O amor abençoado pelo Nilo escrita por kagomechan


Capítulo 32
O Deus da Sabedoria


Notas iniciais do capítulo

morro de vergonha com o tanto que essa demora pra sair kk mas o importante é que sai ^^'
enfim, divirtam-se



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A manhã que começou preguiçosa lentamente foi pegando ritmo. Quando ambos Sadie e Anúbis estavam prontos o suficiente para tornar aquele dia ao menos minimamente útil, eles foram para a escadaria que levava até a biblioteca. A pilastra ao redor da qual a escadaria rodava até chegar na biblioteca era cheia de nichos com estatuetas de vários dos deuses egípcios mais importantes. Talvez por querer ficar mais perto do conhecimento contido nos livros, a estatueta de Thoth era a última, ficava logo na entrada da biblioteca.

Eles pegaram a estátua de Thoth e, desviando dos aprendizes que corriam escada abaixo prontos para aproveitar o que o final de semana londrino tinha a oferecer mesmo que debaixo de um céu cinzento, o casal foi de volta para o próprio quarto.Como se impelida por um imã, a primeira coisa que Sadie fez foi sentar-se na cama. Seus pés inchados imploravam por ficar sentada um pouco.

— Acha que tem chances de ele não atender? - perguntou Sadie enquanto Anúbis colocava a estátua de Thoth no chão e posicionava uma vela de incenso à direita e à esquerda dela.

— Tem. - respondeu Anúbis com um suspiro.

— Pensamento positivo então? - perguntou Sadie sem muita confiança.

— Pensamento positivo. - concordou ele.

Não foi preciso mais do que um estalar de dedos por parte de Anúbis para as velas de incenso se acenderem. A parte mais difícil agora era invocar Thoth e torcer para ele aparecer. Antes de começar, Anúbis certificou-se mentalmente que ainda lembrava dos títulos de Thoth e palavras usadas no ritual de invocação deste e então começou.

— Da magia e sabedoria lunar, - começou Anúbis em egípcio antigo - ó deus da escrita, do equilíbrio e do balanço. Aquele que é como o Íbis, Senhor de Ma'at, Senhor das Palavras Divinas, Escriba de Ma'at na Companhia dos Deuses. Nascido dos lábios de Rá, chamo-te, deus da sabedoria, Thoth.

Foi necessário esperar um ou dois segundos mas, eventualmente, a pequena estátua de Thoth começou a brilhar com uma luz dourada que passava uma sensação gostosa de pureza e poder. Uma luz digna dos deuses que logo se apagou e se concentrou em brilhar apenas nos olhos da estátua com cabeça de Íbis, um pássaro com um longo e fino bico.

— Sabia que ia acabar entrando em contato eventualmente. - foi a primeira coisa que a estátua de Thoth disse com a voz do deus abrindo a boca tal como se fosse o deus de verdade, só que em miniatura, e não uma estátua de provavelmente centenas de anos e estrutura frágil.

— Por acaso você já imaginar isso tem a ver com o fato de terem mandado um mensageiro super nada confiável? - perguntou Sadie.

— É…  - disse Thoth dando de ombros - Não tivemos tantas opções, sabe? Ísis e Hathor estão extremamente ocupadas tentando convencer Hórus a fazer algumas coisas e não fazer outras. Osíris não pode sair do Salão do Julgamento, como bem sabem. E basicamente se qualquer um de nós fosse, Hórus ia dar um piti, algo que ninguém quer nem pode controlar. Mas se for Seth… bem… os dois já nunca se deram bem e se odeiam mesmo. Não seria muita novidade os dois começarem a brigar. Está tudo muito frágil para a gente começar a brigar entre si.

— Frágil em que sentido? - perguntou Anúbis curioso - Tem algo mais acontecendo além do que a gente já sabe?

— Sim e não. - admitiu Thoth - É meio que consequência de tudo… o fato de alguns deuses de outros panteões estarem atrás de vocês mostra que a gente deveria se preocupar com eles. Obviamente uma guerra de panteões não é desejável mas… por mas que Hórus não concorde também em vocês terem esse bebê, não tem como negar que estamos entrando num problema de “mexeu com um de nós, mexeu com todos nós”.

— Ah então tocou na honra daquele galinha idiota e aí ele resolve tentar nos ajudar? - perguntou Sadie.

