O amor abençoado pelo Nilo escrita por kagomechan


Capítulo 39
Um complicado e frágil feitiço


Notas iniciais do capítulo

olá! desculpa a demora pra atualizar. eu estava bem mal... na real estou bem mal essas ultimas semanas... meses... enfim. bom cap pra vcs ♥



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Descansados e de barriga cheia, todos decidiram que era hora de fazer o feitiço tão aguardado. Anúbis pegou o bebê conforto e, juntos, todos foram subindo para o quarto. Anúbis e Sadie foram na frente com Ísis, Néftis e Bastet seguindo-os até pararem na entrada do quarto.

Em uma das gavetas do quarto, guardado junto com cadernos, canetas e documentos, Sadie pegou o papiro com o feitiço feito por Thoth. Apesar de ser só um papiro, algo tão leve e de peso tão desprezível, ele parecia-lhe muito mais pesado. Talvez porque ali estava a solução para que sua filha pudesse ter uma vida com menos problemas mágicos e perigosos.

— Lembre-se, Sadie - dizia Ísis - Fazer uma magia que tem que durar enquanto vive sem puxar continuamente sua força enquanto durar é diferente… 

— Sei disso… - disse Sadie torcendo para não ter parecido grossa - A barreira que protege o Nomo é assim mas… estou aceitando qualquer outra dica extra já que uma barreira é muito diferente disso.

Enquanto isso, Anúbis apoiava o bebê-conforto sobre a cama e, com um sorriso carinhoso no rosto, pegava a pequena Aya nos braços como se ela fosse um tesouro inestimável, o que de fato era. Ele logo também teve que tirar a roupinha dela até ela ficar só de fralda e luvinhas. Torcendo para que o calor de seu corpo esquentasse a filha, Anúbis sentou-se na cama apoiando o corpo de Aya sobre seu peitoral e a cabecinha sobre seu ombro, logo aproveitando a chance para dar um beijinho no topo da cabeça dela.

Sadie logo sentou-se ao seu lado também. Embora os olhos dela estivessem focados no papiro fazendo uma revisão final, não deixou de notar com o canto do olho que Aya a observava com um par de olhos azuis grandes e curiosos. A imagem fez com que Sadie abrisse um sorriso momentâneamente e sentisse o coração aquecido.

— É melhor trancar a porta por via das dúvidas. - sugeriu Bastet - Irei ficar na frente para ninguém entrar mas, mesmo assim, tranque-a por dentro.

— Sim. Não vou esquecer. - garantiu Sadie.

— Tenham calma e não se desesperem na pressa e ansiedade que o feitiço dê certo. - disse Ísis.

— Acho que a parte mais complicada vai ser a de equilibrar perfeitamente a magia de nós dois. - disse Anúbis tentando dar uma olhada no papiro apesar da posição não tão prática para isso pois tinha Aya no colo - 50% de cada. Nem um pouco a mais nem a menos.

— Já estão com tudo que precisam? - perguntou Néftis.

Usando uma mão livre, Anúbis invoca a lâmina conhecida como Netjeri, a faca usada na cerimônia de abertura da boca durante o processo de mumificação e sepultamento de alguém no Antigo Egito. Ele entrega ela para Sadie e então ela se levanta subitamente cheia de determinação.

— Sim. - declarou Sadie.

As três deusas que esperavam na porta do quarto dão as costas para o casal e saem deixando apenas a pequena nova família dentro do quarto. Sadie então fecha e tranca a porta deixando um suspiro profundo escapar por seus lábios como uma pequena breve prova de seu nervosismo.

— Vai dar tudo certo. - garantiu Anúbis.

— Por agora sei que vai. - explicou Sadie - Meu medo é daqui 5, 10… 20… 30  anos…

— Vamos estar aqui e quando ela estiver maior vai ter chances bem maiores de se defender. - disse ele - Não tem nenhum hieróglifo no texto do feitiço que você não saiba né?

