Um Caminho Para O Coração escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 32
Capítulo 31 — Lembranças e Despedidas


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal! Feliz Natal a todos!
Demorou, mas chegou. Espero que gostem do capítulo.



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Uma chuva fina caía do lado de fora no início da manhã, quando Emmett acordou com Rosalie em seus braços. Era a segunda vez que isso acontecia. Pensou que seria capaz de fazê-lo pelo resto da vida; vê-la dormir e acordar em seus braços. Ouvir sua leve respiração. Sentir o cheiro de seu perfume.

Afagou suas costas nuas sob o lençol algumas vezes. E lhe beijou a testa. Apreciou a sensação de tê-la se aconchegando a seu corpo um pouco mais. Virando o rosto para conferir a hora no telefone celular em cima da mesinha de cabeceira, se deparou com o violoncelo próximo à janela. A imagem do instrumento musical não o afetou tanto quanto em outras ocasiões, não muito tempo atrás. Estava finalmente pronto para dizer adeus ao passado.

Voltando a atenção à Rosalie, encontrou de olhos abertos observando seu rosto. Ergueu a mão acariciando o rosto dela, memorizando os traços delicados.

— Bom dia — murmurou. — Dormiu bem?

Mesmo tendo dormido muito pouco, após horas de conversa relacionadas ao passado dele. O momento em que fizeram amor. Sentia que havia dormido bem. Estava relaxada, e não teve nenhum sonho.

— Bem até demais — respondeu, brincando com a barba no rosto dele.

Emmett a abraçou por debaixo do cobertor.

— Eu vou ter de levantar agora — falou.

— Está na hora de Ollie ir à escola?

— Sim. Tenho de ir acordar ela e preparar o café da manhã. Você pode ficar aqui e dormir até amais tarde.

— Acho que prefiro levantar e ver minha menina antes de ela ir à escola. Além disso, temos muita coisa para fazer por aqui. — Ela olhou sugestivamente a porta do closet de Sarah. Emmett soube no mesmo instante no que estava pensando.

— Vou precisar ir atrás de caixas de papelão no mercado.

— Pode me deixar na casa de meu avô? Eu me troco, depois volto para começarmos com o empacotamento das coisas.

— Tudo bem. Eu vou lá acordar a Ollie agora.

— Adoraria acordar minha menina. Porém, sei o quanto é importante esse momento para os dois. Ollie precisa de momentos como esse em sua memória, e você cumprir com seu papel de pai. Encontro vocês lá embaixo em alguns minutos. — Beijou brevemente os lábios dele, se afastando, cedeu espaço para que pudesse se levantar.

Emmett vestiu as mesmas roupas da noite anterior. Não tinha tempo para procurar por outra agora. Não demoraria o ônibus escolar estaria passando em sua rua para levar Olívia à escola.

A ovelhinha de pelúcia caiu da cama durante a noite. Mas o cobertorzinho estava colado ao rosto de Olívia. Ele entrou no quarto tomando o cuidado de não tropeçar nos brinquedos espalhados no chão. O castelo de lego estava intacto, esperando pelo momento que Rosalie dedicaria algumas horas do dia para brincar com ela.

A velha cama rangeu com o peso de seu corpo ao sentar na beirada do colchão. Estendeu a mão, acariciando os cabelos ruivos, afastando alguns fios para longe do rosto. Pensando, que era criança mais linda que já viu. Mesmo depois da ida ao salão, ela continuava com os cabelos compridos, agora sem as pontas finas.

— Bom dia — cantarolou para ela.

Olívia se remexeu, ainda de olhos fechados.

— É hora de ir à escola. — Sabia que estava acordada, fazendo graça. Cutucou sua barriga estrategicamente fazendo cocegas. Olívia explodiu em risadinhas, se contorcendo até não está mais encoberta. Ela não sabia, mas, Rosalie ouviu suas risadinhas do quarto de Emmett, e acabou rindo com ela.

— Já acordei papai — respondeu entre risos. E sentou sem desgrudar do cobertorzinho. Afastando os cabelos do rosto com a outra mão.

— Vá se trocar, que o papai vai arrumar seus cabelos depois.

