O amor abençoado pelo Nilo escrita por kagomechan


Capítulo 33
Conversas no Sofá


Notas iniciais do capítulo

nem demorei tanto assim. tô de parabéns né? XD



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O dia foi se passando hora após hora. Mas não era só porque era final de semana que significava que Sadie e Anúbis não tinham nada para resolver. Não só tiveram que resolver a briga entre os dois aprendizes que começou com uma noite em claro por causa de video game, como também Sadie fez questão de repassarem todo o plano de nascimento por mais que a internet bem lhe dizia que, na hora do parto, tudo saía fora do planejado.

Sadie não conseguia evitar ficar nervosa e ansiosa quando parava para pensar no parto. Tentava se distrair, mas sempre acabava voltando para esse assunto. Prova disso foi que, quando o sol estava começando a se pôr, ela estava deitada no sofá assistindo o milionésimo vídeo sobre gravidez do dia. Ela apoiou o celular na enorme barriga e ficou, com fones de ouvido, ouvindo o relato da mulher que contava como queria um parto natural até o último segundo, mas teve que se entregar para anestesia epidural. 

A anestesia epidural assustava um pouco Sadie. Já tinha lido e ouvido muito sobre ela. Realmente esperava não ter que se render para uma anestesia dada em um lugar tão delicado como entre vértebras para atingir os nervos da região.

— Eu realmente espero que a gente consiga fazer o parto em casa… - disse ela parando o vídeo, tirando um dos fones e suspirando preocupada - Acha que a piscina inflável é grande o suficiente para o parto?

— Bem… - disse Anúbis que estava sentado no sofá e servindo de travesseiro para ela fazendo sua própria pesquisa também - Diz a internet que sim… Qualquer coisa ainda temos o chuveiro também.

Apesar de falar da piscina inflável e do chuveiro, a pesquisa de Anúbis no celular já estava indo para rumos depois do nascimento. Prova disso era que o Google estava empenhado em mostrar-lhe os resultados para “como manter um bebê mortal vivo”. E apesar de alguns resultados perdidos envolvendo Mortal Kombat, bonecas da Baby Alive e algumas letras de música, o Google parecia se virar bem com a busca como se bem soubesse que a pessoa que estava usando-o havia passado a maior parte da vida como um ser imortal.

— Sair de casa é muito arriscado…Tenho que conseguir um parto normal. Tenho que me preocupar em a parteira não perceber que a casa está cheia de magia para tudo quanto é lado? - perguntava Sadie preocupada.

— Não se preocupe com isso. - aconselhou Anúbis - Damos um jeito nisso depois.

— Temos que estar preparados para caso precisemos ir para o hospital. - lembrava Sadie deixando escapar um longo bocejo - Faríamos como quando fui fazer o ultrassom?

— Se tivermos tempo para isso… - disse Anúbis suspirando - Levantar uma barreira ao redor do hospital, ou pelo menos da sala que você ficar… por mais que possa demorar, é possível. Bastet ajudar a ficar de olho, também. Mas não temos garantia que alguém mais vai estar disponível para ajudar.

— Odeio admitir isso...mas acho que Set estaria… - resmungou Sadie sentindo um gosto ruim na boca só de pensar no sogro ajudar eles - O momento que a Aya nascer me parece um motivo muito bom para eles tentarem fazer alguma coisa. Vou estar limitada, você potencialmente distraído… e tudo mais. Não podemos negar que Set é forte…

— Vamos torcer com a possibilidade de não termos que depender dele então. - resmungou Anúbis também não gostando muito da ideia - Não temos outra opção?

— Tentar a sorte e você ir atrás de mais alguém e torcer para achar rápido? - perguntou ela. 

— Foco no parto em casa então. - disse ele e ela confirmou com a cabeça.

Até o momento satisfeita com as conclusões da conversa, embora ainda estivesse com a mente inquieta, Sadie resolveu voltar para o seu vídeo. Assim, ela devolveu o fone ao ouvido e deu play novamente no vídeo. Mas, uma nova interrupção surgiu quando uma notificação encheu a tela dela. A notificação tirou todo o foco de Sadie e deixou ela preocupada e Anúbis notou isso antes mesmo de ela dar pause novamente no vídeo e retirar os fones de ouvido.

— Clare mandou mensagem… - disse ela já sentindo parte do sono ir embora.

— Sua amiga que tá nos evitando desde do casamento porque descobriu que você tá casada com um deus pagão de mais de 5 mil anos de idade? - perguntou ele.

— Que terrivelmente específico. E você sabe quem é a Clare. - disse ela rindo mas logo suspirando - Não sabia que tinha ficado tão incomodado por isso.

— Estou mais incomodado por você. Não é tanta novidade assim para mim os outros me evitarem, estou acostumado. - admitiu ele dando de ombros - Ela é sua amiga. E, por meio dela, Peter e William estão sem falar com a gente também. E são basicamente todos os amigos da faculdade que esperávamos ter algum contato depois da formatura.