— Não. - garantiu Sadie - Já chequei não sei quantas vezes os que eu não conhecia. O fato de ter tantos é prova que isso não é um feitiço muito fácil.

Sadie então estendeu o papiro aberto para Anúbis e ele tocou-lhe com o indicador da mão livre. Ao seu toque, o papiro tremeu levemente. Anúbis ergueu o dedo lentamente e o papel acompanhou seu movimento até o papiro estar flutuando diante dos dois, bem no meio, no lugar perfeito para fazer qualquer cola das palavras do texto.

— Certeza que não quer que eu faça a próxima parte? - perguntou ele.

— Não. - disse Sadie apertando a faca em suas mãos - Eu consigo.

Sem qualquer outra pergunta a mais, ele estendeu a palma de sua mão para ela e então, com a porta afiada e cortante da faca, ela abriu um corte na mão dele. Pequeno, mas grande e profundo o suficiente para um pouco de sangue sair. Para Anúbis, ver o sangue vermelho vivo saindo de sua mão era um grande lembrete de sua própria imortalidade. Às vezes ainda parecia que tinha sido ontem que dentro daquelas veias corria sangue prateado protegido por uma camada de pele e carne que nada normal e sem magia seria capaz de perfurar.

Em seguida, sem perder muito tempo e nem hesitar, Sadie fez o mesmo corte na sua própria mão. A dor existia, mas era levemente desconfortável apenas. Um desconforto que era fácil ignorar quando se pensava na importância do que tinham que fazer. 

Com o coração palpitando pela ansiedade, os dois se entreolharam tentando, apenas com o olhar, passar confiança de um para o outro. Então, no segundo seguinte, eles começaram lentamente a ler palavra por palavra do texto. Seus olhos e lábios percorriam o texto em completa sintonia até que, algumas frases depois, eles juntaram os cortes nas palmas de suas mãos entrelaçando os dedos.

Para cada hieroglifo que eles liam, este aparecia flutuando em dourado logo atrás do papel e saía voando em círculos pelo quarto criando uma atmosfera de magia que fazia os pelos se arrepiarem. Talvez fosse por isso que só eles podiam estar dentro daquele quarto. Por mais poderosa que fosse aquela atmosfera que os rodeava, ela também parecia ser frágil. Era como se um sopro pudesse desmontá-la completamente e interromper o feitiço por completo.

Fazer algo tão delicado como aquilo com um bebê de colo não era exatamente a coisa mais fácil mas, felizmente, Aya ficava quietinha sem ter a menor ideia do que acontecia enquanto Sadie e Anúbis sentiam uma estranha sensação de formigamento nos cortes que não parecia vir do corte em si. Mas mais do que o formigamento, eles também sentiam a magia deles sendo puxada lentamente conforme eles iam deixando ela ser puxada pelo feitiço. Era uma parte complicada que necessitava de muita atenção, pois a quantidade de magia fornecida de cada um tinha que ser exatamente igual em cada uma das várias vezes que o feitiço demandava por mais magia.

As palavras em si para serem recitadas já tinham quase acabado, a maior parte do texto restante do papiro eram instruções de como prosseguir. Assim, seguindo esse texto, os dois abriram as mãos que estavam agarradas e sangrando mas deixaram-nas juntas, grudadas e moldadas tal como se quisessem juntar água dentro delas. Contudo, não havia nada ali, havia apenas o resto do sangue dos cortes que começava misteriosamente a brilhar. Pequenos brilhos dourados apareciam em pontos específicos do sangue e se tornavam cada vez mais constantes até que o sangue inteiro era um belo líquido dourado.

Os dois sentiam a magia pinicando suas mãos completamente enquanto se concentravam naquele sangue que se comportava de maneira anômala. Limpar a mente e focar-se em apenas e unicamente uma coisa não era exatamente fácil, mas o casal se esforçou para pensar em nada mais do que a forma da Ankh. Então, respondendo aos seus pensamentos, aquele sangue que agora parecia ser feito de luz dourada começou a se mexer e subir no ar. 

