Um Caminho Para O Coração escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 33
Capítulo 32 — Surpresa Em Dobro


Notas iniciais do capítulo

Olá! Tudo bem com vocês? Espero muito que sim.

Bom, eu vou deixar aqui o link de minha one-shot, que foi dividida em duas partes, para quem quiser passar lá depois.
https://fanfiction.com.br/historia/799251/Tempestuosa_Paixao/


Espero que gostem do capítulo de hoje.



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A lenha crepitando na lareira. A voz de Olívia soando ao fundo, conversando com Norman durante mais uma partida de jogo de damas na mesa da sala de jantar. Logo ao lado, Rosalie e Emmett sentados num único sofá.

Emmett olhou na direção de onde eles estavam, observando a filha, ajoelhada na cadeira, concentrada no tabuleiro de damas. A mão pequena embaixo do queixo avaliando o próximo movimento no jogo. Norman com as duas mãos no queixo, aguardando.

— Ainda bem que Olívia conseguiu se distrair — disse aliviado. — Fiquei preocupado que não fosse deixar de chorar tão cedo, desde que Arco-íris se despediu.

Rosalie relanceou o olhar à menina, para então responder:

— Arco-íris foi importante para ela.

— Mais até do que imaginei — admitiu Emmett.

Rosalie cutucou no lóbulo de sua orelha, distraída olhando a criança jogar damas.

— Pouco a pouco, vai se acostumar a não ter mais Arco-íris com ela. Não precisa mais de sua companhia. Você está com ela agora, de todo coração.

Emmett olhou em seu rosto.

— Devo isso a você. Me fez enxergar tudo que estava perdendo ao me entregar somente a dor.

— É lindo ver o amor que tem dedicado a Ollie. Ela estava carente e sozinha, agora, tem a todos nós.

— Você teve amigos imaginários quando criança? — quis saber Emmett, realmente interessado.

— Na verdade, não. Tive uma boneca que às vezes conversava com ela.

— Não me diga que te respondia de volta?

O som de uma risada veio junto à cotovelada que deu propositalmente em seu braço.

— Está insinuando que sou louca? — brincou. — Emmett deu risada. — Não ria, não.

Olívia e Norman ouviram a risada. A menina olhou para eles na sala de estar, gostando do que via e ouvia. Um sorriso desenhou seus lábios afastando do rosto a expressão de concentração do jogo.

— Tá bom — continuou Rosalie, pondo a mão na coxa dele. — E você?

— Eu o quê?

— Teve amigos imaginários?

— Não. Tive muitos amigos reais. Na adolescência, me afastei um pouco.

— E hoje? O que restou?

— A vida me levou para longe de todos eles.

— Você não fala muito de seu pai — Rosalie lembrou. — Na verdade, não recordo de vir falando nele uma única vez.

— Não tem muito a dizer. Meu pai morreu quando eu tinha sete anos. Só um ano mais do que Olívia tem hoje.

— Se importa em me dizer como aconteceu.

— Foi durante um resgatem num prédio em chamas. — Prevendo a pergunta que viria, completou: — Meu pai era bombeiro. Morreu fazendo o que gostava; salvar vidas. Não sei muito sobre o que aconteceu na noite que ele morreu. Como disse, tinha só sete anos. Minha mãe me privou de muitos detalhes, na época. Conforme fui crescendo, fui deixando de fazer perguntas. Quase dez anos depois, ela conheceu outra pessoa e se casou. Hoje é divorciada, e tem a vida dela na Pensilvânia. Me recordo de flagrar meus pais dançando pela casa com frequência na infância, algumas vezes mesmo sem música. Eles eram apaixonados um pelo outro. Fiquei surpreso quando resolveu casar outra vez.

— Isso se chama recomeçar, Emmett.

— Não deu muito certo, não é?— ele questionou.

— Deu, sim, até onde durou. — Se colocou de pé, oferecendo a mão a ele. — Vem! — chamou.

— O quê?

— Dançar comigo.

— Sem música?

— Acabou de dizer que seus pais faziam isso o tempo todo. É uma recordação tão bonita. Vem dançar comigo? Vamos criar nossa própria lembrança junto a Ollie.

Ele olhou para os lados como estivesse envergonhando.

— Não… Não sei se quero fazer isso aqui. Olha só para o meu tamanho. Sou desengonçado para essas coisas.

