Um Caminho Para O Coração escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 31
Capítulo 30 — Quero Um Amor Por Inteiro


Notas iniciais do capítulo

Vou deixar aqui o link de minha recente oneshot de halloween, caso alguém, que ainda não viu, queira dar uma passadinha por lá: https://fanfiction.com.br/historia/796742/O_Palhaco/



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Após deixar Olívia no quarto dela distraída com um dos presentes do dia anterior, o balde de lego gigantesco, Rosalie foi deixar no quarto de Emmett o jogo de cama novo que comprou. A cama da menina já estava pronta com o jogo novo das princesas Disney. Agora tinha também uma manta nova com estampas de unicórnios para se encobrir.

Deixou as sacolas junto à cama, parando um instante para avaliar todo o quarto. A presença constante dos pertences de Sarah nunca a incomodou tanto quanto nas últimas horas.

Era difícil não encontrar, em cada parte da casa, algo que tivesse pertencido a ela. Mesmo na garagem, o carro ainda estava lá, encoberto por uma capa preta. Porém, a concentração maior estava no quarto deles.

Ficou assustada ao abrir o closet que pertenceu a Sarah, todas as suas coisas estavam lá como fosse voltar para casa a qualquer momento. Mesmo seis anos após sua morte. Tirando o cheiro de mofo, não havia qualquer outro sinal de abandono. O que levou pensar que Emmett aspirava o pó ocasionalmente.

Sentiu-se estranha lá dentro. Chegou sentir arrepio em dado momento. Pensando, ser mórbido demais esperar que alguém que morreu há tanto tempo volte a fazer parte de sua vida. A verdade é que um pouco dele havia morrido com Sarah, e só agora, tanto tempo depois, voltava a viver.

Não pôde resistir ao impulso de pegar uma das caixas floridas que encontrou no alto, usando o banquinho que encontrou lá dentro para alcançar. Foi estranho pensar que Sarah havia feito um dia exatamente o que estava fazendo agora, subindo no mesmo banquinho para alcançar a caixa.

Levantou a tampa da caixa, encontrando somente papeis no nome da falecida; faturas de cartões de crédito, documentos pessoais, entre outros. Também encontrou o obituário onde aparecia o nome dela. Ainda na mesma caixa encontrou a fotografia de um casal: o homem de cabelos loiros, alto. E a mulher, com cabelos na cor caramelo. Seu rosto em formato de coração, pequena, magra, lembrava as mocinhas da época do cinema mudo. Foi difícil acreditar que uma mulher de aparência tão bondosa fosse capaz de renegar a própria neta. O único vínculo que lhe restou com a filha. Atrás da fotografia estava escrito “papai e mamãe”.

Não teve dúvidas que se tratavam dos pais de Sarah. Imaginou se alguma vez Olívia os teria visto, mesmo em fotografia. Logo concluiu que não, até pouco tempo nem sabia como se chamavam. Colocou de volta na caixa e a devolveu ao lugar.

Era dever de Emmett mostrar a filha o que dizia respeito aos avós maternos, ou mesmo paternos. Numa segunda caixa, encontrou bilhetinhos, lembranças de um namoro adolescente, que começou escondido dos familiares dela. Uma carta de admissão numa das melhores escolas de música na Itália. Imaginou a menina apaixonada, tendo de enfrentar os pais para ficar ao lado de seu grande amor. Não a culpava, Emmett era apaixonante, quando não estava tentando destruir a si mesmo. Conseguiu enxergar por que estava tão apaixonada. Não conseguiu continuar lendo, eram íntimos demais. Partiu para outra caixa, na qual estavam partituras para violoncelo.

— O que está fazendo? — A voz de Emmett soou atrás de suas costas causando um sobressalto. Uma das pastas com as partituras escorregou de suas mãos indo para o carpete. Seu olhar assustado encontrou o olhar de Emmett. Havia algo diferente naquele olhar. Podia jurar que era raiva. — Perguntei o que está fazendo?

De repente, ela parecia não saber o que fazer com as mãos.

— Emmett… — murmurou — você me assustou. — Ergueu uma das mãos na tentativa de tocar nele, mas ele recuou, negando seu toque. Deixando a situação ainda mais desconfortável.

Então ele se abaixou recolhendo as partituras que deixou cair.

— Não deveria estar aqui dentro — se queixou.