Lenta e desordenadamente, a luz dourada começava a tentar formar o símbolo de Ankh. Parecia algo simples, principalmente considerando o tamanho diminuto do símbolo, mas os dois já sentiam a cabeça leve demais. Era incrível o tanto de magia que havia sido usada em tão pouco tempo. Mas, não importava se os braços já estivessem pesados, ou que eles estivessem ficando pálidos, eles tinham que chegar até o final do feitiço.

Com aquele Ankh, frágil, brilhando sobre a mão deles, os dois se entreolharam por um breve segundo. Estavam tensos, com medo de tudo se desmontar. Por isso, mal conseguiam respirar enquanto levavam as mãos, e consequentemente o Ankh, em direção de Aya. Enquanto as mãos deles tocaram gentilmente nas costas dela, o Ankh entrou dentro de Aya como se não fosse nada.

O casal abaixou as mãos e puderam ver o Ankh brilhando timidamente nas costas de Aya como se estivesse embaixo de sua pele. Eventualmente, sob o olhar atento deles, a luz do Ankh se dispersou lentamente pelo corpinho dela e logo se apagou, ao mesmo tempo em que os hieroglifos flutuando no ar também se apagaram.

Apenas com o silêncio como companhia e Aya começando a se debater de leve aparentemente começando a ficar irritada pelo frio tocando sua pele, os dois se entreolharam.

— É isso? Deu certo? - perguntou Sadie.

— Eu… acho? - disse Anúbis em dúvida observando Aya de vários ângulos como se quisesse ter alguma prova de que o feitiço tinha funcionado - Acho que deu certo sim.

— Vamos vestir ela de novo e então decidimos se deu certo mesmo ou não. - sugeriu Sadie.

Eles então tiraram uns segundos para, rápida e apressadamente, vestirem a garota de novo deitando-a na cama. Afinal, não queriam deixar ela gripada logo em sua primeira semana de vida. Enquanto eles tentavam ver algo de diferente durante o processo que era vestir a bebê, eles ficavam também tentando ver ou sentir qualquer coisa de diferente, mas não conseguiam perceber nada.

Então, Sadie segurou protetoramente Aya, já quentinha novamente, em seus braços enquanto Anúbis abria a porta do quarto. Ele deu de cara com Bastet, que estava de costas pronta para impedir qualquer um de entrar e, logo à sua frente, Néftis e Ísis. Como a porta se abriu, Bastet se virou para ele e imediatamente falou:

— Já estava querendo abrir a porta, mas me segurei. Senti que não tinha mais magia fluindo do quarto.

— Como foi? - perguntou Néftis aflita.

— Não vemos nenhuma diferença mas… fizemos tudo. - disse Anúbis inseguro.

Bastet foi a primeira a entrar no quarto. Com passos pesados, a deusa gata foi seguida primeiramente de Ísis e então Néftis até onde Sadie estava sentada na cama com Aya no colo. Séria, Bastet se agachou bem na frente de Sadie e encarou Aya bem de perto enquanto, de pé, Ísis e Néftis encaravam a menina de longe.

— De fato deu certo. - disse Bastet - O ba dela está diferente quando você tenta o ver. Parece praticamente normal.

— Sério? Para mim não mudou nada… - disse Sadie confusa olhando para Anúbis que também negou com a cabeça.

— Para mim também parece como sempre foi. - disse ele.

— Para mim também… - acrescentou Néftis.

— Ísis? - perguntou Bastet olhando para a deusa.

— Eu irei concordar com você. - disse Ísis - Para mim parece que ele mudou. Mas… como estamos vendo coisas diferentes?