— Para com isso. Vem! — insistiu.

Não muito confiante, se colocou de pé.

— Isso não vai dar certo — duvidou ele.

Rosalie sorriu. — Pare de pessimismo. — Se colocou diante dele. — Me dê sua mão. Eu sei que sabe, já fez isso antes.

— Sim, mas com música.

Mantendo o corpo junto ao dele, sugeriu:

— Pense numa música. A que mais gostar.

Ele sorriu ao responder:

— Assim fica mais fácil. — Acolheu o corpo dela, moldando ao seu. Iniciando uma sútil dança na sala de estar da casa de Norman.

Olívia estava outra vez olhando aos dois dançar.

— Eles estão dançando — disse para Norman, que concordou meneando a cabeça. Olívia saltou da cadeira. Observou os dois no limite entre um ambiente e outro. Com uma risada gostosa correu até lá, ficando de pé em cima do sofá. Durante um giro, Rosalie a encontrou ali, os olhinhos brilhando, refletindo felicidade genuína.

— Aí está você — brincou Rosalie. — Vem dançar com a gente.

Emmett esticou o braço, pegando a filha no colo.

Olívia olhou de um para o outro, sempre sorrindo. Os três dançaram sem música por alguns instantes, até que o som real de música se fez ouvir ao fundo. Norman ligou o aparelho de som antigo, apreciando a cena no meio de sua sala de estar.

Rosalie beijou na pontinha do nariz de Olívia. Emmett fez cócegas na barriga da menina, que se contorceu até está no chão, gargalhando.

[…]

Olívia dormia no sofá, com a cabeça no colo do pai enquanto ele conversava com Rosalie e Norman. De tempos em tempos, Rosalie afagava os tornozelos da menina sobre as meias grossas de lã.

Emmett deu uma breve olhada na menina adormecida para então mencionar:

— Já passou de nossa hora de ir. Uma menininha aqui está desmaiada já faz uns bons minutos. — Se colocou de pé e, com cuidado, pegou Olívia no colo.

Rosalie também se levantou.

— Obrigado pelo jantar, Norman — agradeceu Emmett. — Estava tudo muito saboroso.

— Você já é praticamente da família — emendou Norman, levantando-se também. — Volte sempre que quiser.

Emmett meneou a cabeça, aceitando.

— Preciso colocar essa criança na cama — acrescentou pronto para ir embora.

— Faz muito bem.

— Vovô — começou Rosalie —, eu vou com eles até o carro.

— Tudo bem, minha querida. Vou subir para o meu quarto. Quero ler um pouco antes de dormir.

Norman tomou o caminho da escada. Rosalie acompanhou Emmett até o lado de fora, abrindo a porta da casa e também do carro, para que conseguisse instalar Olívia na cadeirinha. Aguardou pacientemente para poder entregar o cobertorzinho a ele, que colocou junto ao rosto da menina. Afastou-se para ele fechar a porta. Sua mão fria buscou a dele logo depois. Ambos de pé ao lado da caminhonete. Emmett aqueceu as mãos dela entre as suas.

— Vai ficar bem? — Rosalie pediu, lembrando que o dia foi difícil, porém, importante para todos eles. Ainda com suas mãos unidas, Emmett chegou mais perto de maneira que seus corpos se tocassem. Seus olhos encontraram os dela. As testas se tocaram.

— Dá para ficar melhor — sussurrou.

Ela levou as mãos à nuca dele. Emmett passou os braços em volta de sua cintura apertando-a junto ao corpo. A respiração pesada. Rosalie fechou os olhos durante o roçar de lábios que sucedeu o beijo.

— Até amanhã — murmurou ela, logo após terem se beijado.

Emmett a deixou ir. Tomou sua mão de forma repentina trazendo-a de volta para perto tomando posse de outro beijo.

— Dirija com cuidado — alertou, quando se afastava a segunda vez, a caminho da varanda. Emmett ficou observando se afastar. Levou a mão à maçaneta da caminhonete adiando a partida. Rosalie acenou ao pôr a mão na maçaneta da porta da casa do avô, assim, Emmett soube que tinha de realmente ir.

