Level Up: Almas Entrelaçadas (Interativa) escrita por Mast


Capítulo 17
Cama Macia


Notas iniciais do capítulo

Nossa, quanto tempo, ein galera? Eu tenho ótimas notícias pra vocês!
Eu terminei Level Up! A história já está terminada, e programei todos os capítulos para serem postados a cada quatro dias, às 2 da tarde!
Peço perdão pelo longo hiato. Sinceramente, não estava me sentindo nada motivado a terminar a história e sendo que o último capítulo nem teve comentários, fiquei bem triste. Então, decidi escrever tudo até o final de uma vez só, porque assim, pelo menos se eu me decepcionar, eu ainda posso dizer que terminei a história...
Mas enfim! Espero que vocês entendam o quão é importante para mim que vocês postem os comentários de vocês! É realmente o que faz todo esse esforço valer a pena. Os capítulos ainda vão sair? Vão! Mas eu me sentiria extremamente grato se vocês lessem e postassem seus comentários, principalmente quando eu escrevi sobre cada personagem de vocês com tanto carinho.
Vejo vocês dias 29/07, 02/08 e 05/08! Um grande beijo e abraço!



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Depois de se espreitarem por um longo tempo pelo escuro bosque rodeando o calabouço real que mantinha o mago, os três companheiros invisíveis alcançam a cidade, banhados pela luz da lua.

Kairon olha ao redor da rua em que se encontram, certificando-se que ninguém está por perto, e então bate casualmente na porta da pacata e velha casa de madeira cinco vezes. Com um rangido um tanto suave, a frágil porta se abre.

O mago vê, do outro lado da porta, a face de uma clériga que lhe era familiar. Alire dá aos três um sorriso cansado. Norman olha bem para sua face e percebe sinais de exaustão. Estava claro para ele que para dar apenas este pequeno e singelo sorriso, a garota estava se esforçando grandemente.

Ele fecha seu próprio punho, apenas lembrando-se de suas próprias falhas.

“Venham, venham…”, ela fala, quietamente. “....e não façam muito barulho.”

Norman, Kai e Jessabella entram, sentindo um cheiro agradável de sopa e pão fresco.

Assim que o mago põe os pés na sala, um gentinha corre de seu assento e o abraça.

Norman!”, ele grita, muito para o choque dos outros.

“Miro…! Não grite..!”, Kairon reclama.

Mas é tarde demais, o druida começa a balbuciar palavras e frases incoerentes enquanto chora, apertando o abraço em seu amigo.

“Eu pensei que você fosse morrer! Eu não ia aguentar perder mais uma pessoa!”, ele diz, logo então se derramando em prantos de novo.

Norman, diferentemente de todas as outras vezes em que Almiro chegou perto demais dele, não se incomodou com o forte cheiro de pelo de animal e a terra que estava sujando parte de sua túnica. Ele põe uma mão em sua cabeça, sem energia o suficiente para consolá-lo mais do que isso.

Olhando em volta, ele vê outros rostos.

Aura, que ajuda sua mãe na cozinha, lhe dá um olhar calmo e sem a desconfiança de outrora. Era sua própria forma de lhe perdoar. A meia-elfa entendia agora que todos estavam sofrendo, e dizer palavras fortes não iria ajudar a ninguém.

Kathe se senta à mesa, perto de um elfo que ele não conhecia. Ela dá um sorriso acalentador para Norman, reforçando sua fé nele, o que o constrange. Ele achava não merecer tanta misericórdia de seus amigos.

Sob a cabeça do elfo sentado ao lado de Kathe, as folhas verdes e vermelhas de outrora agora apresentam uma coloração amarela e laranja, assim como seus olhos. Norman não tinha visto esta pessoa, mas ouviu por Kairon que ele chegou a enfrentar a garota, e que após ser derrotado, aparentemente a procurou, querendo ajudá-la. O mago percebe que este elfo parece estar em conflito sobre o que quer, mas escolhe deixar tudo na responsabilidade de Kathe. Aparentemente, seu nome era Aradan.

“Bem….estamos todos aqui.”, Kairon diz, aproximando-se da mesa, enquanto Aura e sua mãe põem a comida na mesa.

