O amor abençoado pelo Nilo escrita por kagomechan


Capítulo 28
Inseguranças à flor da pele


Notas iniciais do capítulo

olá! desculpa a demora! a vontade pra escrever essa fic tava bem baixa por causa de muitas coisas que aconteceram. mas estou tentando me organizar de novo. aproveitem o novo cap



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Os pés de Sadie matavam ela. Estavam inchados e doloridos e colocar eles sobre a cadeira estava sendo um tremendo alívio para ela. Com certeza os antigos bibliotecários da biblioteca do Nomo de Londres não aprovariam o tipo de postura que ela estava tendo agora ali em uma das mesas mais escondidas. Contudo, ela torcia para que ao menos eles considerassem sua condição. Já estava grávida de 9 meses e isso lhe garantia algumas pequenas mordomias como aquela já que estava em uma situação de extremo cansaço e desconforto.

A almofada amassada nas costas de Sadie era um alívio muito pequeno também para a dor nas costas que a acompanhavam desde que o peso que tinha que carregar em sua barriga aumentou absurdamente. Mas mesmo assim, independente de todos os desconfortos que sentia, ela se enfurnava ali na biblioteca quase o dia inteiro, junto com Bastet, tentando copiar o feitiço que haviam visto no bracelete que protegera Imhotep por vários anos. Infelizmente, não haviam reproduzido nada minimamente utilizável, e isso irritava Sadie.

A concentração de Sadie foi interrompida quando ela ouviu passos se aproximando dela. Uma breve olhada no relógio do celular fez ela ter um chute bem preciso de quem era o dono daqueles passos. 

— Hey. - disse Anúbis eventualmente aparecendo no corredor onde ela estava. 

— Hey. - respondeu Sadie com um suspiro pesado que mostrou muito o quanto ela havia avançado naquele dia, nada.

Anúbis abaixou o olhar meio triste notando a decepção e revolta escondidos nos olhos de Sadie e silenciosamente aproximou-se dela ignorando a presença de Bastet que se debruçava sobre um papiro de algumas poucas centenas de anos. 

— Dia ruim eim? - disse Anúbis se sentando no chão diante dos pés dela exaustos apoiados na cadeira e pegando-os delicadamente começando então uma massagem.

— Mais um que não leva a lugar nenhum. - reclamou ela pegando um biscoito de chocolate que estava numa bandeja ao seu lado e botando um pouco de chantilli em cima dele - Quanto mais eu leio, mais eu tenho certeza de que quem deve ter feito o bracelete deve ter sido Ma’at. Tem vez que o que parece faltar é uma energia muito pura, pura até demais.

— Vamos achar um outro jeito caso esse não funcione. - disse Anúbis massageando os pés dela com dedicação e delicadeza - Já que Hades também não sabe nada que possa nos ajudar, estou pensando em tentar falar com Ereshkigal. Por mais não-comunicativa e raivosa que ela seja. Ao menos ela é bem velha. Talvez saiba de alguma magia esquecida.

— Espero que sim… - disse Sadie sem muita esperança olhando para ele um pouco e tentando pegar as pequenas partes boas do dia, no caso, o quão bonito ele ficava de terno. - Então, como foi o trabalho? Deve ter sido um saco ter ido trabalhar em pleno sábado.

— Nada de extraordinário. - respondeu Anúbis parando a massagem por alguns segundos para tirar a parte de cima do terno e a gravata - Ainda acho estranho como tem gente para tentar provar que alguém claramente culpado é inocente… Imagino que eu me sinta mais dentro de minha zona de conforto quando eu conseguir ser juiz.

— Olha só você, tendo um emprego normal. - disse Sadie sorrindo orgulhosa - Quem diria eim?

— Quem diria… - concordou ele.

— Ainda tô preocupada com o meu… - admitiu Sadie com um suspiro - De me demitirem pouco depois de eu voltar da licença maternidade.

— Se acontecer, daremos um jeito nisso. Não se desespere. - garantiu Anúbis ficando de joelhos diante dela e segurando ambas as suas mãos enquanto olhava-a com carinho no olhar - Vai tudo ficar bem.

— Não é bem isso que sinto. - disse Sadie - Tantos problemas um em cima do outro.

