De mãos dadas diante de um arco quadriculado montado com três troncos finos de madeira de frente para as cadeiras, Will e Nico davam seu primeiro beijo de casados. O corredor por onde eles entraram estava delimitado por flores em tons pastéis que combinavam com as flores e os panos finos de tecido branco que adornavam o arco.

Era uma cena linda completada pelo cenário que se formava ao redor. Um belo jardim de um vinhedo na Toscana italiana com vista para os morros que marcavam o horizonte e escondiam parcialmente uma cidade pequena de arquitetura medieval, a mesma usada no prédio principal da fazenda. As flores cresciam nos arbustos de forma organizada mas ao mesmo tempo levemente selvagem criando uma sensação de contato com a natureza carregada de elegância enquanto os convidados se emocionavam e celebravam o casamento.

Dentre as cadeiras dos convidados de Will, sua mãe chorava sem conseguir controlar as lágrimas e, duas cadeiras ao lado, Apolo também chorava e se perguntava se deveria tentar consolar a mãe de Will já que ele era o pai. Talvez melhor não, pensou, já que ela já estava com um novo marido que provavelmente não gostaria daquilo. Toda a emoção mostrada por Apolo era completamente oposta à falta de emoção de Hades que preferiu ficar nos fundos excluído de todos, mas ao menos presente.

Will e Nico se separaram lentamente do beijo e se olharam longamente aproveitando aquele momento tão especial. Mas não conseguiriam ficar apenas se fitando eternamente, pois a alegria dos convidados era contagiante. Não demorou muito para estarem todos festejando e fazendo fotos com o fotógrafo mostrando que aquilo, felizmente, tinha conseguido ser um casamento normal. Até porque os poucos mortais ignorantes da magia que os rodeava naquele momento não viam nada de extraordinário uma vez que a névoa disfarçava a presença de o que tinha mágico.

A música começava animada enquanto as pessoas se aproximavam dos noivos uma a uma para desejar parabéns. A família e os amigos mais próximos foram os que ficaram mais tempo. Especialmente a mãe de Will que chorava sem parar ao abraçar os dois rapazes ao mesmo tempo.

Até mesmo Hades foi falar com o casal embora tenha sido do seu próprio jeito, afastado, falando quase nada e pouco depois já estava indo embora da festa. Mas, para Nico, já tinha sido mais que o suficiente considerando a péssima fala que os deuses tinham como pais e mães, ainda mais considerando como Hades era.

Conforme as pessoas foram falando com os noivos, a festa em si foi começando dentro da pequena mansão que administrava o vinhedo. Com comida e música, as pessoas logo sentavam em seus lugares na cadeira para aproveitar o que provavelmente era a parte favorita da festa para muitos.

— Esse risoto tá muito bom. - disse Sadie se deliciando com um risoto de limão siciliano - Aqui, prova.

Ela estendeu uma colher cheia de risoto para Anúbis que a mordeu e afirmou com a cabeça depois de alguns segundos tomados para sentir o gosto do risoto. Ao mesmo tempo, na mesma mesa que eles, Carter e Zia experimentaram o risoto de camarão enquanto bebericavam, cada um, uma taça de vinho.

— Certeza que foi uma boa ideia você ter saído, Sadie? - perguntava Carter.

— Tá tudo bem… - disse Sadie pegando a última colher do risoto de limão embora seu olhar escondesse alguma tristeza por trás de seus olhos azuis - Olha o tanto de semideus adulto aqui. Tem mais que no meu casamento e já no meu casamento não deu tanto certo assim a tentativa do tal de Ahriman de fazer alguma coisa. Até Apolo tá aqui apesar de Hades ter ido embora.

— Só que agora você está enorme de grávida. - disse Carter - Parece é que você vai espirrar e a Aya nasce.

— Ainda bem que meu marido pode num piscar de olhos me levar pra um hospital né? - disse Sadie com a mão direita abraçando a barriga e prontamente Anúbis botou sua mão sobre a dela - E que um dos noivos é médico.

— E também… - disse Anúbis enquanto apertava a mão de Sadie tentando, silenciosamente, passar-lhe alguma segurança de que tudo estava bem - Quando estávamos procurando algum jeito de esconder a Aya, investigamos a vida de Imhotep e achamos, nas memórias, o bracelete que escondeu por anos o fato de ele ser filho de Ptah. Não conseguimos replicar a magia do bracelete, mas ao menos…. 20% dela… conseguimos. O suficiente para ao menos chamar menos atenção, espero eu.

— Faz tempo já que Ahriman não aparece né? - perguntou Zia enquanto Sadie balançava a delicada pulseira, que adornava o braço dela, na cara de Carter para ele ver - Não acha que ele pode estar planejando alguma coisa já que não aparece desde do casamento de vocês?