[…]

Após deixar Olívia na cama, Emmett voltou ao térreo entrando na cozinha. Querendo beber algo, passou um café. A caneca favorita de Sarah não estava mais no armário ao lado da sua, tinha ido para doação junto às outras coisas. Em vez disso, encontrou uma xícara de chá de estampa floral. Não teve dúvidas que pertencia a Rosalie. Segurou a xícara na mão, um leve sorrio fez curvar seus lábios, pensando nela. Guardou novamente onde estava. Ao lado da cafeteira, encontrou um bilhete que dizia: “Café está permitido”. 

Sorriu, reconhecendo a letra de Rosalie nele. Serviu a caneca de café levando com ele para o segundo andar.

Era a primeira vez que entrava no quarto após despachar os pertences de Sarah. Pareceu-lhe tudo muito vazio. Sentiu um aperto no peito que perdurou alguns segundos. Sentou na cama com a caneca ainda mão. O violoncelo diante seus olhos, próximo à janela. Tomou mais um gole de café, de olho no instrumento. Um pensamento lhe ocorreu: sem os pertences de Sarah no closet que um dia pertenceu a ela, o violoncelo caberia lá dentro. Ainda estaria ali para Olívia, mas, num lugar onde ele, ou mesmo Rosalie, não pudesse vê-lo toda vez que estivessem juntos no quarto.

Bebericou mais um gole do café, descansando a caneca na mesinha de cabeceira ao levantar. Foi até o closet se certificar das medidas exatas. Com cuidado levou o violoncelo para lá e, finalmente, fechou a porta.

Voltou para pegar a caneca, mas o café já havia esfriado.

— Papai — a voz sonolenta de Olívia chamou atenção para a porta aberta do quarto.

— Ei, você não deveria estar na cama?

Ela coçou o olho com a ponta do cobertorzinho. Os pés calçados com meias pisando no assoalho.

— Sonhei com Arco-íris… — começou. — Acordei e chamei por ela, daí eu lembrei que foi embora.

— Precisamos lavar esse cobertorzinho — Emmett propôs.

Olívia apertou o cobertorzinho junto ao peito.

— Não precisamos, não — retomando ao assunto que a levou ali. — Quem vai ficar comigo até eu dormir de novo?

Emmett foi até ela.

— O papai pode fazer isso. Papai… — ele dizia, quando o olhar de Olívia alcançou o espaço vazio onde ficava o violoncelo de Sarah. Disparou até lá, falando em voz alta.

— Cadê? Cadê, papai? Onde está?— girou sem sair do lugar como fosse encontrar o violoncelo em um passe de mágica. Finalmente, parando, olhou no rosto do pai. — Cadê o celo da mamãe? — a expressão sonolenta sendo substituída pelo desespero. — Você disse que era meu — lembrou. A expressão de choro em seu rosto ao se dar conta que o violoncelo havia sumido.

— Calma! — Emmett apressou em esclarecer. — Ele ainda está aqui.

— Não estou vendo.

Emmett foi até ela e segurou sua mão pequena quando a primeira lágrima molhou a bochecha.

— O violoncelo da mamãe está aqui — disse.

— Onde?

A levou pela mão até estar diante o closet. Olívia olhou para cima, no rosto dele, como não entendesse. Ele abriu então porta.

— Aqui, o violoncelo está aqui dentro — afirmou.

Olívia ficou aliviada ao encontrar o violoncelo que pertenceu à mãe, guardado ali. Devagar, chegou perto encostando a mão no mogno lustroso.

— Está mais calma agora? — arriscou Emmett.

Olívia confirmou com meneio de cabeça.

— Por que está aqui? — perguntou por fim. — Disse que ficaria no quarto.

— Quero fazer algumas mudanças no seu quarto. Quem sabe, consiga um lugar para ele lá.

— Eu gosto como ele é. O meu quarto.

— Eu sei. Mas você não gostaria de ter móveis novos, uma cama bonita e confortável? Trocar o papel de parede?

— Sim, gostaria.

— Papai vai escolher uma cama bem bonita para você. Melhor ainda, vou comprar o material e eu mesmo farei sua cama. Ela será única. E especial igual você. E vou levá-la para escolher o papel de parede.

Olívia sorriu.

— Vem! Você precisa voltar para cama. — Emmett lhe estendeu a mão. Olívia afastou a mão do violoncelo para segurar na mão dele.

 — Fica um pouquinho aqui comigo, papai.