Olívia levantou carregando o cobertorzinho com ela. Quando estava para abrir a gaveta da cômoda, voltou e deixou-o embaixo do travesseiro. Emmett observou o cuidado com que fez isso.

— Sabia que Rose veio me dar um beijo de boa-noite?

— Papai está sabendo. Enquanto você se troca eu vou lavar o rosto e escovar os dentes. Já volto para pentear seus cabelos.

Momentos depois, ele desceu a escada segurando na mão pequena de Olívia. Os cabelos dela estavam perfeitamente alinhados em um novo penteado. Roupas e calçados novos. E o melhor de tudo, a felicidade, diferente de quando Rosalie a conheceu, estampada em seu rosto de traços delicados e diminutas sardas que lembravam canela salpicada.

Deu um pulo quando percebeu Rosalie no sofá da sala. Quis correr para lá, mas Emmett se recusou soltar sua mão, com medo que caísse na escada. Faltando somente um degrau a deixou livre para ir.

— Rose, você veio cedinho de novo — comentou, adorando que fosse assim. Correndo para seus braços.

Rosalie a apertou, sacudindo de um lado para o outro, propositalmente. Terminando com um beijo estalado no rosto.

— Sim, eu vim.

Emmett se aproximou trazendo a mochila dela na mão, deixando em cima do sofá.

Ao finalizar o abraço, Olívia notou que vestia pijama. As mesmas roupas que deixou a casa do avô já tarde da noite na companhia de Emmett.

— Você dormiu aqui?

— É… eu dormir, sim. — A resposta não podia ter deixado Olívia mais feliz.

— Onde você dormiu?

— Ollie — Emmett tentou ajudar —, tem panquecas para o café da manhã. Você não está com fome?

— Você fez panquecas, papai?

— Dessa vez, foi Rose quem fez.

— Eu gosto quando é ela que faz as panquecas também.

— Então, por que não vai lá provar uma?

Rosalie segurou na mão pequena dela. As duas se levantaram tomando o caminho da cozinha. Emmett foi logo atrás delas.

— Mas onde você dormiu? — insistiu Olívia.

Rosalie teve se segurar para não cair na risada, por ela não ter desistido de saber onde passou a noite.

— No sofá — respondeu.

Mesmo com a mão na dela, Olívia olhou para trás, verificando como estava o sofá da sala.

— Mas não tem cobertor nem nada lá.

— É que o papai já guardou tudo — emendou Emmett.

— Ei, Ollie! — Rosalie chamou sua atenção. — Você vai querer calda de morango ou mel em suas panquecas?

— Vou querer… um pouquinho dos dois.

Emmett acabou dando risada. Essa teria sido a resposta que a mãe dela teria dado.

Ainda caía uma chuva fina quando deu o horário de ir esperar pelo ônibus escolar. Rosalie se despediu dela na varanda. Emmett a levou no colo protegendo-a com um guarda-chuva. Colocando ela no ônibus quando esse parou e abriu a porta. Voltando para pegar o carro e levar Rosalie na casa do avô dela.

[…]

Fazia um tempo, estavam os dois rodeados de caixas de papelão dentro da suíte. Algumas das caixas completamente cheias, outras, ainda pela metade. Todos os pertences de Sarah, que ocupavam gavetas como as da cômoda, mesinha de cabeceira e penteadeira foram encaixotados. Produtos de beleza e higiene com a data de validade vencida foram separados para ir ao lixo.

Passando finalmente para o closet. Rosalie não mexeu em nada por conta própria. Tendo o cuidado de respeitar o passado dele e sua história. Em mais de uma ocasião, reconheceu que ficou mexido ao segurar um determinado objeto. Como quando segurou a escova de cabelos e o anel de noivado. Estava decidido deixar o passado no lugar dele, ainda que as lembranças o ferissem.

O closet estava praticamente vazio agora. Como mencionou antes, algumas poucas coisas foram separadas para ser entregue a Olívia; a caixinha de música, algumas joias entre quais estava o anel de noivado, o vestido favorito de Sarah, a escova de cabelos, o DVD de O Mágico de Oz, um ou outro bilhete escrito por ela.

Documentos dos quais não podia se desfazer, separou para guardar no cofre junto as fotografias e os vídeos caseiros. Separando também as partituras para violoncelo.

