— Sou Sakura – estendi minha mão e Kiba prontamente aceitou.

— Nova por aqui? Deve ser, nunca te vi antes. Seja bem-vinda Sakura, bonito cabe...

Nesse momento alguém esbarrou nele e acabou derrubando alguns papeis. Me abaixei para pegar e os estendi para o dono.

Ele os pegou de minha mão e me encarou. Eu não o conhecia, mas o olhar dele sobre mim parecia ler todos os meus pensamentos. Senti que corei involuntariamente e percebi ele bufar.

— Ér... De nada?

Falei com um meio sorriso no rosto, reparando que ele não havia agradecido minha ajuda.

— Hn. – ele disse apenas.

Franzi o cenho, será que ele realmente não tinha um pingo de educação? Estendi minha mão para ele e disse:

— Prazer, sou Sakura Haruno.

O moreno de olhos negros me encarou novamente, arqueou uma sobrancelha como se questionando a minha insistência e se virou para ir embora. Bufei diante de sua perceptível falta de educação, mas ele parou e mesmo sem se virar para trás disse:

— Sasuke Uchiha.”

Minha cabeça doía como nunca. Diferente das outras vezes, a memória não queria se esvair logo após surgir. Ela permanecia firme em meus pensamentos, claramente vivida.

Tentei forçar minha mente a lembrar do gatilho para o surgimento da lembrança, e os olhos negros apareceram novamente em meus pensamentos. Não restava duvidas, o melhor amigo do Naruto, Sasuke, era o mesmo da minha lembrança. Os olhos, o rosto, a expressão... Os cabelos do menino na minha lembrança eram menores do que os do homem que eu havia visto, mas mesmo só tendo essa lembrança em minha mente, algo me avisava para não ter dúvidas, era sim a mesma pessoa.

Eu sentia a angustia no meu peito, mas era diferente das outras vezes... Não era apenas a angustia que invadia todo meu ser, também havia outro sentimento, um que eu não sabia muito bem o que era.

Meus sentidos começavam a voltar aos poucos, e pude ouvir algumas vozes ao meu redor. Senti um toque em meu pulso, e um arrepio se estender por todo meu corpo, saindo do local que recebia o pequeno toque.

— Ela está bem. – ouvi uma voz grave dizer – Acredito que tenha sido apenas uma queda de pressão.

— A Sakura-chan também desmaiou na minha casa, tem certeza de que ela não está gravida Ino?

Senti o aperto em meu pulso afrouxar e a pessoa que estava ao meu lado se afastar.

— Já disse que não Naruto... – reconheci a voz de Ino, e percebi a preocupação em sua voz – Não sei o que pode ter acontecido também...

Forcei minhas pálpebras a se abrirem e a primeira coisa que avistei foi o moreno, Sasuke, um pouco mais afastado. Seu olhar caiu sobre mim e parecia que ele havia prendido o ar. Ele parecia tenso, mas seus olhos não saiam de mim.

Eu não conseguia explicar, mas aquela troca de olhares era mais significativa do que parecia.

Ele me olhava como se conhecesse, como se realmente me conhecesse. Mas a reciproca não era verdadeira, ao menos não atualmente.

— Sasuke?

Forcei minha voz a dizer, e ele pareceu ficar ainda mais receoso com meu reconhecimento.

— Vocês se conhecem? – Naruto ficou na minha frente, enquanto coçava a nuca – Por que você não me disse que conhecia ela Teme? – ele pareceu pensativo – Se bem que na hora que ela desmaiou você falou o nome da Sakura-chan mesmo. De onde vocês se conhecem? – ele perguntou sorridente.

Olhei para Sasuke e ele continuava apreensivo. Não pude deixar de reparar no quanto ele era bonito. Os cabelos na altura dos ombros, escondendo um pouco de seu rosto, o deixando com um ar misterioso. Era alto, mais alto que Naruto. Parecia magro, mas os ombros eram grandes e largos. Ele torceu a boca e isso atraiu meu olhar para ela. Seus lábios eram finos e senti um leve formigamento em meus próprios lábios nesse momento.

Ouvi alguém pigarrear e Ino se meteu na frente de Naruto.

