Rede Obscura escrita por Heringer II


Capítulo 2
Relatório de Susie Byron, 7 de maio de 2018




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Meu nome é Susie Byron. 32 anos. Sou agente da CIA. Era uma segunda-feira e eu estava exausta. Passei a noite de domingo inteira maratonando meus filmes favoritos. Nunca mais faço isso. Minhas olheiras estão enormes.

Fui no banheiro e lavei meu rosto. Fiquei um tempo parada enquanto a água corria sobre a alva pele o meu rosto. Meus cabelos curtos estavam muito bagunçados. Que visão horrível. Dêem um desconto, eu tinha acabado de acordar.

Eram ainda cinco horas da manhã. Normalmente eu acordo às sete. Eu sei o que vocês estão pensando: "é claro que você está exausta, acordou duas horas antes do habitual, por que não volta a dormir?".

Queria eu poder dormir mais algumas horas, mas fui despertada por um telefonema de Christopher Hermes, o chefe do departamento da CIA no qual eu trabalho. O assunto parecia sério. Deixei a mensagem gravada no meu aparelho de telefone. Eu a ouvi mais uma vez, para poder assimilar o que aquela mensagem me dizia.

— Susie, quando receber essa mensagem, venha até a sede da CIA imediatamente. Não posso explicar a situação por telefone. Esteja na minha sala o mais rápido possível. — dizia o recado do Sr. Hermes.

Obviamente, fiquei assustada com aquilo tudo. Christopher parecia impaciente, o que não era natural dele. Era um homem que, em seus 54 anos de idade sabia manter a calma mesmo em situações extremas. Para me mandar uma mensagem com aquele teor de impaciência, algo terrível deve ter ocorrido.

Tomei meu café com pressa. Comi apenas um pão puro, sem manteiga e fui até o meu carro e me dirigi até a sede da CIA em Langley, Virgínia. Um edifício enorme, com uma aparência semelhante à de uma fortaleza, apesar de lembrar muito também um campus universitário. O prédio fica localizado no meio de uma espessa floresta. Só é possível ter uma boa visão de todo local se ela for aérea.

Estacionei meu carro e fui até entrada.

— Identifique-se, por favor. — solicitou um dos seguranças.

Mostrei o meu crachá a ele.

— Bem-vinda, senhorita Byron.

— Obrigada.

O quartel-general da CIA por dentro é ainda mais impressionante. A primeira coisa que chama a atenção é o enorme logotipo da "Central Intelligence Agency" no chão. Ao lado, existe um monumento para cada agente que já foi morto servindo à CIA. Uma parede com 125 estrelas, cada uma simbolizando um membro morto em serviço. A parede é feita de um reluzente mármore branco do Alabama.

Eu sei que Christopher pediu que eu fosse direto para a sala dele, mas não resisti em fazer uma visita a meu amigo Joseph Hall. Era, sem dúvidas, um dos homens mais inteligentes que já conheci. Tinha seu próprio escritório no edifício.

Joseph era membro da Diretoria de Ciência e Tecnologia, a subdivisão da CIA responsável por usar a tecnologia de informação para fins de espionagem em território nacional ou inimigo.

— Oi, Jos. — disse, chamando ele pelo apelido que carinhosamente o coloquei.

— Susie, minha querida amiga! Como você está?

Nos abraçamos.

— Eu estou ótima!

— O que está fazendo aqui? Achei que estava fora de serviço temporariamente.

— Também achei. Mas Christopher pediu que eu viesse. Aparentemente tem um assunto sério que ele quer que eu resolva.

— Eu imagino o que seja.

— Sério? O quê?

— Não viu as notícias?

— Digamos que ultimamente eu não esteja muito ligada nos noticiários.

Jos riu.

— Susie, a CIA está em sérios apuros.

— Apuros? Por quê?

— Informações sobre nós foram vazadas.

— Informações vazadas? Como assim?

— Segredos que a CIA insistia em esconder: envolvimento nosso com tortura, assassinatos e com experimentos ilegais em humanos.

— Mas essas informações já haviam sido vazadas há muito tempo, a CIA inclusive já se retratou publicamente.

— Essas informações vazadas há anos atrás foram apenas uma parcela. Além disso, a CIA estava ciente de seu vazamento. Desta vez, estão vazando informações ainda mais comprometedoras e não sequer temos uma noção de qual fonte está divulgando isso. E para piorar, não é só a CIA  que está envolvida nesse caso, informações sigilosas sobre o governo e o exército americano também vazaram.

— Então, você acha que Christopher quer que eu resolva esse caso?

— Provavelmente. Mas quer uma dica, minha amiga?

— Qual?

— Se ele realmente pedir para você se envolver nisso, caia fora.

— O quê?

— Susie, acredito que a CIA está lidando com uma ameaça sem precedentes. Como membro da Diretoria de Ciência e Tecnologia, posso garantir a você que a situação é crítica.

As palavras de Joseph me deixaram assustada.

— Hum... Ok, eu vou falar com o Sr. Hermes. — respondi.

Quando ia saindo do escritório de Joseph, acabei esbarrando sem intenção na mesa dele. Derrubei um de seus livros.

— Me desculpe, Jos. Foi sem querer.

— Está tudo bem.

