Level Up: Almas Entrelaçadas (Interativa) escrita por Mast


Capítulo 2
Branco Puro


Notas iniciais do capítulo

Uhh....oi....

Dá uma baita vergonha postar isso aqui haha, visto que só fiz um capítulo nessa história e esqueci dela por 2 anos...

A verdade é que esse capítulo já estava escrito mais pela metade, e só acabou ficando esquecido. A razão de eu esquecer, eu sinceramente não me lembro.

Bem, se você estiver com interesse e ainda quiser mandar fichas, sinta-se à vontade.

A personagem introduzida neste capítulo é Alire Maanlicht, da Maya.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/758848/chapter/2

Ovos, bacon e pão ainda quente num prato. Leite morno e o canto dos pássaros numa manhã fria.

“....então, para onde iremos agora?”, perguntou Siegfried. A jornada de volta tinha sido longa e cansativa, visto que, feridos, os dois se esforçam para voltar para a cidade mais próxima ainda no mesmo dia. Não houve tempo para conversar sobre o que o pergaminho dizia ou significava. Norman o estudava, desenrolado em cima da mesa.

O homem boceja e toma um gole do leite, piscando algumas vezes para permanecer acordado.

“Não tenho certeza. Esse troço está meio danificado e não consigo decifrar as letras muito bem. Só sei que está em élfico, mas bem borrado.”, ele diz, pondo o dedo sobre o papiro.

O paladino inclina-se para trás em sua cadeira, enquanto colocava a mão nua na cabeça, mexendo um pouco com os cabelos negros.

“Tem algo que você consiga entender, mesmo que vagamente?”

“Bem…”

O mago tira seu chapéu pontudo, revelando melhor seu rosto. Olhos um pouco cansados, levemente pálido, nariz um pouco largo e cabelos castanhos. Ele passa um momento analisando o papel velho e deteriorado impacientemente.

“Eu odeio élfico.”

“...sério? Eu pensava que era uma língua do interesse dos magos.”

“Normalmente, sim. Eu me lembro de quando eu estudava magia academicamente, junto com outros colegas com os mesmos interesses. Costumávamos encontrar coisas bem escritas e em ótimo estado, que a escola de evocação nos proporcionava.”

Seus olhos castanhos se fixam nos negros do garoto, cansados.

“Isto aqui é, em comparação, uma porcaria. Todo manchado, velho e acabado. Nem sei se aquele vampiro sabia ler élfico, muito menos onde ele arranjou isto.”

Sieg encara o papel, lamentando em sua mente como o esforço pode ter sido para quase nada.

“Então você não consegue ler?”

“Consigo. Não muito.”

“E o que você descobriu, então?”

“Que eu odeio élfico.”

“...e?”

Norman suspira. Ele volta a olhar para o papiro, levemente irritado.

“...uh...vermelho...chamas, maldição, mestre...mestre? Ah, sim, mestre.”, ele meio que murmura, falando apenas no volume suficiente para o rapaz escutar. “...espere. Isto é sangue? Oh. Sangue vermelho, então.”

O cavaleiro olha para o rosto dele por alguns segundos, levemente confuso.

“...c...como assim?”

“Bem, não muito é legível, como você já sabe. Se eu fosse dar um chute, diria que isso tem a ver com algum processo ritualístico ligado a vampirismo.”

“E estava na posse do monstro que matamos.”

“Sim.”

Siegfried faz que sim com a cabeça, terminando de comer do seu prato. Ele põe o copo em cima do prato e empurra ambos para o lado da mesa, onde uma garçonete vem e os recolhe. Norman silenciosamente toma duas moedas de ouro de uma bolsa um pouco saturada e as passa para Sieg, ainda olhando para o pergaminho.

Com um assobio, a atenção do garoto é chamada e ele aceita as moedas.

“Tome. Pague a moça quando ela voltar.”

“Mhm.”

Cansado, o mago suspira e puxa seu livro de feitiços, estudando suas notas e escritos novamente, analisando seus feitiços e quais deles seriam mais úteis. Os nomes dos feitiços estavam escritos em élfico, e a diferença de qualidade e estado entre o que Norman havia escrito e o que estava no pergaminho era muito, muito visível.