Não falaram muito durante esse processo. Não havia o que ser dito. Os sentimentos estavam ali a todo tempo para provar isso.

Quando já não restava mais nada no closet, Rosalie o deixou um instante sozinho. Precisava desse momento para selar mais uma fase do luto.

Emmett ficou no closet, observando as prateleiras vazias, percorrendo com os dedos onde antes havia roupas e acessórios de Sarah. Relembrando o amor pela mulher que precisou enterrar, quando tinham planos para um futuro juntos. O adeus era, sem dúvida, doloroso.

Saiu do closet com a sensação de que o ar lá dentro acabara. O violoncelo se exibia majestosamente ao lado de algumas caixas de papelão com os pertences dela. Como prometeu a Olívia, o violoncelo seria dela quando tivesse tamanho suficiente para usá-lo. Das poucas coisas que ficaria o violoncelo, sem dúvida, era uma delas.

Sentou na cama, as mãos unidas sobre o colo. O olhar alcançou a aliança de casamento, nada seria mais doloroso que tirá-la do dedo. Contornou o objeto dourado com os dedos da outra mão, criando coragem para fazer o que tinha de ser feito.

Rosalie voltou ao quarto naquele momento. Emmett se encontrava de costas para a porta, os ombros tremendo. Estava chorando. Ela se aproximou devagar, gentilmente colocando a mão em seu ombro. Percebendo então que retirava a aliança do dedo.

Sentou ao lado dele, aguardando em silêncio.

Emmett guardou no saquinho de veludo preto para depois enfiar no bolso dos jeans que estava usando.

— Já está tudo encaixotado… — arriscou Rosalie. Tomando cuidado em como poderia soar sua afirmação num momento tão delicado como aquele. — Está pronto?

Emmett balançou a cabeça.

— Sim.

Levariam todas as caixas à igreja para doação. A caixa com cartas e bilhetes escritos na época que namoravam foi separada das demais. E foi essa que ele segurou no colo ao falar.

— Após deixarmos tudo na igreja, quero que venha comigo a outro lugar.

— Tudo bem. — respondeu. — Vai ser como você quiser.

Emmett assentiu. Ficando um minuto inteiro em silêncio antes de se colocar de pé.

Tiveram de descer e subir a escada mais de uma vez carregando todas as caixas para a camionete até que não restasse mais nem uma sequer. Mais duas caixas foram retiradas do escritório.

A carroceria da velha camionete ficou carregada de caixas com as coisas de Sarah.

A chuva fina que caía de manhã cedo havia parado deixando umidade na vegetação, nas paredes e telhados.

Rosalie se acomodou no banco do carona. Aguardando que ele ocupasse o assento atrás do volante. O trajeto até a igreja foi feito em silêncio. Ocasionalmente tocava na perna dele, mostrando estar ali. E ele a olhava com gratidão e afeto.

Parou a camionete na parte detrás da igreja onde ficava o espaço destinado a doações. Todas as caixas foram levadas para dentro com ajuda do reverendo e de mais um rapaz que estava por lá.

Depois de a última caixa ser retirada, Emmett caminhou no em torno da igreja até chegar à parte da frente. Olhando no interior dela como esperasse uma resposta.

Rosalie foi atrás dele. Parando ao seu lado levando a mão as suas costas largas.

— Você está bem? — pediu, acompanhando seu olhar.

— Faz muito tempo não entro aí.

— Pode fazer isso agora. Basta dar apenas mais alguns passos. 

— Há muito tempo não falo com Deus.

— Ainda pode fazer isso. Nunca é tarde para falar com Deus.

— Por muito tempo acusei de ter me tirado tudo…

— Deus nunca fez isso. Consegue perceber agora?

Emmett anuiu.

— Ele me enviou Olívia. Permitiu que fosse seu pai.

Rosalie não pôde deixar de se sentir feliz com a resposta que deu.

— Sim — afirmou. — Vamos entrar? — insistiu. Emmett hesitou, mas acabou indo em frente.

