Stellarium escrita por Acquarelle


Capítulo 12
CAP.3, Epi.4: O cristal ultravioleta




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Quanto mais a conversa era prolongada, mais Ayase ficava confusa.

Desde o momento em que acordou, Ryuuki não havia lhe explicado o que tinha acontecido com as luzes coloridas — e com o resto de Atlansha —, e mais uma vez apenas lhe deu informações rápidas a respeito de algo estranho nas águas rasas. Inúmeras perguntas surgiam em sua mente, mas ela não tinha tempo para fazê-las, pois Ryuuki a afogava em explicações sobre o que ela deveria fazer, utilizando termos que a garota nunca ouviu antes ("espaçonave", "Kolasurr", "Fenda-LMB", "universo", "Vesper") e movendo a área das lanternas coloridas para cima. Ryuuki queria ter certeza da intenção daqueles invasores, então precisava dela para isso.

Quando finalmente percebeu que Ayase estava confusa com a situação, Ryuuki apenas lhe disse para fazer os estranhos se identificarem, pois tinha um plano em mente; ela não compreendeu o propósito de tudo aquilo (ou mesmo do desespero repentino de Ryuuki), mas se pudesse ser útil de alguma forma, era suficiente.

Rashidi se aproximou da porta vagarosamente, e pela primeira vez falou em alto e bom tom:

— Não permitiram. — Ele pressionou os seus punhos com força, os fazendo tremer. — Por isso precisamos acabar com isso o mais rápido possível. Quanto mais rápido terminarmos nossa missão, mais cedo voltamos para casa.

Houve, então, alguns segundos de silêncio.

Assim como Rashidi, Void parecia estar preocupado e pensativo; era impossível saber o que se passava pela cabeça dos dois naquele momento, mas de alguma forma Ryuuki os compreendeu. Não que fosse capaz de confiar neles, mas precisava se esforçar se quisesse tirar Ayase daquele lugar. Não haveria uma segunda chance para os dois.

— Apresente-se, Vesper — ordenou Ryuuki.

Aquilo surpreendeu Rashidi; era uma afirmação de que havia uma trégua entre eles?

"Não, isso não seria possível", pensou ele, perturbado. "Um Primordial nunca me deixaria vivo. Nós somos..."

Rashidi engoliu seco ao perceber que as pupilas em forma de fenda não se desviavam dele: a criatura aguardava por sua resposta.

Seu corpo estremeceu ao pensar nas mentiras que contou ao longo de sua vida; com exceção da deusa e de seus colegas de mesma raça, ninguém sabia de sua real identidade. Mentir para um Void, para uma inteligência artificial ou mesmo para a humanoide-peixe que os observavam não faria diferença em sua vida, mas mentir para um Primordial parecia perigoso demais para ele arriscar.

Respirando fundo, ele finalmente disse:

— Altair. — Após a resposta, deu outra pausa. — Sou um Vesper de Fulgor F.

Houve mais alguns segundos de silêncio enquanto Rashidi e Ryuuki se encaravam.

— Entendo. Um Fulgor F de um asterismo fadado ao fracasso. Entendo perfeitamente.

Pela maneira que Rashidi arqueou suas sobrancelhas, estava nítido que ele ficou abalado com as palavras de Ryuuki; Void e Ayase analisavam a conversa em silêncio, ocasionalmente trocando olhares confusos quanto aos termos que não compreendiam, e mesmo Ribbon não entendia o significado das palavras proferidas pelo grande dragão de escamas metálicas.

"O que diabos é um Fulgor F?", pensou Void, tentando buscar alguma informação em suas memórias.

Ele cogitou perguntar para o próprio Mediador de Atlansha, mas o alerta de Ribbon o fez mudar de ideia:

— Ribbon só vai conseguir segurar a energia da Fenda-LMB por treze minutos — sussurrou a voz infantil, fazendo Void ignorar a conversa que Rashidi e o Mediador estavam tendo. Ryuuki pareceu ter percebido a mudança de humor em Void e não tocou mais no assunto.

— Sinto muito — desculpou-se Void, quebrando o silêncio e se virando para Ayase. — Ainda não respondi sua pergunta, não é? Sobre o que procuramos.

Ainda confusa com toda a situação, Ayase negou com a cabeça; finalmente uma de suas dúvidas seria respondida.

— Nós o chamamos de aglomerados.

Dito isso, Void estendeu sua mão esquerda em direção a Ayase, fazendo um brilho emanar da palma de sua manopla. Em questão de segundos, um pequeno cristal sujo banhado em energia caótica emergiu, irradiando uma luz ultravioleta que machucava seus olhos.

— O nosso trabalho é juntar essas coisas. — Ele elevou o cristal, que passou a absorver parte das luzes do fogo-marinho que delimitava a área segura do planeta. — Eles não pertencem ao seu universo.

O olhar confuso no rosto de Ayase se intensificou; Void tinha dito outra palavra desconhecida ao seu vocabulário ("universo"), mas ela lembrou-se vagamente que Ryuuki a havia utilizado minutos atrás. Não sabia do que se tratava, e como se pedisse uma explicação menos complicada, passou a olhar Void de maneira inquieta.

