Um Caminho Para O Coração escrita por Sill Carvalho, Sill


Capítulo 30
Capítulo 29 — De repente, Estou Aprendendo Amar De novo




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Os créditos finais subiam na tela ao final do filme. Alice esteve tão entretida em uma conversa no aplicativo de mensagens que nem mesmo percebeu quando isso aconteceu.

Megan se levantou do colchonete, e subiu na cama deitando a cabeça no travesseiro que Alice usava. Lendo parte da conversa dela.

— Falando com Jasper, seu namorado?

— Menina — Alice escondeu a tela do celular. — Não pode sair por aí lendo mensagens que não são suas. Eu, hein. Chega pra lá. Que coisa!

Megan se afastou dando risadinhas.

— Tia Alice, o filme acabou. O que vamos fazer agora?

Alice se levantou e foi desligar a televisão.

— Todo mundo escovando os dentes para dormir.

Cinco garotinhas gemeram em protesto. A energia delas pareciam não ter fim.

— Ah, qual é? — comentou Alice. — Não é possível que não estejam cansadas. Já fizeram de tudo. Estou acabada, me recuso aceitar que seja por estar ficando velha.

— Sua tia é engraçada — Stacy comentou.

— Todo mundo em fila indiana. A menorzinha na frente. Vem Olívia, este é o seu lugar. Você é a primeira.

Olívia se posicionou no início da fila. Alice abriu a porta e ficou contando os números como fossem soldados a marchar, a caminho do banheiro. Colocou pasta de dente em cada escova, com tema de personagem infantil. Chegada vez de cuspir, estavam todas em fila outra vez para usar a pia.

Na volta, Megan entrou no quarto dos pais para desejar boa-noite.

— Todo mundo para o seu colchonete. — Alice não perdeu tempo. — Não quero nenhuma garotinha tentando escapar de dormir.

Olívia foi para o seu. Receosa, retirou o cobertorzinho da mochila. Alice ficou alerta para que não surgissem comentários negativos e acabassem por magoar Olívia. Mas ninguém disse nada. Uma das gêmeas estava agarrada a uma boneca.

— Todo mundo fechando os olhinhos. — Notou Olívia quietinha enquanto as outras não paravam de falar. Então foi se sentar ao lado dela. — Está tudo bem por aqui?

— Tô com saudades do papai.

— Quer telefonar para falar com ele? Eu te empresto meu celular.

— Não precisa. Obrigada, Alice.

— Tem certeza?

— Uhun.

— Está bem. Eu vou dormir na cama da Megan essa noite. Se precisar de alguma coisa, você pode me chamar.

— Alice?

— Sim?

— Posso fazer minha oração agora?

Alice afagou seus cabelos ruivos.

— Com certeza.

Olívia juntou as mãos em frente ao peito e fechou os olhos.

— Meninas — Alice chamou atenção. — Por favor, façam silêncio, a amiga de vocês vai fazer uma oração agora. — O quarto ficou em silêncio, respeitando seu pedido.

— Querido papai do céu. Obrigada por está noite divertida com minhas amigas. Pelo lanche saboroso que a mamãe da Megan preparou. Por Alice ser tão legal. Por favor, cuide do papai, da Rose, do vovô Norman. E também da vovó Cheryl. E, por favor, não tire nenhum deles de mim. O senhor já tem a mamãe aí ao seu lado. Também quero agradecer por minha amiga Arco-íris. E por todas as outras que me enviou depois. Em nome de Jesus, amém.

Ao final de sua oração, encontrou as outras crianças, também Alice, de olho nela. Envergonhada, abraçou o cobertorzinho. Para sua surpresa, as meninas juntaram as mãos como tinha feito antes iniciando cada uma sua própria oração.

Alice deu um beijo de boa-noite em cada uma das meninas. Na vez de Olívia, fez questão de dizer:

— Eu tenho certeza que ele te ouviu.