— Se Néftis não estivesse vendo também o mesmo que Anúbis eu ia falar que ele perdeu o jeito em ver o ba depois de tantos séculos trabalhando com o ba e o ka… - disse Bastet suspirando e revirando o olhar.

— Meus olhos estão muito bem. - rebateu Anúbis cruzando os braços.

Todos ali ficaram alguns segundos em silêncio pensando um pouco sobre a situação, até que Ísis quebrou o silêncio.

— Vamos partir do pressuposto de que deu certo… - sugeriu ela - Vamos para o Salão do Julgamento, Osíris poderá conhecer Aya e vamos torcer para Thoth estar lá também e poder nos confirmar o resultado do feitiço.

Antes de qualquer coisa, no entanto, Sadie e Anúbis comeram cada uma pequena barra de chocolate para recuperar um pouco das energias e logo estavam se preparando para ir para o Salão do Julgamento. Com tantas deusas ali, não foi exatamente difícil fazer num piscar de olhos ir para lá. 

Preocupados e ansiosos por uma confirmação final de que o feitiço tinha de fato funcionado, todos surgiram no Salão do Julgamento. Enrolada num pequeno cobertor e nos braços da mãe, Aya nem entendia que tinha acabado de chegar num lugar tão importante e diferente como o Salão do Julgamento era. Eram pouquíssimos os mortais que haviam chegado até ali ainda vivos.

Já teve épocas em que o Salão do Julgamento era movimentado até demais, mas agora ele estava calmo, sem almas se enfileirando ansiosas esperando serem julgadas. Mas isso não significava que o lugar estava completamente vazio. Quando Anúbis, Sadie, Aya, Bastet, Néftis e Ísis chegaram lá, puderam ver que Ammit, Thoth e Hórus faziam companhia para Osíris. Mas, também notaram que não muito longe de onde Thoth, Hórus e Osíris conversavam, estava o etéreo fantasma da mãe de Sadie.

Dadas todas as coisas que haviam acontecido, era muito fácil considerar que os três deuses estavam conversando sobre algo relacionado aos ocorridos, mas não. Os deuses conversavam sobre se era melhor, agora que as coisas tinham de certa forma acabado, irem embora mais uma vez ou voltarem à seus afazeres.

— Não temos mais fiéis como antigamente, não é como se tivesse tanto assim para fazer… - dizia Hórus.

— Ainda temos boa parte dos magos da Casa da Vida e algumas pessoas estão querendo… reviver… nossa religião. - dizia Thoth - Já tinha ouvido falar que estavam fazendo o mesmo na Grécia e na Noruega com os deuses gregos e nórdicos. Mas, claro, somando todas essas pessoas, ainda é bem menos gente do que tínhamos de fiéis antigamente.

Apesar da importância da conversa, o foco logo trocou para os recém chegados. A primeira a prestar atenção nos recém-chegados foi Ruby Kane, a mãe de Sadie, que antes mesmo da frase de Thoth chegar na metade, já estava indo a passos apressados até a filha.

Tanto Sadie como Ruby imediatamente começaram a chorar. Afinal, fazia anos que não se viam e mesmo assim haviam se visto muito pouco desde que o pai de Sadie havia recuperado a alma da mãe anos depois de sua morte. Aliás, essas mesmas lágrimas logo começaram a se acumular nos olhos de Osíris que estava na complicada situação de estar fundido com Julius Kane, o pai de Sadie. 

Apesar de fazer tantos anos que Julius Kane e Osíris haviam se tornado um só depois de uma confusão proposital para que Julius pudesse ficar com a esposa morta mais uma vez, ainda era um pouco estranho para Sadie. A sensação de estranhamento não era só porque agora seu pai era azul. Era bem mais complicado que isso. O fato de Osíris tanto ser o chefe de Anúbis como ter praticamente criado ele não deixava aquela situação toda nem um pouco mais normal.

