P.O.V. Scott.

Vai ter teste para o time de futebol hoje e para as líderes de torcida.

—Vai tentar ser líder de torcida?

—Vou fazer o teste só por diversão. Eu não sirvo pra líder de torcida.

—E porque não? 

—Eu tenho emoções.

Eu ri.

—Número vinte e seis.

—Ah sou eu.

Ela se atrapalhou no começo, mas dai ela decidiu, foda-se a coreografia. E a treinadora do esquadrão gostou.

—A treinadora gostou de ver você dançar.

—Eu gosto de street dance.

—Vai ter o baile anual de Halloween. Você vai?

—Sei lá, todos os bailes em que eu já estive foram terrivelmente entediantes. E mesmo se eu for nesse seu baile eu vou ter que pagar de Cinderela. Tenho que estar em casa antes da meia noite no Halloween.

—Porque? Vai virar abóbora?

—Não. É pro ritual da meia noite. É uma coisa religiosa. Vamos, colocar vestidos brancos, acender velas e dançar em roda para agradar os espíritos.

—Tudo bem então.

—É. Eu tenho uma família esquisita.

—Eu também. A minha avó acredita em sereias.

—É. Só por mera curiosidade, ela fala da baía da espuma?

—Fala.

—Ilha Mako?

—Fala.

—Então, a sua vó realmente sabe do que está falando.

—O que?

—Nada deixe pra lá. E o tal baile? Vão haver fantasias?

—Não. Só as pessoas não legais usam fantasias.

—Sabe porque se usa fantasia no Halloween?

—Porque?

—Acredita-se que no Halloween o véu que separa os vivos dos mortos cai e aqueles que morreram e deixaram assuntos inacabados podem voltar e alguns são violentos, por isso usam-se máscaras e fantasias para enganar os espíritos.

—Você parece entender de história.

—Mais do que imagina.

—Você vai ao baile?

—A pergunta é... você vai ou você vai... comigo?

—Você vai comigo?

—Vou. Te encontro lá, eu gosto de fazer uma bela duma entrada. 

—Tudo bem.

—A coisa das fantasias é certeza, né? Porque se todo mundo tiver fantasiado e eu não... eu vou te esfolar vivo.

—O meu irmão disse que ninguém vai fantasiado.

—Vamos tirar a prova dos nove. Capitão do time de futebol, eles tendem a ferrar com a vida dos outros.

—Tirar a prova dos nove? Como assim?

—Olha e aprende.

Ela passou batom, soltou o cabelo, jogou ele pro lado e baixou a blusa até aparecer um pouco do sutiã. Ela foi direto até o meu irmão e flertou com ele.

P.O.V. Hope.

Um sorrisinho, um charminho e ele canta que nem um canarinho. Li todos os pensamentos dele e ele estava mesmo falando a verdade sobre ninguém usar fantasia no baile.

—Você foi inteligente Jack Turner. Não mentiu pra mim. Á propósito, você nunca teve chance comigo.

Eu mandei um beijinho enquanto ele ficava louco de raiva. Eu ouvi o coração dele batendo mais rápido e ele ficou roxo de raiva.

Eu voltei correndo até onde o Scott estava.

—Porque ele ficou com tanta raiva?

—Porque agora ele sabe que nunca teve a menor chance comigo. Mas, você vai gostar de saber que a coisa da fantasia era mesmo verdade. Ninguém vai fantasiado.

—Eu nunca tinha visto meu irmão ficar abobado antes.

—Espera, o imbecil do Jack Turner é seu irmão?! Ai, Hope como você é burra.

—Não tudo bem, ele consegue ser bem imbecil ás vezes.

—Mas, vocês não se parecem. Nem um pouco.

—Eu sou adotado.

—Oh! E já quis conhecer seus pais biológicos?

—Já. Eu fui atrás deles e... ela meio que me enxotou.

—Eu sinto muito.

Eu abracei ele. Senti que ele precisava.

P.O.V. Scott.

Ela me abraçou e eu senti ela inalar. Então, ela me soltou.

—Desculpe. Você... tem um cheiro gostoso. Que droga. Desculpe.

Ela saiu correndo.  Eu fui atrás dela e encontrei ela sentada na arquibancada.

—Que droga! É nessas horas que eu odeio ser filha dos meus pais. Ele vai achar que eu sou esquisita. Porcaria de sentidos super aguçados. 

De repente, ela parou de falar.

—Sei que está ai Scott.

—Sentidos super aguçados ein?

—É. Acho que o convite pro baile foi retirado não é? Tudo bem. Bailes são tediosos mesmo.

—Não. Eu não quero que você desista de ir ao baile.

—Então, você não vai me desconvidar?

—Não! Além do mais, eu quero muito ver a sua entrada triunfal.

Ela riu. 

—Você com certeza não é igual a eles.

—Então, os seus pais também tem... sentidos super aguçados?

—Tem.

—É genético ou algo assim?

—Algo assim. Eu consigo controlar, mas ás vezes... eles piram.

—Os seus sentidos?

—É.

—E eu tenho cheiro de que?

—O seu hálito tem cheiro de menta, apesar de eu saber que você comeu pizza de queijo no almoço, você está usando perfume masculino Calvin Klein, aquele de embalagem preta e...

Ela inspirou fundo. E constatou chocada:

—Você é tipo O, Rh deficiente. Uma bolsa do seu sangue vale mais do que um caminhão inteiro cheio de bolsas.

—Sabe meu tipo sanguíneo só de sentir o meu cheiro?

—É. 

—Porque essa cara de susto?

—Se pegassem você... você já era. Como eu disse, uma bolsa do seu sangue vale mais do que um caminhão inteiro. Eles drenariam você. Até não sobrar nem uma gotinha. O que seria um desperdício.

Ela ameaçou tocar o meu pescoço.

—Para Hope. Não respire.

Ela virou de costas.

P.O.V. Hope.

É uma provação. E que provação.

—Você está bem?

—Estou. Vejo você no sábado.

Eu sai foi correndo.

P.O.V. Scott.

Assim que eu saí da escola eu falei:

—Jack, fala pra mãe que eu fui no hospital.

Eu entrei no carro e fui direto para o hospital.

—Pois não?

—Como eu faço pra descobrir o meu tipo sanguíneo?

—É só uma picadinha no dedo.

—Pode descobrir meu tipo sanguíneo?

—Posso. Me acompanhe.

—Eu sou Scott Turner. E eu sei que sou adotado.

A enfermeira fez o tal do exame e pela cara que ela fez...

—Deixa eu ver se eu adivinho, eu sou Rh deficiente e O negativo?

—Sim. Mas, se sabia...

—Eu não sabia. Uma... amiga descobriu.

—Faz ideia de como esses dois tipos sanguíneos são raros?! Menino, é raro alguém ser só um dos dois, mas ser os dois? Ser Rh deficiente e O negativo ao mesmo tempo?! Se você jogar na loteria você ganha.

—Obrigado.

—Aqui o resultado.

—Obrigado.

—De nada.

Eu voltei pra casa e a minha mãe estava entrando no carro.

—Mãe? Onde você vai?

—Scott! O que aconteceu? Ta sentindo alguma coisa filho?

—Não. Eu fui testar a minha tipagem sanguínea.

—Ah! Ai Graças á Deus.

—Eu convidei uma menina pro baile e ela disse sim.

—Ai que bom filho.