— Naruto, ela acabou de acordar de um desmaio e você já enche ela de perguntas! – ela me direcionou um breve olhar questionador – Depois o seu amigo te conta de onde eles se conhecem.

Meu olhar voltou para Sasuke, que passava as mãos no cabelo, eu não poderia afirmar, mas parecia um ato de nervosismo.

— Nós... – ele começou e me olhou antes de finalizar – Nós estudamos juntos no ensino médio.

Novamente uma batida do meu coração falhou. Realmente era isso. Eu finalmente encontrei alguém que me conheceu naquela época. Qual teria sido nossa proximidade? Será que ele poderia me falar um pouco sobre como eu era? Será que ele sabia de algo que tivesse me acontecido naquela época? Algo que desencadeou minha perda de memória?

Varias perguntas rondavam meus pensamentos, e o medo que estava adormecido novamente veio como uma onda me derrubar.

E se ele não soubesse de nada? E se ele nem ao menos gostava de mim naquela época? Pela única lembrança que eu tinha dele, ele não fora muito receptivo comigo. E mesmo se soubesse, por que ele me ajudaria?

— Que maravilha! – Naruto cortou meus pensamentos com seu sorriso alegre – Aposto que vocês têm várias coisas para conversar então. Sakura-chan, você está melhor? – ele me olhou e eu assenti – Podemos voltar para lá então? Os convidados devem estar ansiosos...

Percebi que estava atrasando a noite de Naruto e me levantei.

— Me desculpe Naruto-kun, eu não queria te atrapalhar...

Ele riu e passou o braço sobre meus ombros.

— Você não atrapalhou nada Sakura-chan. Agora vamos lá que eu preciso mostrar que sou o melhor dattebayo!

Ino se posicionou ao meu lado e seguimos juntas para nossa mesa.

— O que aconteceu? – ela cochichou, uma vez que Naruto e Sasuke estavam atrás de nós.

— A lembrança da Hinata... Quem esbarrou no Kiba foi o Sasuke...

Ela me olhou surpresa e continuou cochichando.

— E você lembrou de mais alguma coisa? Vocês eram amigos?

— Não... Mas ele era bem mal-educado.

Ino franziu o cenho para mim e disse:

— Que estranho... Quando você desmaiou ele veio correndo te ajudar, não entendi muito bem, mas dai Naruto disse que ele era médico e eu achei que era por isso.

Aquela informação também me surpreendeu, será que ele havia me socorrido por me conhecer, ou realmente só por que era médico?

— Bom, depois falamos sobre isso. – Ino disse quando chegamos novamente à mesa.

Me sentei e Jiraya e Tsunade me olhavam preocupados.

— Está melhor criança? – Jiraya perguntou com carinho.

— Estou sim, acredito que tive uma queda de pressão...

— Culpe o Naruto que está nos fazendo esperar! – Tsunade disse rindo – Enquanto a comida não vem não temos o que fazer se não beber.

— Pois deixe que a comida demore!

— Você não muda mesmo Jiraya.

Ouvi a voz de Sasuke atrás de mim e logo ele estava se sentando no único lugar vago na mesa, que era ao meu lado.

— Se eu mudasse não seria eu, não é mesmo Sasuke? – Jiraya sorria para ele – Que bom que tínhamos um médico aqui quando você desmaiou Sakura, e caso eu passe mal acho bom cuidar de mim com o mesmo cuidado que teve com ela rapaz.

Franzi o cenho e me virei para Sasuke, que tinha o olhar sobre mim também.

— Ora, como se ele fosse te levar no colo como fez com a Sakura, olhe seu tamanho Jiraya. – Tsunade disse rindo.

Corei novamente, e fitei Sasuke, que parecia perdido em pensamentos.

— Obrigada. – disse baixo, somente para ele escutar.

Ele travou ao meu lado, e focando seu olhar na mesa respondeu:

— Não fiz mais do que minha obrigação.

Franzi o cenho mediante seu agradecimento. Parecia que ele queria dizer mais do que isso, como se a obrigação não fosse só pelo fato de ser médico.