As crianças deram boa-noite umas as outras. Pouco a pouco, o silêncio foi chegando e garotinhas exaustas não puderam mais resistir ao sono.

[…]

Empurrando a porta do quarto com o pé, Emmett carregou Rosalie para a cama. Os longos cabelos louros se espalharam pelo travesseiro. Parou um instante, observando seu belo rosto, traçando o contorno na ponta dos dedos.

Rosalie não conseguia deixar de olhar nos olhos dele, enfeitiçada por tudo o que fazia desde que entrou pela porta da frente como convidada para um jantar a dois.

Dobrando o corpo sobre o dela, ele a beijou devagar. Ela estava apreciando cada sensação, cada toque. Emmett se afastou apenas o suficiente para retirar a camisa por cima da cabeça. Os olhos de Rosalie se prenderam nos músculos de seu abdômen.

Com ele beijando todo seu pescoço, se pegou encarando a foto de Sarah na mesinha de cabeceira. Essa tinha parado ali, depois de ele dar a outra para Olívia. Estendeu o braço deixando o porta-retratos com a imagem da falecida espoa dele virada para baixo.

O incomodo pela foto deixou de ter importância no momento que deixou de vê-la. Emmett tomou seus lábios num beijo forte, como quando se beijaram a primeira vez. Não duvidava que em breve os lábios parecessem maiores. Sentiu como uma promessa de como terminariam aquela noite.

[…]

Acordou com a mão dele acariciando sua barriga sob o cobertor. O aquecedor ligado, vez por outra emitia um estalido. Um sorriso preguiçoso desenhou seus lábios. Tinha certeza de os cabelos estarem uma grande bagunça, depois da forma voraz com que se amaram noite adentro.

Chegou ainda mais perto, tocando o rosto dele com as pontas dos dedos. Se permitindo apreciar a textura de sua barba. Sentiu um arrepio com a lembrança da barba roçando sua pele enquanto faziam amor. Apertou os olhos, suspirando.

Emmett soube no que estava pensando ao ouvi-la suspirar. Havia desejo naquele som. Eles voltaram a fazer amor ainda no início da manhã, sem a explosão que foi durante a noite. Sendo quase sútil. Adormecendo mais uma vez, nos braços um do outro.

Ele sentou na cama algumas horas depois. Enquanto ela dormia de bruços, afastou seus cabelos compridos para longe do pescoço e costas, e ali deixou alguns beijos. Saiu então da cama e entrou no banheiro.

Rosalie ouviu o barulho de água caindo do chuveiro ainda enquanto despertava. Apalpou o espaço na cama onde ele deveria estar dormindo e não o encontrou. Prendeu o cobertor em volta do corpo virando de barriga para cima. O olhar alcançando a porta do banheiro, que estava entreaberta. Pensou em se juntar a ele, mas, a verdade, é que se sentia esgotada. Voltou encostar a cabeça ao travesseiro recordando cada momento da noite e também do início da manhã.

Quando Emmett saiu do banheiro, tinha a toalha presa à cintura. No closet, escolheu o que vestir. Já pronto, chegou ao lado da cama, dobrando o corpo enquanto unia seus lábios aos dela em um beijo breve.

— Vou preparar nosso café da manhã — avisou. — Desça quando se sentir desperta. Se preferir, posso te trazer café na cama.

— Eu vou descer. Só me dê uns minutinhos.

[…]

Já tinha desfeito a mesa do jantar e recolhido às coisas para a fondue que ficaram na mesinha de centro a noite. Montado então a mesa do café da manhã para recebê-la.

Rosalie chegou à sala vestindo uma das camisas de flanela surradas que encontrou nas coisas dele. Ele parecia ter uma coleção delas. Os cabelos presos no alto da cabeça de forma irregular.