A moça volta e recebe as moedas de ouro das mãos do paladino. Ela lhe agradece, sorrindo docemente.

O rapaz cora, ao olhar para o rosto dela. Para uma jovem aldeã de um lugar longe de bastante coisa, ela era bonita. A pele levemente bronzeada pelo sol, o cabelo longo e castanho e um rosto simples mas atraente deixa o rapaz um pouco encantado. Ele meio que murmura uma resposta desajeitadamente, incerto do que fazer ou dizer, mas agradecendo pela comida de qualquer maneira.

Ela se retira para atender a outros clientes e Siegfried retorna a olhar para a mesa, encontrando a sobrancelha levantada de seu amigo o encarando.

“...o que foi?”

“Está pensando em alguma coisa de mais?”

“Como?”

“Você ficou todo sem jeito, Sieg. Ela deve até ter achado um pouco fofo.”

Ele cora um pouco mais, indignado.

“De que importa isso?”

“Não é nada de mais. Só reparei que você é um desmantelado perto de garotas. Nunca teve uma namorada?”, ele diz, rindo um pouco.

“Bem, meio que não. Não tínhamos muito tempo pra isso na escola de guerra. Só tínhamos a chance de ver algumas jovens moças quando era a nossa folga semanal.”

“Oh? Como?”, pergunta o mago, curioso.

“Nós costumávamos sair da escola nos sábados e andar pela cidade. Falávamos com as garotas de lá então.”

Norman dá um sorriso traiçoeiro, gostando da história e planejando pestanejar o rapaz.

“Tinha alguma que chamava a sua atenção?”, ele diz, ainda sorrindo.

Ele respira, como se fosse falar, mas pensa um pouco, olhando para o mago.

“Não importa.”, ele diz, encostando-se na cadeira novamente. O homem mais velho analisa ele por um momento, curioso, mas o deixa em paz. Siegfried olha de relance para a garota uma última vez e se levanta, colocando a mochila em seu ombro.

Ele acompanha o homem, que anda pela pequena aldeia calmamente.

“Então, para onde vamos?”, pergunta o jovem, ainda sem ter certeza. “Pensei que você não soubesse para onde iríamos.”

“Bem...podemos estar nos dando com um problema de…”, ele para, olhando de relance para os lados para ter certeza que ninguém está prestando atenção. “...vampirismo. E se for esse o caso, teremos que buscar ajuda. Não acho que nós dois sozinhos podemos fazer muito.”

Siegfried faz que sim, pensando.

“Qual você acha que é a escala deste problema?”

Norman dá de ombros, incerto.

“Não acho que vai ser tanto. No máximo, enfrentaremos mais alguns. No máximo, meia dúzia.”

O garoto suspira, aliviado. Não era um número tão impossível de se alcançar. Devagar, eles podiam ir removendo-os um por um sem problemas.

“E onde estamos procurando ajuda?”

Norman para de andar. Ele faz um gesto com a cabeça, em direção ao pequeno santuário em frente a eles. O local é mais bem cuidado do que se espera de uma pequena capela numa cidade longe da capital.

Longe de Oden, a capital de Lore, é que estava a pequena vilazinha. Com poucos habitantes, Mirna havia sido nomeada apenas algumas poucas décadas atrás, o suficiente para a maioria dos adultos se lembrarem do tempo em que ela não era muito mais que alguns casebres reunidos por proteção.

A capela tinha suas paredes bem limpas e o teto quase sem as comuns teias de aranha. Os assentos e as janelas bem cuidadas e esfregadas, assim como o chão. Alguém cuidava muito bem desse lugar.

Os dois entram, sendo logo recebidos por um draconato em frente ao altar que se encontra no meio da sala. Ele, vestindo roupas sacerdotais e ajoelhado frente ao altar de pedra, cessa sua oração para fitar curiosamente as duas pessoas que entram no lugar.