— Me desculpe. — Ela se abaixou para ajudar. Ele mostrou recusa afastando tudo para longe de suas mãos.

— Perguntei o que estava fazendo aqui?

— Eu só vim trazer o jogo de cama que comprei… — Se colocou de pé sabendo que a estava rejeitando. Não pôde evitar se sentir magoada com a reação dele. Deixou-se levar pela curiosidade esquecendo que era um risco mexer nas coisas de Sarah.

— Então resolveu bisbilhotar? — acusou. — Zombar de meus sentimentos?

— Não. — Ela balançou a cabeça, desacreditada. — Nunca zombei de seus sentimentos.

Emmett se levantou, guardando as partituras de volta no lugar.

— Não pode guardar as coisas dela para sempre. — Se atreveu dizer.  — Isso não é saudável nem para você, nem para Ollie. Sarah não vai voltar Emmett.

Incomodado, ele levantou a voz:

— Acha que eu não sei disso? Deixei que entrasse nesta casa, até mesmo em minha vida. Mas não que mexa nas coisas dela.

— Você precisa se desfazer de tudo isso.

— Não vou jogar as coisas dela fora porque você está mandando.

— Não estou mandando. Estou apenas tentando te fazer entender que permanecer com tudo isso só te faz mal. Também não disse que jogasse fora. Você pode doar.

Ele levou as mãos ao rosto, nitidamente confuso. Sofrendo.

Após um segundo em silêncio, Rosalie voltou falar:

— Não quero um amor pela metade… Quero por inteiro. Não saí de um relacionamento quebrado para entrar em outro.

— Então, eu não sei o que fazer… — respondeu ele.

Rosalie chegou mais perto, acariciou seu rosto e também sua barba. Emmett segurou suas mãos, apertando os olhos, antes de afastá-la. Doeu perceber o quanto ainda estava ligado ao passado.

— Saía! — O tom de voz estava entre desespero e mágoa.

— Está me pedindo para sair do closet, do quarto ou de sua vida? — Seus olhos se encheram de lágrimas no momento da pergunta, afastando com a mão quando lhe molharam o rosto.

— Só me deixe sozinho. Vá para a casa de seu avô.

Ela balançou a cabeça se esforçando para não chorar.

— Tudo bem, se é isso que você quer. Só vou me despedir de minha menina.

— Não — rapidamente ele interveio. — Não vai fazer isso. Não vai se despedir dela.

Ficou espantada com o que ouviu.

— Não posso sair sem me despedir, Ollie vai perceber. Isso vai deixá-la triste.

— Quer se livrar das coisas da mãe dela. Quem me garante…

— Não termine de dizer o que está pensando — Rosalie avisou. — Me magoaria demais e, acredite, não teria volta. Eu vou sair de sua casa como está pedindo. — Ela saiu do closet. — Só me avise se for para sair de sua vida também.

Emmett a acompanhou até o topo da escada. O que a fez pensar se teria sido para garantir que não veria Olívia antes de sair.

Um olhou no rosto do outro. Ela o magoou em falar em se desfazer das coisas de Sarah. Mas, ele a magoou também em não deixar claro sua importância na vida dele, e mais ainda, negando que desse um beijo de boa-noite em Olívia. Desceu a escada lutando contra a vontade de chorar.

Olívia saiu do quarto, olhou de um lado a outro no corredor, viu Emmett próximo à escada e foi para lá.

— Papai…

Ele se esforçou em não demonstrar a ela como realmente se sentia.

— Oi, amorzinho.

— Você chegou. Mas onde que tá a Rose? Ela já acabou de arrumar o jogo de cama que comprou para você?

Ele a pegou no colo.

— Rose já foi embora.

— Não foi, não. Ela não se despediu de mim.

— Ela já foi, Olívia.

Rosalie estava prestes a sair, a mão na maçaneta da porta, reconhecendo desapontamento na voz da menina.

— Estava com pressa por isso não se despediu.

— Mesmo com pressa, ela sempre se despede de mim — Olívia se negou aceitar. — Eu queria mostrar a ela o castelo de lego que eu fiz.

— Você pode mostrar para o papai. Onde foi que montou o castelo?

— No meu quarto.

Não podia mais ouvir mentindo para Olívia sobre ter ido embora sem se despedir. Muito menos ouvir a menina lamentar sua ausência. Saiu para a varanda, fechando a porta atrás das costas. Cruzando o que um dia foi um lindo jardim, imaginou que nunca se identificou tanto com sua imagem sombria e angustiante como agora.