Emmett parou com a jarra da cafeteira na mão ao notar sua presença. Depois de Sarah nenhuma outra mulher esteve andando pela casa vestindo uma de suas camisas de flanela. Até aquele momento, não tinha se dado conta de quanto sentia falta de momentos como esse.

Deu alguns passos acabando com a distância entre eles. Espalmando a mão livre nas costas dela, mantendo a jarra de vidro na outra.

— Quando penso que não pode ficar ainda mais bonita, você me prova o contrário. — Deram-se um beijo. — Quero fazer amor com você de novo — admitiu. — Mas Alice já ligou. Ollie que vir para casa. Parece que a noite do pijama foi divertida. Só que ela já está com saudade.

— Também já estou com saudade de minha menina. — Esticou o braço pegando uma uva na tigela em cima da mesa, colocando na boca.

— Ela está tomando café com as amigas. Ainda temos tempo para um café da manhã juntos.

Rosalie recusou quando fez menção de puxar a cadeira. Aguardou ele sentar e foi sentar em seu colo. Compartilhando o waffle, a torrada com geleia e também do iogurte. Ficou desapontado ao descobrir que preferia chá em vez de café. Não tinha chá algum em casa.

Em poder das chaves da casa e também da caminhonete, se encaminhou para a porta da frente.

— Fique à vontade, vou buscar Olívia. Volto em alguns minutos.

Rosalie o acompanhou até a porta, lhe dando um beijo embaixo do batente antes de ele sair para buscar a filha na casa da amiga. Voltou para dentro e cuidou de desfazer a mesa do café. Olívia não iria querer, já estava fazendo isso na casa de Megan.

[…]

Emmett esperou por Olívia do lado de fora, encostado a caminhonete enquanto Helena avisava que tinha chegado para buscá-la.

Minutos depois, a porta da casa voltou a abrir. Olhando naquela direção avistou a garotinha sorridente, com seus longos cabelos ruivos presos em marias-chiquinhas. A mochila nas costas, e na mão, um papel colorido.

— Papai! — Ela correu ao seu encontro assim que avistou a figura grande na frente da casa. Emmett a ergueu no alto, depois a segurou no colo, dando um beijo apertado em sua bochecha corada.

Um par de olhos escuros encarava com espanto a barba aparada. Levou uma das mãos ao rosto dele tocando vagarosamente. Emmett aguardou, olhando nos olhos dela, em silêncio.

— O que aconteceu? — pediu Olívia. Seu rosto estava sério, parecia não acreditar no que via. — Tá diferente.

— O papai aparou a barba. Lembra que te perguntei se acharia ruim?

Olívia balançou a cabeça, confirmando.

— Você disse que não. Por isso o papai deixou assim.

— Como você fez isso?

— Com uma maquina especifica. Tive de comprar uma nova. A minha já estava velha, não ia dar muito certo.

A mão pequena tornou acariciar sua barba. Imaginou que estava avaliando, se tinha gostado ou não de como ficou.

— Parece diferente — repetiu. Deitando então a cabeça em seu ombro largo.

— Você ficou triste, amorzinho?

— Não. — Os braços miúdos envolveram seu pescoço. — Só com saudade.

Emmett retribuiu o abraço, com o mesmo carinho.

— Papai também ficou com saudade.

— Você teve medo de dormir sozinho na nossa casa?

— Um pouco, talvez — brincou. — Vamos para casa? Tem alguém esperando por você lá.

Ela levantou a cabeça, curiosa. Estava novamente olhando no rosto dele.

— A Rose? — arriscou.

Emmett não pôde evitar o sorriso que fez curvar seus lábios. Pensando em Rosalie, e no fato de Olívia ter acertado de primeira.

— Obá!

— Ela vai cuidar de você durante todo o dia hoje.

— Obá, obá, obá…

Ele a levou para dentro do carro, acomodando-a em seu assento.

— Olha minhas unhas, papai — mostrou as mãozinhas para ele. — Estão cor-de-rosa. Alice que pintou.