— Não costumamos contar a respeito dos aglomerados para os outros — continuou ele, dando de ombros. — Isso não é problema deles, sabe? Mas vocês parecem saber mais do que a maioria dos humanoides que tivemos contato, então é justo que eu seja sincero com vocês.

— Então existe um desses cristaizinhos aqui em Atlansha? — perguntou Ayase, tentando desviar seus olhos do cristal, mas sem sucesso.

— Comparado aos outros que já pegamos, ele é bem mais fraco, mas ainda somos capazes de detectar a sua presença. Ainda não entendemos a verdadeira natureza deles, mas uma coisa podemos afirmar: eles são altamente venenosos e fazem muito estrago quando entram em contato com matéria orgânica. — Void, então, recolheu o cristal para a sua manopla. — Você não tem se sentido estranha ultimamente?

Ayase passou algum tempo pensando; até quando aquele "ultimamente" poderia ser interpretado?

Sentia que boa parte de suas memórias se afundava entre um vazio silencioso, eventos desconexos e sonhos convidativos. Durante alguns segundos, ela observou Ryuuki (que estranhamente se encontrava em silêncio desde que Void havia citado sobre os estranhos cristais roxos), como se esperasse uma resposta dele, mas desistiu quando ela demorou demais para vir.

— Não. — Ayase respondeu finalmente. — Não sinto nada de diferente. Eu deveria estar sentindo algo?

— Eu vou ser franco com você, peixinha — resmungou Rashidi, que recuperado das palavras de Ryuuki, saltou para o primeiro compartimento da Arcadia, ficando mais próximo de Void e Ayase. — Nossa Lephancee foi programada por um idiota, mas jamais erraria em um cálculo como esse. O aglomerado precisa de matéria orgânica para manter a sua energia, mas não há nada nesse planeta que consiga mantê-la muito tempo.

Ele deu uma pausa quando percebeu que Ayase não entendeu o propósito daquela conversa (apesar de querer rir quando a garota fechou a cara quando foi chamada de "peixinha").

— O aglomerado deve estar com um de vocês dois, sabe? — disse Void, tentando tornar a explicação de Rashidi mais clara. — Por ser altamente tóxico, ele poderia estar te matando de dentro para fora ou algo assim. Você realmente não se sente estranha?

— Eu me sinto bem. — Ela encarou Void com uma expressão neutra. — É sério!

— De qualquer forma, precisamos recolher o aglomerado logo para irmos embora — disse Rashidi, se aproximando da borda do compartimento.

Antes que pudesse chegar muito perto, porém, uma cauda com escamas metálicas o impediu; Ryuuki queria mantê-lo longe de Ayase a qualquer custo.

— Está tudo bem, Mediador — resmungou ele, mantendo uma expressão séria. — Nós não vamos machucar a sua peixinha.

— Mesmo que quisessem, vocês não conseguiriam — ameaçou Ryuuki, observando o menor dos movimentos de Rashidi.

Um suspiro abafado pelo elmo de Void pôde ser ouvido.

— Vocês não precisam se preocupar — disse ele numa tentativa de fazer Ryuuki e Ayase acreditarem no que estava por vir. — As chances disso falhar são nulas, e também não tem como vocês se machucarem no processo. Vai ser rápido, eu prometo.

Ayase e Ryuuki trocaram olhares, mas por fim assentiram com aquilo.

Não havia muito o que pudessem fazer diante daquela situação; estavam desamparados em um planeta morto e precisavam cooperar com aqueles estranhos para que pudessem sair dali. Além disso, a energia que emanava do cristal ultravioleta era desconhecida até mesmo para Ryuuki, que se ele fosse compará-la com algo que já tivera contato, provavelmente seria de um misto de energia entre os Primordiais. Ele estava interessado em saber mais sobre o cristal, e naquele momento, só podia torcer para que aquele Void não estivesse mentindo.


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Notas finais do capítulo

Capítulo 3, Parte 4

Confesso que queria ter revisado essa parte 4 melhor, algo me diz que tem inúmeros erros perdidos no meio do texto, mas no momento eu sou incapaz de identificá-los. Caso você perceba algo muito absurdo, sinta-se livre para comentar!



Enfim, para finalizar o textão, um pouco de interação:

— Alguma teoria a respeito dos "Primordiais", sobre o que são ou o que podem fazer?

— Alguma teoria do porquê Vesperes e Daemonias podem ser inimigos?



Curiosidade!

O Capítulo 3 foi finalizado com uma média de 5.800 palavras, sendo o maior da capítulo da história até o momento! O Capítulo 1 teve uma média de 4.400 e o Capítulo 2 teve uma média de 5.500 palavras, ficando em segundo lugar. Com isso em mente, dá pra ter uma noção de quantos capítulos o primeiro volume de Stellarium terá, já que autores iniciantes supostamente não devem passar de 60-70 mil palavras em seu "livro-estreia".

(Não que eu pretenda utilizá-lo como livro-estreia, mas...)



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