Emmett levou Olívia no colo até o quarto. Ao colocá-la no chão percebeu o jogo de cama novo na cama antiga que um dia colocou ali sem se importar com a aparência ou mesmo conforto.

— Esse é o castelo, papai.

Percebeu que estava feliz por estar com ela, vendo o castelo de lego, mas também estava triste por Rosalie não estar presente. O plano inicial era que Rosalie visse o castelo primeiro e dissesse o que achou.

— Ficou lindo, amorzinho. — Ele se sentou ao lado do castelo de lego. — Deve ter levado horas para ficar pronto. É muito grande.

— Uhun. — murmurou Olívia. E foi sentar no colo dele. — Papai?

— Oi?

— Depois do jantar, você liga pra Rose? Quero falar com ela.

— O que quer falar com ela?

— Quero dar boa-noite.

Emmett encostou os lábios em sua têmpora dando um beijinho.

— Não sei se ela vai querer atender.

— Ela quer sim. Ela disse que posso ligar sempre que eu quiser.

— É que vai aparecer o número de meu telefone.

— Não entendendo.

— É, eu sei. — Ele afagou seus cabelos ruivos. — Um dia, quando for maior, vai saber do que estou falando.

— Ela gosta de você papai. Vai atender ao telefone mesmo ele sendo seu.

Emmett tentou mudar de assunto.

— Quer brincar que a Barbie é a rainha desse castelo?

Funcionou, porque, ela deu um pequeno sorriso e foi pegar as bonecas em cima da cama.

[…]

— O que aconteceu? — questionou Norman ao ver Rosalie chegar em casa como chegou, com lágrimas no rosto, visivelmente magoada.

Rosalie cruzou a sala tomando o caminho da escada.

— Estava na casa de Emmett com a Abobrinha. O que aconteceu? Foi algo com a menina? — olhando para ela concluiu: — Não. Foi com você mesma. O que ele fez ou disse para te deixar assim?

— A gente meio que discutiu. Eu disse coisas que o magoou. E ele disse coisas que me magoaram também. Me desculpe, não quero falar sobre isso agora vovô. — Ela desapareceu escada acima, deixando Norman sem entender muito bem o que aconteceu para os dois saírem magoados.

Ela entrou no quarto que pertenceu à mãe quando menina, fechando a porta. Precisava ficar sozinha agora.

Norman foi até lá. Parou diante a porta com o punho erguido, desistindo de bater quando a ouviu chorando. Voltando, então, ao térreo.

[…]

Depois que Olívia dormiu, Emmett ficou perturbado em relação ao desentendimento com Rosalie. Não conseguiu jantar e agora não conseguia dormir. Desejou poder beber um pouco. Pensou em Olívia, a única capaz de fazer desistir. Estava surtando. No alto do desespero, ligou para o terapeuta.

Mesmo após desligar o telefone, ficou um tempo pensando no que fazer. Passava da meia-noite. Olívia estava dormindo há bastante tempo. Sendo tão tarde, o único jeito era tirar ela da cama. Então foi o que fez, antes de entrar no carro e dirigir para a casa de Norman.

Àquela altura as ruas estavam completamente vazias. A temperatura caiu alguns graus desde que o sol se escondeu com a chegada da noite, e ele precisou encobrir bem a menina.

Olhou Olívia dormindo em seu assento no banco de trás, embrulhada com cobertores em excesso. O cobertorzinho preso entre seus braços.

Desejou poder ir mais rápido. Pensando na segurança da menina, resistiu ao impulso de pisar no acelerador. O barulho do cascalho sendo esmago pelas rodas ao entrar no caminho que levava a entrada de veículos, na casa de Norman, junto ao barulho do motor eram os únicos sons.

Percebeu uma luz acesa no térreo. Outra, pouco mais fraca, que imaginou ser um abajur, no segundo andar. Pensou, aquele pudesse ser o quarto que Rosalie estava ocupando na casa do avô.

Olhou mais uma vez Olívia dormindo no assento dela. Saiu do carro, fechando a porta devagar. Deu mais uma olhada na menina através do vidro da janela, antes de se virar e caminhar para a varanda de Norman. Mesmo sabendo que o horário não era adequado, tocou a campainha.