— Estão lindas, princesa. — Beijou sua testa. E fechou a porta do carro ao se afastar.

Alice aguardava na frente da porta com Megan ao seu lado. Emmett se aproximou para agradecer.

— Obrigado por cuidarem tão bem de Olívia.

— Não foi nada — Alice respondeu. — Ela pode voltar quando quiser. E, se você e Rose precisarem, eu fico contente em ajudar.

— Obrigado. — Encostou a mão na cabeça de Megan. — E você, obrigado por ser tão boa amiga para minha filha.

— De nada, papai da Olívia. Ela também é uma boa amiga.

— Obrigado — tornou a pedir, retornando para a caminhonete. Olívia acenou para elas quando o carro se pôs em movimento.

[…]

Olívia correu para a varanda, desviando da destruição sob seus pés que era o jardim. Ansiosa, aguardou ao lado da porta que o pai a abrisse.

— Vamos, papai. Depressa!

Emmett deu risada. Pegou a chave no bolso levando à fechadura. Enquanto Olívia abaixou e levantou nos calcanhares, achando que estava demorando demais. Quando a porta finalmente abriu, passou correndo para o lado de dentro.

Ele segurava a mochila com as coisas que levou para a casa da amiga.

— Rose? Rose? — Olívia cruzou a sala de estar correndo, parando no primeiro degrau da escada quando viu que descia. Rosalie tinha tomado banho e vestido às mesmas roupas de ontem. E usado o novo secador de cabelos de Olívia para secar os seus.

— Oi, meu amor. — Continuou descendo a escada até estar de frente para ela. — Que coisa linda é esse sorriso. — Pegou Olívia no colo e lhe beijou o rosto.

— Olha as minhas unhas. — Mostrou a Rosalie, da mesma forma que fez com o pai dentro do carro. — Estão cor-de-rosa.

— Que lindas.

— E tem glitter.

— Tem, sim. Ficaram lindas demais. E esse desenho novo?

— É para você e o papai.

— Que linda! Mas como vamos fazer para dividir?

— Humm… Você pode deixar ele aqui, porque você sempre volta. Aí fica pros dois.

— Tem razão. Podemos prender na porta da geladeira, o que você acha? — sugeriu Rosalie.

— Eu gosto disso.

— Eu também.

Vê-la conversando com Olívia no colo, tão cheia de carinho e atenção, trouxe a certeza, era com ela que desejava ter uma relação duradoura. Construir uma família. Depois de tanto tempo, pensava nisso outra vez.

Rosalie a colocou no chão e as duas foram juntas se sentar no sofá.

— Você já viu a barba do papai?

O olhar de Rosalie buscou a presença de Emmett na sala. Ele prestava atenção nas duas, notou. Lembrou-se de como ficou surpresa quando o encontrou com a barba aparada ontem à noite.

— Eu vi, sim. — respondeu voltando olhar para Olívia. — Você gostou de como ficou mais bonito ainda?

— Você acha meu papai bonito? — Olhou de um para o outro, avaliando suas expressões.

— Acho, sim — admitiu Rosalie.

Emmett piscou para ela. Olívia capturou o gesto, reagindo com uma gargalhada.

— Então, mocinha — Rosalie cutucou sua barriga. —, você se divertiu na noite do pijama?

A menina se contorceu, gargalhando ainda mais.

— Foi muito legal… — se esforçou em falar. Quando conseguiu parar de rir, contou aos dois, em detalhes, sua noite de festa do pijama. Um em cada lado dela no sofá, lhe dando inteira atenção.

— Vamos desfazer essa mochila? E refazê-la com coisas que vai levar para a casa do vovô? — Rosalie sugeriu, um momento depois de ela ter contado tudo da festa.

— Eu vou pra casa do vovô Nor?

— Vai ficar comigo o dia inteirinho.

— Que legal!