Ela o guiou para o centro da igreja. Eram os únicos a estar lá dentro agora. Sentaram-se em um dos bancos à esquerda. Emmett olhou na direção do altar, depois no alto, nos vitrais coloridos. Fechou os olhos apreciando a sensação de paz e conforto. Sentiu Rosalie segurar sua mão, retribuindo ao apertar seus dedos em torno dos dela.

— Fale com Deus — sussurrou Rosalie. — Fale com Ele.

E Emmett falou. Em uma prece silenciosa pediu perdão por sua falta de fé nos últimos seis anos. Pelo pai desastroso que foi para Olívia, desde a morte de Sarah. Agradeceu a oportunidade de corrigir seus erros e ser uma pessoa melhor.

Antes de saírem o reverendo foi falar com eles. Lembrando a Emmett que a casa de Deus estava sempre aberta.

— Para aonde vamos agora? — De volta a camionete, Rosalie pediu.

Emmett colocou o cinto de segurança.

— Preciso levar as alianças a um lugar.

Rosalie tocou seu braço, incentivando a ir em frente.

Antes de a camionete parar, ela sabia onde estavam indo. Avistou as castanheiras sabendo que ali estava o Rio Chawan.

O motor da camionete foi parando gradualmente. Emmett se concentrou em olhar para frente onde passava o Rio. Pegou a caixinha deixando sobre as pernas antes de abrir a porta e sair do carro. Rosalie foi atrás dele. Ele parou na frente da camionete, e Rosalie fez o mesmo. Olhando adiante, pensava no passado. Aquele mesmo local foi palco de muitos piqueniques na companhia de Sarah. O último deles tinha sido poucos dias antes de ela partir. Ela adorava estar ali, era um de seus lugares favoritos.

Ele caminhou para as margens do Rio. Rosalie o acompanhou de perto.

Emmett se abaixou colocando a caixinha na água deixando que a correnteza a levasse embora. Logo depois levou a mão ao bolso retirando o saquinho de veludo. Deixou que o conteúdo dele caísse na palma de sua mão. Olhando o horizonte, virou a palma para baixo deixando as alianças caírem na água.

A surpresa pelo gesto fez com que Rosalie levasse a mão a peito. Ele acabava de dar adeus ao passado.

Quando olhou para ela, parecia aliviado. Seus olhos já não estavam mais tão cheios de dor como quando o encontrou retirando a aliança do dedo minutos atrás. Foi como libertasse a si mesmo e a memória de Sarah.

Ele lhe estendeu a mão. E ela aceitou, estendendo a sua de volta. Sentiu os dedos dele se apertar em torno dos seus. Sob o céu encoberto caminharam de volta para o carro.

— Ele também me enviou você — completou sem que ela esperasse.

[…]

Passava das duas da tarde, quando entraram pela porta da frente na casa dele. Emmett resolveu não trabalhar pelo resto do dia. Rosalie pediu o almoço deles pelo aplicativo de celular, e eles almoçaram sentados no sofá da sala com a televisão ligada num canal qualquer. Não estavam realmente prestando atenção no que era dito.

As três e quarenta saíram para esperar por Olívia no ponto de ônibus.

Rosalie afagou seu braço ao barulho dos freios avisando que Olívia logo estaria com eles. Os dois olhavam com ansiedade a porta ser aberta. Quando isso aconteceu, uma garotinha de cabelos ruivos sorriu para eles. Numa das mãos trazia a lancheira, na outra, um presentinho feito pela própria professora, por seu desempenho em sala de aula.

Emmett foi receber ela na porta. Beijando seu rosto ao retornar à calçada com ela no colo. Olívia passou o braço em volta do pescoço de Rosalie quando a distância entre elas se tornou pequena.

— Você e o papai estão juntos de novo — comentou, adorando que fosse desse jeito. E recebeu um beijo estalado na bochecha. — Olha só o que eu ganhei da senhorita Hannah.

— Uau! Parabéns, meu amor.

— Vamos colocar na porta da geladeira — sugeriu Emmett. Olívia concordou tão contente quando poderia estar. Logo a porta da geladeira estaria cheia com desenhos e condecorações escolares.

Enquanto Emmett carregou Olívia no colo para casa, Rosalie caminhou ao lado deles levando a lancheira. Ocasionalmente, a menina dava uma olhada se certificando que suas mãos não se tocavam. E cada vez que isso aconteceu, desejou que sim.

