Stellarium escrita por Acquarelle


Capítulo 13
CAP.4, Epi.1: A runa que desenha o ar




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— Então... podemos começar? — perguntou Rashidi, forçando um sorriso que não inspirava confiança.

Antes que alguém pudesse interrompê-lo, ele passou a concentrar os seus poderes, sentindo a energia emergir por cada uma de suas células. Conforme os segundos passavam, mais Rashidi sentia o seu corpo se tornando mais leve, e a energia agora mudava a coloração de seus olhos para um branco puro e brilhante. Ele deixou um suspiro escapar, e com a mão direita estendida, passou a desenhar algo no ar.

Uma runa. Uma única e solitária runa violeta.

Para um Vesper, aquela runa sequer faria sentido, visto que não existiria conceitos naquele universo para nomeá-la, e se não fosse as imperfeições de suas curvas, poderia ser facilmente confundida com uma magia roubada de um Primordial.

Ela soava como poesia.

Não era destrutiva como a erupção de um vulcão ou serena como a luz do luar banhando uma paisagem noturna. Ela não tinha forma, cor ou sabor, como se sua concepção tivesse saído da imaginação de uma criança — e, ao mesmo tempo, também fosse algo tão precioso quanto um abraço materno. Uma runa que significava tudo, mas que também não significava nada, e apenas Rashidi poderia compreender a sua grandeza: era dali que vinha o seu orgulho de Vesper de Fulgor F.

A runa passou a emanar um brilho semelhante ao cristal que Void mostrara mais cedo.

— O-o que...?! — Ayase estava espantada demais para completar a sua frase.

— Não se preocupe, não vai demorar muito tempo — sussurrou Void, tentando transmitir segurança.

Os passos seguintes costumavam ser os mesmos: a runa detectaria a presença do aglomerado, absorvendo sua energia e possíveis toxinas, transformando-se em um cristal roxo cujo tamanho variava pela quantidade de energia consumida. Após isso, era dever de Void guardá-lo em um lugar seguro, visto que Rashidi dizia não poder tocá-lo. Geralmente era um trabalho rápido e sem muitos contratempos, além de também evitar as possíveis sequelas que a toxina do aglomerado era capaz de causar.

Daquela vez, porém, foi diferente: a runa que Rashidi desenhou havia desaparecido.

— M-mas o que aconteceu?! A runa... ela... — Ele resmungava de maneira nervosa.

— Tem algo errad—

— Você é surdo, Void? — Rashidi o interrompeu ainda mais aflito. — A runa que eu desenhei desapareceu!!

— Tem certeza que desenhou ela direito? — perguntou Void, não acreditando nas palavras de Rashidi.

— Como diabos eu erraria a runa de absorção, depósito de Rytuslam'te?

— Estamos falando de você, não é? — Deu de ombros. — E também que é uma runa nova... Eu não me espantaria se você a errasse algumas vezes. Pode ter sido uma falha mínima, tenta mais uma vez — sugeriu.

— ...

Rashidi pensou em respondê-lo grosseiramente, mas apenas respirou fundo e desenhou a runa mais uma vez, atentando-se aos mínimos detalhes que uma pessoa normal jamais seria capaz de notar. Quanto terminou seu serviço, tratou de observar a runa com maior delicadeza e percebeu que ela estava perfeita.

Em poucos segundos, porém, ela desapareceu ainda mais rápido que antes.

— O QUE DIABOS?! Argh, por que ela continua sumindo? — Ele levou as mãos à cabeça, tentando disfarçar o nervosismo que sentia bagunçando as mechas brancas de seu cabelo.

— Estranho... A runa foi desenhada da mesma maneira de sempre e ainda assim não teve nenhum efeito? O que você acha que pode estar dando errado? — perguntou Void, logo se voltando em direção à porta da Arcadia. — Você tem certeza de que há um fragmento aqui, Ribbon? Nem a própria residente de Atlansha conseguiu perceber uma mudança significativa no planeta.

De dentro da espaçonave, uma voz infantil pôde ser ouvida:

— Porque é um planeta morto, oras. O que aconteceria de diferente? — Ribbon respondeu sem cerimônia; algumas informações estavam fora de sua programação, e medir as consequências de suas palavras estava incluso nisso. — Não é como se o aglomerado fosse deixar o planeta mais escuro ou as águas mais turvas; ele nem foi o responsável por isso. Rashidi mesmo falou que Ribbon nunca errou nesse cálculo, então por que está desconfiando de Ribbon agora? Há um aglomerado nesse planeta sim.