— Ajudar acho que seria uma palavra pesada demais… - opinou Thoth - Não chega a tanto. Mas chega a ter algumas briguinhas diplomáticas para que os deuses dos outros panteões aí não resolvam começar uma guerra. Afinal, uma semi-deusa egípcia, ainda mais sua Anúbis, é algo grande. Quando Carter morrer, de velhice, assim esperamos… obviamente o filho dele vai ter direito ao trono de faraó que ele tem. Mas… golpes pelo trono não eram novidade nem no Antigo Egito. Imagine o tanto de seguidores que uma semideusa de um dos deuses importantes conseguiria quando a outra opção seria um mortal. Por mais que seja um mortal descendente de mais de uma linhagem de faraós antigos e poderosos, não deixa de ser um mortal.

— Não queremos começar uma briga pelo trono… - disse Sadie como se aquela ideia fosse ridícula.

— Eu sei… Eu sei… - disse Thoth levantando as mãos como se estivesse se rendendo - Mas imagina o potencial que deuses tipo o Ahriman não veem nisso? A chance de moldar uma criança a seu bel prazer e ainda tomar o trono egípcio ao menos do lado mortal?

— Do lado imortal também seria complicado demais… - admitiu Anúbis vendo a lógica do plano - Hórus está nele a um bom tempo e a maioria dos outros é bem egocêntrica e adora poder. Nunca aceitariam alguém no trono que fosse parte humano.

— Verdade. - concordou Thoth - Deuses tipo Sobek, Nekhbet e Sekhmet iam se contorcer de raiva se tivessem que obedecer um humano desse jeito. Se juntar com Carter e demais faraós pela história às vezes já é demais pra eles. Mas… dependendo do quão maluco o plano de Ahriman é, não tem como simplesmente ignorar a ideia. Afinal, você faz parte da linhagem do trono de certa forma também. Por mais que todas as dezenas de filhos de Hórus estejam na sua frente.

— Quantos filhos Hórus tem? - perguntou Sadie confusa - Hapi… os dois ou três lá que tem nome complicado demais para eu tentar pronunciar… tem muito mais que isso?

— Ihy, Imsety, Duamutef, Hapi, Qebehsenuef. Não são dezenas… - lembrou Anúbis - Mas cinco não deixa de ser um número razoável pros dias de hoje.

— Ramsés II teve uns 100. Parecia que queria competir com Zeus. Mas enfim, lembre-se que, tirando Hapi, todos os outros acabaram saindo como deuses menores. - lembrou Thoth - E não sei se Ahriman sabe disso, Hapi não é exatamente tão bem quisto pelos deuses mais mal-humorados e sérios…

— Que são maioria… - resmungou Anúbis revirando os olhos.

— Exato. - disse Thoth.

— Porquê? - perguntou Sadie levemente surpresa pelas revelações dignas de Casos de Família que estava presenciando no momento.

— Hapi é feliz demais. - disse Anúbis.

— Sim. Lembro muito bem disso dele. - disse Sadie se lembrando da última vez que viu o deus, mais de dez anos atrás, quando Carter o invocou nas águas do Nilo para ajudá-los numa luta.

— Você consegue imaginar Sobek, Sekhmet, Khonsu ou Nekhbet se dando bem com ele? - perguntou Anúbis - A que mais atura ele é Serqet, e provavelmente só porquê é a mãe dele.

— Nem mesmo eu aturo o garoto tanto assim… - admitiu Thoth com um suspiro pesado - E, bem, como o primogênito de Hórus, ele é o maior indicado a pegar o trono.

Por um tenso minuto de silêncio, Anúbis e Sadie se entreolharam sentindo o peso dos problemas ficando mais pesado sobre seus ombros. Como Anúbis estava sentado no chão, logo diante da estátua de Thoth, e Sadie estava na cama, a perna dela estava bem mais perto dele. Assim, ele pousou carinhosamente a mão na perna dela atraindo o olhar dela, antes cabisbaixo, para si.

— Hey - disse ele calmamente se levantando de seu cantinho e ficando de joelhos diantes dela - Vai dar tudo certo ok?

Sadie conseguiu ousar abrir um pequeno e tímido sorriso que logo foi espelhado pelos lábios de Anúbis. Carinhosamente, ele pegou o rosto da esposa enter as mãos e depositou um leve beijo em seus lábios. O beijo, embora breve, foi logo seguido por um beijo na enorme barriga.