— Por que não vai subindo e escolhe o que vai querer levar? Já te encontro.

Olívia assentiu, correndo para a escada.

— De vagar — Emmett lembrou.

Ela segurou no corrimão, um pé de cada vez, a subir os degraus.

— Tá bom, papai.

Os dois ficaram olhando na escada até Olívia desparecer de vista.

— Não quer mesmo almoçar com a gente no meu avô, mais tarde?

— Vou fazer um lanche no trabalho mesmo. Assim estarei de volta mais cedo no fim do dia.

Trocaram um beijo breve, com Rosalie atenta ao alto da escada.

— Tenho medo que Ollie nos veja.

— Não vai achar ruim, ela te adora. Você sabe disso.

Deram-se mais um beijo. E, então, Rosalie se colocou de pé.

— Vou ajudar ela — disse.

— Sendo assim, vou prender o desenho na porta da geladeira.

— Faça isso. Ela vai gostar.

[…]

Norman observava o jardim da varanda, recostado à balaustrada de madeira, tomando uma xícara de chá. As árvores quase já não tinham mais folhas, mesmo assim tinham sua beleza.

Olívia se apressou, depois de Rosalie ajudar sair do carro.

— Vovô Nor! — Se alegrou subindo os degraus da varanda até ele.

— Abobrinha. — Ele deixou a xícara no banco junto à parede deixando as mãos livres para cumprimentá-la. — Por que não está na escola?

— Hoje não teve aula. Vou ficar o dia todinho com a Rose e também com você.

— Que bom que ela te trouxe. Já estava com saudades da minha netinha de cabelos vermelhos.

Olívia se mostrou contente, pois era dela que estava falando.

— Vai jogar damas comigo hoje?

— Uhun. Eu treinei com o papai. Ele comprou um jogo parecido com o seu, na loja de um dólar.

— Isso é muito bom. Você ganhou dele no jogo?

— Mas também perdi.

Rosalie se aproximou, trazendo a mochila de Olívia. Norman estudou seu rosto. Segurava na mão da menina, quando pisou na varanda.

— Está tudo bem?

Rosalie foi incapaz de conter a satisfação no rosto. Pensando na noite de ontem e no início desta manhã.

— Sim. E o senhor, dormiu bem? Já se alimentou hoje? Tomou seus remédios?

— Já fiz tudo isso. Mas eu quero saber de você? Como estão suas emoções.

— Perfeitamente bem, vovô. — Segurou nas bochechas do avô, dando um beijo em cada lado de seu rosto. — Vou subir para me trocar. O senhor olha a Ollie pra mim?

Ele olhou a garotinha que segurava sua mão.

— Nós vamos jogar damas. Vamos ver se ela vai conseguir me vencer hoje. Ela disse que andou praticando com o papai. Eu duvido que ele seja tão bom quanto eu. São anos de prática.

Olívia e Rosalie riram juntas.

Norman recolheu a xícara no banco. Rosalie segurou a porta de tela aberta enquanto eles passavam para o outro lado.

— Vovô Nor, sabia que eu fui a uma festa do pijama ontem? E foi a primeira vez.

— Eu fiquei sabendo. Aposto que foi bem divertido.

— Foi mesmo. O senhor já foi numa festa do pijama?

Norman sorriu, lembrando-se dos tempos de juventude.

— Ah, sim. Fui a algumas, mas isso já faz muito tempo.

— Rose e o papai também já foram. Eles me contaram.

Rosalie ouviu a conversa deles enquanto subia a escada. Norman foi pegar o tabuleiro de damas no armário. Olívia ocupou o assento de costume, na mesa da sala de jantar, aguardando.

[…]

Jacob e Kalel estranharam o horário que Emmett chegou para trabalhar. Costumava chegar cedo e ser sempre o último a sair. Além disso, não estava com a máscara de mau humor. Pouco depois de iniciar o trabalho, foi flagrado cantando.