— Outros problemas apareceram até, mas Ahriman… não diretamente ao menos. - disse Sadie - Apesar de que acho que vi ele encarando o Nomo do lado de fora da janela quase dois meses atrás.

— Será que desistiu? - perguntou Zia - Alguém pode ter feito algo… Set talvez? Ele estava teoricamente do nosso lado, né?

— Não confio nele. - disse Anúbis prontamente e Sadie afirmou com a cabeça enquanto mastigava uma colherada do gnocchi que tinha acabado de chegar na mesa entregue por um garçom - E não sei o que ele está fazendo ou se sequer está fazendo algo.

— E outra, eu já mal saio de casa agora que estou de licença do trabalho. - disse Sadie se remexendo na cadeira tentando achar uma posição mais confortável e, quando a encontrou, pousou a mão na enorme barriga - Que inclusive me deixa com muito medo.

— De quê? - perguntou Carter.

— Ah querido irmão… você, como homem, dificilmente entenderia. Mas quem sabe consiga um pouco quando casar com a Zia e ela estiver grávida. - disse Sadie deixando Carter e Zia corados imediatamente - Mas bem, estou com medo de me demitirem depois que eu voltar da licença.

— O-Oh… - disse Carter sem saber o que falar para aquele pedaço de informação.

— E seus amigos que estavam no casamento? - perguntou Zia tentando educadamente mudar de assunto - Clare e não lembro mais quem.

— Clare, Peter e William. - disse Anúbis olhando para Anúbis notando o olhar triste dela.

— Ainda não falam comigo. - disse Sadie - Clare contou pros outros dois tudo que viu e.. bem… as coisas não estão muito boas. Tentei falar com a Clare mas…

— Eles fingem que a gente não existe. - completou Anúbis notando que Sadie tinha parado de falar sem terminar a frase.

— É. - concordou Sadie - Sempre soube que William era meio religioso mas… nossa.. parece que estou grávida do anticristo pelo jeito que ele olhou pra gente quando cruzamos com ele quando estávamos comprando um carrinho de bebê no shopping.

A ideia de Sadie estar grávida do anticristo até fez Carter sentir vontade de rir mas, em respeito a irmã, ele segurou aquela risada com muita bravura.

—Eim, - disse Sadie olhando para Anúbis - estou suficientemente descansada. Quer dançar a próxima música lenta que tiver?

— Certeza? - perguntou Anubis - Você ficou um bom tempo reclamando de dor nos pés e tudo mais.

—Não. Não tenho certeza. - disse Sadie pensativa - É que queria aproveitar o casamento, sabe?

—Você quem decide. - disse Anúbis com um gentil sorriso que ela correspondeu.

Não querendo ser o único assunto da mesa, Sadie logo perguntou para Carter quando ele e Zia iriam se casar. Os dois ficaram vermelhos imediatamente e começaram a se embolar com a resposta que parecia dizer "logo, mas ainda longe".

—Ah, falando nisso… - disse Carter - Eu passei na primeira fase da seleção de um novo emprego. Falta mais duas etapas então não fale com ninguém por favor.

—Sério? - perguntou Sadie feliz pelo irmão - Pra o que?

— Ensinar numa universidade no Cairo. - explicou Carter.

—Cairo?! - exclamou Sadie surpresa - Vai se mudar pro Egito então? Deixar os EUA para trás? E você sabe o árabe necessário pra isso?

— Fica melhor para cuidar da Casa da Vida. - justificou Carter -E sei lá, acho que tô sentindo falta de quando ficava viajando pra tudo quanto é lado com o papai. E admito que queria que meu árabe estivesse melhor. Mas até o momento ele me parece bom o suficiente. Vou descobrir no dia da entrevista o que eles acham do meu árabe.

—Está cada dia que passa parecendo mais com ele. - disse Sadie abrindo um sorriso triste de saudade pelo pai que, de fato, a cada dia via mais no irmão.

Aquilo fez abrir um sorriso tímido e meio triste no rosto de Carter que ficou sem saber o que dizer. Por alguns segundos a mesa ficou em silêncio até um pequeno "obrigado" escapar dos lábios de Carter.

Os quatro ficaram sem jeito de encontrar uma conversa nova, mas foram salvos do momento constrangedor quando uma música lenta começou a tocar e Sadie reconheceu ela na hora.

—Eu adoro essa música! Vem! - exclamou Sadie segurando a mão de Anubis e então se levantando devagar antes de o puxar para o centro do salão.

— Não vá se forçar eim? - lembrou Anúbis preocupado.

—Não sou de porcelana. Tá tudo bem. - garantiu Sadie - Minha maior preocupação é com como vamos dançar juntinhos com uma barriga enorme no meio do caminho.

—Não é uma dança de dois. - lembrou Anúbis - É uma dança de três. Nada mais justo que os três aproveitarem o momento então.