— Assim… - disse Thoth - Não tem como dizer que tudo vai dar certo. Não temos nenhuma previsão do futuro e, analisando as probabilidades de o problema se resolver, elas estão bem baixas à não ser que vocês convençam todos os outros deuses à lutarem pela fil-

— Thoth. Cala a boca. - cortou Anúbis olhando feio para a estátua do deus da sabedoria.

E o deus da sabedoria, apesar de ter levado apenas uma encarada de um ex-deus, não mais um deus completo, fez a sábia decisão de, de fato, calar a boca. Anúbis então se virou para Thoth novamente e fez surgir na palma de sua mão o tal papiro com o feitiço que Set havia entregado. Ele então desenrolou o papiro e virou-o para Thoth de forma que ele pudesse ver todo o seu conteúdo.

— Set não alterou nada do feitiço não né? - perguntou Anúbis - Foi isso mesmo que você escreveu.

— A gente até tentou analisar profundamente o feitiço. - admitiu Sadie - Mas estávamos cansados ontem e ele parece bem complicado.

Thoth se permitiu então alguns segundos para percorrer o texto com o olhar e com um dedo erguido para não perdesse em meio às várias linhas de palavras mágicas gravadas em complicados hieróglifos. Ele nem sequer murmurava as palavras do feitiço, não queria acabar ativando nada sem querer. Afinal, palavras tinham poder.

— De fato é. - disse Thoth todo orgulhoso - Um feitiço simples e superficial não seria capaz de enganar Ahriman e outros deuses e demônios tão poderosos quanto. Tive que planejar bastante esse daí. É cheio de coisas nas entrelinhas, obviamente positivas para vocês, e outras mensagens escondidas.

— Ele menciona sangue… - disse Sadie passando distraidamente a mão na barriga ao ter sentido um chute de Aya - Essa parte nos preocupou.

— Ah essa é a parte mais importante do feitiço. - disse Thoth erguendo um dedo como se fosse um professor pronto para transmitir aos alunos o ponto mais relevante do conteúdo - Assim por cima como está, não tem como ver quanto ao o que esse sangue se refere ou de quem é. A verdade é até um pouco poética. O sangue ao qual o feitiço se refere é de vocês dois e, consequentemente, do bebê também. O feitiço depende dessa conexão para garantir que aqueles alheios à ela não possam causar males ou detectar a localização do bebê. Bem… consequentemente, isso faz com que pessoas como… Carter… Osíris… Set… Rá… e, enfim, seus ascendentes, tenham alguma capacidade reduzida para fazer isso. Quase desprezível, verdade, afinal depende do sangue de vocês dois juntos. E falo isso de forma literal também. Vocês tem que usar o próprio sangue… um corte pequeno no dedo deve ser suficiente. E preferencialmente lancem o feitiço só depois do nascimento.

— Certo… - disse Sadie lentamente armazenando aquela informação no cérebro - Algum aviso mais?

— Ahm… não… acho que é isso. - disse Thoth - E claro, além do óbvio. Tomem cuidado na hora de lançar o feitiço, estejam os três no mesmo lugar e enfim… vocês já sabem o resto. São muito bons com magia. E bem… se não tiverem mais nada para falar eu já v-

— Pera! - exclamou Sadie de repente - Que história é essa de que é Ma’at quem deu o bracelete mágico pro Imhotep? Você sabia disso? 

— Não… não sabia…  - resmungou Thoth - Sabe… por mais que sejamos casados, somos bem distantes. Afinal ela é eternamente ocupada com manter a paz, equilíbrio e tudo mais. Não é um trabalho fácil. Fui pego tão de surpresa quanto vocês.

Um suspiro escapou dos lábios de Thoth enquanto Sadie e Anúbis se entreolharam brevemente sentindo-se um pouco desconfortáveis com o clima tenso que havia surgido ali do nada. Thoth parecia de fato triste e talvez até com saudades de sua esposa e eles não sabiam o que dizer para alegrar o deus.

— Bem… é… é só isso que queríamos saber… - disse Sadie.

— Certo… - disse Thoth parecendo um pouco distante - Bem, boa sorte para vocês. Vão precisar.

Em seguida, a luz que era emanada da estátua se apagou lentamente por completo. Sadie e Anúbis estavam sozinhos no quarto para lidar com os pensamentos e preocupações. Mas, de certa forma, sentiam-se mais confiantes que tudo daria certo afinal de tudo. E essa confiança dependia do feitiço de Thoth. 