As roupas do draconato eram brancas e adornadas com bordados dourados, contrastando o verde escuro do manto de Norman e o cinza das vestes que Sieg usava debaixo de sua armadura. Suas escamas brancas e olhos azuis mostravam que ele devia ser produto de um dragão do frio. Vendo os dois, ele mexe um pouco sua cabeça reptiliana e coça um pouco o pescoço escamoso com a garra do dedo indicador.

“...bom dia.”, Norman diz. “Temos um problema considerável em nossas mãos, meu senhor.”

 

O velho dirige os dois para um escritório, através de uma biblioteca. Siegfried, dando espiadas, vê livros e escritos sobre vários assuntos. A maioria envolve teologia de alguma forma.

Lá dentro, ele toma meia dúzia de livros de estantes e começa a analisá-los.

‘Heresia, Necromancia e como combatê-los.’

‘A sede do carmesim: Uma desconstrução dos mitos e verdades sobre vampirismo.’

‘Morte-vida ilustrada.’

Ele para o que está fazendo e olha para um dos livros, aberto em uma página específica. O sacerdote abre a sua boca para falar, de modo que um hálito gelado sai dela.

“Sim...como já deve ser óbvio para vocês, luz do sol e magia sagrada são as formas mais eficazes de cuidar de um vampiro. E…”, ele engole seco. “...decapitação. Isso também funciona.”

O desgosto do sacerdote sobre a idéia de decapitar alguém é claramente visível. Ele mantém os seus olhos no jovem paladino, que simplesmente olha para o local, curioso sobre a existência de uma coleção de livros tão pacata mas, ao mesmo tempo, tão específica e informada.

“Percebemos sim.”, Norman fala, tirando um pouco de poeira de seu chapéu. Este local, em comparação com a entrada e a parte principal do templo, não era tão bem cuidado. O mago não gostava da poeira, que irritava o seu largo nariz. "Cuidamos de um deles no caminho pra cá."

Os olhos do sacerdote brilham por um momento ao ouvir estas palavras.

"Sério? Mataram um vampiro de verdade?"

Siegfried sorri, enchendo um pouco o peito.

"Isso mesmo! Bem legal, ein?"

"Precisamos de ajuda se formos querer matar mais deles. Estes vampiros, hm…", Norman para, pensando na melhor forma de articular suas palavras. "...eles estão pensando em algo, mas não sei o quê. Se tivermos algum tipo de ajuda, poderemos cortar o mal pela raiz antes que algo de ruim aconteça."

O draconato se vira e anda até uma janela bem discreta, espiando por ela e olhando para os aldeões vivendo seu cotidiano inocentemente. Ele odiaria se algo vinhesse manchar a inocência dessa vida simples. Por mais que ele não gostasse ter que fazer isso, a verdade é que só esses aventureiros poderiam fazer algo sobre isso no momento.

E se esse fosse o caso, por quê não molhar as mãos deles com uma pequena ajuda financeira? Fazia sentido. Afinal, isso estaria contribuindo para a segurança da aldeia.

Ele anda até o lado de uma das estantes de livro e usa sua garra para forçar uma das tábuas de madeira encontradas no chão a se soltar. De lá, o velho tira um pequeno baú e o abre, colhendo algumas moedas e um cálice prateado de dentro, os oferecendo aos dois homens.

"Uau….tem certeza que podemos ficar, senhor?", Siegfried pergunta.

Norman, porém, não espera uma resposta, pegando o prêmio pela sua boa ação com felicidade.

"Se ele nos oferece é porque tem certeza, Sieg. Podemos usar isso para nos manter por um bom tempo nessa viagem."

Os olhos do rapaz não deixam as moedas e o cálice, que brilham na pouca luz da sala.

"Um momento, amigo.", o sacerdote diz, interrompendo as ilusões tanto do cavaleiro quanto do mago. "Vocês vão querer mais ajuda, não é?"

Norman ajeita a posição de seu chapéu. Ele não gostava de onde isso estava indo.

"Vai depender de-", ele procura falar, antes de ser completamente interrompido pelo jovem.

"Claro!", Siegfried diz, quase pulando onde está. "O senhor vai nos acompanhar?"

O sacerdote abre sua boca para mostrar um sorriso. Siegfried lhe lembrava muito de como ele mesmo costumava ser.