— Eu sei.- admitiu Anúbis soltando um suspiro cansado mas estendendo seu carinho para dar um pequeno beijo em ambas as mãos dela - Mas você já passou por tantos problemas, vai conseguir passar por mais esse.

— Nos anteriores não tinha uma vida em miniatura que dependia tanto de mim. - reclamou Sadie.

Ele botou ambas as mãos dela apoiadas sobre sua mão esquerda enquanto a direita tocou-lhe a barriga carinhosamente. Com movimentos gentis, ele acariciou a enorme barriga que já nem conseguia ficar completamente escondida embaixo da camiseta que era claramente dele, não dela. Uma das mãos dela então escapou de seu apoio e foi junto com ele tocar a barriga que protetoramente guardava a filha deles.

Com a mão que estava apoiada na mão dele, Sadie apertou a mão do marido enquanto ele delicadamente tocava no limite do tecido da camiseta e olhava para ela fazendo uma pergunta silenciosa para o qual ela afirmou com a cabeça. Tendo a resposta que queria, Anúbis levantou a camiseta terminando de revelar o resto da enorme barriga que tanto atrapalhava as noites de sono de Sadie por não achar uma posição confortável, e tanto lhe atrapalhava também em várias atividades do dia a dia.

Suavemente, ele aproximou-se da barriga e depositou um pequeno beijo nela antes de abraçá-la envolvendo também o corpo da esposa e encostar o ouvido querendo ouvir cada pequeno movimento da filha.

— Aya… desde quando a mamãe tá negativa assim? - murmurou ele.

— Não estou negativa. - respondeu ela rindo tocando os cabelos negros dele começando um cafuné - Estou assustada e preocupada.

— Eu também… Admito… - respondeu Anúbis - Nem que eu tenha que invadir o Salão do Julgamento e ter que talvez lutar com Hórus; nem que eu tenha que ir em todos os submundos e falar com deuses que nunca me dei bem; vamos dar um jeito de você poder viver tranquila, Aya.

— Mesmo estando mortal e tudo mais? - perguntou Sadie.

— Mesmo estando mortal e tudo mais. - garantiu ele.

— Isso será nosso plano Z. - disse Sadie com a voz pesada - Prefiro que Aya não cresça sem um pai… 

— Isso com certeza tomou um rumo bem macabro. - disse Bastet finalmente opinando em algo sobre a conversa - Eu vou atrás de Ereshkigal pra poupar toda sua mortalidade, Anúbis.

Ainda era estranha a relação entre Anúbis e Bastet para Anúbis saber o que dizer diante de favor que lhe era tão importante. Os dois ainda se odiavam, claro. Mas gostavam muito de Sadie, de jeitos diferentes, e queriam muito proteger ela e a pequena Aya. Assim, uma estranha cooperação com a qual nenhum dos dois sabia lidar havia nascido.

— Ainda acho muito engraçado vocês dois sem saber se agradecem um ao outro ou se partem pra porrada. - disse Sadie rindo - Mas… Vamos deixar isso para depois, temos um casamento para nos arrumar agora que você chegou.

— Sim. - disse Anúbis abaixando a camiseta dela e então se levantando e estendendo a mão para ajudar ela a fazer o mesmo - Achei que já estaria pronta quando cheguei.

— Queria terminar de ver um papiro mas… não deu em nada. Grande novidade... - admitiu Sadie sarcasticamente pegando a mão dele e se levantando com certa dificuldade graças ao enorme peso e volume da barriga.

— Eu vou preparando alguma coisa para vocês comerem antes de ir então. - disse Bastet desviando sua atenção totalmente do papiro que lia falando da preparação da comida como se não custasse mais do que um estalar de dedos.

Anúbis pegou o paletó e gravata que estavam largados no chão e então foram os dois subindo até o quarto deles passando por outros aprendizes do Nomo Britânico que andavam de um lado para o outro rindo, conversando, ou simplesmente com a cabeça no mundo das nuvens pensando em alguma coisa. 

Feliz pelo detalhe de eles terem ainda bastante tempo já que os compromissos de Anúbis com seu emprego normal envolviam apenas a parte da manhã, Sadie começou a ter uma ideia em sua cabeça que acabou criando um sorriso travesso em seu rosto. Assim, quando eles entrarem no quarto e fecharam sua porta, Sadie entrelaçou os dedos de uma de suas mãos com os dele e se aproximou de seus lábios dando-lhe um breve beijo.

