Stellarium escrita por Acquarelle


Capítulo 6
CAP.2, Epi.2: Decisões não tomadas




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Ryuuki encarou o horizonte de maneira preocupada; Ayase percebeu através de seu silêncio que algo estava errado, mas não conseguia compreender o motivo. Ela tentou chamá-lo diversas vezes, mas Ryuuki parecia hipnotizado pelas luzes que invadiam as águas de Atlansha gradativamente.

"Essa energia é... é um Princípio?", pensou ele, refletindo sobre o que emanava das luzes vibrantes. Com seus poderes originais aprisionados àquela forma, Ryuuki não era capaz de entendê-las da maneira que desejava, e mesmo que sua hipótese estivesse certa, era impossível que um Princípio fosse tão destrutivo quanto a energia caótica que dizimava tudo o que surgia em seu caminho.

Esferas e espirais coloridas espalhavam-se em várias direções, e conforme avançavam pelas águas, deixavam um rastro com todas as cores do espectro visível, tornando a paisagem marinha cada vez mais colorida e com aspecto cristalizado. Alguns cardumes nadavam assustados em direção à Ayase, que apenas protegia o seu rosto de maneira aflita.

— O que está acontecendo, Ryuu?!

Ele ainda permanecia em silêncio.

— Venha, vamos nos esconder! — Ayase puxou o dragão-serpente bruscamente, passando a protegê-lo com o próprio corpo enquanto procurava um lugar seguro. Felizmente havia uma caverna próxima dali, o que a deixou mais aliviada.

Porém, aquela sensação não durou muito tempo.

Ayase finalmente percebeu o quanto aquelas luzes vibrantes se pareciam com as de seus sonhos, e logo cada uma das cenas dançavam em sua mente; primeiro, as luzes surgiam no horizonte, transformando toda a vista em formas multicoloridas que davam vertigem em qualquer um que as observassem por muito tempo, e após isso, os seus olhos eram tomados pela escuridão, que juntamente com o silêncio, criava o mais claustrofóbico vazio. Aquelas luzes não eram algo para se admirar, afinal; elas eram o presságio para o fim de tudo.

Ayase estava prestes a sacudir Ryuuki para lhe alertar sobre seu sonho, mas ele foi mais rápido:

— Milady, preciso que me escute por um momento.

— O-o que houve? — perguntou de maneira nervosa.

— Aquelas coisas... são perigosas. Não sei se...

Pela primeira vez, Ayase notou que Ryuuki estava assustado.

— O que são aquelas luzes, Ryuu? — Ele permaneceu em silêncio, a forçando a perguntar novamente. — O que são aquelas luzes?

— Eu não sei — mentiu, mas de alguma forma Ayase não contestou. Ela parecia mais preocupada em resolver aquele problema.

Ryuuki desviou os seus olhos em direção à energia; aquilo era mesmo um Princípio? Se isso fosse verdade, ele deveria ser capaz de combater o que quer que ocasionasse aquelas luzes, mas... Não, não poderia. Desde que havia conhecido Ayase, eles não estavam ligados apenas por uma forte amizade; os dois funcionavam como uma única energia, e se ele conseguisse usar seus poderes Daemonia para parar o avanço daquilo, Ayase provavelmente sofreria com as consequências.

Ele realmente precisava mesmo escolher entre ela e Atlansha?

— Energias que me cercam, sigam a minha voz e obedeçam os meus comandos.

Ao seu lado, Ayase recitava um cântico, fazendo diversos círculos de magia aparecerem ao redor de seu corpo e a banhando em uma aura lilás. Ela fechou os olhos, sentindo uma grande quantidade de energia se aproximando de seu corpo, e seus cabelos cor-de-rosa passaram a dançar com o ritmo desordenado de seus batimentos cardíacos, tremulando a cada segundo que a magia era moldada.

Ryuuki sabia o que se passava pela cabeça da garota: ela iria se sacrificar para interceptar aquilo.

— Milady, o que acha que está fazendo? — perguntou aflito, ficando de frente para ela.

— Eu não posso deixar que essas luzes avancem, Ryuu.

— Isso não vai ser suficiente! Não vai conseguir–

— E o que sugere que eu faça? — interrompeu, se virando para ele. — É para eu ficar parada igual a você?

— ...

Ryuuki se manteve em silêncio. Ayase provavelmente sabia o que ele estava sentindo naquele momento, seu vínculo também permitia isso, mesmo que por poucos segundos: estava apreensivo demais para tomar alguma atitude, e pensar demais não parecia o certo a se fazer naquele momento. Quanto mais tempo eles passassem planejando algo que tinha poucas chances de dar certo, mais aquelas luzes danificariam a floresta — e talvez todo o resto das Terras de Cristal.

Ayase ergueu as suas mãos em direção às luzes e continuou a recitar:

— Reúna-se às ninfas da água, ó Laiphysa, a Dama Translúcida.

O primeiro círculo passou a brilhar intensamente, mudando sua cor para um fraco azul celeste. Ayase sentiu falta do hidrogênio em seus pulmões por alguns segundos, mas logo respirou fundo e continuou mantendo os círculos estáveis; nunca havia invocado uma quantidade tão grande de energia, e o menor dos movimentos que fazia demandava esforço, mesmo o simples ato de respirar.