A dor em minha cabeça havia passado totalmente, a angustia agora estava mascarada com outra coisa, algo que eu realmente não sabia dizer o que era.

Era como se Sasuke fosse a calmaria para os sentimentos conturbados que me assombravam.

Ignorando o bolo de medo que estava formado em meu estomago, disse rapidamente:

— Nós podemos conversar a sós após o jantar?

Percebi que ele engoliu em seco, fechou os olhos e soltou um suspiro longo pelos lábios.

— Sim. – disse simplesmente antes de se virar para onde a apresentação de Naruto aconteceria.

Por que ele havia reagido dessa maneira? Qual era o problema de conversarmos? Será que ele sabia que eu havia perdido a memória? Estaria assim por prever que eu faria perguntas sobre o passado? Ao menos ele havia respondido minha pergunta, e não sido mal-educado como foi em nosso primeiro encontro.

Quem teria sido ele afinal? Qual teria sido a importância que eu tive na vida dele, e a dele na minha?

Em algum momento Jiraya se levantou e foi apresentar Naruto a todos os presentes. Eu ria quando Ino ria, e batia palmas quando ela batia. Mas na verdade eu não parava de pensar em como seria essa conversa que nós teríamos.

O que eu perguntaria? “Como eu era?” “Nós éramos amigos?” “Você sabe do meu acidente?” “Sabe algum motivo que possa ter causado minha amnésia?”. E se ele não quisesse responder nenhuma das minhas perguntas? Essa era uma opção possível... Afinal, se nós não tivemos contato nenhum, porque ele se daria ao trabalho de ficar explicando a uma desmemoriada como ela era antigamente?

Novamente o medo tomava conta de mim, e eu tentava me lembrar das palavras de Inoichi. Eu me agarraria a que?

— Os primeiros a serem servidos serão as pessoas mais especiais da noite. – Naruto apareceu servindo-nos e eu sorri verdadeiramente.

No final Sasuke poderia não saber responder nenhuma das perguntas, eu poderia não lembrar do que tivesse acontecido. Mas, no fim eu ainda teria meus ótimos amigos, aqui, no presente. Amigos que ficavam felizes com minhas conquistas e com os quais eu deveria estar comemorando agora. Deixaria a conversa e os problemas que ela traz para depois.

Eu fui a ultima a ser servida, mas antes de sair Naruto me deu um de seus grandes sorrisos e disse:

— Obrigado por ter vindo Sakura-chan, mas por favor, não passe mal de novo após comer minha comida. – fez um bico e completou – Pode manchar minha imagem.

Ino riu do comentário e eu tive que acompanhá-la enquanto balançava a cabeça.

— Você pode dizer que eu passei mal de tão boa que a comida era Naruto.

Ele piscou para mim e foi servir todos no restaurante.

Durante o jantar ignorei Sasuke ao meu lado, pois se eu ficasse olhando para ele, além de parecer erroneamente que eu estava interessada nele, ele poderia ficar com ainda mais receio de mim.

Em certo momento Ino me cutucou e me chamou para ir ao banheiro. Conhecendo-a, sabia que ela queria falar algo então me apressei a segui-la.

— Você percebeu não é mesmo? – ela disse com um sorriso assim que entramos no banheiro.

Franzi o cenho para ela e ela bufou jogando as mãos para o alto.

— Você é muito cega Testuda. O Sasuke! – minha cara deve ter transmitido minha dúvida sobre o que ela estava falando – Por Kami! Ele não para de te olhar de canto.

Eu tive que rir um pouco.

— Ino, sem chance. Eu não sei qual era nossa ligação no passado, mas com certeza ele não está feliz em me reencontrar. – foi a vez dela fazer cara de confusão então tratei de explicar – Eu pedi para que nós conversássemos após o jantar, e ele pareceu muito desconfortável com isso.

Ino revirou os olhos para mim e cruzou os braços.

— Isso não quer dizer que ele não goste de você. – ela arregalou os olhos com um sorriso no rosto – E se vocês fossem namorados?! Faria sentido as expressões dele quando o Naruto chega muito perto de você...

— O que?