— Quer tomar banho comigo? É mais rápido… - sugeriu Sadie embora ela mesma tivesse dúvidas desse argumento que não passava de uma desculpa esfarrapada.

— Seria um prazer. - respondeu Anúbis sem pensar duas vezes.

Ela não pode evitar deixar uma pequena risada escapar de seus lábios diante da rapidez da resposta e, talvez como um prêmio, ela se aproximou para dar em Anúbis mais um doce beijo enquanto suas mãos iam até os botões da camisa dele e se livravam dela rapidamente. O beijo, por mais doce e saboroso que fosse, teve que ser interrompido quando Anúbis tirou a camiseta de Sadie deixando-a apenas de shorte e sutiã. E claro, sendo homem, Anúbis não conseguiu evitar olhar para os seios dela que haviam crescido com a produção de leite. 

Com a camisa dele já no chão, Sadie permitiu-se uns segundos para admirar tanto com os olhos como com as mãos, o tanquinho sem exageros mas muito charmoso que o marido exibia. Uma parte de si se sentiu mal pois ela a cada dia que passava ficava mais enorme e mais inchada. Tentando deixar esses sentimentos e pensamentos complexados de lado, foi nesse momento também que Sadie aproveitou a deixa para deixar seu shorte escorrer inofensivo pelas pernas e se juntar ao chão junto com as outras peças de roupa que haviam sido já descartadas.

Delicada e sedutoramente, Sadie puxou Anúbis pela mão até o banheiro que havia no quarto deles. Algumas peças de roupa ainda tinham que ir embora, mas podiam fazer isso ali no banheiro. Então, sem dizer nada, Sadie andou até ficar diante da banheira e então virou de costas para Anúbis tirando delicadamente o cabelo das costas como um sinal silencioso para que ele tirasse seu sutiã. Ao mesmo tempo em que as mãos pálidas de Anúbis tocaram o fecho do sutiã para abri-lo, magicamente ele também ligou a torneira da banheira para que esta começasse a encher enquanto eles se preparavam para entrar. A água da banheira nem havia preenchido três dedos da banheira quando o sutiã de Sadie caiu no chão. 

Seja lá de onde havia nascido a justificativa falsa de que tomar banho em dois seria mais rápido, isso não foi o que aconteceu. Quase uma hora se passou quando os dois finalmente saíram do quarto quase prontos. Mas eles ainda tinham tempo. Foi por isso que Sadie se deliciava com as batatas fritas que Bastet havia preparado enquanto tomava cuidado para não sujar o elegante vestido azul celeste. Deixaria a maquiagem por último, afinal, tinha que escovar os dentes ainda. A mulher se sentava na cama, logo ao lado de uma generosa vasilha de batatas, com uma mão pegando batatas e outra servindo de apoio para que ela conseguisse se sentar toda inclinada graças à barriga e a falta de encosto.

Depois de arrumar a gravata preta que combinava em muito com o visual completamente preto, Anúbis se aproximou dela e roubou uma batata-frita da vasilha que ela guardava tão preciosamente. O visual dele de nada mais nada menos do que padrinho era elegante, completamente preto e era composto de uma calça e camisa social complementados com um colete e uma gravata. Era elegante de um jeito um tanto gótico pelo tanto de preto talvez dedurando muito bem de quem ele era padrinho naquele casamento.

O vestido dela parecia já o total oposto. Era azul de um jeito delicado e belo que tanto lembrava o céu. Talvez tenha sido de propósito que aquele vestido foi escolhido para as madrinhas, pois ele era bem brilhante e elegante no busto, mas logo embaixo disso a saia do vestido começava bela e elegante deixando a barriga dela livre para crescer o tanto que ela quisesse em todo o tempo que levou para o vestido ficar pronto.

— Ei, quando foi que te ofereci batata? - questionou Sadie rindo.

— Vai comer tudo isso sozinha? - perguntou ele.

— Não estou comendo sozinha. - justificou Sadie - Estou dividindo com a Aya. Você é cruel a ponto de roubar comida da própria filha?

Sadie fez uma expressão falsa de surpresa e revolta enquanto Anúbis se conteve em revirar os olhos. Vendo a expressão dele, ela deixou escapar uma risada, se remexeu na cama mudando um pouco de posição pegando então as sandálias douradas que estavam ao seu lado na cama e jogou-as no chão pronta para começar o contorcionismo que era calçar um sapato naquele nível de gravidez que ela estava.