— Você devia parar! — alertou Ryuuki. — Nós precisamos–

— Reúna-se às ninfas da água, ó Daephin, a Musa Lunar.

Ayase não pretendia ouvir Ryuuki; ele não transmitia confiança alguma naquele momento.

Com o segundo círculo ativo, a correnteza passou a ficar mais agitada, o arrastando para longe dela. O brilho prateado que tomou o círculo tornou a luz do primeiro ainda mais intensa e ofuscante, fazendo os olhos da garota semicerrarem. Sua respiração se tornou ainda mais pesada e difícil, e dentro de poucos segundos ela estava ofegante.

"Quantos círculos faltavam para isso ficar completo?", ela pensou.

Ela inspirou profundamente, sentindo como se algo bloqueasse o seu sistema respiratório.

— Reúna-se às ninfas da água. — Ayase arfou. — Ó Sela, a Selvagem.

Ryuuki tentou se aproximar dela, mas era difícil. A correnteza estava tão agitada que Ayase parecia o centro de um redemoinho.

"Por favor...", ele pensou de maneira desesperada. "Por favor, funcione...".

O terceiro círculo acendeu, a banhando em uma luz vermelha. Ela sentiu o corpo perder o equilíbrio e pender para um dos lados, mas de alguma maneira conseguiu manter a estabilidade. Tudo estava girando ao seu redor, e as luzes pareciam cada vez mais próximas.

Não iria dar tempo. Não iria dar tempo, mas... o que ela poderia fazer?

"Só precisa ser dessa vez, mas funcione", o corpo de Ryuuki foi tomado por uma aura lilás que crescia consideravelmente a cada segundo.

— Reúna-se às ninfas da água— 

As vistas de Ayase escureceram, e ela não conseguiu terminar a sua frase.

Enquanto perdia o equilíbrio, Ayase sentia a energia dos círculos se tornando cada vez mais instável; se ela não fizesse algo, a magia que passou tanto tempo reunindo iria se esvair em questão de segundos. Ela precisava fazer alguma coisa, mas era difícil se firmar no meio do redemoinho caótico que se formou ao redor de seu corpo, e mesmo fazendo muito esforço, sua cauda não era forte o suficiente para mantê-la estável.

"Eu não posso... desistir agora...", pensou Ayase ao forçar a sua cauda mais uma vez.

Mais uma tentativa fracassada.

Antes que pudesse tentar de novo, ela percebeu que tudo ao seu redor se tornou ainda mais escuro, como se os raios solares fossem bloqueados. Aos poucos, a correnteza também diminuiu, e o redemoinho agora não passava de uma leve brisa que não impedia Ayase de ficar de pé. De alguma maneira, ela conseguiu perceber que uma sombra colossal bloqueava os raios solares, e quando uma voz de trovão bradou, Ayase tinha certeza de quem estava ali:

— Se ainda existe sangue Daemonia correndo em minhas veias — Apesar de ter sido um mero murmúrio, a voz de Ryuuki estava mais alta e mais grave, e a aura lilás que emanava de seu corpo gradualmente se transformava em grandes escamas metálicas. —, eu serei capaz de defender a única pessoa que importa para mim.

— R-Ryuu...?

O sussurro de Ayase não chegou aos ouvidos de Ryuuki; ela ergueu uma das mãos para o vazio numa tentativa de alcançá-lo, mas seus olhos se fecharam devagar e Ayase caiu no sono. Estava esgotada, e os círculos que invocou continuavam reluzindo como pequenas lamparinas em meio as águas, drenando ainda mais a sua energia.

— Descanse, milady. — A sombra envolveu o corpo da garota entre gigantes patas draconianas. — Eu irei protegê-la agora.


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Notas finais do capítulo

Capítulo 2, Parte 2

Lembra quando falei que iria reservar um capítulo inteiro para trabalhar na destruição de Atlansha? Isso começa aqui!

Confesso que ainda não estou satisfeita com o resultado, mas achei tão legal/divertido escrever sobre a magia da Ayase (e também o quanto ela é difícil de ser usada em grande escala) que eu quase consigo me perdoar.

Também pareceu um pouco cedo para falar sobre os Princípios, mas eles serão explicados antes que o volume 1 seja fechado, até porque outros irão aparecer conforme a história avança (*cofcof* Vesperes trabalham com um também *cofcof*) e saber sobre eles não vai acabar com a diversão de vê-los em ação.

Aliás, eu queria ter revisado esse capítulo um pouco mais, então se vocês encontrarem algum erro, mandem um salve que eu vou arrumá-los assim que possível.

A partir de agora, os capítulos voltarão a ser semanais! Caso eu dê a louca e consiga escrever vários capítulos de uma vez (limite de 1.500 palavras é meu novo amor e vou protegê-lo), vou liberando mais alguns durante a semana, mas a minha intenção é postar pelo menos um aos sábados.

NÃO PRETENDO SER A AUTORA HUNTERXHUNTER DAS NOVELS, EU JURO!



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