“Kai… o que faremos?”, pergunta Alire. Durante estes três dias, o tiefling nada lhe dissera a respeito do próximo plano.

Ao invés de responder, ele apenas olha para Norman com um olhar de expectativa e seriedade. Ele estava lhe dando uma chance de se redimir, de consertar as coisas.

O homem anda até onde a mesa está, pondo uma mão sobre ela.

“Vamos destruir Vrokvais. De uma vez por todas.”

O ladrão sorri, e sua cauda se balança duas vezes.

 

Longe, longe da capital, numa pequena floresta encontrada no lado mais discreto e inabitado de toda Lore, pássaros assobiam, coelhos saltam e outros animais da floresta vivem suas vidas em paz.

Um pequeno macaco anda perto do pé de uma montanha, onde uma parede de pedra se localiza, sendo claramente diferente da areia e terra gramada ao seu redor. A qualquer observador com sapiência, estaria claro que algo estava errado ali. Para o nosso amigável macaco, porém, era outro dia normal e ele comia uma banana, normalmente, em sua rotina normal.

Subitamente, um vendaval se levanta perto de onde ele se encontra, e o pobre animal, naturalmente, corre para a árvore mais próxima, espantado pela grande ventania que o atingira. Ele sobe os galhos e se esconde atrás do tronco, mas não consegue evitar, sua tremenda curiosidade o faz olhar para a origem do vento, buscando em vão entender o que está acontecendo.

Na área em que o vento batia, várias figuras humanoides se materializam. Norman então bate a poeira de suas mangas longas e olha para os outros.

“Estamos todos aqui?”

Para seu alívio, era este o caso. Kathe parecia bem tonta e se segurava a Aradan, mas fora isso, todos estavam aqui e, mais importantemente, em um pedaço só. Feitiços de teleporte podem ser instáveis, e perigosos, assim, ainda mais quando o número de pessoas teleportadas é alto.

Aura põe uma mão na parede de pedra, passando os dedos pela superfície.

“É aqui? Como que vamos entrar?”

“Você vai ver.”

O mago tira de seu bolso a peça de xadrez pelo qual tinha brigado com Kairon antes. Um cavalo.

“Bom dia, Letárgico. Hora de cavalgar de novo, meu amigo.”, ele diz para a peça, então a apresentando à parede. Uma luz brilha do item mágico, dissipando a ilusão que mantia tudo e todos do lado de fora.

A meia-elfa levanta uma sobrancelha, impressionada. A pedra parecia de verdade, e ela estava completamente certa de que não tinha caído para dentro quando a tocou. Como que era uma ilusão, então?

Ela estremece um pouco, pensando em como as magias de magos antigos eram estranhas e poderosas.

O grupo entra dentro da caverna. Apesar de Norman ter dito que o lugar não tinha sido visitado há décadas, ele ainda parecia extremamente bem cuidado e limpo, principalmente para o interior de uma caverna.

Mais à fundo, eles percebem que se encontram dentro de um escritório mágico com vários quartos e salas. Assim que entram, uma vassoura vêm à vida e voa até Miro, começando a limpá-lo.

“Oi, oi, oi...EI, EI, EI!”, ele grita, irritado.

“Se sintam em casa.”, Norman diz, muito para desgosto do druida.

“Eu já me sinto um forasteiro!”

Alire olha ao redor, confusa e ao mesmo tempo impressionada com a organização do local.

“Norman...o que é tudo isso?”

“Acho que era o que ele estava escondendo esse tempo todo.”, Kairon diz, mas sem nenhum tipo de malícia. Ele dá uma leve risada, sujando uma mesa de terra e vendo um espanador vir à vida para limpar a sujeira, voltando ao seu lugar. O ladino repete este procedimento mais algumas vezes, rindo. Depois, ele começa a entender o porque de Norman olhar com tanto desdém para o escritório do necromante que eles derrotaram tanto tempo atrás.

“Isso. Ainda preciso explicar muita coisa, então...evitem olhar nas outras salas. Vamos conversar sobre uma coisa de cada vez.”, ele diz, andando até uma porta e a abrindo. Um salão largo se encontrava do outro lado, com várias mesas, assentos e livros descansando sobre estantes.

Kairon segue o grupo, mas, antes, dá uma breve olhada no que estava dentro de uma sala com a porta entre-aberta, com sua visão noturna. Urnas? Que curioso. Devia ter comida ali.