— Você não vê nada não é mesmo? – ela bufou – Toda hora que o Naruto chegou perto de você, ou te tratou com intimidade, o Sasuke fechou a cara, achei bem engraçado, mas não tinha entendido na hora. Talvez tenha sido porque vocês tiveram algo no passado.

Balancei a cabeça.

— Se fosse algo assim ele já teria dito Ino.

— Não sei Sakura. Você não diz que seus pais evitam que você entre em relacionamentos? – assenti com a cabeça – Então, e se você namorava ele, mas seus pais não gostavam dele... Daí quando aconteceu o acidente e ele foi atrás de você, seus pais se mudaram...

Ino continuou divagando sobre suas teorias enquanto eu me esforçava para lembrar de mais alguma coisa relacionada a Sasuke. Será que nós tivemos algum envolvimento?

Novamente minha cabeça começou a doer, e achei melhor não pensar sobre isso agora. Nós dois conversaríamos e eu poderia perguntar qual era nossa proximidade.

— Ino, eu vou conversar com ele depois, mas ainda não acho que ele tenha ficado me olhando ou que não tenha gostado de minha intimidade com Naruto. Isso provavelmente é coisa dessa sua cabeça loira. Agora vamos voltar.

Mesmo emburrada por ter cortado suas teorias ela voltou comigo a mesa.

Reparei que Sasuke não puxava assunto com ninguém, mas que respondia cordialmente quando Jiraya se dirigia a ele. Será que ele estava quieto por minha causa?

Ao final da noite, Naruto recebeu elogios de todos os presentes, e varias pessoas cumprimentavam Jiraya e o parabenizavam por reviver a boa fama do Rasengan.

— Sasuke? – ouvi Ino chama-lo e senti que isso não seria algo bom.

— Hn? – ele se virou para olhá-la, mas antes seu olhar cruzou com o meu.

Ele parecia com medo? Ignorei meu pensamento sem sentido e olhei para Ino, também curiosa com o que ela teria para falar.

— Eu vou levar a Tsunade para casa, como podemos ver, ela não está em condições de ir sozinha. – realmente Tsunade estava quase dormindo em cima da mesa ao nosso lado – Você poderia levar a Sakura para casa?

Ela terminou a frase sorrindo grandemente. A fuzilei com o olhar e falei sem mesmo olhar para ele.

— Não se preocupe Sasuke, eu posso ir com o Naruto.

Olhei-o e percebi que ele franziu o cenho levemente, antes de limpar a garganta e dizer:

— Acredito que eles vão demorar ainda, eu te levo.

Ino agradeceu a gentileza e se levantou, carregando Tsunade com ela. Sasuke e eu nos levantamos também e eu o segui para fora.

Sentia minhas mãos tremendo levemente, e não estava frio naquela noite. Agora novamente o medo das palavras de Sasuke me assolava. E se realmente nós tivéssemos tido algum envolvimento? Ele estaria com raiva de mim por ter sumido? Ele saberia que eu não lembrava de nada?

Em algum momento me vi dentro do carro enquanto ele suspirava baixinho.

— Onde você mora? – ele perguntou com a voz baixa.

— No... No mesmo prédio que o Naruto, você pode ir por...

— Eu sei onde ele mora. – ele me cortou e franziu os lábios – Estou hospedado lá.

Assenti levemente e fiquei olhando pela janela durante todo o trajeto. Meu coração batia forte no peito, ao ponto de acreditar que ele pudesse ouvir também. O trajeto não era grande e logo nós estávamos na frente do prédio.

Criando uma coragem quase inexistente eu consegui perguntar:

— Sasuke... Qual era nossa proximidade no ensino médio?

Fitei-o e vi a confusão estampada em seu rosto. Será que ele não sabia que eu havia perdido a memória? Ficaria ele com mais raiva ainda de mim? Ele passou as mãos no cabelo e fechou os olhos por um momento.

Quando os abriu, vi os olhos negros suplicando, desesperadas por algo, eu só não sabia o que.

— Você não lembrou de nada ainda?

Balancei a cabeça em negativa, e embora tivesse sido muito rápido, vi certo alivio passar por seus olhos.

Mas não só isso, e se ele não tivesse virado o rosto, também diria que havia visto uma singela lágrima.