— Está apertado para o papai aí dentro, amorzinho. O violoncelo ocupa muito espaço.

— Por favor, papai…

 Aqueles olhinhos escuros implorando, ele não foi capaz de dizer não. Sentou dentro do closet com ela, as pernas grandes para o lado de fora. Olívia sentou em seu colo, a cabeça descansando no peito forte, apertando o cobertorzinho entre os dedos enquanto relaxava.

— Canta pra mim, papai? — murmurou.

— Não sou muito bom nisso, você sabe.

— Tudo bem. Eu não me importo.

Emmett acariciou os cabelos em sua testa.

— O que você quer ouvir?

— Além do Arco-íris.

— Essa é fácil, o papai já cantou outras vezes.

A mão pequena acariciou sua barba, agora sempre aparada, enquanto dava início à canção. A mãozinha caiu no colo quando cochilou. Emmett cantou até o final, mesmo ela dormindo, para somente então se levantar e carregá-la de volta para a cama.

[…]

Olhando-se no espelho, Olívia avaliou o mais novo penteado feito pelo pai em seus cabelos.

— Você gostou? — pediu. Aguardando sentado na cama dela. — Está aprovado?

Olívia sorriu diante o espelho antes de se virar e correr para os braços do pai.

— Você é um ótimo penteador de cabelos, papai.  — Então se afastou, sorrindo. As mãos nas dele, fazendo Emmett pensar que eram muito pequenas e frágeis.

— Tão bom quanto quando é a Rose que faz?

— Tão bom quanto é a Rose que faz — ela respondeu sem pestanejar.

Emmett a pegou num abraço desajeitado beijando sua bochecha. Risadinhas se fizeram ouvir, em seguida, ele a soltou.

— Vamos descer? Ainda precisa tomar o café da manhã antes de ir à escola. — Pegou a mochila enquanto Olívia corria para fora do quarto. — O que vai querer comer? — pediu já no corredor, a caminho da escada. Olívia saltitou, olhando para cima, no rosto dele.

— Mingau de aveia.

— Mingau de aveia é bom. Fez uma excelente escolha, garotinha.

Ela murmurou risonha. — Uhun.

Alcançaram a escada os dois. Olívia na frente dele.

— E o que mais vai querer? — continuou perguntando. Segurou na mão dela no último degrau da escada, onde Olívia pulou tão distante quanto o braço do pai alcançou.

— Uma maçã.

— Uma maçã? Perfeito.

— Você também vai comer uma maçã, papai?

Cruzaram a sala de estar e jantar até estarem na cozinha. Olívia correu para ocupar seu lugar à mesa.

— Acho que vou ficar com ovos mexidos e bacon.

Olívia sorriu.

— Você não acha que o papai, sendo tão grande assim, uma maçã é pouco?

— Maçã, você come depois papai. Como fosse sua sobremesa.

Ele deixou a mochila numa das cadeiras vazias, e foi preparar o mingau de aveia para ela.

— Assim está certo. A maçã será quase como uma sobremesa.

— Mas, eu prefiro doce — ela confessou com uma risadinha.

[…]

— Olívia, a mochila — ele lembrou quando saíam para esperar pelo ônibus. Ela voltou correndo e ele pôs a mochila em suas costas. — Agora sim, podemos ir.

Enquanto aguardavam o veículo da escola, ela falou:

— Papai.

— Sim?— Ele deixou de olhar a rua, para olhar em seu rosto. — Por que não temos um jardim bonito igual o do vovô Nor?

Emmett não soube o que dizer de imediato. Olívia insistiu.

— Papai?

Estava para falar qualquer coisa, mas o ônibus escolar apontou na rua. O barulho a distraiu. Ela saltou para dentro logo que o veículo parou e a porta foi aberta.

— Tchau, papai!

Emmett beijou seu rosto.

— Tchau, docinho. Tenha um bom dia na escola.

Aguardou o ônibus passar, notando que dessa vez Olívia não sentou sozinha. Outra garotinha estava ao seu lado. A menina mostrou algo, e as ambas sorriram em seguida. Ficou feliz em ver que estava se enturmando cada vez mais.

Voltou para casa. Parando diante aquilo que deveria ser um lindo jardim. A pergunta de Olívia voltando a sua mente.

“Por que não temos um jardim bonito igual o do vovô Nor?”