— Tenho que tirar um minuto para ficar com raiva de você dizer que está incomodado a ser evitado? - perguntou ela encarando ele e ele não pode evitar revirar os olhos mas com um sorriso no rosto achando fofa (embora desnecessária) a preocupação dela.

— Isso não é nenhuma novidade para você. - disse ele - Primeiro, filho de Set. Depois, deus da morte, algo que as pessoas costumam evitar, e indiscutivelmente meio anti-social… Quando eu não estava julgando almas, estava abrindo corpos e tirando órgãos deles para fazer mumificações, também não é algo muito bonito e convidativo para conversas. No depois de Cristo… pagão… o que em alguns séculos é pedir pra ser executado. E independente do século do depois de Cristo, eu só aparecia em cemitérios… algo no mínimo um pouco arrepiante...

— Que você já foi muito evitado, de fato nenhuma novidade, embora isso ainda me irrite muito. - disse ela interrompendo a listagem dele de motivos para as pessoas não quererem chegar muito perto - Mas que você está acostumado é novidade sim. Mas enfim… Ela quer vir aqui junto com os meninos para conversar.

— Você quem decide. - disse ele pensando um pouco sobre isso - Sabe que quando a Aya nascer vamos ficar provavelmente sem tempo para essas coisas por pelo menos alguns né?

— Imagino… - disse Sadie pensativa - Amanhã você está livre? Depois do trabalho…

Nos poucos segundos que ele levou para pensar em toda a agenda de trabalho dele do dia seguinte, Sadie ficou apenas olhando-o e, apesar do ângulo não ser o melhor de todos, já que estava no colo dele, ela não pôde evitar de pensar no quanto ele era bonitão. O pensamento fez ela sorrir levemente quase no mesmo momento que ele afirmou com a cabeça.

— Livre. - disse ele.

— Ok. Quero me livrar logo disso. - disse ela - Vou falar para ela vir amanhã.

Sadie rapidamente digitou a mensagem e enviou para a amiga e então abaixou o celular deixando-o de qualquer jeito sobre o sofá. Ela então se aconchegou melhor ali em seu cantinho e, mantendo a mão sobre a barriga, fechou os olhos. Anúbis estava no celular muito concentrado tentando achar algum site no Google que lhe explicasse as diferenças de criar um filho entre a Era do Bronze ou do Ferro e o século 21. Mas, notou com o canto do olho Sadie se aconchegando ali e, por mais que isso lhe deixasse meio preso já que ele era o travesseiro, ele não ligou.

Na verdade, Anúbis não só não ligou como a tranquilidade que estava estampada no rosto de Sadie era tão bela que ele abaixou o celular e deixou-se curtir o momento enquanto fitava a esposa. Anúbis, sem nem prestar atenção no que fazia, delicadamente tocou-lhe a testa tirando uns fios de cabelo loiro que estavam sobre seu rosto. Ela nem se mexeu e por isso Anúbis conseguiu continuar admirando-a quase como num transe.

Seu olhar foi passeando e se perdeu na enorme barriga sobre a qual ela deixava a mão de forma protetora. Ele notou o lento e estranho movimento na barriga provavelmente causado por um chute ou Aya se espreguiçando, o que mostrava que era bem possível que Aya estivesse bem acordada apesar de sua mãe estar dormindo. Bem, ou ao menos estava, pois a movimentação na barriga pareceu ter acordado Sadie o suficiente para ela abrir os olhos parcialmente.

  – Quer ir pra cama? - perguntou ele.

— Não… ainda é cedo para dormir… - disse ela se sentando lentamente no sofá.

— Você vai dormir bastante de qualquer jeito. - disse ele - Mal dormiu essa noite.

— Não… quero reler o feitiço do Thoth e ler aquela revista de maternidade que minha avó comprou… - justificava Sadie - Tem uma matéria sobre quando o bebê tá dormindo.

— Eu faço isso. Você vai dormir. - insistiu Anúbis passando gentilmente a mão pela cintura dela.

Um tanto mais desperta mas ainda com óbvio sono, ela se virou melhor para ele e olhou séria para ele.

— Me obrigue… - desafiou ela.

Ele arqueou uma sombrancelha como se estivesse duvidando do desafio dela. O que aconteceu em seguida, não foi muito difícil. Eles já estavam pertinho um do outro e o braço dele já estava ao redor da cintura dela. Sadie nem teve tempo de reagir quando os dois foram rapidamente envoltos numa névoa preta e, no segundo seguinte, ao invés de estar sentada no sofá, ela estava sentada na cama.

— Muito fácil. - disse ele se levantando.

— Isso foi golpe baixo. - ralhou ela e ele apenas deu de ombros.

— Você tem que descansar. - lembrou ele - Vá descansar.

— Só vou deixar você se safar…. - disse ela parando para bocejar - Porque estou com preguiça.

— Aham… sei… - disse ele fechando a porta sem sair do quarto e encostando-se nela para impedir que ela inventasse de sair.