Anúbis nem deu tempo de ela tentar localizar com os pés um da das sandálias, ele já estava de joelhos no chão pegando elas para colocar nos pés dela.

— Você não cansa de ser perfeito? - perguntou ela.

— Eu não sou perfeito. - disse ele ficando vermelho - É só o mínimo que eu deveria fazer para minha maravilhosa esposa que está recentemente claramente tendo dificuldades de botar um sapato enquanto protege dentro dela a vida de nossa filha.

— Melodramático. - zombou de leve Sadie mas sorrindo boba com a frase.

Com os calçados colocados, Sadie se levantou estendendo a mão buscando o apoio do braço dele e foi então até seu armário pegar seu estojo de maquiagem para, assim que escovasse os dentes, fazer as preparações finais. Também pegou a vasilha de batatas fritas para comer mais um pouco enquanto ele escovava os próprios dentes também.

Quando chegou sua vez, Sadie não evitou olhar-se no espelho um pouco antes de começar a escovar os dentes e se maquiar. Não conseguia deixar de notar o quão enorme estava em qualquer ângulo que olhasse e isso estava começando a incomodar-lhe um pouco. Estava se sentindo uma baleia.

— Você acha que eu ainda sou bonita? - perguntou Sadie do nada pegando Anúbis completamente desprevenido.

— Não só bonita. A mais bela de todas.- respondeu ele.

— Que brega e clichê.- riu ela - Mas sério… me acha bonita… gostosa talvez... mesmo estando desse tamanho?

— Acho sim e a banheira está de testemunha. - respondeu ele se aproximando por trás e abraçando-a pousando as mãos em sua barriga e dando-lhe um beijo no pescoço exposto. 

Sadie riu e corou pensando em tudo que a banheira havia testemunhado naquele dia e também inspirou fundo sentindo o cheiro dele gostando da escolha de perfume e aproveitando o toque das peles. Mas mesmo assim, ela não pode evitar olhar pro espelho e notar o quão enorme ela parecia perto dele. Ele podia até ser facilmente mais alto do que ela, ele sempre havia sido alto e finalmente ter conseguido sair dos eternos 17 anos fez ele ganhar alguns vários centímetros enquanto ela não havia crescido tanto assim desde que o conhecera, mas ela estava muito grande pros lados graças à gravidez enquanto ele sempre foi magrinho e isso a estava incomodando agora.

— Eu me sinto uma baleia. Ou uma vaca leiteira. - admitiu Sadie - Admito que queria que a Aya nascesse logo. Já está bem desconfortável em vários sentidos.

Foi ao sentir a tristeza na voz de Sadie que Anúbis sentiu que era necessário um papo mais sério e então soltou-a do abraço. Virando-a para si, os dois se olharam olho no olho enquanto Anúbis segurava gentilmente o rosto dela entre suas mãos.

— Eu vejo que está desconfortável e tendo dificuldades com tudo isso.- disse ele muito sério - Seria irreal de minha parte falar que sei como se sente, porquê a verdade é que não sei. Mas dou meu melhor para entender. Não sou mulher, afinal de contas. Mas acredite quando digo que você está sim linda e gostosa e sempre estará. Está fazendo o honroso e difícil trabalho que é criar uma vida dentro de si. Não existe nada mais belo do que isso. Pra completar tudo, não só a vida que cria é minha filha, como você também é aquela que mais amo, caso o fato de eu ter desistido da imortalidade para ficar ao seu lado não seja prova suficiente disso já, então escute minhas palavras mais uma vez. Eu te amo, Sadie Kane. A bela, sarcástica, gostosa, rebelde, obstinada, atenciosa e gentil Sadie Kane. Sei que eu simplesmente falar para parar de pensar e se preocupar com essas coisas não vai fazer você magicamente parar de se preocupar com isso. Mas sempre que pensar que estiver se sentindo assim, lembre dessas palavras.

Sadie sorriu ao ouvir aquelas palavras e deixou o rubor tomar conta de suas bochechas. Feliz mas constrangida, ela segurou o rosto dele e se aproximou rapidamente para um breve selinho.

— Obrigada. De verdade. - disse ela.


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