Entrou em casa correndo, depois de Emmett colocar ela no chão e abrir a porta. Deixou a mochila no sofá e correu para a cozinha. Emmett e Rosalie foram atrás dela, sabendo o que pretendia fazer.

A encontraram com os braços erguidos, tentando fixar a condecoração à porta da geladeira. Emmett foi até lá para ajudar.

— Obrigada, papai. — Ela prendeu com o imã, e ele a colocou de volta do chão.

Após o lanche e a lição de casa, Emmett subiu a escada com ela para entregar as coisas de Sarah que ficaram. Rosalie quis deixar os dois sozinhos, mas Emmett insistiu que estivesse junto.

Olívia notou que faltavam coisas no quarto, especialmente na penteadeira. Mas não questionou onde estavam. Emmett segurou sua mão pequena e a conduziu para junto da cama onde estavam os pertences de Sarah que foram separados dos demais.

Rosalie aguardou na porta.

Emmett soltou sua mão pequena para pegar a caixinha de música.

— De quem é papai? — O olhar curioso indo do objeto que o pai segurava para o rosto dele.

— Isto pertenceu a sua mamãe. — A carinha que fez o deixou ainda mais apaixonado. — E agora pertence a você.

— A mim?

— Sim, a você.

— Que linda que ela é. — Recebeu a caixinha com cuidado. — Que linda! — repetiu.

— Sua mamãe iria gostar que ficasse com ela.

— Por que ela me amava, não é?

— Sim, ela te amava muito. Muito mesmo. Agora você terá de cuidar muito bem da caixinha. E outras coisas que o papai separou para você.

— Ahã. — Sacudiu a cabeça. — Vou cuidar muito bem.

Ele segurou a caixa com as poucas joias dentro dela.

— Tem mais coisas aqui dentro.

— Mais? — Ela olhou do pai para Rosalie e novamente para ele.

— Sim. Como esses brincos e gargantilha. Foi um presente meu para sua mãe em nosso primeiro ano de casados. E este anel. — Ele mostrou o anel prateado com a pedrinha transparente. — Este foi o anel que dei a ela quando a pedi em casamento. Tem alguns aqui que foram dados pelos pais dela, seus avós. — Ele se virou pegando mais coisas na cama. — Esta é escova de cabelos que sua mãe usava. E seu vestido favorito. Também deixei isto. — Olívia sorriu ao ver o DVD de O Mágico de Oz. — E aqui estão alguns bilhetinhos que ela escreveu. Alguns são frases motivadoras, outros apenas lembretes.

— E agora são meus? Tudo isso que era da mamãe?

— Sim. Você só terá de esperar um pouco para usar as joias. Ainda é muito novinha. Se você quiser o papai pode guardar tudo no cofre onde estão as fotos e os vídeos. E também onde guardei as partituras e os documentos.

— Eu quero. Quero que guarde tudo pra mim, papai.

— Está bem. O papai vai guardar até que tenha idade suficiente para estar com elas.

— Por que lá estão seguras?

— Sim.

Ela olhou na direção onde ficava o violoncelo.

— E o celo, papai?

— Ele será seu também. Por enquanto terá de ficar aqui, no seu quarto não tem espaço suficiente para ele.

— Tá bom, papai. E eu vou aprender tocar com uma professora, não é?

— Vai, sim. Papai vai procurar uma professora de música para te dar aulas.

— Quero tocar celo igual à mamãe.

— Você vai.

Olívia assentiu, passando os braços miúdos em volta do pescoço dele.

Quando Emmett se colocou de pé, ela correu para junto da porta do closet.

— Eu quero ver, papai.

O olhar dele buscou o de Rosalie. Não chegou a falar sobre esvaziá-lo com Olívia.

— Por que, amorzinho? Por que quer ver o closet?

— Arco-íris gosta das coisas da mamãe.

— As coisas da mamãe não estão mais aí — foi cauteloso ao falar, estudando a reação dela.

— Eu sei. Arco-íris me contou.

— É?

— Uhun.

Ele se aproximou da porta do closet, então.

— Você sabe que mamãe aprovaria outras pessoas ficarem com as coisas dela, não sabe?