Agora estavam em seu horário de almoço. Jacob e Kalel estavam na garagem comendo do almoço que levaram. Emmett se isolou do lado de fora, comendo o sanduíche que levou de casa.

Passando em frente à garagem para jogar a embalagem do sanduíche no latão de lixo, ouviu Jacob fazendo uma de suas gracinhas.

— Ei, Kalel. Parece que alguém andou se divertindo com a loura gostosa que dirige um carro branco.

Percebendo que Emmett os viu falando dele, Kalel ficou quieto.

— O que você disse? — questionou Emmett. Ele agora parecia mais com o Emmett que estavam acostumados que com o que chegou atrasado ao trabalho hoje.

— Uma loura daquela na minha cama…

Emmett adentrou a garagem pisando firme. Jacob nem mesmo teve tempo de recuar, as mãos dele agarram seu colarinho levantando-o alguns centímetros do chão. Jacob ergueu as mãos mostrando que não queria brigar.

— Tenha mais respeito por ela — grunhiu Emmett.

Kalel tentou manter a normalidade.

— Vocês não vão brigar aqui, não é? Este é um local de trabalho.

Mesmo contra vontade, Emmett largou a camisa de Jacob. A força com que o soltou levou Jacob a colidir em alguns materiais da obra na garagem.

— Se voltar a falar dela desse jeito, garanto que vai precisar de cirurgia nesse nariz.

Jacob levou a mão ao nariz diante a ameaça, antevendo a dor.

— Cara, foi uma brincadeira.

— Não estou aqui para brincar. Não admito que falem dela como estavam fazendo. Aprenda a respeitar a mulher do outro. E, principalmente, não seja um babaca.

— Aí, foi mal. Não achei que fosse tão sério assim o lance com a loura.

Emmett saiu da garagem da mesma forma que chegou, pisando firme o chão. Incomodado que tivessem falando de Rosalie.

— Você é louco — Kalel acusou Jacob.

— Como é que eu iria saber que o lance com a loura era pra valer.

— Deixe o cara em paz. Ele tem todo o direito de querer refazer a vida.

— Você é uma comédia, Kalel.

— Não, sou sensato.

Jacob recolheu a bagunça deixada de seu horário de almoço.

— Vamos voltar ao trabalho, antes que volte aqui com o jeitão dele de homens das cavernas e queira descer porrada na gente.

Mais tarde, Emmett parou o serviço para atender uma ligação de Rosalie.

— Está tudo bem com você e a Olívia?

— Estamos ótimas, não é mesmo Ollie? — Ele ouviu a voz da filha confirmando no outro lado da linha. — E por aí, como está sendo seu dia?

— Tive uns aborrecimentos, mas não quero ter de falar sobre isso.

— Tudo bem, não quero atrapalhar. Só liguei porque vou sair agora com a Ollie.

— Aonde vão? — não resistiu em perguntar.

— Fazer compras. Um passeio de garotas. Queria mesmo te perguntar se posso levar ela no salão? Estava pensando que seria bom cortar um pouco os cabelos dela.

— Só se me prometer não cortar muito. Gosto dos cabelos dela compridos.

— Sim, claro. Eu também gosto assim. Acho lindo. É só para retirar as pontas finas.

— Vou confiar em você.

— Isso é um sim?

— Sim.

— Ah, outra coisa. — lembrou Rosalie. — Meu avô quer que você e a Ollie jantem conosco essa noite. Se você concordar, Ollie e eu te esperaremos aqui mesmo.

— Vou ficar um pouco frustrado quando chegar em casa e não encontrar as duas. Eu já estava me acostumando com isso.

— Vamos esperar por você aqui.

— Tudo bem. Só vou passar em casa antes para tomar um banho.

[…]

Rosalie e Olívia estavam sentadas na cama que um dia pertenceu a Dorothy.

— Seu papai deixou.

— Legal!