Ele ficou de olho nela durante todo o processo de ela se levantar da cama de novo, escovar os dentes e voltar para a cama. Só quando ela se enrolou nos cobertores e o convenceu o suficiente de que ele estava dormindo foi que ele saiu e foi cumprir suas promessas. De fato leu novamente, pela milionésima vez, o feitiço de Thoth para ter certeza de que conseguiriam fazer quando Aya nascesse e também leu a matéria da revista que ela havia falado.

Quando estava tarde o suficiente, ele também foi dormir. Ela nem acordou quando a cama se mexeu sob o peso dele. Queria envolve-la em seus braços e dormir de conchinha, mas temia acorda-la. Assim, ele apenas se aconchegou na cama, olhando para ela, e torcendo para que Aya chegasse logo.

Com todos dormindo no Nomo Britânico… ou quase todos… já que Bastet estava à postos sentada no telhado admirando a vista de Londres conseguindo inclusive ouvir o barulho de video game vindo de um dos quartos do Nomo, as horas se passaram e a noite virou dia. E, bem cedo, Anúbis acordou, tomou um banho e se arrumou para ir trabalhar. Afinal, o final de semana tinha acabado e ele tinha uma vida de mortal para manter também apesar de tudo.

Antes de ele sair do quarto, no entanto, Sadie acabou acordando levemente. Ela ainda estava deitada e com cara de sono, mas estava de olhos abertos olhando para ele com um sorriso.

— Hey, bonitão. Vem cá. - disse ela com a voz sonolenta.

— Desculpa, te acordei? - perguntou ele enquanto se aproximava.

— Sim. Mas tudo bem. - disse ela chamando ele com o dedo para mais perto mesmo quando ele já tinha chegado ao lado da cama.

Anúbis então se abaixou e ela se esticou para dar um breve beijo nele antes de voltar para o conforto da cama.

— Não esqueça que a Clare, Peter e William vem aqui hoje de noite. - disse ela - Não vá se atrasar.

— Não vou. - respondeu ele.

— Bom trabalho. - disse ela antes de fechar os olhos novamente.

Sem ter mais o que fazer dentro do Nomo, Anúbis desviou das crianças e adolescentes que corriam (ou andavam à passos lentos) para ir para a escola e foi para o trabalho. Na porta, cruzou com Bastet e apenas trocaram um olhar de reconhecimento, nenhuma palavra e seguiu seu caminho.

O dia de Sadie com sua licença maternidade foi tranquilo. Acordou tarde, ajudou alguns aprendizes, terminou uma série da Netflix e leu a revista de maternidade que a avó havia dado inteira. No final do dia, na mesma hora de sempre, Anúbis chegou. Sadie já estava arrumada com um vestido confortável, uma das poucas roupas aceitáveis que ainda cabiam nela. Não seria muito legal receber a amiga de pijama.

Anúbis tomou um banho rápido e, alguns minutos depois, a campainha tocava. Era a primeira vez que qualquer pessoa da faculdade ia até o Nomo. Não era fácil esconder toda a magia que acontecia ali. Ainda mais com um monte de adolescentes empolgados com seus poderes indo de um lado para o outro. Assim, Sadie estava nervosa e torcia para que a experiência não fosse demais para os três amigos. Mas, mesmo assim, pediu para que os aprendizes evitassem ir até a sala de estar.

Quando Anúbis foi abrir a porta, pôde ver, como esperado, Clare, Peter e William. A tríade de amigos mortais, normais da faculdade. A descoberta dos segredos deles pode até ter sido feita só por Clare, mas era claro que ela havia falado com os outros dois rapazes, especialmente considerando que era namorada de Peter. Quando os três encararam Anúbis, o ex-deus teve certeza que sentiu os três tensos, especialmente William. Anúbis notou que William pareceu querer ter levantado a mão para fazer algo, mas desistiu, assim como também notou o grande e pesado crucifixo que era claramente novidade e William parecia usar como se Anúbis fosse um demônio, o que o fez ter uma leve vontade de rir e revirar o olhar.

A cena tensa da porta foi quebrada quando Sadie se aproximou por trás de Anúbis e ficou surpresa por terem vindo os três.

— Hey… - disse Sadie sem saber bem como agir na situação esquisita - Ahm… a quanto tempo eim? Vem, entrem, já tá começando a chuviscar.

Clare e Peter foram os primeiros a entrar, acanhados, como se esperassem qualquer coisa anormal acontecer no que, até então, só parecia ser uma casa londrina como qualquer outra. Mas, quando William foi entrar, Anúbis bloqueou o caminho dele encarando-o e William o encarou de volta sem qualquer medo aceitando o que parecia um silencioso combate de olhares.

— Anúbis… - sussurrou urgentemente Sadie apontando para o que, para ela, era apenas o marido superprotetor dando uma de antiquado mal-humorado. Contudo, o que motivou o comportamento de Anúbis foi algo muito mais complicado. Ele sentia alguma coisa errada em William, mas não conseguia entender bem o que ou se era só impressão.





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Notas finais do capítulo

eu, como mortal sem graça sedentária, n toparia comprar briga com o Anúbis n. nem um Anúbis mortal. mas cada loco com suas loucuras né?



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