Alguns minutos depois, o grupo ficava em pé à frente do mago, que se equilibrava desajeitadamente sobre uma cadeira. Ele tentava alcançar um candelabro no teto. Com muito esforço, Norman retira uma das velas de dentro, colocando os dedos onde ela estava e tirando de lá um pequenino pergaminho. Ele desce, entrega a vela para Kathe e anda até o meio da sala.

A bruxa percebe que independentemente do que fizesse, a vela não se apagava, e nem se desgastava. Passando seus dedos pela chama, ela percebe que esta também é apenas uma ilusão, um feitiço de luz, e que a vela nem estava acesa de verdade. Que útil!

Ele passa um tempo olhando para o pequeno pergaminho em sua mão, ainda em conflito, mas finalmente toma uma decisão.

“Escutem...eu sou um mago, não um clérigo. Eu não sei fazer milagres como curar pessoas ou fazer braços, pernas e olhos crescerem de novo. Mas eu outrora tive um amigo que podia.”

“Quem era ele?”, Alire pergunta. Um antigo clérigo, amigo de Norman? Isto desperta sua curiosidade.

Mas ele não a responde.

“Eu estava guardando este feitiço para ele, mas...acho que não vale mais a pena. Ele me deu este pergaminho antes de falecer, e eu vou usá-lo para salvar Siegfried.”

Todos os que estão na sala abrem seus olhos.

“Norman! Isso é…?!”, a clériga pergunta.

“Isso mesmo.”, ele responde, abrindo o pequenino pergaminho, que se expande e se desenrola em quantidades de papéis que não deveriam ser possíveis para o seu pequeno tamanho. Uma luz brilhante começa a fluir do papiro, ofuscando a visão de todos.

O homem levanta o papel alto, tomando sua decisão. Ele fecha os olhos e diz seu adeus à Elliot.

True Resurrection! Traga-o de volta! Ressuscite Siegfried Graham Maxwell!”

 

Um garoto corre pelo meio de uma floresta, sendo puxado por um adulto. Ambos tossem bastante, lutando para manter seu fôlego em meio ao cansaço e à doença. O garoto dá uma última olhada para o vilarejo atrás de si.

O vento trazia até lá o cheiro da fumaça, da madeira e dos corpos queimados, como se estivessem os perseguindo, dizendo-lhes que este era o seu lugar.

O garoto desaba em seus próprios joelhos, chorando. Ele olha para os seus braços manchados e feridos, sintomas do que lhe afligia.

“Eu...eu não consigo!”, ele diz, em meio a lágrimas e a tosses.

O adulto, apesar da urgência que sentia, se ajoelha e põe suas mãos nos ombros do menino.

“Siegfried...vamos. Precisamos correr.”

“Mas por quê?! Não fizemos nada de errado!”

“As pessoas têm medo da nossa doença...eles estão tentando se proteger, mas da pior forma possível.”

O garoto tenta engolir o choro, em vão.

“Por quê, pai? Nós queremos ser curados também…!”

Ele sente os braços fracos mas calorosos do adulto o abraçarem. Graham nunca foi um pai perfeito, mas neste momento, ele estava disposto a sacrificar tudo pelo seu filho.

“Eu sei…”

“Eu também mereço viver, pai…! E o Boto...o Cyrus…”, ele diz, tentando listar os nomes de seus amigos falecidos, mas era impossível.

“As pessoas encontram qualquer motivo para serem cruéis… por isso que você deve ser diferente.”

Vários gritos na floresta alertam o adulto de que seu tempo estava acabando. Ele vira o menino para o lado oposto.

“Vá.”

“O quê?! Não! Não sem você!”

“Vá, Siegfried! Agora!”

Graham se levanta, retirando suas mãos do seu filho, que tenta alcançá-lo futilmente. Engolindo as lágrimas, ele também se levanta, se preparando para correr o mais longe possível de Red Oak.

“Viva, Siegfried. Você tem que viver.”

Os dois se separam, correndo em direções opostas. Uma vida por uma vida. Lágrimas em ambos os olhos, pois sabem que nunca mais vão se ver.