— Vamos, então?

— Uhun.

— Põe os tênis, amorzinho. Eu vou só pegar minha bolsa.

— Vamos primeiro fazer comprar ou cortar meus cabelos?

— O que você prefere?

— Hummm… acho que cortar os cabelos. Não vai cortar muito, não é?

— Não se preocupe. É só um pouco mesmo, apenas as pontinhas. Vai ficar ainda mais bonito você vai ver.

Olívia terminou de calçar os tênis e foi se juntar a Rosalie, que esperava por ela na porta do quarto. Despediram-se de Norman na cozinha antes de sair.

Enquanto estavam no salão, Rosalie filmou a moça cortando os cabelos de Olívia e enviou ao pai dela. Emmett permitiu que o corte fosse ao meio das costas. Olívia saiu do salão, feliz da vida, balançando os cabelos escovados, livres das pontas finas e ralas.

— Você gostou de como ficou, meu amor? — pediu Rosalie, caminhando pelo estacionamento. Suas mãos unidas.

— Gostei muito.

— Que bom. Parece que seu papai também aprovou.

— Ele vai encontrar a gente no vovô Nor, depois?

— Sim.

[…]

— Papai, olha os meus cabelos. — Olívia virou de costas, mostrando como havia ficado seus cabelos, assim que Emmett chegou à casa de Norman, de banho tomado, cheirando a colônia masculina.

Rosalie o recebeu com um beijo discreto, embaixo do batente da porta.

Emmett afagou os cabelos de Olívia, do comprimento as pontas.

— Ficou ainda mais bonita, amorzinho.

Ela balançou os cabelos de um lado para o outro, com a aprovação do pai.

Olhando para Rosalie, Emmett se lembrou de falar.

— Depois me fale quanto gastou no salão, para que eu possa devolver.

— É um presente meu para minha menina. Não é necessário me devolver nada.

Mais tarde, depois do jantar sentaram-se juntos no sofá, enquanto Olívia dormia no outro. Rosalie tinha usado uma manta para aquecê-la enquanto isso. Norman se recolheu com a desculpa que estava cansado quando, na verdade, os dois sabiam, era uma desculpa para deixá-los sozinhos.

Emmett passou o braço em volta dos ombros de Rosalie, os dedos acariciando a pele do braço onde sua mão repousou. Ocasionalmente depositava um beijo em sua têmpora.

— Vi que conversou com meu avô, quando fiquei sozinha com Ollie na cozinha para pôr a mesa do jantar. O que ele te falou?

— Ele foi bem claro ao dizer que, se não estivesse disposto te fazer feliz, era melhor nem começar um relacionamento.

— Ele disse isso?

— E disse mais.

Ficou olhando no rosto de Emmett, aguardando com curiosidade.

— Disse que estava do nosso lado. Mas, caso magoasse você, estaria apenas do seu lado.

Os olhos de Rosalie marejaram. Já sabia que era querida pelo avô, mas ouvir esse tipo de coisa aquecia o coração. Era possível que fosse quem mais se preocupou com ela durante praticamente toda sua vida.

— Ele se preocupa com você.

— Eu sei… Não consigo entender como minha mãe pode ser tão distante. Ele foi sempre tão amável com todas nós. Todas as lembranças que tenho dele na minha infância e adolescência são as melhores possíveis.

Emmett usou a mão livre para acariciar seu queixo. Unindo seus lábios vagarosamente com um beijo.

— Queria que pudesse ficar mais essa noite comigo. Vou sentir sua falta.

— Precisamos ir com calma. Ollie ainda não sabe que estamos juntos.

Emmett assentiu.

— É melhor eu ir. — Ele olhou na direção do sofá onde Olívia dormia. — Ela precisa estar descansada amanhã para ir à escola.

Ainda que desejasse que pudesse ficar mais um pouco, Rosalie entendeu que precisava ir.