Por mais estranha que a situação como um todo fosse e quer todos gostassem ou não, Osíris e Julius eram praticamente a mesma pessoa agora. Mas, apesar das diferenças que Osíris e Julius podiam ter entre si, eram os dois que estavam igualmente maravilhados em ver Aya.

— Passo anos sem ver nenhum de vocês e quando voltam é com uma filha nos braços? - perguntaram Julius e Osíris.

— Pois é né? - disse Sadie soltando uma risada embora estivesse com as lágrimas rolando pela bochecha - Eu senti tanta falta de vocês.

— Nós também. - disse Ruby aproximando a mão semi-transparente do rosto da filha como se estivesse tocando-lhe gentilmente a bochecha mas não podendo de fato fazer isso por ser meramente uma alma.

— Não teve um dia em que não pensei em como estavam todos por aqui. - disseram Osíris e Julius enquanto Ruby se aproximava da filha passando o braço de forma protetora ao redor dos ombros dela até que ambas ficassem com as cabeças uma do lado da outra admirando Aya. Ruby não conseguia tocar Sadie, nem Sadie conseguia tocar Ruby, mas elas tentavam agir como se esse mero detalhe não existisse.

Ninguém teve coragem de interromper aquele momento enquanto eles simplesmente admiravam Aya e aproveitavam a oportunidade de estarem perto um do outro mais uma vez. Nem mesmo Thoth que, com a língua doida para falar sobre o feitiço e seus resultados, tentava se controlar para não interromper a doçura do momento.

— Posso segurar minha neta? - perguntaram Julius e Osíris.

Com cuidado, Sadie passou a pequena recém-nascida para os braços do avô e imediatamente Ruby se juntou para continuar admirando a garotinha. Ela queria muito poder segurar Aya mas, infelizmente, isso era impossível.

— Ela é tão linda. - disse Ruby docemente.

— Ela parece muito com vocês dois quando eram dessa idade. - declararam Julius e Osíris olhando tanto para Sadie, como para Anúbis por último - Imagino que esteja cuidando bem das duas, certo?

— Exagerado… - suspirou Sadie rindo e revirando os olhos enquanto aproveitava os braços vazios para limpar as lágrimas dos olhos.

— O melhor que consigo. - respondeu Anúbis.

— O feitiço… não funcionou? - perguntou Osíris confuso olhando para os dois.

— Ah, funcionou sim. - interrompeu Thoth se aproximando e atraindo os olhares para ele - Eu consigo ver mas vocês não vão conseguir ver. Uma pequena consequência. 

— Como assim? - perguntou Anúbis.

— O sangue que usaram no feitiço é muito importante para fazer a proteção ser forte e duradoura mas… - disse Thoth - Isso também acabou fazendo com que aqueles relacionados ao sangue usado não conseguissem perceber o feitiço. Mas, aqueles que não tem relação sanguínea à veriam e sentiriam como uma mortal comum. É um belo disfarce na minha opinião.

— Isso explica então como eu e Bastet notamos a diferença mas Sadie, Anúbis e Néftis não. - disse Ísis pensativa.

— Sim. - concordou Thoth - Não consegui fazer uma versão tão boa quanto a de Ma’at então acabamos ficando com esse contraponto.

— Podia ter avisado antes. - reclamou Sadie.

— Isso significa que também ficará óbvio para Seth onde ela está? - perguntou Néftis - Afinal ele é relacionado à sangue.

— Bem… sim…  - admitiu Thoth - Mas é um pequeno detalhe só.

— Me parece um detalhe muito grande e preocupante pra falar a verdade. - rebateu Sadie.

— Seth não teria dificuldade em encontrá-la mesmo se eu conseguisse fazer um feitiço mais poderoso que o de Ma’at. - admitiu Thoth dando de ombros - E você sabe o nome secreto dele não é? Isso tudo torna o detalhe, de fato, pequeno.