Norman ainda não tinha ido dormir. Preocupado com a neta que não saiu do quarto desde que chegou da casa de Emmett. Ele levantou e acendeu as luzes na varanda, espiando por detrás das cortinas o lado de fora. Avistou a caminhonete de Emmett, estacionada na entrada de veículos.

Imaginando o que poderia querer uma hora daquelas. Depois de ter feito sua neta chorar. Abriu a porta, decidido mandar que fosse embora. Estava zangado, e não fez questão de esconder.

— Você já viu que horas são? — foi a primeira coisa que disse quando pôs os olhos nele.

— Preciso falar com Rose — Emmett foi dizendo.

— Não vai falar com minha neta.

— Não vou embora sem falar com ela antes.

— Escute aqui rapaz, você prometeu não magoar minha neta. Garantiu tratar ela com respeito e cuidado. Eu aprovei sua atitude. Minha neta estava radiante com esse início de relacionamento. Não sei o que disse ou fez para deixá-la tão triste. Em pouco tempo, quebrou a promessa de fazer minha neta feliz.

— Não queria que tivesse sido assim. — Emmett tentou. — Não foi de propósito. É importante que eu fale com ela agora. Preciso corrigir meu erro. Diga que estou aqui.

— Não vou deixar que fale com ela. Volte para sua casa, já é tarde. Depois, se ela quiser falar com você, irá procurá-lo. Agora volte para casa. — Norman fechou a porta, deixando Emmett aflito.

Ele bateu com o punho na porta.

— Diga que estou aqui.

— Vá embora, Emmett. Isso não é hora de conversas.

Emmett saiu da varanda, olhando no alto, na direção da janela com a iluminação fraca.

— Rose? Rose! — gritou para o alto.

Norman tornou abrir a porta da frente.

— Já chega, Emmett! — falou com voz firme. — Não vai falar com minha neta.

Emmett ignorou seu pedido, chamando por Rosalie outra vez.

— Rose? Eu não vou embora até falar com você, mesmo que tenha de passar a noite inteira aqui fora.

Norman estava para sair na varanda, quando Rosalie apareceu tocando em seu braço para avisar que estava ali.

— Pode deixar vovô. Eu vou falar com ele.

— Já está tarde. Ele não está merecendo ser recebido, muito menos essa hora.

— Por favor, vovô. Ele parece atormentado. É melhor que eu fale com ele de uma vez. Não vou arriscar que passe a noite embaixo de minha janela, no frio. O senhor pode ir se deitar. Eu cuido de tudo por aqui.

— Não vou me deitar sabendo que está com ele uma hora dessas, depois de tê-la magoado.

De onde estava Emmett percebeu que Rosalie falava com o avô. Voltando alguns passos na direção da varanda, na esperança de encontrar com ela.

— Vou ficar bem aqui, na sala. Se precisar de mim, você me chama.

— Tudo bem, vovô. Garanto que não vai ser necessário. Mas, se te deixa tranquilo, tudo bem, pode ficar aqui e esperar nossa conversa terminar.

Emmett sentiu um alívio enorme ao ver Rosalie sair para a varanda. Ela já estava de pijama, claro. Ele era de inverno, ainda assim não foi suficiente para mantê-la aquecida do lado de fora da casa uma hora daquelas, mesmo que ainda em meados do outono.

Ela juntou os braços junto ao corpo, caminhando alguns passos em sua direção.

— O que está fazendo, Emmett?

Ele subiu os poucos degraus na varanda indo ao encontro dela.

— Preciso falar com você.

— Não poderia esperar até amanhã?

— Não. Eu estava pirando.

— Onde está a Ollie? Não a deixou sozinha em casa, deixou?

Emmett percebeu pelo de tom de voz que estava zangada com a ideia de ele ter deixado a menina sozinha.

— É claro que não. Ela veio comigo, está dormindo dentro do carro.

— Tirou a pobrezinha da cama só para vir até aqui?!

— Não podia esperar para amanhã. Nem deixar ela sozinha. Foi minha única alternativa trazê-la comigo.

— Você não tem juízo.

— Por favor, me escute. — Percebendo que tremia de frio, retirou o próprio agasalho colocando sobre os ombros dela. Ele estava com uma segunda camisa de mangas compridas por baixo, conseguindo aguentar firme a brisa gelada.

Ela aceitou de bom grado. Percebendo que cheirava ao perfume dele, sentiu-se confortável com o cheiro familiar.

— O que quer falar, Emmett?