Gritos e barulhos de marcha em grama surgem longe do garoto, e ele entendo o que está prestes a acontecer. Sem querer desperdiçar a última chance que lhe foi dada, ele corre, e corre, e corre.

“Eu vou viver…!”

Seus pés descalços doem, pisando em grama, galhos e pedras.

“Eu vou viver…!”

Sua pele manchada suava por todos os poros, seus olhos avermelhados ardiam.

“Eu quero viver!”

Siegfried fecha os olhos, e ele não percebe o momento em que cai num rio.

A água é forte, e o leva. Ele utiliza suas últimas forças para nadar à tona, agarrando-se a um grande tronco que está sendo levado.

Mas é tarde demais. Sua exaustão toma conta de si. O garoto se mantém agarrado ao objeto e adormece.

A última coisa que se lembra é de ser agarrado pelas mãos firmes mas gentis de alguém.

 

Siegfried acorda, deitado em algum lugar. Suas últimas lembranças eram de suas lágrimas derramadas enquanto morria, pedindo perdão ao pai pela morte prematura. Espera...ele tinha morrido?

Ele sente algo em suas costas. Era macio. Uma cama?

Suas memórias o levam de volta à muitos anos atrás, quando acordara em uma cama após ser encontrado afogando num rio. A catedral que o havia resgatado sabia de sua doença genética perigosa, mas não o julgou. Ao invés disso, cuidou dele e o manteve saudável, e protegido dos olhares preconceituosos dos outros. Foi só quando ele começou seu treinamento como um paladino que Siegfried entendeu que existia uma esperança para ele. A magia de cura que aprendera o permitiu suprimir os sintomas por um longo tempo, até que ele se tornou completamente imune.

Mas esta não era a catedral.

Ele abre seus olhos lentamente, vendo o rosto de várias pessoas ao redor dele, felizes por ter voltado à vida.

Alguém o abraça imediatamente, derramando lágrimas em seu peito.

“Siegfried! Siegfried…!”, Alire chora, mas de felicidade.

Ele fracamente coloca uma mão nas costas dela, e logo a outra, a apertando. O garoto ainda estava tonto, mas se esforçava para confortar os outros.

Miro limpa suas lágrimas com as costas do dedo, assoando o nariz num pano que tinha lhe sido entregue.

Kairon só deixava seu alívio fluir para fora por meio de seus olhos, sorrindo fraca mas alegremente.

Kathe mantém um sorriso aberto em seu rosto o tempo inteiro, buscando deixar o paladino confortável.

Aura segura uma tigela cheia de biscoitos que ela tinha ajudado todos do grupo a fazer, para quando o garoto acordasse.

Jessabella sorria só um pouco, satisfeita com a cena.

Aradan olhava para a situação, tentando negar para si mesmo o seu interesse.

E Norman...ah…

Norman estava parado à porta do quarto, com seu chapéu escondendo boa parte de seu rosto. Mas todos sabiam que ele estava chorando com um pequeno sorriso no rosto.

Siegfried fecha os olhos de novo, aliviado de estar aqui. Ele não entendia o que tinha acontecido, e apesar de ter acordado em instantes, ele já sentia-se muito cansado.

“Eu quero…”

Todos prestam atenção em suas próximas palavras.

“Eu quero comer algo…”

 

Dois dias tinham se passado, enquanto o grupo esperava que Siegfried recobrasse suas forças. Afinal, a jornada de volta à vida era cansativa.

Alire passava todos os momentos do dia com ele, se certificando de que estivesse bem, a ponto de constrangê-lo com sua atenção.

Os outros faziam várias coisas diferentes, entre ler livros das enormes estantes do local ou mexer com os vários itens mágicos que Norman havia guardado ali. A maioria deles tinham apenas utilidades para uso diário, como um par de luvas que cuidavam da louça sozinhas.

O mago havia prometido ao grupo que, quando Siegfried estivesse bem, iria contar tudo o que sabia a eles. Ele dizia que não queria deixar o garoto preocupado, e que isso só iria atrapalhar sua recuperação. Mais dois dias seriam suficientes.

Mas algo ainda incomodava Kairon. Muitas das portas do esconderijo de Norman permaneciam trancadas a maior parte do tempo. Ele entrava nelas e saía, sempre trancando-as detrás de si, independente de para qual lado passasse.