Com uma barriga enorme no meio do caminho, Sadie não teve muita escolha além de ficar meio de lado enquanto passa um braço ao redor dos ombros dele. A mão oposta apoiava-se pacificamente no outro ombro dele ao passo que uma mão dele segurava-lhe na cintura enquanto a outra pegou gentilmente a mão dela que apoiou-se em seu ombro e deu-lhe um pequeno beijo.

— Acho que estamos parecendo meio desengonçados. - disse Sadie com uma pequena risada.

— Bem… pra uma dança que espera-se que seja bem juntinho.. acho que estamos indo até bem. - opinou Anúbis.

Um leve rubor preencheu as bochechas de Sadie acompanhado de um pequeno sorriso enquanto a música lenta ocupava todo o recinto e botava as pessoas para dançar juntinhas. Sadie e Anúbis se mexiam levemente acompanhando a música e não demorou muito para que Sadie apoiasse a cabeça no ombro de Anúbis e que as mãos de ambos se encontrassem amorosamente sobre o ventre dela.

— Me fez lembrar de quando você entrou de penetra no baile da escola. - disse Sadie - Foi nossa primeira dança juntos.

— Impossível imaginar naquela época que um dia a gente estaria assim… - disse Anúbis - Dançando juntos novamente, casados, esperando uma filha.

— Mal posso esperar pra Aya nascer… - admitiu Sadie - Nem que seja para eu ao menos conseguir deitar direito na cama sem ter que ficar meia hora encontrando uma posição confortável.

— Vai trocar não conseguir achar uma posição confortável por não conseguir encontrar tempo pra dormir. - lembrou Anúbis fazendo Sadie rir levemente.

— Essa parte sinceramente me preocupa, sabia? - disse Sadie - E todas as outras partes de manter um bebê vivo, seguro e saudável. E não falo só porque tem um monte de gente atrás dela por ser filha sua. Mas sim porquê… bebês ficam doentes, caem de lugares, tropeçam, choram muito, se recusam a comer, precisam de carinho e atenção, educação… É uma pessoinha que depende totalmente de você.

— Não posso dizer simplesmente “Não se preocupe”, pois também estou preocupado com isso. - admitiu Anúbis - Bebês são tão frágeis. Mas… o que podemos fazer é dar nosso melhor. E também, não estamos sozinhos. Temos um ao outro e tenho certeza que se precisarmos de ajuda de outros, temos a quem pedir.

— Bastet com certeza vai adorar mimar a Aya. - disse Sadie e Anúbis respirou fundo para controlar sua vontade de revirar os olhos a menção de Bastet - E Carter também. E Zia. E os alunos do Nomo. Uma coisa é certa, a Aya vai crescer rodeada de amor e isso é muito bom e muito importante também.

— Sim. - concordou Anúbis dando um beijo carinhoso no topo da cabeça de Sadie.

Sadie suspirou profundamente acalmando o coração e logo fechou os olhos querendo aproveitar mais aquele momento. Mas logo ela se sobressaltou ao sentir um chute na barriga e, repentinamente atento por causa do sobressalto dela, Anúbis também parou de dançar e olhou para ela preocupado.

— Está tudo bem? - perguntou ele.

— A Aya chutou minha bexiga. Banheiro. - disse Sadie rapidamente puxando ele apressadamente para ir ao menos até a porta do banheiro com ela.

Não era muita novidade mais Sadie sair correndo para o banheiro quando levava um chute bem na bexiga, então Anúbis simplesmente deixou-se ser puxado até a porta do banheiro. Como obviamente não podia entrar no banheiro feminino, ele esperou lá na entrada acabando por sentar-se numa poltrona que tinha logo ao lado.

Enquanto ele esperava por Sadie, um dos amigos de faculdade de Will passou por ele. Um mero mortal que com certeza não fazia a menor ideia dos detalhes do casamento que estava metido. Mais alguns poucos minutos depois, Sadie saiu do banheiro e a primeira coisa que fez foi sentar-se na poltrona que havia ao lado dele apoiando a mão displicentemente sobre a barriga.

— Tudo bem? - perguntou Anúbis.

— Sim - respondeu Sadie rindo de leve achando graça a constante preocupação dele até quando ela fazia algo simples como ir ao banheiro - Ir ao banheiro desse tamanho com um vestido longo desses é um pouco complicado.

— Porquê a gente sempre está se encontrando ultimamente em casamentos? - disse Set surgindo do nada apoiado contra uma coluna a alguns metros do casal.

Anúbis imediatamente se levantou e se botou entre Sadie e Set enquanto Sadie, com certa dificuldade, invocava sua varinha e se levantava lentamente. Anúbis encarava Set sério e atento a cada mísero movimento do pai enquanto Sadie notava rapidamente com o olhar que, como a parte dos banheiros era um tanto afastada do salão de festas, ninguém parecia ter notado que havia um penetra na festa.