Foi até a garagem e abriu a porta. Em vez de entrar no carro e sair para o trabalho, verificou o cortador de gramas. Não tão bom quanto um moderno, mas, ainda funcionava. Pegou a tesoura de poda, o ancinho e alguns sacos de lixo.

Olhando a destruição no jardim, pensou na surpresa que seria para Olívia chegar a tarde e encontrar diferente daquilo que conhecia. Não seria um jardim como o de Norman, ainda assim, estaria livre da bagunça e das ervas daninhas.

A garagem permaneceu aberta enquanto trabalhava. A caminhonete nem chegou a sair de lá essa manhã. Alinhada ao carro de Sarah que ainda estava lá encoberto pela lona empoeirada.

Começou pela parte da frente. Antes, ligou para Jacob avisando que seriam apenas ele e Kalel hoje no trabalho. Ao decorrer das horas, foi avançando no serviço, arrancando, aparando e ensacando. Passava do horário do almoço quando decidiu parar para comer um sanduíche. Retomando então com a limpeza no jardim dos fundos.

O horário de Olívia chegar se aproximando, Emmett foi ficando agoniado, correndo contra o tempo para esfregar com água e sabão a casinha ao lado do caramanchão.

Pouco antes de o horário de Olívia chegar, Rosalie estacionou o carro na frente da casa deles, admirada com o que encontrou. Não havia bagunça ou ervas daninhas no jardim da frente. Mesmo o verde sem vigor, o gramado estava bem aparado. Sacos de lixo enormes, enfileirados na calçada. Percebeu a garagem aberta, a caminhonete do lado de dentro.

Saltou do carro sem acreditar no que via. Ainda que não estivesse verde ou mesmo florido, parecia outro jardim. Imaginou se teria sido o próprio Emmett a fazer a limpeza ou mesmo alguém contratado por ele. Não chegou a comentar nada com ela, então.

Concluiu que acabava de dar mais um importante passo no processo de cura para suas dores emocionais. Sem dúvidas, Olívia ficaria feliz com a aparência do jardim. Foi pensando nela que seguiu procurando por Emmett, chamando seu nome à medida que avançava até os fundos da casa. Deparou com ele esfregando as paredes na casinha, antes encoberta de limo.

Mesmo o tempo frio, ele parecia suado, as roupas sujas. Teria se assustado, não tivesse visto todo o trabalho que fez.

— Emmett? — chamou.

Ele ergueu a cabeça brevemente, retomando em seguida o que fazia.

— Preciso terminar isto aqui antes que Olívia chegue. — Não teve dúvidas que todo esforço tinha sido feito para agradar à filha. Faltava apenas um pedaço junto à cerca a ser limpo, mesmo assim havia feito muito. Muito mais do que se esperava para um só dia.

— Fez tudo isso sozinho?

— Olívia queria… — Parou de falar quando ela chegou mais perto, tocando seu ombro.

— Ficou o dia inteiro limpando o jardim? Ao menos parou para comer alguma coisa?

— Um sanduíche. — respondeu.

— Não precisa limpar tudo de uma vez.

— Não terminei, resta um pedaço ali atrás.

Rosalie segurou a escova na mão dele, obrigando parar.

— Pare um pouco.

— Preciso que encontre limpa quando chegar.

— Já está limpa, Emmett. O que dava para sair, já saiu. Agora só reformando. Não vai conseguir isso hoje.

Num tom angustiado, questionou a si mesmo.

— Como fui deixar isso acontecer?

— Está tudo bem. Pode fazer isso depois — Rosalie o tranquilizou só então ele aceitou parar.

— Estou feliz em ver você — disse por fim. Finalmente olhando no rosto dela.

— Estou orgulhosa do que fez aqui hoje — acrescentou ela. — Agora, entre e vá tomar um banho. É melhor Ollie não encontrar você assim. Vou esperar por ela no ponto e a trago até você. Em outro dia termina o que ficou faltando.

— Tem razão. Limpei o jardim, em compensação, estou quase um monstro do lago. Nem você merecia me vir assim. — Recolheu o balde com as coisas que usou para limpar a casinha tomando o caminho da casa, entrando nela pela porta dos fundos.

Antes de ir buscar Olívia no ponto, Rosalie fechou a garagem para ele. Recebeu a menina com um sorriso no rosto quando a porta do ônibus abriu e ela surgiu no degrau.