— Não estamos desacreditando em suas palavras, mas—

— Então por que a minha runa não consegue detectar nada, maldita? — E mais uma vez, Rashidi interrompeu Void. — Você deve estar precisando de uma atualização no seu maldito programa!

— De fato, Ribbon precisa de uma atualização — sussurrou a voz infantil pausadamente. —, mas não por esse motivo. Rashidi tem certeza de que desenhou a runa da forma correta?

— De novo essa pergunta?! — vociferou Rashidi com o olhar furioso. — Quem desenha essa droga de runa sou eu! É claro que ela está certa, eu conseguiria identificar caso ela estivesse errada. Ela é a minha runa, esqueceu?

Void, que até o momento refletia silenciosamente na solução do problema, finalmente voltou à conversa:

— Já chega — disse calmamente, se aproximando da borda do compartimento. — Acho que já sei o que está acontecendo.

Ele se voltou à Ayase — que mantinha-se quieta diante da situação — e fez uma versão diminuta do cristal ultravioleta emergir de sua manopla esquerda. Mais uma vez, o brilho roxo e caótico invadia a escuridão do planeta, fazendo Ayase sentir desconforto ao encará-lo por alguns segundos. Void estendeu a sua mão em direção à ela e disse:

— Segure isso pra mim.

Ayase desviou sua atenção para Ryuuki, como se pedisse permissão para executar aquele comando. O dragão-serpente assentiu com a cabeça de maneira silenciosa, e mesmo apreensivo com o que poderia acontecer, desenrolou o seu corpo em direção à Arcadia, criando uma ponte que levaria Ayase até o estranho monstro metálico que flutuava nas águas negras de Atlansha.

— Obrigada, Ryuu! — A garota agradeceu com um breve sorriso, e finalmente desceu da onda.

A cauda de Ayase se recolhia gradativamente, revelando um par de pernas decoradas com escamas translúcidas, como um dia eram suas barbatanas. Quando a cauda parou de encolher, transformou-se um elegante vestido assimétrico, cuja parte das costas desciam sob camadas e mais camadas de tecido multicolorido e transparente, brilhantes como a concha que pendia de seu pescoço.

Ela tocou as escamas metálicas de Ryuuki com os pés descalços, caminhando lentamente em direção a Void.

"Então era essa informação que a chave de acesso Daemonia escondia? Curioso", perguntou Void para si mesmo.

Quando parou de frente a Void, Ayase pinçou o pequeno fragmento com os dedos, passando a observá-lo cuidadosamente. Mesmo sendo tão minúsculo, o brilho que irradiava era nauseante, a fazendo refletir sobre o que realmente era aquela cristal; "Como assim 'não pertencem ao nosso universo'?", perguntou para si mesma, sequer compreendendo o significado das palavras que pensou.

Várias perguntas surgiam na cabeça de Ayase naquele momento ("Qual o problema desse cristal?", "Ele é tão perigoso assim? Parece apenas uma quinquilharia brilhante que encontramos em qualquer lugar em Althum", "O Ryuu sabe qual é a origem dessa coisa?", "Por que teria algo assim em Atlansha?"), e ela já estava pronta para confrontar Rashidi e Void; antes que pudesse confiar naqueles estranhos, precisava de respostas.

Porém, ela foi forçada a voltar à realidade quanto o fragmento se desintegrou em suas mãos.


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Notas finais do capítulo

Capítulo 4, Parte 1

Como terminei a primeira parte do Capítulo 6, eu estou "de boa" para publicar essa aqui, até porque é uma parte curtinha (deu pouco menos de 1.200 palavras). Apesar de tudo, eu a considero uma das mais importantes desse começo, então preferi separá-la dessa forma na hora de publicar. Não há muita mudança quanto à história original — se bem que nem lembro direito da versão original, hehe —, mas alguns detalhes menores são visíveis, como a transformação da Ayase estar mais sutil e... apropriada, eu acho?

Vou publicar os outros capítulos ainda hoje, assim os capítulos no Nyah! ficarão tão atualizados quanto no Wattpad. De resto, só vai faltar atualizar no Inkspired e TALVEZ começar a publicar no Sweek, não sei ainda.



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