A porta que mais o incomodava era a que ele tinha visto antes. Várias urnas, todas enormes, enfileiradas dentro da sala. Ele pensou inicialmente que era onde a comida era guardada, mas isso não era verdade. Além disso, este era o único local que Norman trancara, sem entrar nele novamente.

O que havia ali dentro?

O ladino esperou até de noite. Ele confiava no mago, mas francamente, estava curioso. E ele ia dizer tudo a eles eventualmente, não é? Então que mal faria dar uma olhada agora?

Quando ele se certificou de que todos dormiam, Kairon se levantou de sua cama.

O ladrão se esgueira pelas salas, andando com o passo leve. Pouco tempo depois, ele encontra a porta que procurava. Dando uma boa olhada na fechadura, ele vê que ela era deveras simples.

Algo estava errado. Norman realmente trancaria algo tão mal assim?

Detect Magic…

Kairon abre seus sentidos, procurando sentir algum tipo de magia na porta, mas ele se surpreende.

Nada na porta. Ao invés disso, ele sente energias mágicas vindo detrás dela. Nas urnas? Então eram sim algo importante!

O ladino ri baixo consigo mesmo. Pobre Norman. Todas estas utilidades em sua casa, e nenhum tipo de magia para proteger suas portas? Que tolinho.

Destramente, Kai abre a porta com uma simples gazua e, olhando os arredores para se certificar que não tinha ninguém por perto, entra e fecha a porta atrás de si.

O quarto estava escuro, mas ele podia ver tudo muito bem com sua visão noturna. Largas urnas enfileiradas uma à frente da outra no chão, no canto de parede. Ele olha para o lado e vê um armário.

Andando até ele e o abrindo, o jovem vê várias roupas lá dentro. Eram roupas pequenas. Para crianças? Que estranho.

Deixando isto de lado, Kairon anda até as urnas.

Elas eram enormes. Pequenos animais poderiam caber dentro delas, como bodes ou algo um pouco maior.

O ladino hesita por um momento, perguntando-se se estava fazendo algo certo. Isto tudo lhe cheirava a muito suspeito, mas talvez o que visse aqui criasse problemas.

Decidindo-se e apressando-se, ele retira a tampa de uma das urnas, abrindo bem os olhos devido ao choque.

Neste momento, as luzes da sala se acendem. Norman abriu a porta, encontrando o ladino do outro lado. Mas seus olhos mostram que ele já esperava pela presença dele ali.

A incerteza de Kairon é reafirmada quando ele percebe isso, mas ele decide apontar para a urna.

A urna. Dentro dela, havia uma criança inerte, completamente imersa em água.

“Pode me explicar o que é isso?”

 

Alguns dias depois, o grupo se junta numa mesa. Siegfried está enrolado num cobertor que Alire arranjou para ele, apesar de dizer que estava bem. Ele também segura a espada que antes pertencera à Carlyle, mal contendo sua felicidade.

“Onde está Kairon?”, o garoto pergunta.

“Estou aqui.”, o ladino diz, entrando na sala. Ele se senta junto à mesa, trocando um olhar com Norman.

O mago se senta e dá um longo suspiro.

“Acho que este é o momento certo para explicar tudo.”

Os outros mantêm seus olhos no homem, que começa a falar.

“Muitos, muitos anos atrás, eu era um mago poderoso que estava descobrindo até onde o potencial da magia poderia nos levar. Este local em que nos encontramos na verdade existe por centenas de anos.”

Os outros abrem bem os olhos.

“Norman, mas você é humano. Você usa magia para se manter jovem?”, Aura pergunta.

“Sim.”

“Mas isso não é necromancia?”, Kathe lhe questiona, sem saber muito bem como se sentir sobre a questão.

“Nem todo tipo de necromancia é necessariamente má. A magia que utilizei para ressuscitar Siegfried, por exemplo, é da escola de necromancia.”, ele fala. “Tudo depende do motivo para qual a magia é utilizada e o que se é usado para alcançá-la.”

“Mas estas magias não teriam efeitos negativos?”, Alire pergunta.

“Pergunte ao garoto. Você acha que é algum tipo de monstro?”

Os olhares de todos se voltam para o paladino. Ele dá de ombros. Não estava sentindo nada de anormal, além do cansaço.