—  Pela cara só nos resta esperar para o momento que Aya queira vir… - disse Sadie jogando-se para trás até deitar na cama.

— É… - disse Anúbis levantando-se e olhando para Sadie no momento em que ela fechava os olhos e abraçava delicadamente sua barriga.

Anúbis deitou-se ao seu lado e envolveu Sadie de forma que a cabeça dela ficasse apoiada em seu braço direito enquanto o esquerdo se juntava ao abraço protetor que ela dava na barriga que protegia a filha. Ela olhou para ele e sorriu segundos antes de ele dar-lhe um selinho e então sorrir também.

— Está mais tranquila agora? - perguntou ele.

— Suficientemente. - disse Sadie respirando profundamente - Bem.. falamos com Thoth… vamos resolver a briga daqueles dois que me acordaram de manhã?

— Eu resolvo isso. Vá descansar. Você mal dormiu hoje. - disse Anúbis.

— Nah… - disse Sadie - Se não eu não durmo de noite.

Ela se soltou do abraço dele e então se sentou na cama. Ao se levantar, ela puxou ele para se levantar também enquanto exibia um sorriso no rosto.

— Me deu vontade de comer bolo caseiro. Um bolo de chocolate. Vamos tentar fazer um? - perguntou ela.

— Bolo? - repetiu ele se deixando ser puxado por ela.

— É. E sem magia! - ralhou ela começando a levá-lo em direção à cozinha.

— Não que eu seja especialista em bolos de chocolate… mas não é chocolate demais para você? - perguntou ele.

— Um de baunilha e chocolate então. - sugeriu Sadie.

— Eu ouvi certo?! Vai ter bolo?! - exclamou Hannah feliz brotando a cabeça pela porta do quarto.

— Avisamos quando estiver pronto! - avisou Sadie.

— Yes! - comemorou Hannah já lambendo os beiços com a expectativa de comer algo açucarado.

Chegando na cozinha, Sadie se encostou na bancada e imediatamente pegou o celular e começou a procurar por receitas de bolos que parecessem bem gostosos e não tivessem chocolate demais. Quanto a Anúbis, ele só ficou esperando enquanto admirava a beleza que era ela fazendo algo tão simples como pesquisar receitas no Google.

— Ok. Achei uma. - disse Sadie - Vai pegando aí os ingredientes, por favor.

— Ok. - concordou Anúbis.

— Manteiga… - começou Sadie e, com um simples gesto de mão sobre a bancada, Anúbis fez a manteiga aparecer magicamente - Não! Sem mágica.

— Nem pra pegar os ingredientes? - perguntou ele.

— Não. - disse ela pegando a manteiga, abrindo, pegando um pedaço com o dedo e rapidamente passando esse pedaço no nariz dele - Você e sua mania de fazer tudo num piscar de olhos. Ainda está muito mal acostumado a desperdiçar magia. Abra a geladeira. Não custa nada! Ela está praticamente do seu lado.

— Tá… - resmungou Anúbis passando rapidamente o braço ao redor dela e esfregando o nariz cheio de manteiga na bochecha dela.

— Para! - reclamou ela rindo e se soltando dele indo até onde estava o papel toalha para poder limpar a manteiga - Vai… 4 ovos agora. 

Ela estendeu o papel toalha, que era muito grande para limpar o pouco de manteiga na sua bochecha, para ele, e assim ele limpou o nariz antes de pegar os ovos. E ingrediente após ingrediente, eles foram juntando tudo que precisavam para fazer o bolo. Com tudo reunido, eles começaram a fazer o bolo que, graças à massa, rendeu ainda alguns narizes e bochechas sujas em briguinhas um tanto infantis.

Contudo, eventualmente o bolo chegou no forno e, conforme o cheiro dele foi se espalhando pelo Nomo, mais aprendizes iam se juntando na cozinha doidos para o devorar. Uma coisa era certa, aquele bolo não ia viver para ver o dia seguinte.


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Notas finais do capítulo

tenho que admitir uma coisa quanto a fic Os Deuses da Mitologia. Tem já umas 2 noites q o Anúbis e a Sadie sozinhos dormiram no mesmo quarto lá. Estou sinceramente pensando em quais as chances de n ter sido essa a vez q ela perdeu a virgindade kkk quais as chances dele ter topado a ideia sem saber com 100% de certeza se uma camisinha mortal consegue segurar espermatozoides divinos ou não? kkkk



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