento. - Diz Aururamon suspirando. - Nossos mundos são paralelos, então por teoria eles não se chocam ou um não influência diretamente no outro. Mas, de alguma forma eventos muito grandes de ambos os mundos causam oscilações dimensionais que podem ser sentidas no outro mundo. Mas, estas oscilações dimensionais não significam muito em termos de problemas. -

 

— Então… - Cecilia parou tentando compreender. - Por que está citando isso? -

 

— Para que entendam a importância desta relação. Talvez não para vocês humanos e o seu Mundo Material, mas sim para digimons e o Mundo Digital. - Aururamon comentou. - Nem tudo que fazemos em nosso mundo afeta o mundo de vocês em grande escala. Mas, acontecimentos do seu mundo afetam o nosso em grande escala. -

 

— Espera. - José pareceu não compreender. - Eu não entendi. -

 

— Ele está dizendo que uma guerra no mundo dele causa oscilação em nosso mundo, mas não chega a ser sentida como algo anormal. Mas, uma guerra em nosso mundo afeta o dele de uma forma caótica. - Diz Daniel. - Estou certo? -

 

Ele tem um poder de dedução incrível. Falar da guerra realmente exemplifica bem a situação. Dizem que quando o Mundo Material descobriu a Bomba atômica surgiram os primeiros digimon máquinas com energia atômica em nosso mundo. Mas, que as nossas guerras não chegaram a influenciar em quase nada o mundo deles. Aururamon refletia sobre o comentado por Daniel e confirma a afirmação do rapaz com um aceno de cabeça.

 

— Esta relação entre os dois mundos faz com que digimons da tribo de Impmon, que estão sempre tentando dominar o Mundo Digital, queiram vir para o Mundo Material para causar um evento grande a ponto de oscilar dimensionalmente e mudar o rumo da guerra e assim conseguirem dominar o Mundo Digital. - Aururamon parou. - Isso ocorre a eras. As vezes eles começam quando já estão quase dominando o nosso mundo, as vezes nem começaram a tentar e já vem ao Mundo Material para conseguir forças para a dominação. -

 

— Mas, você não acredite que este seja o caso. - Benjamin afirmou.

 

— Exatamente. - Aururamon continuou. - Desde o início, descobriu-se que assim como nossos mundos possuem uma relação, seus habitantes podem criar uma relação entre eles. Ligados através de um ritual, Humano e Digimon viram parceiros para manter a estabilidade e harmonia dos dois mundos. Humano é o mestre por dar energia, ser a criatura que fica no mundo em que os eventos geradores da oscilação digital são mais importantes e sensíveis e seu mundo ser o que precisa ser protegido na maior parte do tempo. - Auraramon sorriu. - Os digimon são os servos, parecemos mais poderosos e talvez alguns não compreendam porque criaturas poderosas sejam servos, mas o fato é que nosso mundo é que normalmente causa o problema e sem a energia dos humanos não poderíamos fazer metade do que precisávamos, estando no Mundo Material ou no nosso. -

 

Ocorreu um silêncio naquele instante. Humano era mestre por causa da energia, porque o digimon precisava de sua energia ou nada faria. Ele ditava as regras e aumentava o poder dos digimons. Parecia lógico e simples, mas de alguma forma todos os humanos sabiam que havia bem mais naquela explicação do que eles estavam conseguindo entender.

 

— Vocês podem nos fazer evoluir. - Diz Penmon aborrecido.

 

Humanos podem fazer digimons evoluírem? Deve ser algo do tipo amadurecer. Por isso que Aururamon insiste que ele é uma criança. Ele não consegue explicar as coisas. Jose pareceu duvidar das falas de Penmon.

 

— Se estivéssemos numa situação de invasão do seu mundo outros mestres invocadores, como seu pai por exemplo... - Naquele momento Aururamon apontou para Benjamin. - Já teriam começado a agir, a suspeitar de algo. -

 

— Não pode afirmar isso. - Diz Penmon. - O mundo é grande. -

 

— Se já estivesse sendo treinado saberia que os invocadores humanos adquirem habilidades para perceber a presença dos digimons, abertura de portais estranhos ou mesmo a chegada de membros da tribo de Impmon. - Dizia Aururamon que fora interrompido.

 

— Então… Meu pai ter enviado informações de como invocar um digimon pode não ter sido brincadeira ou coincidência. - Benjamin que interrompera o digimon planta que pareceu pensativo com a informação.

 

— Como eu disse, estão sendo invadidos. - Disse Penmon impaciente. - Posso ser inexperiente, mas não sou burro. Um digimon como Impmon não viria para o Mundo Material por nada. -

 

— Somente um invocador percebeu e agiu pelo que consta. - Diz Aururamon. - Além disso, ele veio sozinho e o Mundo Digital não está apresentando nenhum tipo de problema. -

 

— Pelo que você saiba. - Insistiu Penmon.

 

Daniel observou aquela discussão que recomeçava entre os dois digimons. Era evidente que Aururamon era mais experiente e sábio, suas informações eram bem precisas. Logo, se ele dizia que não havia evidências de uma invasão e que eram digimons desgarrados, era plausível de se acreditar. No entanto, apesar de Penmon estar sem muito crédito, sua hipótese parecia se fortalecer com as explicações que Aururamon havia dado.

Enquanto Daniel pensava, Penmon e Aururamon já discutiam abertamente, sendo que Penmon estava para agredir fisicamente Aururamon enquanto Cecilia, Benjamin e Jose tentavam impedir.

 

— Seja invasão ou não, aquele demônio roxo está tentando nos matar. - Disse Daniel. - Nos manter vivos é mais importante do que esta briga de vocês sobre ser ou não invasão. Afinal, até onde eu entendi, vocês são servos e eles mestres. -

 

Os dois digimons pararam de falar e olharam para Daniel surpresos. Ele era o humano sem digimon que foi covarde e abandonou a seus amigos durante o perigo. Mas, naquele momento sua forma lógica de agir assustava tanto que tornava-o respeitável.

 

Aururamon olhou para Benjamin, como quem perguntava quem era aquele garoto e se ele concordava com a intenção de focarem em outra coisa a não ser saber o que estava acontecendo. Penmon por outro lado questionava a sua mestra sobre a importância de entenderem que aquilo era uma invasão.

 

Jose bocejou diante daquelas discussões todas.

 

Fossem físicas ou mentais eram energias que estavam sendo gastas em demasia e nenhum dos três pareciam estar cansados ou propensos a parar. O motivo era incerto e eu não poderia saber. Chutaria adrenalina, mas a verdade é que algo misterioso movia aos três. Eu gostaria de entender o que era, já que eu não sabia em qual digimon confiar, eu só tinha certeza de que fosse qual fosse a opção, estaríamos precisando de muito mais energia.

O que será que realmente move as pessoas?


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Notas finais do capítulo

Domingo teremos capítulo novo!



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