“Mas magias utilizadas para manter-se jovem não costumam ser más?”, Kathe pergunta.

“Depende-se do que se sacrifica para alcançá-las. Vrokvais, por exemplo, devora as almas de inocentes para permanecer vivo e poderoso.”

“E você não faz isso?”, Jessabella questiona sarcasticamente.

“Não faz o meu gosto.”, ele responde, fazendo com o que o grupo ria um pouco.

“Não acha nada de estranho nisso, Kairon?”, Siegfried pergunta.

Miro levanta seus olhos da batata que estava comendo para olhar para Kai, depois desta pergunta. Realmente, o ladino parecia bem relaxado.

“Contanto que ele não sacrifique pessoas vivas ou que seu juízo vá para o beleleu, não tenho problema com isso.”, ele diz, sorrindo e dando de ombros.

“Enfim...Elliot era meu amigo. Ele era um clérigo poderoso, que podia controlar tempestades e relâmpagos com o estalar de dedos. Foi...ele quem me entregou aquele pergaminho. Ele passou muito tempo de sua vida o produzindo, sem saber bem o porquê. Ele só achou que seria útil para mim algum dia.”, Norman diz, ficando um pouco mais melancólico.

Todos ficam em silêncio, esperando ele continuar a história.

“Meu plano originalmente, era utilizar o pergaminho para ressuscitá-lo depois que o derrotassemos. Eu acreditava que se eu usasse a própria magia dele, ele voltaria a ser quem uma vez era. Mas eu não tenho mais certeza disso…”

“E foi por isso que você me salvou?”, Siegfried pergunta. O mago faz que sim com a cabeça.

“Mas como que ele chegou a esse ponto?”, Aradan pergunta. O elfo, normalmente quieto e desconfortável com os outros e com o local, estava finalmente se abrindo.

“Elliot e eu encontramos mais necromancias poderosas, que podiam extender a vida de uma pessoa. Dois tipos, na verdade. Ele estudou uma, e eu a outra. Mas estudar magias deste tipo é sempre algo perigoso, e por isso fizemos um pacto mágico. Enquanto um de nós mantivesse sua humanidade, o outro a manteria também. E, assim, nossas almas ficaram interligadas.”

“Mas ele não é mais quem você conhecia, não é…? Então como…”, Aura diz.

“Eu não sei. Depois de algumas décadas, ele foi se distanciando mais e mais. Acho que ele testou a magia em si mesmo, pois não queria testar nos outros. Mas isso o corrompeu da mesma forma. Eu acho que ainda existe algum fio de humanidade nele, mas…”

Alire pensa em como o próprio Vrokvais parecia odiar clérigos quando ela o enfrentou. Algo sobre isso a deixava apreensiva. Será que era parte de seu eu que ele rejeitava?

“A última vez que ouvi falar sobre ele enquanto ele ainda se achava humano foi quando ele disse que queria usar sua magia em cadáveres de dragões, já que eles possuíam muita vitalidade enquanto vivos. E então...ele desapareceu.”

Todos pensam no que ele falava.

“Por quê você não é tão forte quanto antigamente, Norman?”, Miro pergunta. “Eu lembro de quando você desintegrou um monstro na minha frente.”

“Vrokvais parece não sentir os efeitos do pacto, mas eu ainda sofro por causa dele. Sua própria alma se enfraqueceu, e a minha, tentando puxá-la de volta à tona, se enfraquece. Não consigo controlar magia tão bem quanto antes. E quão mais forte o seu lado negro se torna, mais fraco eu fico.”

“Então você vai precisar da nossa ajuda.”, Kairon fala. Norman concorda.

O mago se levanta, fechando seu punho.

“Não quero perder mais ninguém. Vamos nos preparar adequadamente, e dessa vez, vamos destruir Vrokvais e salvar Elliot de uma vez por todas. Sim ou não?!”

O grupo sorri para seu amigo.

“Sim!”


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Na verdade, esta era uma das partes da história que eu já tinha em mente fazia muito tempo, como imagino que conseguiram perceber pelas pequenas dicas que eu dava aqui e ali (se é que vocês ainda se lembram.)
Se lembrem de deixar um comentário! É realmente muito importante para mim!