"Não, não. Eu não vou, mas conheço alguém que pode ir."

Ambos os dois rapazes levantam suas sobrancelhas, confusos com o que o velho clérigo estava falando. Ele se dirige até a porta por onde entraram e chama em voz alta.

"Alire!"



Norman bate a sua cabeça numa árvore, furioso.

"Maldito, maldito, maldito!", ele urra, gritando com cada batida. "Desgraça, desgraça, DESGRAÇA!"

"Se...se acalme!", Siegfried tenta lhe dizer, confuso e gaguejando um pouco. "Eu não sei o que aconteceu mas podemos resolver a situação!"

Norman para, soltando um suspiro de cansaço e então massageando a sua testa dolorida.

"O que aconteceu…", ele diz. "É que aquele velho desgraçado mandou essa...essa criança vir com a gente!", ele diz, apontando seu dedo para uma jovem garota sentada num tronco em meio à floresta.

Alire Maanlicht se encontrava sentada perto destas pessoas que ela não conhecia. Na verdade, ela não entendia muito bem o porquê de seu mestre ter mandado ela ir com eles, visto que os fiéis da pequena aldeia de Mirna ainda precisavam de ajuda e que o templo da capela ainda necessitava de alguém cuidadosa como ela para limpá-la diariamente. Alire gostava de cuidar do local e das pessoas, e, talvez, oferecer a eles um carinho que ela mesmo não tinha recebido.

Assim, ir sem entender o motivo e ainda ser mal recebida não era bem o melhor que ela esperava.

"Calma.", diz Sieg, gesticulando para que ele baixe a voz. "Aquele senhor nos entregou ouro e um cálice que deve valer bastante, além de nos entregar uma aliada. Não estou entendendo a razão de sua atitude e, francamente, ela está me aborrecendo."

"É claro que você não está entendendo, seu tonto. Aquele velho nos forçou a levar ela para que ela fique de olho no que estamos fazendo com o dinheiro!", Norman diz, cutucando a cabeça do jovem com o seu indicador. A mão do mago é logo afastada da cara de Siegfried.

"E qual é o problema nisso? Você não ia usar o dinheiro para fazer coisa ruim, não é?"

Há um momento de silêncio.

"Bem….não, mas…", Norman começa a falar. A verdade é que ele não gosta de ser vigiado e se sentir na expectativa de outras pessoas, mas ele não tinha coragem de explicar isso.

"Então não tem problema. Ela pode salvar a nossa vida ou ser muito útil para nós!", o paladino diz, virando-se para a jovem e lhe dando um "ok" com a mão.

A jovem vestia uma túnica branca e pura como sua inocência, que mantinha seu corpo pouco desenvolvido corporalmente completamente coberto e seguro. Ela carregava sua própria mochila e, para a surpresa dos dois, um martelo de guerra em seu cinto. A túnica possuía um capuz que ela mantinha por cima de sua cabeça a todos os momentos, em parte por timidez.

Siegfried achava essa timidez dela um tanto adorável. Quando ele fez o gesto com a mão, a garota lhe fitou com seus olhos heterocromáticos: o direito sendo violeta e o esquerdo sendo azul. Vendo apenas estes incomuns olhos, sua face e parte de seu cabelo castanho, o rapaz ainda sim corou quando ela lhe mostrou um sorriso modesto. Algo sobre a suposta pureza dela lhe deixava envergonhado.

Já Norman não tinha muita paciência. Para ele, ela seria apenas mais uma criança de quem ele teria que se tornar temporariamente responsável. Mas se ele já estava preso a uma, que diferença faz mais outra?

Ele se senta de novo. O mago olha para a jovem e nota que ela não larga o seu colar, que possui uma ametista comum. Ela não disse nada desde que saíram do templo, então isso de certa forma o incomoda. Ele prefere pessoas que falam de mais do que de menos, já que são mais fáceis de julgar.

Norman solta mais um suspiro de cansaço. Essa aventura ou vai ser incrivelmente irritante ou incrivelmente esquisita. Talvez os dois.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem....se tiver gostado, diga algo, haha!

Qualquer comentáriozinho ajuda bastante a manter a vontade de escrever!