— Sim. Mas, só você — Ela olhou onde Rosalie estava — e a Rose que podem ficar comigo.

— Eu não ficaria um só dia sem você — respondeu emocionado.

Rosalie soprou um beijo para ela. Olívia sorriu voltando olhar a porta do closet. O pai abriu a porta devagar. Ela entrou olhando as prateleiras vazias com atenção.

— Não tem mais nada, Ollie. — Emmett falou com cuidado.

— Posso ficar só um pouquinho?

— Por que, amorzinho?

Como ela não respondeu, ele buscou o olhar de Rosalie. Ela respondeu ao estender a mão.

— Acho que ela quer se despedir também.

Ele aceitou sua sugestão, se dobrando para beijar no alto da cabeça de Olívia.

— Qualquer coisa, o papai vai estar lá embaixo com a Rose. Você pode descer ou pode apenas dar um grito. Então estarei com você num instante.

— Tá bom, papai.

Mesmo sem querer deixá-la ali dentro sozinha, acompanhou Rosalie para fora do quarto, pelo corredor e escada até chegar ao térreo.

Pouco menos de dez minutos, após deixar Olívia sozinha lá em cima, ouviram seu grito no alto da escada.

— Papai, papai.

Emmett sentiu no tom de voz o desespero, quando chamou por ele chorando. Tanto ele quanto Rosalie saltaram do sofá em simultâneo, apressando-se em subir a escada. Emmett chegou a Olívia antes dela, e a pegou no colo. Tendo o cuidado em verificar se estava machucada.

— Ela está bem? — Rosalie pediu.

— Parece que sim.

Voltaram para a sala com Olívia ainda chorando. Emmett sentou com ela no colo. Rosalie segurou as mãos pequenas nas suas.

— O que aconteceu? Fala para mim, anjinho?

O olhar triste de Olívia foi do pai para ela.

— Arco-íris se despediu — soluçou. — Ela foi embora.

Rosalie teve o cuidado de afagar suas costas, tentando acalmá-la.

— Vai ficar tudo bem, Ollie. Você não está sozinha. Tem o seu papai. Tem a mim, suas amigas da escola, o vovô Norman. E até a vovó Cheryl, que já disse que vem te visitar em breve.

Emmett beijou o rosto molhado de lágrimas da filha.

— Lembra que o papai falou sobre você não precisar mais da Arco-íris, na noite que você chorou, por ela estar te preparando para  a despedida?  Ela agora deve estar indo cuidar de outra garotinha como cuidou de você. Não precisa ficar triste. Tem um monte de gente que quer ficar perto de você. Que te ama. Arco-íris precisou ir agora, mas será sempre sua amiga querida.

Olívia estendeu os braços, passando então para o colo de Rosalie.

— Não quero perder mais ninguém… — murmurou com a cabeça no ombro de Rosalie. Suas palavras foram fundo no coração dela, porque, mais cedo ou mais tarde, teria de voltar a Atlanta, ainda que não fosse definitivo.

O olhar preocupado de Rosalie encontrou o de Emmett. Ela soube naquele momento que pensava o mesmo. Ele também não queria perder mais ninguém, estava saturado de perdas e danos.

Ergueu a mão para tocar na nuca dele. Emmett fechou os olhos compartilhando do mesmo medo que a filha; perder Rosalie. Sua testa tocou a dela. Os olhares tornaram-se um só. Ela roçou os lábios aos dele sem que Olívia percebesse.

Respeitando o choro da filha, ele se afastou, permitindo a ela receber o carinho da única mãe que conheceu.

Quando Olívia se acalmou, Rosalie a levou para o banho.

Mais tarde, os três saíram para jantar com Norman na casa dele. Estavam precisando de um pouco de distração. Aquele foi um longo dia, permeado de lembranças e despedidas.

 


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Notas finais do capítulo

Postei uma one-shot de Natal, vou deixar o link aqui, caso alguém tenha interesse em ler.
https://fanfiction.com.br/historia/798170/Um_Natal_Para_Se_Apaixonar/

Seria massa encontrar vocês nos comentários. Deixe umas poucas palavrinhas para mim, se você gostou do capítulo de hoje. Obrigada!