Ignorando toda a explicação de Thoth, Aya começava a fechar a cara aparentando ficar cada vez mais irritada. A garotinha parecia prestes a começar a chorar quando foi entregue de forma leve, mas apressada, de volta para os braços da mãe. 

— Se minhas habilidades de mãe não me falham, acho que ela está querendo dormir. - disse Ruby - E nós estamos claramente atrapalhando ela nisso.

— Podemos pegar algumas almofadas e montar uma cama provisória para ela enquanto conversamos. - sugeriram Julius e Osíris - Poderíamos trazer Carter e Zia até aqui também. Quero conversar com eles também.

Praticamente num piscar de olhos, literalmente, Anúbis e Sadie aconchegavam Aya num amontoado de almofadas, lençóis e tapetes organizados no chão e adornados com padrões e cores típicas egípcias e árabes. As almofadas e lençóis pareciam abraçar a menina como enormes marshmallows de um jeito que parecia tão confortável que chegava a dar inveja. 

Colocar Aya pra dormir, apesar do sono dela, não foi exatamente tão fácil. O tempo que levou foi o suficiente para Bastet chamar Carter e Zia e eles chegarem, Carter matar a saudade dos pais rapidamente com abraços e conversas rápidas e então começarem a colocar o papo em dia e para Ammit se aproximar de Aya e ficar deitada ao lado da garotinha admirando, em transe, ela dormindo.

— É… - dizia Carter vermelho e sem graça quando Sadie e Anúbis se aproximavam de novo da conversa embora não conseguissem tirar os olhos de Aya por tanto tempo - estamos pensando em nos casar mais ou menos em fevereiro…

— Já sabem onde vão casar? - perguntou Sadie já ficando alegre e curiosa.

— Ainda não. - respondeu Zia - Não queria algo muito grande, mas um lugar bonito seria bom. 

— Podemos... ficar ali sentados ou sei lá conversando? - perguntou Sadie - Eu não estou muito afim ainda de ficar tanto tempo em pé.

Deixando eles conversando entre si no cantinho mais confortável deles e ciente de que Aya estava dormindo muito bem sob vigilância constante de Ammit, Anúbis se afastou do grupinho e foi até onde Hórus estava de braços cruzados conversando com Thoth e Ísis. Vendo Anúbis se aproximar, Hórus interrompeu a conversa e ficou encarando, sério, enquanto Anúbis se aproximava.

— Creio que eu lhe deva um “obrigado” - disse Anúbis.

 Hórus não respondeu, apenas desviou brevemente o olhar enquanto Ísis e Thoth observavam a cena se desenrolando tensos e em silêncio.

— Não imaginava que você fosse acabar indo lutar com Ahriman… - disse Anúbis.

— Ainda não aprovo tudo isso e o estrago já foi feito mas… - disse Hórus finalmente - Não poderia deixar outros se meterem conosco como bem entendem. 

— Duvido você ficar chamando a Aya de “estrago” por tanto tempo assim. - reclamou Anúbis ficando imediatamente sério e, como resposta, Hórus simplesmente deu de ombros.

— Duvido muito. - disse Hórus - Já tive filhos demais. Acho que estou imune à bebês a essa altura.

Anúbis suspirou exasperado e revirou os olhos e, não tendo mais paciência do que aquilo para falar com Hórus, ele deu as costas para o primo e foi para onde os outros conversavam. Aya dormia calmamente ao lado de Ammit como se a devoradora de corações fosse um cachorrinho fofo, Sadie e os demais se aconchegaram em elegantes sofás que haviam surgido com a mesma facilidade que o conjunto de almofadas que acomodavam Aya havia surgido e apesar de estarem presentes vários deuses, uma demônia e estarem no Salão do Julgamento, tudo parecia normal e calmo.

 


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Notas finais do capítulo

vou logo avisando pra geral ficar preparado. próximo capítulo é provavelmente o ultimo. vou tentar fazer ele bem grandinho pra compensar.



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