— Não queria ter dito o que disse. Por favor, me perdoe. Eu não quero que saia de casa, tampouco de minha vida. Nunca quis que isso acontecesse.

— Não parecia ter dúvidas quando me pediu para sair de sua casa horas atrás.

Tocou no braço dela, na altura do cotovelo, agindo pelo desespero.

— Não — afirmou. — Em momento algum senti certeza sobre isso. Você foi a melhor coisa que aconteceu em nossas vidas durante muito tempo.

— Não deixou me despedir de minha menina. Tem ideia do quanto isso me magoou? Eu a ouvi perguntar por mim quando estava de saída.

— Eu não pensei no que estava fazendo, Rose.

— Quantas vezes mais vai agir assim, sem pensar, e magoar a mim e a Olívia?

— Me perdoe. De verdade, não quero ser essa pessoa. Não quero te perder. — Ele tentou abraçá-la, Rosalie recuou um passo.

— Quero um amor por inteiro. Não mereço migalhas. Sobras do que ofereceu a Sarah enquanto estiveram juntos.

Tentou mais uma vez se aproximar.

— Eu também — declarou ele. — Não quero mais viver desse jeito. Quero estar inteiramente com você e Olívia.

Rosalie meneou a cabeça.

— Não vai viver outro amor por inteiro enquanto estiver cultivando o amor que teve por Sarah. Tornando sua casa um mausoléu. Precisa se livrar de uma vez por todas do passado. E o único jeito de fazer isso, é esvaziando o closet que foi de Sarah.

— Meu terapeuta disse algo parecido com o que está me dizendo agora. — Arriscou outra vez, estendo a mão para ela. — Não fuja de mim — pediu. Parecia sofrer com o fato de ela se afastar cada vez que tentava uma aproximação. — Me deixe te tocar — pediu outra vez. — Quando te toco sinto que estou vivo… Não vou te machucar.

Rosalie hesitou um instante.

Emmett a tomou para si, acolhendo o corpo dela ao seu. Recordando como se tocaram na noite que fizeram amor e mesmo na noite que trocaram apenas alguns beijos. Poder tocá-la, mesmo que apenas num abraço, o livrou do sentimento de perda e desespero.

Ela se permitiu sentir a gostosa sensação de estar nos braços dele novamente. A voz grave e, ao mesmo tempo, triste, soando em seu ouvido.

— Me perdoe…

Afastou os braços que até então mantinha cruzados juntos ao peito, abraçando a cintura dele de volta.

— Vou fazer o que está me pedindo… Vou tirar as coisas de Sarah do closet. Mas vou precisar de sua ajuda.

— Eu te ajudo — confirmou ela.

Emmett segurou seu rosto entre as mãos.

— Preciso deixar uma coisa ou outra para Olívia. Você entende? As fotos, os vídeos. E mais alguma coisa que ela possa guardar como recordação da mãe. Ela vai querer isso.

Um meneio de cabeça mostrou que Rosalie concordava.

— Eu sei.

Um fraco sorriso quis desenhar os lábios dele. Aliviado, por ela conseguir entender.

— Me diga o que posso fazer para me redimir com você?

— Nunca mais faça algo que possa magoar minha menina, que já está de bom tamanho.

— Eu prometo. — Ele tornou abraçá-la. Com uma das mãos acariciou seus cabelos, então, plantou um beijo no alto de sua cabeça. — Venha comigo — pediu. — Você pode colocar Ollie na cama como gostaria de ter feito.

— Está me chamando só pela Ollie ou por você também?

 — Por mim também. Preciso ter certeza que não ferrei com tudo de novo. Quero poder sentir ao seu perfume à noite inteira. O peso de sua mão no meu peito enquanto dorme.

— E a Ollie?

— Mais cedo ou mais tarde vamos ter de falar com ela.

— Tudo bem.

— Isso é um sim?

— Sim.

Emmett a beijou no canto dos lábios.

— Vou falar com meu avô — avisou. — É melhor você esperar aqui.

— Me deixe falar com ele.

— Só espere aqui, está bem?

Emmett anuiu. E foi esperar encostado na balaustrada da varanda.

— Você vai mesmo passar a noite com ele, depois de ter chegado aqui mais cedo chorando? — Norman pediu, após ser informado por ela que iria com Emmett.

— Está tudo bem vovô. Já nos entendemos. Ele se desculpou. A Ollie está no carro, eu quero colocar ela na cama. Não consegui fazer isso mais cedo. Deixei minha menina desapontada.