Apanhei o livro que tinha derrubado: "Conto do Inverno", de William Shakespeare.

— Pelo visto você ainda gosta de Shakespeare, não é? — comentei, sarcasticamente.

— É meu autor favorito, fazer o quê? — Jos me respondeu, sorridente.

Joseph Hall era um grande fã de William Shakespeare, já havia lido inúmeras obras do autor: "A Tempestade", "Troilo e Créssida", "Trabalhos de Amores Perdidos", "Os Dois Cavalheiros de Verona", e o famoso "Romeu e Julieta". Mas sem dúvidas, sua obra predileta era "Hamlet", o qual Joseph considerava o melhor dos livros de Shakespeare. Em sua parede, havia um quadro com a famosa frase: "Ser ou não ser? Eis a questão".

Devolvi o livro a ele e fui encontrar meu chefe.

Entrei na sala de Christopher Hermes. Estava um ambiente muito escuro, as cortinas cobriam a luz do sol da janela.

— Seja bem vinda, Susie. — me recebeu. — Estava esperando você.

— Me desculpe o atraso, Sr. Hermes.

— Deixaremos as lamentações para depois, agente. Temos outras prioridades agora.

— Sim, eu sei. Tem algo a ver com o vazamento de informações, não é?

— Exatamente. Ótimo. Pelo menos não precisarei de explicar a situação.

— Sei que informação confidenciais dos órgãos federais americanos estão sendo reveladas, e que vocês não sabem de onde elas vêm.

— Errado.

— O quê?

— Nós sabemos sim de onde elas vêm.

— Mas... Jos disse que vocês não tinham nem ideia da fonte dessas informações.

— Esse foi o motivo de seu atraso, senhorita Byron? Ficou batendo papo com o agente Hall quando pedi para vir diretamente para cá?

— É... Me desculpe.

Christopher soltou um longo suspiro e continuou me explicando a situação.

— Preferimos não revelar nada ao agente Hall.

— Mas ele não é da Diretoria de Ciência e Tecnologia? Ele deve estar a par de situações como essa, não?

— O que acontece, senhorita Byron, é que esse vazamento provavelmente foi apenas o início de algo maior. Cada informação que eles liberam é mais sigilosa do que a anterior. Se continuar nesse ritmo, é apenas uma questão de tempo para revelarem informações políticas e militares que ponham em risco a ordem nacional. Em casos extremos, pode acontecer do país cortar relações com nações parceiras, ou pior, iniciar uma guerra.

— Civil?

— Não vai ser tão pequena assim.

— Jos me aconselhou a não me arriscar nesse caso.

— Susie, é uma questão de segurança nacional. Nossa missão é mantê-la. Devo entender que está se recusando a cumprir o seu trabalho?

— Não, senhor.

— Ótimo.

— Você disse que sabe de onde essas informações vêm. De onde é?

— Susie, imagino que você conheça a Deep Web.

Quando ouvi aquele nome me deu uma vertigem.

— Claro que sim. Não me diga que...

— Existe uma facção criminosa virtual, este é o nome dela...

Christopher pegou um papel e escreveu "S0V3R3IGNS"

— So... S, 0... O que significa isso?

— É aquela famosa linguagem da internet que consiste-se em trocar letras por números de aparência semelhante à elas. Troque o "0" por um "o" e o "3" por um "e".

— Sovereigns. — respondi. — Soberanos. Eles têm uma auto-estima grande.

— Eles são um grupo de hackers que estão roubando essas informações e vazando-as na internet. Pelo visto, a intenção deles é destruir a confiança que os civis têm nos órgãos federais. E adivinhe onde eles atuam...

— Na Deep Web?

— Exatamente. Susie, sua missão é conseguir pelo menos alguma pista que nos ajude a identificar quem eles são.

— E como eu vou fazer isso?

— Como puder.

— Posso pedir ajuda a Joseph nesse caso?

— Por quê?

— Se estamos lidando com algo que envolve a Deep Web, eu devo presumir que ele seja a pessoa ideal para me ajudar, não?

— Conheço alguém mais capacitado para te ajudar.

— Mais capacitado que o Joseph em sistemas da informação? Quem?

Ele anotou um endereço num papel e me entregou.

— Encontre-o. — ele me disse. — Ele vai ser de grande ajuda nessa sua missão.

— Tudo bem. Obrigada, Sr. Hermes.

Deixei-o só naquela sala escura. Saí do prédio, entrei no meu carro e fui logo em direção ao endereço que ele havia me dado. Quando estava no meio do caminho, parei em um sinal vermelho. Enquanto esperava o semáforo abrir, meu celular começou a tocar. Eu sei que atender o celular no trânsito é errado, mas como estava parada, não vi problema.

— Alô? — eu atendi.

Tudo o que eu ouvi foram estranhos ruídos de estática.

— Alô? Quem está aí?

A estática parou.

— Alô?

Tudo que eu escutava agora era um misterioso e aterrorizante barulho de respiração. Depois, uns estranhos sussurros que não consegui compreender. A ligação me deixou tensa. A ligação permaneceu assim  por mais uns oito segundos. Em seguida, desligou.

Fui olhar o número do telefone que acabara de me ligar. Só havia um monte de zeros.

O sinal abriu. Prossegui dirigindo, assustada.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse novo projeto. Até a próxima. O/



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