— Rose! — cantarolou Olívia, passando os braços miúdos em volta de sua cintura.

— Oi, pequena! Como foi na escola hoje?

— Foi bom.

Rosalie tomou a mão pequena na sua, refazendo o caminho de volta a casa de Emmett. Não mencionou a limpeza no jardim, esperou pela reação dela ao descobrir por si só.

A menina contava sobre seu dia na escola quando chegaram à frente da casa e percebeu o que tinha acontecido ali. Olhou no rosto de Rosalie com espanto, deixando uma frase na metade. Olhou mais uma vez o jardim, conseguindo, finalmente, perguntar:

— O que aconteceu? Quem limpou nosso jardim? — correu metade do caminho que levava a varanda, a lancheira na mão e a mochila nas costas, parando para falar. — Não tem mato, nem bagunça. Você fez isso, Rose?

Rosalie seguiu caminhando até estar outra vez ao seu lado.

— Nunca que eu daria conta de limpar tudo isso. Foi seu papai que se encarregou de tudo. Fez isso para você.

— Onde que o papai está agora?

— Tomando banho para receber você.

Olívia correu para a varanda, deixando o material escolar no banco.

— Ele limpou lá atrás também — disse Rosalie. — Vem ver!

Animada, Olívia pulou os degraus na varanda dando a volta na lateral da casa.

— Papai fez tudo isso? — Rosalie ouviu sua voz alegre antes de alcançá-la. Estava na casinha ainda úmida. — Papai limpou a casinha também. Uau! Que legal! Rose, você viu? — Saiu da casinha com um sorriso radiante.

— Vi, sim. E você amor, está feliz com o que o papai fez?

— Sim, muito feliz. — Correu em volta da casinha e ao redor do caramanchão. Disparando de volta a frente da casa. — Vem, Rose! Vem comigo, vamos ver o papai.

— Estou indo, meu amor.

Esperou por Rosalie para subirem os degraus na varanda juntas. Se preparando para entrar em casa, pegou a mochila. Alguém chamou seu nome roubando sua atenção.

— Olívia!

Tanto ela, quanto Rosalie se viraram para olhar na direção da calçada. A mochila caiu de volta no banco. Tão espantada com a limpeza no jardim, ficou ao encontrar a pessoa que chamou por seu nome.

— A conhece? — Rosalie sondou.

— É a vovó — a voz da menina soou trêmula. — É a vovó Cheryl. — Então correu ao encontro da avó. — Vovó, vovó — a alegria foi interrompida pelo tombo que levou no caminho de cimento que levava até a calçada. As mãozinhas no chão, o choro não demorou a chegar. Antes mesmo que Rosalie a alcançasse, Olívia levantou. A meia-calça de lã rasgou na altura dos joelhos e, mesmo mancando, concluiu o trajeto até chegar à avó paterna.

Rosalie viu Cheryl se afastar ao ver Olívia com as mãos sujas. Reparando bem, reconheceu alguns traços de Emmett na mulher, exceto a cor dos olhos, que eram castanhos, e os dele, azuis. Pensou que isso ele teria puxado para o pai.

— Vovó… — choramingou a menina.

— Precisa ser mais cuidadosa — advertiu Cheryl.

Rosalie ficou com a impressão de Olívia ter chorado mais, depois de ser rejeitada pela avó.

— Não chore tanto — continuou a mãe de Emmett. — É só um arranhado de nada.

O olhar de Rosalie a condenou.

— Vem, meu amor — disse para a menina. Segurando seu braço miúdo conduzindo-a para a varanda, e assim para dentro de casa. — Vou cuidar do seu machucado. Vai ficar tudo bem.

— A vovó — chamou Olívia entre um soluço e outro de choro. — A vovó, Rose?

— A vovó está vindo, não se preocupe.

Rosalie percebeu Emmett descendo a escada às pressas.

— O que aconteceu? — disparou.

— Ollie caiu.

Olhou da menina para Rosalie e novamente para a menina.

— Como? Onde?

— Lá fora.

Ele se apressou para junto delas.

— Está tudo bem, amorzinho, não foi nada grave. — Se agachou avaliando o machucado na menina.

— A vovó veio — murmurou Olívia, chorosa.