— Levo as coisas dela para o carro. — avisou enquanto ele pegava a criança adormecida no colo. Rosalie insistiu que levasse a manta com ela.

Depois de acomodar a menina em seu assento, que estava de volta à velha caminhonete, ele a cobriu com a manta. Rosalie se despediu de Olívia com beijo na testa.

— Até amanhã, minha pequena — sussurrou mesmo a menina dormindo. Colocou a mochila e as sacolas de compras no espaço vazio no banco.  E foi se despedir do pai dela.

As mãos de Emmett alcançaram sua cintura, aproximando seus corpos um pouco mais.

— É melhor você entrar. Está frio aqui fora.

— Se cuida. E cuide de minha menina, também. — Ela se inclinou alcançando os lábios dele com um beijo.

Emmett ficou onde estava observando ela retornar a varanda. Antes de voltar para dentro de casa acenou para ele. Só assim se sentiu confortável para entrar na caminhonete e ir embora.

Alguns minutos depois, estacionou na garagem, carregando Olívia para dentro de casa pela porta que dava na cozinha. Deixou-a no sofá enquanto voltava para pegar as coisas que ficaram no carro.

Durante esse tempo, Olívia acordou meio sem saber onde estava. Abraçada ao cobertorzinho, olhou em volta, com olhar de sono custando perceber que estava em casa.

— Papai? Rose? Vovô Nor?

Emmett ouviu o telefone fixo tocando no momento que chegou a garagem. Apressando-se de volta a sala para não acordar Olívia. Mas, ela estava com o telefone no ouvido quando chegou.

Sem saber com quem falava, percebeu os lábios da menina tremerem e os olhos se encherem de lágrimas. Então, ela chamou vovó. Não soube com qual das avós estava falando. O que lhe deu um pouco de aflição.

Olívia respondeu quase sempre com “sim” e “não” as perguntas que lhe eram feitas, claramente abalada. Quando a ligação chegou ao fim, abaixou o braço junto ao corpo soltando o telefone no chão. O choro veio em seguida.

Emmett largou as sacolas no chão apressando-se em amparar a filha.

— Era a vovó — mal conseguiu falar.

Ele a pegou no colo e foi sentar no sofá com ela.

— Qual vovó? — pediu, preocupado com o que a menina pudesse ter ouvido.

— A vovó Cheryl.

— Minha mãe — as palavras deixaram os lábios dele junto com o pensamento. — O que ela falou para você?

— Perguntou se recebi a boneca que ela enviou. Mas ela ainda não recebeu minha cartinha.

— Ela vai receber, é que não deu tempo. O que mais ela disse?

— Se você ainda ficava bebendo. Eu disse que não.

Ele beijou o rostinho sonolento.

— E por que você chorou?

— Ela disse que logo vem me visitar.

— Você não quer que ela venha?

— Quero, sim.

— Por que chorou então, amorzinho?

— Não sei… meu coração parecia que estava sufocando. Aí eu chorei.

Ele afagou seu rosto, afastando alguns fios de cabelos para longe dos olhos.

— Papai vai levar você para a cama agora. Nada mais vai atrapalhar seu sono.

— Cadê a Rose?

— Rose ficou na casa do avô dela. Já estava tarde para vir para cá. Mas o papai está aqui com você. — Se colocou de pé com ela nos braços. Tomando o caminho da escada. — Papai vai ler para você voltar a dormir. Não vou sair de seu lado até estar dormindo outra vez. — Sentiu os braços miúdos fecharem um abraço em volta de seu pescoço.

— Papai?

— Oi?

— Canta pra mim, além do arco-íris?

— Canto, sim. Mas você sabe a voz do papai não é muito boa.

— Pra mim, parece ótima.

Cantando a canção favorita da filha, ele a levou para o quarto e a colocou na cama. Repetindo a canção, ao pedir que continuasse. Ficando ao lado dela até estar dormindo novamente.

 


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