Norman estendeu as mãos alcançando as dela.

— Não permita que use a menina para te manipular.

— Ele não está fazendo isso. Eu gosto dele… Acho que gosta de mim também. Por favor, se puder não ficar contra mim.

— Eu jamais faria isso, minha querida. — Norman a abraçou. — Nada me faria ficar contra você. A minha Pipoquinha.

Rosalie sorriu, ouvindo seu apelido de infância.

— Obrigada, vovô.

— Me deixe dar uma palavrinha com ele antes?

— Não vai brigar com ele.

— Estou preocupado com você. Fique tranquila, não vou brigar.

Ela segurou nas mãos do avô, dando um beijo no dorso, antes de saírem para a varanda. Emmett se virou assim que ouviu a porta ser aberta. O olhar passou de Rosalie para Norman, temendo o que viria a seguir.

— Eu sei que a vida não tem sido nada fácil para você. Que cada dia é uma luta. Mas eu não posso permitir que os problemas que enfrenta torne minha neta um alvo. Estou permitindo que vá com você, agora, se ela voltar chorando, por qualquer coisa que você tenha feito, será a última vez que o recebo nesta casa.

— Não vai acontecer. — Emmett estendeu a mão para Rosalie. Norman capturou o gesto com o olhar. Rosalie se colocou ao lado de Emmett, suas mãos unidas.

— Quero acreditar que está falando a verdade. — Antes de voltar para dentro de casa, completou: — Pelo amor de Deus, leve minha Abobrinha para cama dela.

Rosalie observou o olhar envergonhado de Emmett.

— Ainda não acredito que tirou minha menina da cama — comentou ao se colocar no assento do carona, na caminhonete dele. Olhando Olívia dormindo devidamente presa a seu assento no banco de trás.

— Precisava me desculpar com você — murmurou ele.

— Pelo menos não deixou minha menina sozinha.

[…]

Emmett entrou em casa pela porta na garagem, que dava acesso à cozinha. Ele carregava Olívia adormecida no colo. Rosalie ignorou o carro de Sarah na garagem, encoberto pela capa empoeirada.

Ele subiu a escada levando a menina para a cama. Rosalie reparou no castelo de lego assim que entrou no quarto de Olívia.

— Era o que ela queria mostrar? — sussurrou.

— Sim — ele surrou em resposta.

Rosalie se aproximou da cama, terminando de encobrir Olívia. Como sentisse sua presença, ela abriu os olhos preguiçosamente.

— Rose — sua voz soou débil. Estava com muito sono, às pálpebras pareciam pesadas demais —, você está aqui.

Recebeu de Rosalie um beijo na pontinha do nariz.

— Estou, sim. Volte a dormir, meu anjo.

A menina se virou de lado.

— Eu queria que visse meu castelo de lego.

A mão de Rosalie afagou suas costas.

— Acabei de ver, ficou lindo. Amanhã podemos brincar juntas, se você quiser.

— Papai brincou… — respondeu e, no minuto seguinte, estava dormindo de novo.

Rosalie foi com Emmett para o quarto dele. Ele não esperou que dissesse nada, caminhou até a mesinha de cabeceira e recolheu o porta-retratos com a foto de Sarah levando para o closet. Rosalie percebeu, mas não chegou mencionar nada a respeito. Em vez disso, pegou o jogo de cama novo que ficou na sacola.

— Deixe que te ajudo — ele ofereceu. Recolheu o antigo jogo de cama e Rosalie estendeu o novo sobre o colchão. — Se você não se incomodar, podemos esvaziar o closet quando Olívia estiver na escola amanhã.

A oferta pegou Rosalie de surpresa. Ela tinha um quase sorriso quando levantou os olhos para olhar para ele.

— Parece perfeito para mim.

Deitou ao lado dele na cama. Os lençóis cheiravam a novo. Falaram um pouco mais sobre se desfazer do passado, e outros assuntos corriqueiros. O dia estava quase amanhecendo quando voltaram a fazer amor. Sem pressa. Sem medos. Sem culpa. Emmett sentia que estava pronto para recomeçar. E Rosalie acreditando ter encontrado o amor que sempre buscou. Evitando pensar em seu retorno a Atlanta. O momento de sua partida magoaria não só a si mesma, a Emmett e a Olívia, também.

 


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