Emmett olhou para Rosalie sem entender.

— Pelo que Ollie me disse, é sua mãe que está lá fora.

Emmett se colocou de pé, olhando então na porta da frente.

— Oi, Emmett — cumprimentou Cheryl, no batente da porta, diante seus olhos.

— Vou cuidar da Ollie — avisou Rosalie, saindo com a menina de cena.

— Mãe? — a voz de Emmett revelando surpresa em vê-la.

Cheryl entrou na casa. Olhou no entorno, avaliando antes de falar:

— Parece que a casa continua igual — concluiu. — Mas, você parece bem melhor que quando o deixei.

Emmett a interrompeu.

— O que está fazendo aqui?

— Vim ver minha neta.

— Finalmente lembrou que tem uma neta — debochou Emmett. — Um pouco tarde para isso, não acha?

— Não sei por que a surpresa. Olívia me escreveu, e posso apostar que foi você quem enviou a carta. Além disso, avisei que viria em breve.

— Olívia acabou de cair por que correu para seus braços, e você não se importou com isso. Rose é quem está lá dentro cuidando do machucado no joelho dela. Não se importou hoje da mesma forma como não se importou quando foi embora. Então, volto a perguntar. O que está fazendo aqui?

[…]

Sentada na tampa do vaso sanitário no lavabo, Olívia chorava baixinho enquanto Rosalie limpava o machucado no seu joelho, depois de retirar a meia-calça rasgada. Na palma da mão havia também um pequeno aranhão.

— Papai tá brigando com a vovó, igualzinho antes — Rosalie viu os olhos tristes da menina voltaram se encher de lágrimas.

— Não chore anjinho. Vai ficar tudo bem. — Limpou suas lágrimas na palma da mão.

— Vovó nem quis meu abraço.

Rosalie deixou o kit de primeiros socorros em cima da bancada da pia ao levantar.

— Fique aqui um instante, está bem. Eu já volto.

Na sala, encontrou Emmett discutindo com a mãe.

— Parem os dois, Ollie está ouvindo. Emmett, por favor — olhando Cheryl, emendou. — E a senhora, tenha o mínimo de compaixão, abrace sua neta. Ela te ama, e tem esperado há muito tempo por esse reencontro.

Como não acreditasse no que ouviu, Emmett tornou olhar no rosto da mãe.

— Não abraçou Olívia? — questionou. — Se negou abraçar ela, mesmo depois de lhe estender os braços? Caramba, mãe! Por que veio?

— Emmett, não — pediu Rosalie.

Ele passou as mãos na cabeça. Deu a volta no entorno do sofá. Sem dizer nada, seguiu até o lavabo.

— Oi, amorzinho — falou com a menina. — Está se sentindo melhor?

Olívia olhou para cima, no rosto dele.

— Sim. Rose cuidou do meu machucado.

Emmett chegou mais perto, beijou sua testa, e a pegou no colo. Encontrando com Rosalie na porta do lavabo quando saía.

— O que vai fazer? — ela pediu indo atrás deles.

Emmett chegou perto da mãe carregando Olívia no colo.

— Sua avó quer muito um abraço seu — disse para a menina, que olhou desconfiada a avó.

Diante o olhar inquisidor do filho, Cheryl chegou mais perto para abraçar a neta no colo dele.

— Você parece maior que da última vez que a vi.

— Já faz muito tempo, vovó — lembrou Olívia. Rosalie viu como o mínimo de atenção já a deixou feliz.

— Vovó sentiu sua falta — Emmett foi quem falou. — Ela acabou de me dizer que estava com muita saudade sua. Não foi, mãe? — com isso olhou no rosto da mãe.

— Você recebeu minha cartinha vovó?

— Era uma cartinha muito bonita. E você desenha muito bem.

— Rose me ajudou com a escrita — respondeu.

Emmett a colocou no chão. Olívia segurou na mão da avó e foi junto a ela sentar no sofá.

De olho nas duas, Rosalie chegou perto de Emmett, enlaçando o braço dele ao seu.

— Você foi incrível — sussurrou.

 — Você também — afirmou ele de volta. Olhou no rosto dela, e a beijou no canto dos lábios. Ficaram os dois em silêncio olhando a criança conversar com a avó, que tanta falta lhe fez nos últimos tempos.

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler até aqui.
Beijo grande